Por Ari de Oliveira Zenha na CAROS AMIGOS
A
poderosa indústria farmacêutica adquiriu ao longo do desenvolvimento do
capitalismo força e importância incalculável na sociedade mundial. Seu
poder político e econômico é avassalador, pois sua atividade está ligada
a uma das necessidades básicas dos seres humanos, a saúde, ou seja, a
superação das doenças e dos males que afetam as pessoas.
Os laboratórios farmacêuticos, cuja sede
está localizada nos Estados Unidos e Europa, tentam garantir, a todo
custo - e, aí vale qualquer artifício - seus lucros, que são
expressivos, de qualquer forma. A produção de medicamentos se tornou um
negócio como outro qualquer, como produzir sapatos, automóveis e outros
bens de consumo. O que prevalece é a busca de lucros cada vez maiores,
não importando que para isso ela tenha que subornar, colocar centenas de
lobistas no Congresso dos países, deixar de fabricar determinados
medicamentos que não são rentáveis, não investirem quase nada em
Pesquisa e Desenvolvimento de novos remédios, pois isto requer anos de
pesquisa e muitas vezes levam ao fracasso.
Os investimentos numa nova droga –
medicamento – podem levar a nada. Isto faz com que essas empresas
aleguem ter altos custos para a produção de medicamentos que salvam
vidas, e aí, mora uma grande astúcia deste setor: elas recebem elevados
subsídios dos governos e, além disso, usam para justificar os altos
preços dos seus medicamentos declarando que atuam na Pesquisa e
Desenvolvimento de novos remédios. Mas, na verdade, elas aplicam enormes
recursos financeiros em marketing e em maquiar os antigos medicamentos,
em patrocinar congressos e conferências médicas, em “visitas” aos
consultórios médicos e na distribuição de amostras grátis.
Quem já não viu os representantes dos
laboratórios, muito bem vestidos, muito bem treinados, que
constantemente estão às portas dos consultórios médicos e clínicas
médicas passando “informação” sobre algum “novo” medicamento?
A médica norte-americana Marcia Angell
esclarece as artimanhas e as atividades que este setor – farmacêutico –
realiza notadamente nos Estados Unidos e que se alastra para todo o
planeta. Angell afirma:
“... Tornamos-nos uma sociedade
hipermedicada. Os médicos infelizmente foram muito bem treinados pela
indústria farmacêutica, e o que aprenderam foi a pegar o bloco de
receituário. Acrescente-se a isso o fato de que a maioria dos médicos
está muito pressionada em termos de tempo, em decorrência das exigências
das administradoras de planos de saúde, e podem pegar aquele bloco com
grande rapidez. Os pacientes também aprenderam muito com os anúncios da
indústria farmacêutica. Eles aprenderam que, a não ser que saiam do
consultório médico com uma prescrição, o médico não está fazendo um bom
trabalho. O resultado é que gente demais acaba por tomar medicamentos
quando pode haver modos melhores de lidar com seus problemas. Mais sério
é o fato de que muito de nós estamos tomando muitos medicamentos ao
mesmo tempo – freqüentemente cinco, talvez dez, ou até mais. Essa
prática é denominada 'polimedicação' e traz consigo riscos reais. O
problema é que muito poucos medicamentos têm apenas um efeito. Além do
efeito desejado, há outros. Alguns são efeitos colaterais que os médicos
conhecem, mas pode haver outros dos quais não tenham conhecimento.
Quando vários medicamentos são tomados de uma vez, esses outros efeitos
se somam. Pode haver também a interação medicamentosa, na qual um
medicamento bloqueia a ação de outro ou retarda seu metabolismo, de modo
que sua ação e seus efeitos colaterais são aumentados.”
E mais ainda:
“Muitos congressos de grande porte
parecem bazares, dominados pelas exposições pomposas dos laboratórios
farmacêuticos e por simpáticos vendedores ansiosos por cumular os
médicos com presentes enquanto discorrem sobre os medicamentos de seus
laboratórios. Os médicos perambulam pelos grandes corredores das
exposições carregando sacolas de lona com logomarca dos laboratórios
farmacêuticos, cheias de brindes, mastigando comida grátis e se servindo
de todo tipo de serviços gratuitos, tais como testagem de colesterol e
treino para golfe. Em lugar do profissionalismo sóbrio, a atmosfera
dessas reuniões é agora de um mercenarismo comercial. Num brilhante
artigo sobre este tema, uma repórter do Boston Globe descreveu seu
encontro com uma psiquiatra no congresso anual da Associação Americana
de Psiquiatria [em inglês, American Psychiatric Association – APA]:
Ivonne Munez Velazquez, uma psiquiatra do México, remexia sua sacola de
brindes como uma criança no dia de Halloween. Como recompensa por ter
comparecido à reunião da APA, tinha ganho um pequeno relógio, em forma
de ovo, dos fabricantes do antidepressivo Prozac; uma elegante garrafa
térmica dos fabricantes do Paxil, também um antidepressivo; e um
porta-cartões de prata, gravado, cortesia do Depakote, um anticonvulsivo
[frequentemente prescrito para finalidades fora das indicações
aprovadas, para uma variedade de síndromes psiquiátricas]. Ganhou também
um pequeno e elegante porta-CD do Risperdol [sic], um antipsicótico, um
porta-passaporte do Celexa, um antipsicótico [na verdade, um
antidepressivo]; um belo peso de papel verde do Remeron, um
antidepressivo, e um abridor de cartas de algum medicamento do qual ela
nem se lembrava. Durante o fim de semana inteiro, porém, a lealdade de
Velazquez estava com a Pfizer, que havia pago sua passagem aérea da
Cidade do México (juntamente com trinta de suas colegas e seu sobrinho
de 18 anos de idade) e os alojou em hotéis próximos ao local da reunião
da APA. Naquela noite, também por cortesia da Pfizer, ela iria
comparecer a um banquete esplendoroso na Academia de Belas Artes da
Filadélfia.”
