Brizola Neto no TIJOLACO
]Muito
interessante a matéria de capa da Folha, hoje, dando conta de que os
chineses querem fazer grandes investimentos em plantações de soja no
Brasil. Embora a monocultura da soja tenha lá seus problemas, não há
dúvida de que a estratégia usada agora pelo chineses é muito melhor do
que a vinha ensaiando meses atrás.
A intenção era, como já fizeram em outros países, comprar terra e
produzir diretamente. Agora, mudou: querem investir em estruturas de
armazenamento, beneficiamento e exportação, mas através de acordos com
produtores brasileiros.
A demanda por alimentos e insumos para rações animais cresce
vertiginosamente na China, junto com a elevação do poder de compra de
sua imensa população. De exportadores agrícolas, os chineses passam
rapidamente à condição de importadores: mais de 70% da soja que consomem
vem de fora, o milho que produzem já não é suficiente e a carne suína –
da qual são o maior mercado mundial – vai seguindo o mesmo caminho,
apesar de sua gigantesca produção própria de 50 milhões de toneladas.
Mesmo importando apenas 1% do seu consumo, eles já são o quinto maior
importador mundial.
Como sabem que essa dependência será inevitável, a China avanç, com
suas empresas estatais e semi-estatais, para criar plataformas de
importação sólidas, menos sujeitas às flutuações dos preços das commodities e à ação dos intermediários. Eles, claro, querem se defender.
O Brasil, ao contrário, durante muito tempo achou – e boa parte de
seu empresariado segue achando – que bom negócio é abrir o país e vender
tudo que for possível, inclusive a terra.
Entre 2002 e 2008, nada menos que 30% do investimento estrangeiro no
Brasil foi destinado à compra de terras e à agroindústria, segundo
publicou o jornal Valor Econômico.
Aprovamos, na legislatura passada, restrições à compra de terras,
sobretudo na Amazônia. O projeto ainda carece de votação no Senado, mas
já levou,como se vê, a uma mudança de postura dos chineses, que passaram
a querer acordos em lugar de propriedade.
Quando não se pratica a submissão, o bom negócio é bom para ambos e
os acordos podem ter fórmulas para garantir o agricultor brasileiro
contra o monopólio de compra e proteger o país com a realização aqui do
beneficiamento de parte da produção. E, também, para que o gigante
asiático assuma compromissos de compras de outros produtos, de maior
valor agregado, em relação aos quais impõem enormes restrições. O que
não se pode fazer é deixar que só o “mercado” regule estes acordos, para
que não se repita o desastre que ocorre, por exemplo, com a produção de
laranja, cartelizada por quatro ou cinco empresas que beneficiam e
exportam o suco.
A China está na dela, querendo fazer os melhores negócios para si
própria. E o Brasil tem sido, para ela, um verdadeiro “negócio da
China”, pela falta de proteção que temos em relação aos nossos
interesses. Os chineses não são bestas, que o digam as empresas
brasileiras que vão se intalar lá e que têm de moldar seus negócios às
condições que eles impõem para que atendam aos interesses chineses.
Nós, aqui, passamos anos e anos glorificando e nos oferecendo para a
entrada indiscriminada de capitais do exterior e ainda financiamos a
aquisição de nosso patrimônio.
Agora, precisamos aprender anos defender. Não se trata, de forma
alguma, de rechaçar investimentos estrangeiros no Brasil. Trata-se de
deixarmos de ser os “otários”, que vendem produtos primários e ainda vão
– como foi a Vale de Agnelli – gastar o dinheiro da exportação de
nossas riquezas naturais encomendando os caros navios de aço feitos com o
nosso ferro barato.
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