Prefeito e deputado acreditam em decisão favorável do Ministério da Saúde sobre cubano que atendeu emergência
Paulo Argollo, presidente do Simers, disse que o caso não era grave, mas dias depois o paciente morreu
por Conceição Lemes no VIOMUNDO
Candiota fica a cerca de 400 quilômetros de Porto Alegre (RS),
população estimada em 10 mil habitantes e uma peculiaridade: possui 32
assentamentos de reforma agrária e várias comunidades quilombolas.
Até o início de janeiro, provavelmente poucos fora do Sul do Brasil
tinham ouvido falar desse município gaúcho, na faixa de fronteira.
Foi quando então ganhou destaque na mídia nacional.
O médico cubano Maikel Ramirez Valle, do Programa Mais Médicos, foi
denunciado pelo Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) por
atender um paciente em estado grave no Hospital de Candiota. Pelo
contrato, os participantes só podem atuar em unidades de atenção
básica dos municípios.
Candiota tem sete médicos, apenas um reside na cidade. É justamente
Maikel Ramirez Valle, o único credenciado no Programa Mais Médicos.
Tudo aconteceu em 2 de janeiro.
O médico escalado para o plantão tinha ido a Bagé acompanhar um
paciente, e o substituto atrasou-se. Deveria entrar às 8h, chegou às
9h15.
Nesse período, um doente grave chegou ao hospital. Como não havia
outros médicos no município naquele horário, Valle foi chamado em casa
para atender o caso.
“A Secretaria de Saúde foi comunicada que não havia médico para
realizar o atendimento. E, devido ao risco de morte, solicitada a
autorização para que o profissional do Mais Médicos o fizesse”, conta ao
Viomundo o prefeito Luiz Carlos Folador. “Ao perceber
a urgência do quadro, ele encaminhou o paciente para o pronto-socorro
da Santa Casa de Bagé, com maior estrutura e referência para a nossa
região.”
Em Bagé, o médico responsável pela internação percebeu que a
requisição não continha o número do registro profissional e denunciou o
caso ao Simers, cujo presidente é Paulo de Argollo Mendes. Ele está há 16 anos no poder, sempre foi contra a vinda de médicos estrangeiros, embora tenha dois filhos formados em Medicina, em Cuba.
Ao Jornal Minuano,
Argollo disse: “A informação que nós temos é de que não tinha nenhum
médico atrasado. Outra informação que chegou até nós é de que o quadro
do paciente não era tão grave”.
O caso era grave. Tanto que, depois de alguns dias internado na Santa
Casa de Bagé, o paciente morreu, mostrando o encaminhamento correto do
médico cubano.
Quanto à outra acusação de Argollo – a de que não havia médico
atrasado –, Folador afirma: “Realmente, o plantonista estava atrasado.
Está tudo relatado e comprovado na defesa que encaminhamos ao Ministério
da Saúde”.
“Desde o primeiro momento, o presidente do Simers não estava
preocupado com o fato em si, com a verdade. Só queria achar um motivo
que pudesse desmoralizar o programa Mais Médicos”, diz o deputado
federal Paulo Pimenta (PT-RS). “O Simers e o seu presidente sempre se
posicionaram abertamente contra o programa.”
O futuro do médico cubano e de Candiota no Programa Mais Médicos está
na berlinda. A decisão final do caso deve sair nos próximos dias.
Perguntamos ao prefeito Luiz Carlos Folador o que significa para
Candiota perder o doutor Maikel Ramirez Valle e o eventual
descredenciamento do município do Mais Médicos.
“Não contamos com essa possibilidade. Confiamos na sensibilidade do
Ministério da Saúde, pois foi, de fato, um caso excepcional, isolado, e
já comprovamos isso. Não temos nenhum médico morando em Candiota, a
exceção é o profissional do Mais Médicos. A quantidade de médicos em
nossa cidade não é suficiente. Nosso Pronto-Atendimento recebe pessoas
de outros municípios que veem trabalhar aqui. Também temos núcleos de
famílias assentadas e comunidades quilombolas”, analisa Folador. ”O
descredenciamento seria uma perda irreparável, seria o maior dos
prejuízos.”
Paulo Pimenta também acredita numa decisão favorável: “Não vamos
permitir que posições corporativistas busquem contaminar e confundir a
opinião pública sobre o Mais Médicos, que, além de requisitar
profissionais estrangeiros, também está fazendo investimentos em
infraestrutura e ampliando os cursos de graduação em medicina no país”.
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