PCB -Via
ODIARIO.INFO [Antônio Carlos Mazzeo] ... e deve ser perpetuamente executado.
Acordamos
com as novas revelações sobre as ações estadunidenses que culminaram no
assassinato de Bin Laden. As notícias, apesar de estarrecedoras -
torturas em Guantanamo, invasões de território estrangeiro, execução
sumária do inimigo desarmado e já dominado, violência armada contra
mulheres e crianças - , não constituem novidades em se tratando dos EUA,
com larga trajetória de mentiras e violência para fundamentar e
legitimar suas agressões imperialistas. At last but not list , a nota
chocante é o "codinome" atribuido ao maior inimigo dos EUA depois de
Hitler..... Geronimo!
Geronimo foi um dos três grandes chefes dos
povos originais norte-americanos da região do México e do Novo México
(dentre eles, os Jicarillas, os Mescaleiros e os Chiricahuas, e ainda os
Kiowa, White Mountain e os Tontos), juntamente com Cochise e Mangas
Coloradas (Dasoda-Hae), a quem os estadunidenses e a elite mexicana
chamavam genericamente de Apaches. Geronimo foi o mais aguerrido líder
dos povos originais da região, que combateu tanto o governo
estadunidense como o mexicano em defesa de seus territórios. Preso em
1886, acabou morrendo de pneumonia em 1909, na prisão insalubre do forte
Sill, em Oklahoma.
Historicamente, os governos estadunidenses
jamais reconheceram a legitimidade da luta dos povos originais pela
integridade de seus territórios e de suas culturas. Ao contrário, todo o
esforço foi e continua sendo o de estigmatizar e criminalizar a
resistência desses povos. Não somente no período em que reprimiram
duramente as rebeliões indígenas como contemporaneamente. Há que se
recordar que o tratamento dado a esses povos foi o mais cruel
eantirepublicano possível. Lembremos, como exemplo, que o chefe Mangas
Coloradas foi aprisionado e morto sob tortura, em 1863.
Essa
postura em relação aos Povos Originais e a não coincidente atribuição a
Bin Laden o codinome de Geronimo nos possibilitam refletir sobre a
característica do liberalismo presente na tradição estadunidense. Tanto
Marx como Weber viam os Estados Unidos da América como a expressão mais
acabada do liberalismo. Marx, na perspectiva do desenvolvimento possível
e limitado da emancipação política burguesa; Weber como o tipo ideal
perfeito do racional-legal da modernidade, porque ao liberalismo
acrescenta-se a ética protestante.
Mas é exatamente esse elemento
da ética protestante que marca a diferença, quando analisamos a
trajetória política estadunidense. Não que em países de tradição
católica o liberalismo apresentou-se com rosto mais hominizado. Como
ressaltou Bobbio, na maior parte de sua história o liberalismo não foi
democrático, pois o liberalismo em seus inícios legitimou a escravidão e
depois o desfrute do trabalhador assalariado. Mas voltando aos EUA,
como enfatizou Losurdo, Tocqueville quando analisou a democracia na
América, excluiu e segregou os que já eram excluídos e segregados, quer
dizer, os negros e os índios, ignorando a construção da democracia dos
senhores. Melhor dizendo, a democracia timocrática materializada na
alternância de poder de dois partidos, o Republicano e o Democrata,
ambos fundados e no poder desde o século XIX.
Os EUA como nenhum
outro país vinculou o liberalismo com imperialismo, aprofundando a
mistificação da concepção igualitária genérica, "pecado original" da
forma societal burguesa, já evidenciada por Marx em seus escritos de
juventude. O liberalismo, como face político-ideológica da forma
societária burguesa em sua fase imperialista, amplia a desigualdade da
democracia formal para o plano internacional. Se originalmente a
estrutura societal do liberalismo implica na situação de cidadão de vida
pública e de burguês ou proletário na vida privada, com o imperialismo
essa condição transforma-se em cidadão do núcleo central do capitalismo e
cidadão de segunda classe das periferias. Ambos explorados, ambos
fragmentados em classes sociais, mas os da periferia com quase nenhum
direito do que deveria ser a igualdade genérica.
Mesmo nos EUA o
assim chamado "Estado de direito" não é plenamente aplicado. Apesar da
emergência de um segmento da população negra à condição de
pequeno-burgueses e mesmo burgueses, integrados na estrutura produtiva
capitalista e em sua ordem jurídico-política, em sua maioria esmagadora,
negros, índios e latinoamericanos continuam à margem da plenitude da
democracia dos senhores, em que pese a presença de um negro na
presidência da república, que age politicamente em consonância com os
clássicos interesses da timocracia branca estadunidense.
O
emblemático, no caso da ação contra Bin laden, é ter sido atribuído ao
inimigo mortal dos EUA o nome de Geronimo, eterno ícone da rebeldia e do
inconformismo, inimigo de morte da plutocracia burguesa estadunidense.
Esse fato expressa como o núcleo burguês ainda vê e trata os
trabalhadores, em particular, os não WASP (brancos, anglo-saxões e
protestantes). Nunca perdoaram os negros rebeldes, condenados tanto pela
estrutura jurídica estadunidense como pela Ku Kux Klan. Não perdoaram
os 8 mártires de Chicago assassinados em 1886, não perdoaram e
executaram os líderes operários Sacco e Vanzzetti, montando a farsa de
um crime que nunca existiu. Executaram em processo forjado o casal
Rosemberg, assassinaram Malcolm X e tantos outros.
Geronimo é um
símbolo vivo que encarna a rebelião contra a opressão e por isso mesmo
deve ser perpetuamente executado. Na lógica perversa da burguesia
estadunidense prevalece a lei bíblica do olho por olho, onde a ética
protestante fundamentalista mistura-se com a visão mítica de "povo"
eleito para defender a "liberdade" e o "direito" de ser burguês e de
oprimir os povos.
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