Raymundo Araujo Filho no CORREIO DA CIDADANIA |
Não gosto de disseminar conteúdos sobre política sem registrar meu comentário, pois política sem debate ou opinião firmada pelos interlocutores é prosopopéia inútil. Como recebi de um entusiasta do MST a reprodução sem comentários do diálogo entre Stédile e Dilma, talvez na certeza de que ali se travava um debate entre um justo e uma injusta, tento aqui colocar alguns pingos em alguns is. Senão vejamos: Primeiro a escolha do palco para o "enfrentamento". Nenhum seria melhor do que este Fórum Social Mundial (e os Fóruns Temáticos) em Porto Alegre, chancelado e a partir da terceira edição totalmente hegemonizado pelas "forças militantes" do PT, tornando mais esta experiência que poderia ser virtuosa apenas em palco para claques políticas e partidárias. Uma espécie de FPU (Fórum do Pensamento Único), nada mais se encontrando por lá em termos de diversidade cultural, ideológica e política. No máximo uns europeus, canadenses e estadunidenses com cara de bobos alegres, ávidos por contatos com "o povo pobre da América Latina e África". Em 2003, foi premonitória do que vinha por aí a tortada na cara que José Genoíno levou por parte de uma militante, sob o dizer “vocês (o governo recém empossado de Lula) não nos representam”. Hoje, Genoíno é um obscuro assessor do Ministério da Defesa e tem toda a confiança de jobin, zé dirceu é vendedor de cacimbas de plástico do Salinas (México) para Dilma (aliás, uma burrada sem tamanho em termos de levar água para o semi-árido nordestino e adjacências) e o Brasil é o que é, ponto de encontro do capitalismo mundial. Depois, o local "sui generis" para o encontro de Stédile e Dilma: uma reunião fechada, com convidados especiais das cúpulas partidárias, ONGs amigas e demais aliados, todos imbuídos de fazer a aliança resistir às diferenças de opinião, pois é o poder que está em jogo (e as verbas, liberadas em conta-gotas, e sob condições políticas explícitas). E o poder, como sabemos, é a principal meta, desde que eles sejam os dirigentes. A mídia amiga, do PIL (Partido da Imprensa Lullista) já estava toda preparada para divulgar "o nível de democracia de nosso Brasil, il, il, il". A presidente Dilma em “confronto direto” com o secretário geral do MST, Stédile. Agora os fatos: dias antes deste "confronto", o dirigente do MST Joaquim Pinheiro deu entrevista expondo o que venho denunciando há vários anos, e responsabilizando os dirigentes do MST por permitirem, aliás, colaborarem com isso. Literalmente disse que o MST está no chão, sem capacidade de mobilização, que atribui ao crescente nível de emprego no país, ao Bolsa-Família e à inatividade do governo federal com a paralisação da reforma agrária. Lembro a todos que 65% dos empregos do país são de salário mínimo, que corresponde a cerca de US$ 60, em se comparando ao dólar de FHC (cerca de R$3,60, ao final do mandato). E como sabemos, a cotação do dólar é fictícia, respondendo mais às necessidades políticas do que a qualquer coisa mensurável pela econometria. Primeira pergunta: por que um governo avançaria em um programa como a Reforma Agrária se a demanda (pressão popular) é quase nula? Ora! É porque um "governo popular tem esta obrigação, a de democratizar o acesso e uso da terra", diria algum entusiasta lulo-petista-dilmista. Conclusão aristotélica, obrigatória por parte de quem não gosta do "dito pelo não dito": este governo do PT não é de cunho e ideologia populares, portanto. Se fosse, faria avançar a Reforma Agrária, ao invés de boicotá-la, em clara opção pelos ricos do setor agroindustrial exportador de matérias-primas monoculturais e minerais. Segunda pergunta: por que então o MST apóia politicamente este governo, fingindo não ver que ser derrotado sem luta, aliás, apoiando quem nos trai, é pior, pois não deixa sementes nem histórias para, quem sabe um dia, novas forças recomeçarem tal luta, com outras perspectivas (a não ser que os "esquerdistas" de agora persistam nos tempos vindouros, o que seria um desastre). Com este substrato, no debate aludido aqui e que está disponível na internet, Stedile dirige-se respeitosamente para aquela que veio terminar o serviço iniciado por Lula, isto é, acabar com o MST, só que "democraticamente", sem uma borrachada, como faziam os outros presidentes. Já é alguma coisa, diriam alguns. E muitos, além de acharem isso, se locupletaram com cargos públicos por nomeação (o MST sempre teve gente deles nomeada no INCRA, MDA e outros ministérios e governos estaduais e municipais, em clara situação que chamo de promiscuidade institucional), além de falcatruas como o PRONERA em MG, junto com a Universidade Metodista (segundo denúncia inequívoca do companheiro Julio Castro, aliás, ameaçado de morte por um dirigente do MST mineiro, que atende pelo nome de Cristiano). Na sua preleção retoma, de forma monótona e quase cifrada, toda a agenda abandonada pelo governo (pasmem, até o governo FHC superou os números do PT na Reforma Agrária), na mesma lengalenga anódina que estamos acostumados a ouvir, como se estivesse a dizer para a presidente Dilma "se