terça-feira, 6 de maio de 2014

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A maioria das pessoas queimadas vivas em Odessa eram do Partido Comunista ou de esquerda

Editorial de odiario.info


Em 1905, Odessa foi palco do massacre de trabalhadores grevistas em solidariedade com os marinheiros revoltosos do couraçado “Potiómkine”. Em 2014, os nazis da Junta que o golpe imperialista instalou na Ucrânia cometeram mais um hediondo massacre na cidade, assassinando e queimando vivas dezenas de pessoas. A tresloucada agressão imperialista em marcha mostra a cada dia a face criminosa e bárbara. E nem os grandes media ao seu serviço podem já ocultá-la.

Nas redes sociais começam a aparecer as primeiras informações acerca da filiação política das vítimas da carnificina na zona do “campo de Kulikovo” que os activistas de “Praviy Séktor” em Odessa organizaram ontem. A maioria dos que ontem foram queimados vivos pertencia a organizações de esquerda, ao Partido Comunista e ao “Borotba”.
“A “druzhina” de Odessa continua viva. Há feridos, detidos, gente que passou à clandestinidade, mas não parece que haja mortos. As organizações de esquerda, PCU e “Borotba”, foram quem mais sofreu. São na sua maioria membros seus os que foram queimados na Casa dos Sindicatos”, informam os utilizadores das redes sociais.
Aqueles que sobreviveram na Casa dos Sindicatos são sujeitos a prisão preventiva, acusados de terrorismo e separatismo, informa o utilizador @pmzher
Todas essas fábulas sobre supostos agentes russos entre os queimados que os media ucranianos difundem são desmentidas pelas Forças da Ordem de Odessa e pelos registos que mostram que os falecidos tinham documentação ucraniana.
Uma vez extinto o incêndio no edifício da Federação regional dos Sindicatos foram encontrados 36 corpos de falecidos, informa o serviço de imprensa da Direcção Geral da Protecção Civil da região de Odessa.
A informação é de que, no total, após os confrontos entre “Praviy Sektor” e militantes “anti-Maidán”, há 43 falecidos e 174 feridos entre os partidários da federalização.
Um dos sobreviventes: “Encurralaram-nos dentro do edifício e fecharam todas as vias de saída”
O redactor de “Antifascista” conseguiu pôr-se em contacto telefónico com um dos activistas no campo de Kulikovo, que sobreviveu milagrosamente ao terrível incêndio ateado pelos assassinos da Junta no edifício da Casa dos Sindicatos de Odessa. Yuri, este alferes da reserva de 49 anos, várias horas passadas, continua em estado de choque e dá graças a Deus por ter podido regressar do inferno.
Nas palavras de Yuri, em Kulikovo no momento dos confrontos com os “cães” de Praviy Séktor”, não estavam mais de 250 companheiros. Esse número incluía cerca de três dezenas de jovens do serviço de segurança; o resto eram naturais de Odessa de meia-idade e pessoas de idade avançada, entre os quais muitas mulheres.
“Após os confrontos na rua Gréchaskaya e na praça Sobornaya, os fascistas começaram o ataque no campo de Kulikovo. Eram milhares. As forças eram claramente desiguais e para além disso nós não tínhamos qualquer tipo de arma. Vimo-nos obrigados a retroceder e a refugiar-nos na Casa dos Sindicatos, que se encontrava próximo. Tudo o que sucedeu depois é algo que não me cabe na cabeça”, prossegue a voz trémula da testemunha.
Segundo Yuri, dispararam contra ele com armas de fogo e pistolas de ar comprimido. “O jovem que tinha a meu lado foi um dos primeiros a cair. Encurralaram-nos dentro do edifício e fecharam todas as vias de saída. Eu vim dar à ala direita do terceiro piso. Éramos umas dez pessoas num compartimento. Os nazis de Praviy Séktor começaram a lançar cocktails molotov e a disparar contra as janelas. O primeiro piso estava em chamas e estas iam subindo. O fumo invadia os corredores. Não havia forma de sair. Houve quem saltasse das janelas. Lá em baixo acabavam de os matar. Ouviam-se gritos de “Slava Ukrainie” e “Smiert vragam” (gloria à Ucrânia, morte aos inimigos) …Era um autêntico inferno. Chegaram os bombeiros e começaram a extinguir o primeiro piso…”, relata a testemunha.
Com dificuldade consegue recordar o que fez depois. “Todos à volta estavam a asfixiar, no edifício ouviam-se gritos de desespero e súplicas pedindo compaixão…
Recordo como despi o fato camuflado, e o jovem “à civil” que tinha ao lado deu-me uma camisola desportiva. Lançámo-nos ao corredor, tropeçando nos cadáveres. Havia una grande quantidade, não saberia dizer quantos, mas muitos…estava tudo às escuras, alguma coisa rangia em volta. Chegámos como zombies à escada de incêndio do 1º piso. Nem sei como o conseguimos. No 1º piso o fogo já tinha sido controlado. Junto à saída de emergência vimos vários nazis. Estavam a fazer-se de foliões e quando nos mandaram parar, respondemos-lhes: “eh rapazes, somos dos vossos”. Fosse pelo que fosse não quiseram averiguar mais. Pelo visto tinham outras tarefas encomendadas… Conseguimos assim sair para o exterior e, sem nada que nos identificasse, confundir-nos entre a multidão…”, relata Yuri.
“Perdemos essa batalha porque não estávamos preparados nem organizados. Mas todos os caídos em Kulikovo são uns heróis. Enfrentaram uma morte certa. É o Kátyn de Odessa… quando pude respirar e voltar a mim (estalava-me a cabeça, apenas podia falar), marquei o número do meu amigo que estava no edifício da Casa dos Sindicatos, em algum dos pisos inferiores…alguém atendeu e disse que estava morto…nunca esquecerei este horror…” resumiu o nosso interlocutor e pusemos fim à entrevista, enquanto nos dizia que ia continuar a ligar para todos os companheiros dos quais possui o número de telefone, para tentar averiguar quem sobreviveu.

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