Crédito : Patricia Piccinini
A
distribuição da verba publicitária do governo federal no Brasil é feita
da seguinte maneira: 70% fica nas mãos dos dez maiores veículos de
informação, entre jornais, rádios e tevês. Não passa despercebido o fato
de que os maiores são também os mais conservadores e direitistas do
país, apelidados de “PIG” – Partido da Imprensa Golpista. O jornalista e
escritor Rui Martins resumiu o fato da seguinte maneira: O governo
financia a direita.
Martins
vive atualmente em Berna na Suíça. Foi exilado durante a ditadura, é
líder emigrante, membro eleito do Conselho Provisório e do atual
Conselho de emigrantes (CRBE) junto ao Itamaraty, criou os movimentos
Brasileirinhos Apátridas e Estado dos Emigrantes, escreveu o livro
“Dinheiro Sujo da Corrupção”, em que fala sobre as contas suíças
secretas de Maluf. Trabalhou em veículos como CBN e Estadão e hoje
colabora com o Expresso, de Lisboa, Correio do Brasil e agência BrPress.
“O
Brasil padece de sadomasoquismo, mas quem bate sempre é a direita e
quem chora e geme é a esquerda”, escreve em um artigo que analisa o
financiamento público a uma imprensa de factoides e manipulação,
preterindo a imprensa esquerdista. Reproduzimos o artigo na íntegra e
recomendamos não só a leitura, mas principalmente a reflexão.
O governo Financia a direita
Rui
Martins – Berna – Suíça - Daqui de longe, vendo o tumulto provocado com
o processo Mensalão e a grande imprensa assanhada, me parece assistir a
um show de hospício, no qual os réus e suspeitos financiam seus
acusadores. O Brasil padece de sadomasoquismo, mas quem bate sempre é a
direita e quem chora e geme é a esquerda.
Não
vou sequer falar do Mensalão, em si mesmo, porque aqui na Suíça, país
considerado dos mais honestos politicamente, ninguém entende o que se
passa no Brasil. Pela simples razão de que os suíços têm seu Mensalão,
perfeitamente legal e integrado na estrutura política do país.
Cada
deputado ou senador eleito é imediatamente contatado por bancos,
laboratórios farmacêuticos, seguradoras, investidores e outros grupos
para fazer parte do conselho de administração, mediante um régio
pagamento mensal. Um antigo presidente da Câmara dos deputados, Peter
Hess, era vice-presidente de 42 conselhos de administração de empresas
suíças e faturava cerca de meio-milhão de dólares mensais.
Com
tal generosidade, na verdade uma versão helvética do Mensalão, os
grupos econômicos que governam a Suíça têm assegurada a vitória dos seus
projetos de lei e a derrota das propostas indesejáveis. E nunca houve
uma grita geral da imprensa suíça contra esse tipo de controle e
colonização do parlamento suíço.
Por
que me parece masoca a esquerda brasileira e nisso incluo a presidente
Dilma Rousseff e o PT ? Porque parecem gozar com as chicotadas
desmoralizantes desferidas pelos rebotalhos da grande imprensa. Pelo
menos é essa minha impressão ao ler a prodigalidade com que o governo
Dilma premia os grupos econômicos seus detratores.
Batam,
batam que eu gosto, parece dizer o governo ao distribuir 70% da verba
federal para a publicidade aos dez maiores veículos de informação
(jornais, rádios e tevês), justamente os mais conservadores e
direitistas do país, contrários ao PT, ao ex-presidente Lula e à atual
presidenta Dilma.
Quando
soube dessa postura masoquista do governo, fui logo querer saber quem é
o responsável por essa distribuição absurda que exclui e marginaliza a
sempre moribunda mídia da esquerda e ignora os blogueiros, responsáveis
pela correta informação em circulação no país.
Trata-se de uma colega de O Globo, Helena Chagas, para quem a partilha é justa – recebe mais quem tem mais audiência! diz ela.
Mas
isso é um raciocínio minimalista! Então, o povo elege um governo de
centro-esquerda e quando esse governo tem o poder decide alimentar seus
inimigos em lugar de aproveitar o momento para desenvolver a imprensa
nanica de esquerda ?
O
Brasil de Fato, a revista Caros Amigos, o Correio do Brasil fazem das
tripas coração para sobreviver, seus articulistas trabalham por nada ou
quase nada, assim como centenas de blogueiros, defendendo a política
social do governo e a senhora Helena Chagas com o aval da Dilma Rousseff
nem dá bola, entrega tudo para a Veja, Globo, Folha, SBT, Record,
Estadão e outros do mesmo time ?
Assim,
realmente, não dá para se entender a política de comunicação do
governo. Será que todos nós jornalistas de esquerda que votamos na Dilma
somos paspalhos ?
Aqui
na Europa, onde acabei ficando depois da ditadura militar, existe um
equilíbrio na mídia. A França tem Le Figaro, mas existe também o
Libération e o Nouvel Observateur. Em todos os países existem opções de
direita e de esquerda na mídia. E os jornais de esquerda têm também
publicidade pública e privada que lhes permitem manter uma boa qualidade
e pagar bons salários aos jornalistas.
Comunicação
é uma peça chave num governo, por que a presidenta Dilma não premiou um
de seus antigos colegas e colocou na sucessão de Franklin Martins um
competente jornalista de esquerda, capaz de permitir o surgimento no
país de uma mídia de esquerda financeiramente forte ?
Exemplo
não falta. Getúlio Vargas, quando eleito, sabia ser necessário um órgão
de apoio popular para um governo que afrontava interesses
internacionais ao criar a Petrobras e a siderurgia nacional. E incumbiu
Samuel Wainer dessa missão com a Última Hora. O jornal conseguiu
encontrar a boa receita e logo se transformou num sucesso.
O
governo tem a faca e o queijo nas mãos – vai continuar dando o filet
mignon aos inimigos ou se decide a dar condições de desenvolvimento para
uma imprensa de esquerda no Brasil ?
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