Rodrigo Choinski no CORREIO DA CIDADANIA |
A reorganização da economia brasileira sob a batuta da presidente em
chefe Dilma Rousseff frente à crise econômica global, não pára de
eclodir em pequenas novidades aleatórias. O alvo agora é a poupança.
“Nossa” chefe maior anunciou que pretende uma reestruturação da
principal forma utilizada pelos brasileiros para pouparem suas
economias. A idéia é simples e palatável. Com os juros base baixando,
chegaria um ponto em que a poupança seria mais vantajosa que os títulos
governamentais, pois tem um piso de juros fixado em lei (6,17% ao ano);
assim o governo não teria mercado para financiar seu endividamento.
Ninguém compraria títulos do governo, aplicariam na poupança.
O objeto da mudança é óbvio, baixar o piso de rendimento fixado em
lei, ou talvez acabar com ele. Mas será mesmo aquele o motivo? Não seria
melhor criar uma modalidade especial de poupança que garantisse o
rendimento, como é hoje, mas que tivesse condicionalidades para que
apenas os trabalhadores pudessem acessá-la, ou talvez fixar valores
máximos, evitando que investidores migrassem para a poupança? É claro
que há mais por trás disto. Podemos pensar em três razões.
1) Super-consumo
A fórmula de super-consumo, que tem nos EUA sua estrutura mais
determinada, traz vários benefícios para a manutenção da ordem
capitalista. O crédito barato garante os lucros da iniciativa privada,
pela manutenção de preços sobrevalorizados, pagos em parcelas
compatíveis com salários baixos. O consumo estéril de porcarias
tecnológicas (entre outras), com sua devida obsolescência programada e
altos custos ambientais e humanos, dá uma falsa idéia de prosperidade e
liberdade – mesmo nos regimes mais fechados e oligárquicos, como no
Brasil ou nos EUA – servindo como um útil sistema de controle social.
Por outro lado, o mesmo tipo de consumo endivida o trabalhador, exigindo
uma maior disciplina e a aceitação de condições cada vez piores de
trabalho, sem contar no desestimulo à sindicalização e à luta por
direitos. É a chantagem do capital, que ameaça com o desemprego aquele
que não se submete ao seu regime. Com uma poupança menos vantajosa e
crédito mais barato, o que teremos é o aumento desenfreado deste tipo de
consumo.
2) Acabar com a vantagem da poupança frente a fundos de investimento
Vimos nos últimos tempos uma queda de rendimentos de fundos de
investimento (CDIs, por exemplo). Alguns destes fundos concorrem
diretamente com a poupança e têm levado desvantagem. Esta queda é
reflexo de uma economia em crise, pois os fundos têm seus ganhos
baseados na efetividade econômica de seus repasses para a dita ‘economia
real’. Se os negócios vão mal estes fundos acompanham. Retirar o
rendimento piso da poupança daria fôlego para esta modalidade de
investimento, inclusive evitando possíveis quebras, pois também demandam
um fluxo continuo de recursos para se manter, que, secando, trariam uma
evolução negativa.
3) Super-lucros
É claro, os bancos e seus fundos de investimentos ganhariam com a
mudança, mas mais que isto, pagando menos pela poupança teriam acesso a
dinheiro mais barato. A maioria dos trabalhadores que mantém o dinheiro
na poupança não vai deixar de fazê-lo mesmo que haja uma queda de
rendimento. Diminuir a já ínfima parte que repassam aos trabalhadores
por deixarem seu dinheiro para os bancos utilizarem nas suas negociatas é
um lucro fácil e certo.
Rodrigo Choinski
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
terça-feira, 8 de maio de 2012
Dilma mira poupança com desculpa esfarrapada
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