Felipe Prestes no Sul21
“O veneno está na mesa”, novo documentário do cineasta Silvio Tendler lançado na última segunda-feira (25), traz o relato de especialistas e agricultores e coloca em xeque a atual modelo de produção de alimentos. “O que me motivou a falar sobre o tema foi ter descoberto que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos. Cada brasileiro consome, em média, 5,2 litros por ano”, diz o cineasta, em conversa com o Sul21. “Estamos sujeitos a um envenenamento”, alerta o documentarista, que quer massificar a audiência sobre seu documentário.
Tendler nunca fora ligado à causa agroecológica. Um alerta do escritor uruguaio Eduardo Galeano há cerca de dois anos o fez ter maior interesse pelo tema. Depois de percorrer o Brasil, recolhendo depoimentos em Estados como Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso e Rio Grande do Sul, o cineasta faz defesa ardorosa de um novo modelo de agricultura. “A grande conclusão do filme é que se a gente quer continuar vivendo e salvar o planeta temos que buscar outro modelo, de agricultura orgânica, temos que abandonar os transgênicos e os defensivos agrícolas, que nada mais são do que agrotóxicos”, afirma.
Durante a conversa por telefone, Tendler afirmou que “estamos sujeitos a um envenenamento” e chamou atenção para o fato de que, muitas vezes, o consumidor pensa no agrotóxico apenas quando vai escolher verduras ou legumes. “Por estar no trigo e na soja, o agrotóxico está em muitos outros produtos, como pães e pizzas”.
Entre os depoimentos mais estarrecedores do documentário, o cineasta destaca o que ocorreu com uma agricultora que sofreu uma esclerose múltipla gravíssima com apenas 32 anos de idade. Desde os doze anos, ela trabalhava na lavoura de fumo no Rio Grande do Sul.
Segundo Tendler, é bem mais difícil estabelecer quais são os efeitos dos agrotóxicos para os consumidores do que nos agricultores que manejam estes produtos. Mas ele afirma que o crescimento da incidência de algumas doenças como o Mal de Alzheimer e o câncer indicam uma relação, defendida por especialistas, embora não haja provas. “Acho que não vale a pena pagar para ver”, sentencia.
O filme mostra ainda uma pesquisa realizada com 62 mulheres no Mato Grosso, que mostra que todas as 62 tinham agrotóxico no leite. “Bem não pode fazer. Você vai querer que seu filho tome agrotóxico pelo leite materno?”, questiona Tendler. E apresenta alternativas ao atual modelo de produção, como a história de um pequeno agricultor e a experiência da Argentina, onde a presidenta Cristina Kirchner abriu investigação oficial sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde.
A película também traz dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que mostram que, em 2009, 30% de cerca de 3 mil produtos analisados traziam níveis acima dos toleráveis de agrotóxicos. Após o lançamento do filme, no Teatro Casa Grande, Rio de Janeiro, uma especialista da Anvisa participou de debate. Letícia da Silva falou sobre a pressão exercida pelas transnacionais fabricantes de agrotóxicos. “Primeiro, tentam desqualificar nossos argumentos com pesquisas científicas mostrando que os agrotóxicos não fazem mal; depois, recebemos pressão diretamente de deputados ligados à bancada ruralista; por fim, entram com ações na justiça para continuar a venda dos agrotóxicos”, disse Letícia, segundo o portal do MST.
Silvio Tendler acredita que o filme, com duração de 50 minutos, não ficará restrito a um grupo pequeno de militantes das causas ecológicas e de esquerda. “Acho que este filme não tem clivagem entre direita e esquerda. Todos podem se interessar por este tema, ninguém apenas por ser de direita vai querer gerar um monstro”, diz. Para que a divulgação do tema seja efetiva, ele afirma que a película será distribuída gratuitamente e disponibilizada na internet. “O importante é que as pessoas assistam”, resume.
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