Não que não haja bons medicamentos para a
nossa saúde, para que tenhamos uma vida mais longa e de melhor
qualidade. Que os medicamentos sejam receitados com cuidado e os médicos
quando os prescrevem estejam fundamentados em pesquisas e informações
verdadeiras e que seja de acesso a todos estes profissionais, pois as
indústrias farmacêuticas, quase sempre não passam todas as informações
aos médicos, omitindo propositadamente informações essenciais para que
estes realizem seus procedimentos com segurança e qualidade.
A máquina de fazer dinheiro dos
laboratórios farmacêuticos esta baseada nas informações falsas, em
subornos e propinas que se alastram em todos os setores médicos. Muitas
vezes apenas com dietas e exercícios se obtém melhores resultados que os
medicamentos.
Outro fato execrável é que a indústria
farmacêutica utiliza, para manter seus enormes lucros, as patentes.
Patentear um medicamento mesmo que maquiado, apenas modificando a
dosagem e mudando a cor das pílulas é garantia para que esses tenham a
patente prorrogada e mesmo aumentada em vários anos a mais.
Os medicamentos maquiados, ou melhor,
medicamentos de imitação, vem sendo uma grande estratégia no intuito de
manter as patentes e seus elevados lucros.
Os grandes centros de Pesquisa e
Desenvolvimento de novos medicamentos estão nas Universidades nos
grandes centros médicos acadêmicos sendo realizada por seus cientistas
que tem contribuído para o aparecimento da grande maioria dos novos
medicamentos. Estas instituições recebem recursos financeiros do Estado,
o que significa dizer que são financiados pela população de seus
países.
A indústria farmacêutica tem procurado,
sistematicamente, se relacionar e se associar com estas instituições
patrocinando com generosos recursos financeiros as pesquisas realizadas
por estes cientistas. Os medicamentos comercializados quase sempre
provêm de pesquisas financiadas com recursos públicos e executadas por
Universidades, como disse, e pelas pequenas empresas de biotecnologia.
Estes grandes laboratórios agem a nível global, sem nenhum
constrangimento eles procuram adquirir de terceiros, incluindo os
pequenos laboratórios espalhados pelo mundo, qualquer pesquisa que
exista e que segundo suas avaliações, tem indícios de serem promissores.
Uma, dentre várias, necessidades da
indústria farmacêutica é desenvolver medicamentos para clientes que
podem pagar os preços estabelecidos por eles. Os laboratórios estavam,
há tempos, voltados para pesquisar, desenvolver medicamentos para tratar
doenças. Hoje, estes anunciam “doenças” que se encaixam nos
medicamentos que produzem.
Quem já se deu ao “trabalho” de ler uma
bula de remédio já deve ter observado que na sua grande maioria
determinado medicamento é indicado para vários tipos de doenças. Isto
também é uma forma dos grandes laboratórios burlarem a lei de patentes e
ao mesmo tempo aumentar seus lucros, pois o tal remédio serve para
inúmeros males, isso tudo com o olhar complacente das autoridades e
órgãos públicos.
Quando um grande laboratório anuncia a
criação de um novo medicamento, com grande potencial de consumo, logo
suas ações na bolsa de valores sobem vertiginosamente, pois os lucros
presumidos nesse novo medicamento são muito grandes e é lucro garantido
não só para os laboratórios como para seus investidores/acionistas.
A indústria farmacêutica manipula
resultados de pesquisas científicas, não realiza todos os procedimentos
necessários para colocá-lo no mercado com segurança para a população, ou
seja, a necessidade de auferir lucros, o mais rápido possível, é o que
importa!
O complexo industrial farmacêutico não
tem interesse em desenvolver medicamentos para tratar doenças tropicais,
tais como: malária, doença do sono, esquistossomose, chagas, doenças
comuns nos países em desenvolvimento e do terceiro mundo, pois esses
países têm uma parcela significativa de sua população muito pobre, que
não teria condições de comprar seus medicamentos. Por outro lado ela
investe, com abundância, em medicamentos para reduzir o colesterol,
tratar transtornos emocionais, febre do feno ou azia.
Precisamos, com urgência, tomar
providências contra estas indústrias farmacêuticas que insistem em
distorcer pesquisas, em aumentar seus lucros custe o que custar, em
manter por meio das patentes o monopólio de produção e comercialização
dos seus medicamentos e de aumentar seus preços a níveis
estratosféricos. Sem que as autoridades e a população mundial tomem
medidas duras contra a ganância dos laboratórios farmacêuticos e seus
comportamentos, o que nos espera, além do que já estamos vivendo, é o
mundo da saúde se transformar num imenso inferno dantesco.
Ari de Oliveira Zenha é economista
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