TV Globo e os terroristas do campo
Por Altamiro Borges
Em outubro de 2009, integrantes do MST ocuparam
uma fazenda grilada pela empresa Cutrale no município de Iaras (SP). Revoltados
com a lentidão da reforma agrária, ativistas destruíram pés de laranja com
tratores. Apesar da direção do movimento ter criticado a iniciativa, a cena foi
superexplorada pela mídia ruralista. A TV Globo, já em campanha para a sucessão
de 2010, reproduziu o vídeo inúmeras vezes. Ontem, porém, ela silenciou sobre uma
ação terrorista dos ruralistas em terras indígenas no Mato Grosso.
Segundo relato dos jornalistas Daniel Carvalho e Juca
Varella, na Folha deste domingo, os fazendeiros que invadiram ilegalmente
terras dos índios xavantes Marãiwatsédé, na cidade Alto da Boa Vista (MT),
utilizaram métodos terroristas para sabotar ontem uma ação de despejo liderada
por agentes do Incra e da Polícia Federal. “Eles usam táticas de guerrilha
contra forças federais para tentar impedir despejo, queimam ponte, bloqueiam
estrada e armam um ataque frustrado”. A emboscada poderia até ter causado
mortes.
Emboscada e coquetéis molotov
Os grileiros chegaram a fabricar coquetéis molotov. “Quem
está com bomba fica desse lado. Quem não está fica desse outro”, dizia um
deles, de cima de uma caminhonete. “Era uma emboscada para os agentes de
segurança. A ideia era atacá-los e depois tocar fogo ao caminhão com a mudança,
em protesto. Um produtor da região, de cerca de 60 anos, puxou conversa com os
jornalistas. Em tom jocoso, questionou se o repórter não estaria disposto a ‘pegar
umas pedras’ e se juntar aos manifestantes”, descrevem os repórteres.
Ainda segundo os jornalistas, “a tensão ia aumentando. Uns,
mais preocupados, diziam: ‘Dessa vez não vai ser bala de borracha’. Um homem
retrucou: ‘Mas aqui também tem [bala de verdade]’. De repente, as luzes se
apagaram. A escuridão era quebrada apenas pelos faróis do comboio de 20 carros
de polícia que se aproximava. Um grupo de quatro manifestantes se aproximou do
primeiro carro, de onde saíram quatro soldados armados. ‘Nem mais um passo,
senão a gente atira’, gritou um soldado da Força Nacional”.
A seletividade da mídia ruralista
“O barril de pólvora que se armou na região não havia
explodido até a conclusão desta reportagem, mas a disposição de quem está em
Posto da Mata deixava claro que pode ser apenas uma questão de tempo. ‘Vai
morrer homem, mulher. Estou disposto a morrer pelo que tenho’, dizia Odemir
Perez”. A invasão da reserva dos Marãiwatsédé foi planejada por ricaços
ruralistas, que alistaram pequenos produtores e contam com o apoio de políticos
da direita. Dom Pedro Casaldáliga há muito denuncia o clima de tensão na
região.
O conflito, porém, nunca foi destaque na mídia ruralista.
Quando da ocupação da fazenda grilada da Cutrale em 2009, jornais, revistas e
emissoras de tevê fizeram um baita escândalo. Eles ajudaram a criar o clima
para a instalação da CPI do MST, visando criminalizar o movimento dos
trabalhadores rurais sem-terra. Agora, a mídia nada fala sobre a ação
terrorista dos ruralistas no Mato Grosso. Nem sequer um vídeo no Jornal
Nacional da TV Globo. E ainda tem gente que acredita na neutralidade da
imprensa burguesa!
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