sábado, 19 de março de 2011

Grupo de músicos paraplégicos do Congo causa sensação na Europa


Staff Benda Bilili (divulgação)
O grupo virou tema de documentário lançado nesta sexta-feira na Grã-Bretanha

Um grupo de músicos de rua da República Democrática do Congo, muitos deles paraplégicos, se transformou em um dos grandes sucessos da música africana.
A banda Staff Benda Bilili faz uma mistura de rumba congolesa com ritmos tribais, funk ao estilo de James Brown, mambo cubano e até alguns toques de guitarra ao estilo de Jimi Hendrix.
O álbum Très Très Fort ("Muito, Muito Forte" em tradução livre), de 2009, está entre os álbuns mais vendidos nas paradas europeias de world music e, nesta sexta-feira um documentário sobre a carreira do grupo estreia na Grã-Bretanha.
O filme, que foi exibido pela primeira vez no Festival de Cinema de Cannes em 2010, foi dirigido por dois cineastas franceses, Renaud Barret e Florent De La Tullaye. Os cineastas conheceram os músicos na capital congolesa, Kinshasa.
"Decidimos fazer um filme sobre eles, os conhecemos por acaso", disse Barret à BBC.
"Estávamos em Kinshasa em 2005, fazendo outro filme, e escutamos este som na rua. Era como blues louco que não se sabia de onde vinha. Nos aproximamos e vimos a banda."
"Muitas crianças de rua dançavam em volta e a música era brilhante", acrescentou.
Barret contou também que o mais surpreendente é que os músicos cantavam músicas próprias, e não de outros músicos, com letras comoventes.
Poliomielite
Ricky Lickabu (esq.) e o músico Djunana Tanga-suele ensaiaam em Kinshasa (AFP/Getty)
Lickabu (esq.) sofria preconceito até formar sua própria banda
Vários músicos da Staff Benda Bilili sofrem de paralisia parcial do corpo devido à poliomielite, doença viral que foi erradicada em quase todo o mundo, mas ocorre ocasionalmente em países como o Congo e outros países da África subsaariana.
O líder da banda, Ricky Lickabu, conta que, apesar de saber tocar guitarra e cantar, sofreu preconceito de outros músicos, que não queriam tocar com ele devido à sua paralisa.
"Diziam que eu chegava tarde pois andava na cadeira de rodas e que não podia dançar", disse Lickabu à BBC pouco depois do lançamento do primeiro álbum.
"Por isso, decidi começar uma banda com outros músicos deficientes e funcionou."
O dono do zoológico de Kinshasa, área onde os músicos viviam, autorizou que a banda ensaiasse no local. Enquanto desenvolviam seu estilo, trabalhavam como eletricistas, costureiros ou vendedores de rua.
O nome escolhido para a banda significa, em lingala, o idioma em que cantam, "além das aparências".
Ar livre
Roger Landu (esquerda) e Montana ensaiam com a banda Staff Benda Bilili em Kinshasa (AFP/Getty)
Roger Landu (esq.) inventou seu próprio instrumento
Os músicos conheceram um produtor belga, Vincent Kenis, especializado em música congolesa e que os ajudou a gravar um álbum. Não em um estúdio, mas ao ar livre, no próprio zoológico.
E, neste primeiro disco, além dos músicos portadores de deficiência, também conta com a participação de um jovem que vivia na rua, Roger Landu. Ele passava boa parte do tempo com a banda, até que os músicos o convidaram para tocar.
Landu inventou seu próprio instrumento com uma lata, um pedaço de madeira e uma corda de guitarra. Kenis o ensinou a amplificar este som e agora Landu toca com um estilo parecido com o de Jimi Hendrix.
Em Kinshasa, o Staff Benda Bilili não tem a fama de outras estrelas congolesas da música internacional, como Papa Wemba, Koffi Olomide e Werrason.
Mas muitos acreditam que o documentário pode transformá-los em um fenômeno mundial - a exemplo do que ocorreu com o grupo de músicos cubanos Buena Vista Social Club.

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