Verde deve ser a cor do jornalismo do século XXI. Não um jornalismo
adjetivado de ambiental, praticado por jornalistas especializados em
meio ambiente, mas o meio ambiente presente em todo o jornalismo. Os
termos jornalismo ambiental e desenvolvimento sustentável são
profundamente anacrônicos. Não é desenvolvimento se não for sustentável,
assim como é precário o jornalismo que não incluir em suas variáveis a
transversalidade ambiental. O jornalista, como um generalista que é,
acaba adjetivando seu mister pelo simples fato de que deseja se destacar
em uma ou outra área do conhecimento. Sempre haverá o jornalismo
econômico, o esportivo, o social e muitas outras variáveis, mas deve
estar fadado à extinção a prática exclusiva de uma vertente ambiental.
A mídia e os jornalistas têm um papel fundamental na construção do
futuro dentro dos conceitos de sustentabilidade. A ex-primeira ministra
da Noruega e diretora da Organização Mundial de Saúde, Gro Brundtland,
em seu relatório sobre sustentabilidade definiu o termo de forma muito
simples: “Ser sustentável é suprir as necessidades das atuais gerações
sem comprometer a capacidade das gerações futuras em suprir suas
próprias necessidades”.
O que isto quer dizer? De uma forma bastante simplista isto significa
que a humanidade não vai se extinguir na atual geração de pessoas. Nós
teremos filhos, netos e bisnetos, que por sua vez também irão se
reproduzir. Todas estas gerações vão precisar de água potável, alimentos
e todos os benefícios de uma civilização evoluída e tecnológica. Para
isto deverão encontrar na natureza os recursos que serão necessários
para satisfazer suas necessidades.
O jornalismo ambiental surgiu da necessidade de mostrar à sociedade,
aos governos e às empresas que o modelo de desenvolvimento adotado
durante o século XX é insustentável em longo prazo. Muitos
ambientalistas dizem isto há anos, no entanto a mídia se faz surda
diante da necessidade de uma reflexão mais profunda sobre este modelo e
da necessidade de transformações. Os argumentos para o distanciamento da
mídia dos temas referentes à sustentabilidade, aqui visto como um
equilíbrio entre as vertentes econômica, social e ambiental, são de toda
a ordem. Um deles, e muito forte, é que a mídia é uma das principais
beneficiárias do modelo de desenvolvimento baseado nos princípios da
“Sociedade de Consumo”. Isto porque a publicidade é uma das mais
importantes ferramentas deste modelo e é esta a forma como a mídia se
sustenta. Uma sociedade menos voraz e consumista talvez seja também uma
sociedade com menos publicidade.
Na última década do século XX, inicialmente impulsionadas pela
realização no Rio de Janeiro da Cúpula da Terra, também conhecida como
Rio-92, surgiram as “mídias ambientais” e grandes jornais passaram a ter
meio ambiente como uma de suas editorias. As mídias que atuam
exclusivamente com pautas ambientais se estabeleceram e se desenvolveram
dentro do mesmo princípio das mídias de resistência à ditadura nos anos
70. São jornais, revistas e sites que se mantém à margem do processo de
comunicação de massa, mas que conseguem grande audiência entre os
formadores de opinião na área de meio ambiente e sustentabilidade.
O jornalista sempre foi vanguarda nas conquistas políticas e sociais.
No entanto, esta é uma fronteira mais espinhosa, exige conhecimento,
formação e capacidade para lidar com a diversidade de variáveis que
formam as sociedades e organizações complexas. No início acreditava-se
que o jornalismo ambiental seria um vertente do jornalismo científico.
Isto porque havia conceitos da biologia, da física, da geografia que
precisavam ser dominados para a elaboração de boas reportagens
ambientais. No entanto, a sustentabilidade ambiental não se restringe a
um nicho social. É uma variável presente em todas as decisões humanas e
que precisa ser explicitada como tal. A sociedade define o que deseja em
termos de sustentabilidade quando estabelece seus padrões de consumo de
energia, de matérias-primas, de embalagens, de alimentos etc. Tudo o
que se faz tem impactos ambientais anteriores e posteriores ao consumo. O
jornalista que pretende compreender este planeta megadiverso não pode
simplesmente ter um olhar superficial sobre a realidade, deve
compreender suas interfaces e sua cadeia de consequências.
No Brasil isto é ainda mais estratégico, na medida que a
biodiversidade e os recursos naturais são as commodities do futuro e
devem ser compreendidas como tal por toda a sociedade. A vanguarda desta
transformação conceitual é formada por jornalistas capazes de
compreender esta realidade e seguir atuando de forma objetiva na
disseminação de informações e conhecimento para a sociedade.
(Envolverde)
Dal Marcondes
Dal Marcondes é jornalista, diretor da Envolverde,
passou por diversas redações da grande mídia paulista, como Agência
Estado, Gazeta Mercantil, Revistas Isto É e Exame. Desde 1998 dedica-se a
cobertura de temas relacionados ao meio ambiente, educação,
desenvolvimento sustentável e responsabilidade socioambiental
empresarial. Recebeu por duas vezes o Prêmio Ethos de Jornalismo e é
reconhecido como um "Jornalista Amigo da Infância" pela agência ANDI.
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