Janaína Figueiredo – O GLOBO, via blog do Saraiva
BUENOS
AIRES – As últimas pesquisas confirmaram a vantagem de Humala, com
30% das intenções de voto, e colocaram, pela primeira vez, a filha do
ex-presidente Fujimori (1990-2000) em segundo lugar, com 22%. No
entanto, a distância entre Keiko, PPK (17%) e Toledo (15%) ainda é
estreita (Castañeda ficou fora da parada), considerando-se a margem de
erro e os indecisos. Com isso, qualquer um dos três candidatos poderia
comemorar a passagem ao segundo turno. No Peru, dizem analistas
locais, tudo é possível. Em meados de 2010, o Prêmio Nobel de
Literatura Mario Vargas Llosa disse que uma eleição entre Keiko e
Humala seria como optar entre “câncer e Aids”. Na época, Toledo era o
favorito e ninguém acreditava que o cenário ironizado pelo escritor
poderia virar realidade.
” O Peru é uma caixa de surpresas, mas é verdade que Toledo cometeu muitos erros que favoreceram Humala e Keiko (Carlos Novoa) “
Confiante
nas primeiras pesquisas, o ex-presidente adotou pose de vencedor
antes do tempo e mergulhou em disputas de baixo nível com PPK e o
presidente García, deixando espaço para Humala e Keiko crescerem sem
obstáculos. A estratégia foi um desastre, e hoje Toledo está pagando
as consequências.
- O Peru é uma caixa de surpresas, mas é
verdade que Toledo cometeu muitos erros que favoreceram Humala e Keiko
– assegurou o jornalista Carlos Novoa, do “El Comercio”.
A
lista de tropeções do ex-presidente inclui ataques e contra-ataques em
discussões públicas com García e PPK. Durante a campanha, a imprensa
local informou, por exemplo, que no governo Toledo o Executivo comprou
1.753 garrafas de uísque. O ex-presidente ficou furioso e acusou o
presidente de estar por trás “de uma palhaçada”. Toledo chegou a dizer
que “Alan García é uma ameaça para a democracia”. Quinta passada,
Toledo, que nos últimos dias usou sua artilharia contra Humala,
convocou García para “defender a democracia” diante da possibilidade
de um segundo turno entre o nacionalista e Keiko.
Carlos Bruce,
chefe de campanha do ex-presidente, reconheceu que a estratégia de
confronto adotada por Toledo foi equivocada. Mas o mea-culpa chegou
tarde.
- No Peru, muitos eleitores acabam ficando do lado das vítimas – argumentou Novoa.
Para
o analista político Augusto Álvarez, “os candidatos mais moderados
acabaram se dando bem”. De fato, Humala e Keiko evitaram entrar nas
briguinhas entre Toledo, PPK e García. Ambos os candidatos
privilegiaram o contato com a população e decidiram baixar as armas. Na
última semana, Toledo cansou-se de denunciar o “perfil autoritário” de
Humala, questionar sua proposta para os meios de comunicação e seu
suposto vínculo com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. A resposta
do candidato nacionalista, com assessoria de estrategistas brasileiros
que exportaram para o Peru o vitorioso “Lulinha paz e amor”, foi
serena:
” Os peruanos expressam essa insatisfação votando num candidato antissistema (Toledo) “
- A esperança vai derrotar o medo.
Em
fevereiro, Humala era considerado o adversário menos perigoso, já que
tinha, com muito esforço, 10% das intenções de voto. Seus rivais não
se interessavam por seu plano de governo e o nome de Chávez mal era
mencionado. Após semanas de bate-bocas sem sentido, o silencioso
dirigente nacionalista subiu nas pesquisas e mudou radicalmente o
cenário eleitoral.
Na reta final, Humala virou o principal alvo
de ataques e Chávez entrou na jogada. Toledo começou a denunciar uma
“ameaça à democracia”, apesar de reconhecer que o militar reformado
conseguiu captar o voto dos peruanos que se sentem excluídos de um
modelo econômico com taxas de crescimento entre 7% e 8%.
- Os peruanos expressam essa insatisfação votando num candidato antissistema – declarou o ex-presidente.
Hoje,
o candidato considerado por Toledo, PPK e o governo García um perigo
para uma democracia recuperada há apenas 12 anos é o único que tem a
tranquilidade de contar com os votos necessários para ir ao segundo
turno. Seus adversários sofrerão até o último minuto.
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