Um grupo de músicos de rua da
República Democrática do Congo, muitos deles paraplégicos, se
transformou em um dos grandes sucessos da música africana.
A banda Staff Benda Bilili faz uma mistura de
rumba congolesa com ritmos tribais, funk ao estilo de James Brown, mambo
cubano e até alguns toques de guitarra ao estilo de Jimi Hendrix.
O álbum Très Très Fort ("Muito, Muito
Forte" em tradução livre), de 2009, está entre os álbuns mais vendidos
nas paradas europeias de world music e, nesta sexta-feira um
documentário sobre a carreira do grupo estreia na Grã-Bretanha.
O filme, que foi exibido pela primeira vez no
Festival de Cinema de Cannes em 2010, foi dirigido por dois cineastas
franceses, Renaud Barret e Florent De La Tullaye. Os cineastas
conheceram os músicos na capital congolesa, Kinshasa.
"Decidimos fazer um filme sobre eles, os conhecemos por acaso", disse Barret à BBC.
"Estávamos em Kinshasa em 2005, fazendo outro
filme, e escutamos este som na rua. Era como blues louco que não se
sabia de onde vinha. Nos aproximamos e vimos a banda."
"Muitas crianças de rua dançavam em volta e a música era brilhante", acrescentou.
Barret contou também que o mais surpreendente é
que os músicos cantavam músicas próprias, e não de outros músicos, com
letras comoventes.
Poliomielite
Vários músicos da Staff Benda Bilili sofrem de
paralisia parcial do corpo devido à poliomielite, doença viral que foi
erradicada em quase todo o mundo, mas ocorre ocasionalmente em países
como o Congo e outros países da África subsaariana.
O líder da banda, Ricky Lickabu, conta que,
apesar de saber tocar guitarra e cantar, sofreu preconceito de outros
músicos, que não queriam tocar com ele devido à sua paralisa.
"Diziam que eu chegava tarde pois andava na
cadeira de rodas e que não podia dançar", disse Lickabu à BBC pouco
depois do lançamento do primeiro álbum.
"Por isso, decidi começar uma banda com outros músicos deficientes e funcionou."
O dono do zoológico de Kinshasa, área onde os
músicos viviam, autorizou que a banda ensaiasse no local. Enquanto
desenvolviam seu estilo, trabalhavam como eletricistas, costureiros ou
vendedores de rua.
O nome escolhido para a banda significa, em lingala, o idioma em que cantam, "além das aparências".
Ar livre
Os músicos conheceram um produtor belga, Vincent
Kenis, especializado em música congolesa e que os ajudou a gravar um
álbum. Não em um estúdio, mas ao ar livre, no próprio zoológico.
E, neste primeiro disco, além dos músicos
portadores de deficiência, também conta com a participação de um jovem
que vivia na rua, Roger Landu. Ele passava boa parte do tempo com a
banda, até que os músicos o convidaram para tocar.
Landu inventou seu próprio instrumento com uma
lata, um pedaço de madeira e uma corda de guitarra. Kenis o ensinou a
amplificar este som e agora Landu toca com um estilo parecido com o de
Jimi Hendrix.
Em Kinshasa, o Staff Benda Bilili não tem a fama
de outras estrelas congolesas da música internacional, como Papa Wemba,
Koffi Olomide e Werrason.
Mas muitos acreditam que o documentário pode
transformá-los em um fenômeno mundial - a exemplo do que ocorreu com o
grupo de músicos cubanos Buena Vista Social Club.
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