preocupa não, pois tapa de amor não dói", reafirmando que as críticas não significam nenhuma possibilidade de rompimento e tornando mais popular ainda um ditado que tanta desgraça já causou neste país machista e misógino, como é o Brasil. Dilma respondeu, simplesmente DEMOLINDO a prosopopéia "frapé" do Stédile, reafirmando como verdades todas as mentiras que estávamos acostumados a ouvir do... FHC (e do Collor). E tudo ficou por isso mesmo, todos satisfeitos com o grau de "democracia" deste Brazil, zil, zil, zil. Em seguida, a presidente Dilma foi a Cuba (onde ficou um só dia - menos que na Bulgária, terra natal de seu pai, e sem nenhuma importância para nosotros brasileiros). Lá fez bonito, questionada sobre os direitos humanos, mencionou Guantánamo "colocando uma saia justa nos EUA", como ouvi um basbaque falar, como se o Brasil tivesse alguma importância política no mundo e não fosse apenas a maior Casa de Tolerância do Capitalismo Internacional, como somos hoje - quando não se fazem mais meretrizes como antigamente, pois aquelas ao menos cobravam alto pelos seus serviços. Dilma não fez mais nada do que sua obrigação como convidada de um governo, mas usou isso como um cala-boca na "esquerda brasileira", para gáudio da Ex-Esquerda Corporation W.C. Ao sair, deixou umas moedinhas para Cuba que, país pobre que é, e sujeito ao bloqueio econômico, não pôde rejeitar, e até agradeceu, o que fez muito bem, visto o beco sem saída em que está, infelizmente. Não sem parcela de responsabilidade de seus dirigentes, o que, no entanto, não me faz imprecar contra eles, como agora fazem alguns "esquerdistas mudernos". Ato contínuo, a presidente do Brasil, país que nos últimos dois anos recebeu de braços abertos e com visto de trabalho cerca de 80 mil estrangeiros, quase todos brancos e europeus, que vieram para o Brasil como numa redescoberta do Novo Mundo quinhentista, disse aos haitianos que o Brasil recebeu de braços abertos 4 mil haitianos e vai receber mais mil....POR ANO, isto é, 40 vezes menos do que recebe de europeus, sem impor restrições. Temo uma guerra civil no Haiti, na fila de vistos diplomáticos para o Brasil... Assim, Dilma deu um cala-boca nesta "esquerda" de Stédiles e que tais, que a acompanha nesta aventura governamental dizendo que "não corremos o risco de voltar ao neoliberalismo" (é lógico, pois dele não saímos...). Uma resposta tão contundente quanto mentirosa ao Stédile, em um Fórum Internacional, além da viagem de "marketing" pessoal, como uma Rainha de Sabá, a distribuir esmolas aos seus primos pobres do Caribe. E de quebra alguma movimentação tímida, sem graça, sem eficácia e tardia, sobre o Massacre do Pinheirinho, talvez para encobrir a paralisia das forças petistas que dizem antagonizar o PSDB, e com o rabo preso por ação de igual teor, com violenta desocupação de área, feita pelo governo petista do Distrito Federal, outro dia, mas não noticiado (vide http://emicles.blogspot.com/2012/01/fiscalizacao-derruba-500-edificacoes.html). Pra não falar do apoio a governos que segue à risca, só que sob o lema "DESOCUPA", como são o de Sérgio Cabral Filho e Eduardo Paes (RJ e Rio). Com uma fachada desta, qual "esquerdista" vai contestar o que vai por aqui? O chato é esperar o que VIRÁ por aqui... Assim, fica a possibilidade de um "enfrentamento" mixuruca, sem resultado algum, virado senão em mais uma derrota do que seria a reivindicação de um projeto social consistente para o país, cuja política de habitação não dependesse dos "humores e rentabilidade" para os empresários (como declarou um empreiteiro n'A Folha...), uma Reforma Agrária que signifique a mudança de rumos e de modelo econômico (mais do que neoliberal, a meu ver) e tudo aquilo que todos estão cansados de saber, mas que apenas uma minoria tem a coragem de denunciar, sem que esteja por trás apenas a luta política para o retorno do outro time de Ali Babás para nos governar. Assim, Stédile conseguiu a visibilidade que necessita para fingir que "continua na luta" e Dilma ampliou a sua área de manobra, engolindo o Stédile e jogando para a platéia da Ex-Esquerda Corporation W.C., para tudo "continuar como d'antes no quartel do Abrantes", inclusive em Guantánamo, pois, como já escrevi acima, mas repito convicto, Dilma e o Brasil NADA, ABSOLUTAMENTE NADA, representam na geopolítica mundial, sendo somente o país onde o capitalismo poderá se reorganizar para a sua nova etapa de exploração. Qualquer interpretação diferente desta que faço, do "embate de Itararé" entre Stédile e Dilma, terá de vir acompanhada de fatos, e não apenas conjecturas pessoais. Raymundo Araujo Filho é médico veterinário, homeopata e reinicia em 2012 a sua labuta de articulista chato e crítico, escrevendo Lula e Dilma com um "l" só, mas adotando o mesmo para o Collor (agora Color) por considerá-lo apenas um aprendiz de feiticeiro, comparando-o com o que vai nas nossas costas com estes "governos populares" que temos tido de uns anos para cá. |
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Diálogos entre Stedile e Dilma
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