Eduardo Guimarães em seu Blog da Cidadania
Antes de abordar estudo científico que afirma ter isolado a causa
maior daquela que talvez seja a última grande enfermidade social à qual a
humanidade não dedica maiores e suficientes esforços para tratar – e
que, por isso, é hoje a pior enfermidade dessa natureza -, há que
definir o que é homofobia e apontar suas ramificações.
A principal característica dessa enfermidade psicossocial talvez seja
a de se constituir em uma das raras doenças sociais com potencial para
se transformar em doença mental. Isso porque a homofobia se manifesta em
graus de intensidade que podem evoluir, ainda que, uma vez acometido
por ela, entende-se que o indivíduo não consegue se curar completamente.
Durante o mês passado, travei longos debates com homofóbicos de
várias faixas etárias, gêneros, condição social, origem geográfica e
escolaridade. Entre esses grupos, segundo minhas anotações, o grau de
homofobia variou entre o que chamarei de níveis dissimulado, aberto e
obsessivo.
O nível de homofobia dissimulado começa o seu discurso contra os
homossexuais ressalvando que não apóia a violência contra eles e negando
ser preconceituoso. Dali em diante, desata a pregação que está por trás
dos ataques de violência física de que os homossexuais vêm sendo alvo
com freqüência e em quantidade cada vez maiores.
De 2007 para cá, o número de assassinatos de homossexuais causados por repulsa obsessiva à sua orientação sexual cresceu
impressionantes 62%. E o que vem impulsionando esses ataques é o
levante do grupo de homofóbicos abertos. Esse grupo é o mais perigoso
porque trata de tecer todo um discurso “racional” para justificar um
delírio psicossocial.
Os dissimulados não admitem que são preconceituosos. São vítimas
passivas da homofobia por conta de baixa escolaridade ou por educação
familiar preconceituosa, que se origina na baixa escolaridade dos pais
ou avós. Este grupo se abstém de traficar preconceito. Contudo, se
inquirido diz exatamente o mesmo que os outros grupos.
Os níveis aberto e obsessivo de homofobia ocorrem com maior
freqüência entre adeptos da ideologia política conservadora (direita).
Já à esquerda do espectro político, é mais comum encontrar homofóbicos
passivos, pacientes do nível dissimulado da homofobia. A homofobia,
porém, ocorre com muito maior freqüência à direita.
O nível aberto de homofobia é minoria na sociedade e maioria entre os
homofóbicos. Este grupo trata de fazer campanha contra direitos para
homossexuais e causa pânico veiculando a hipótese da “contaminação gay”.
Esse discurso afeta pacientes dos níveis dissimulado, aberto e
obsessivo com menor escolaridade e gera os atos de violência homofóbica.
O nível obsessivo é vinculado a ideologias nazistas e fascistas que
se aliaram à extrema-direita brasileira e que, além de homofóbicas, são
racistas. Esse grupo adota a prática da intimidação dos homossexuais. A
idéia por trás da violência que pratica contra eles é a de induzi-los a
esconder a própria natureza por medo.
A ciência já identificou a principal origem da homofobia. Segundo pesquisa
da Fundação Perseu Abramo, a variável que mais determina o nível de
homofobia é a escolaridade. Há uma grande diferença de preconceito entre
quem nunca foi à escola e quem concluiu o ensino superior (em %). Vejam
o gráfico abaixo.
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É improvável que se cure a homofobia a curto prazo. Através de leis
como a do racismo será possível conter os níveis aberto e obsessivo
dessa enfermidade psicossocial, mas o nível dissimulado sempre existirá.
O que se pode fazer para reduzir drasticamente o problema, portanto, é
melhorar a educação no Brasil.
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