Essa idéia de quem somos vem até nós porque interpretamos a realidade através dos nossos sentidos. Pensamos que nossos sentidos nos dão uma imagem precisa do mundo. Nós temos essa idéia de que a experiência sensorial é o teste crucial da realidade, que somente se eu puder tocar alguma coisa é que ela realmente existe, caso contrário, está apenas “na minha imaginação”. Mesmo do ponto de vista do “senso comum”, sabemos que isso não é verdade.
Meus sentidos me dizem que a terra é plana e ninguém acredita mais nisso. Meus sentidos me dizem que o chão, no qual eu estou de pé, está parado, mas eu sei que ele está se movendo, através do espaço, em uma velocidade estonteante. Meus sentidos me dizem que certas coisas têm uma certa textura, cor, cheiro, mas o que eu percebo dessas coisas não é realmente sua natureza intrínseca, é a resposta do observador. É como os meus sentidos decodificam alguma coisa que é muito mais vasta, mais abstrata e bastante inefável.
Neste momento, 99% das pessoas, nesta sala, estão recebendo menos do que um bilionésimo dos estímulos que estão presentes na sala. Os estímulos que as pessoas realmente recebem são governados pelo conceito daquilo que você pensa que existe “lá fora”. Se você não tem o conceito, você não vai perceber. Com efeito, isto não existe para você. O que nós chamamos realidade é, na verdade, o resultado de uma coleção de nossas experiências subjetivas. Se acontecer de a gente concordar com aquelas experiências subjetivas, nós chamamos isto de “ciência objetiva”. Mas “ciência” não é nada mais que um método de explorar o mapa daquilo que nós pensamos que é a verdade. Ciência não é um método para explorar a verdade. Ciência é uma extensão do nosso mapa da realidade...
O modelo do qual nós pensamos ter nos originado está congelado num modelo obsoleto — modelo que aparece ao corpo como uma estrutura anatômica congelada. De fato, o corpo humano (como também tudo na criação) é um rio de inteligência, energia e informação e que está, constantemente, se renovando durante cada segundo desta existência.
O você real, que é permanente, não pode entrar no mesmo corpo duas vezes. A cada segundo, você está renovando seu corpo mais facilmente do que antes. O corpo físico que você tem agora não é o mesmo que você tinha 20 minutos atrás.
Uma pessoa pode examinar um número de processos psicológicos para ver como isso é literalmente verdadeiro. Apenas o ato de respirar: a cada inspiração você inala 10²² átomos do Universo. É uma quantidade astronômica de material cru que vem de todos os lugares e termina como estrutura celular renovada do corpo. A cada expiração, você está expirando 10²² átomos do Universo, que tem sua origem em todos os lugares dentro do seu corpo. Você está literalmente respirando pedaços dos seus órgãos, tecidos e estruturas de DNA.
Tecnicamente falando, nós estamos compartilhando, intimamente, nossa estrutura interna uns com os outros o tempo todo. Você não pode reivindicar exclusividade sobre o seu corpo. Neste momento, no seu corpo físico, você tem mais de um milhão de átomos que já estiveram no corpo de Cristo, Maomé, George Bush e todo mundo. Todo mundo que alguma vez existiu. Parte do material cru deles está no seu corpo. Nas últimas três semanas, apenas um quatrilhão de átomos entrou no seu corpo, depois de ter passado através dos corpos de cada espécie viva no planeta. De acordo com os estudos radioativos isótopos, você regenera quase todo o seu corpo em um ano. Noventa e oito por cento de todos os átomos do seu corpo são substituídos em menos de um ano. Você literalmente faz um fígado novo a cada seis semanas, uma nova pele a cada mês, uma nova parede do estômago a cada cinco semanas, um novo esqueleto a cada três meses, as células do cérebro a cada ano e o D.N.A. (que guarda a memória de milhões de evoluções) que vem e vai a cada seis semanas.
Se você quiser prestar conta de cada átomo no seu corpo, são todos substituídos em menos de dois anos. Se você pensa que é o seu corpo físico, você certamente tem um problema. De qual corpo está falando? O que aconteceu com o corpo do ano passado? Voltou à poeira de onde ele veio uma vez? Está morto e, ainda assim, eu não morri?
Este é o primeiro grande insight que a ciência está começando a compreender. Eu estou, constantemente, vivendo a morte física do corpo neste exato momento. Talvez o corpo seja um lugar que as minhas memórias chamam de “casa” pelo tempo de existência.
Em outras palavras, não é a matéria que produz Consciência — é o contrário. É a Consciência que produz a matéria. Consciência que constrói e se torna matéria física. Será isto apenas uma especulação filosófica oriental? Eu gostaria de dizer que este é um insight científico. Se você for a um físico e perguntar: “Qual é a verdadeira natureza da realidade física?", o físico poderá lhe dizer que a verdadeira natureza da realidade física é que ela é não-física.
Se você olhar para qualquer coisa “material”, verá que ela é feita de átomos, que são feitos de partículas movendo-se a uma alta velocidade em torno de enormes espaços vazios — estas partículas não são objetos materiais de modo algum. São flutuações de energia e informação que ocupam um enorme vazio de informação e energia. Visto através dos olhos de um físico e não, através do artefato da experiência sensorial humana, o corpo humano (ou qualquer outra coisa física) é, proporcionalmente, tão vazio quanto o espaço intergaláctico. Se você pudesse ver alguma coisa como ela realmente é, veria um enorme vácuo com alguns pontos fragmentados (eles mesmos sendo energia) e algumas descargas elétricas (mais energia). O fato é que 99,99999% do corpo humano ou de qualquer coisa é, basicamente, espaço vazio. O 0,00001% que parece material também é espaço vazio.
A coisa toda é feita através do nada. O material essencial do Universo é aquele que não é material de forma alguma. A “coisa” essencial do Universo é “não-coisa”. O aspecto mais interessante disto é que não apenas é “não-coisa”, mas está pensando “não-coisa”, porque nosso espaço interior não é só um vácuo —é o útero da criação—, a Natureza vai para o mesmo lugar para criar uma galáxia ou um corpo humano assim como um pensamento, porque o que é um pensamento senão um impulso de energia e informação vindo do mesmo Campo Unificado que estrutura e engendra todas as forças da Natureza que, em última instância, é experienciada como “ realidade material”?
Por si só, o campo está além de ambos, “corpo” e “mente”. O “pensador” não está no reino do corpo ou mente — o campo é o “pensador” atrás do pensamento, assim como a causa da mente e do corpo.
Um grande pensador Sufi disse uma vez: “Além das idéias de fazer certo ou fazer errado, existe um campo — eu encontro você lá.” Einstein falou sobre o campo. Ele disse que não é um modelo atual para eventos de espaço-tempo que nós chamamos “realidade material”, mas um campo de potencialidade de todas as possibilidades e estados de energia de informação que, subseqüentemente, se manifesta em eventos de tempo-espaço.
...Na literatura Védica, os Rishis disseram: “Quando eu descobri quem eu realmente era, descobri que não estou na mente, mas a mente sou eu: eu não estou no corpo, mas o corpo sou eu; eu não estou no mundo, mas o mundo sou eu; curvado de volta dentro de mim, eu crio de novo e de novo; em essência, eu sou Aquilo que cria tudo Daquilo — eu sou Aquilo, você é Aquilo, tudo isto é Aquilo e isto é tudo que há; se você descobrir Aquilo, então você tem tudo.”
Existem alguns experimentos que eu gostaria de falar a respeito, porque eles são cruciais para este entendimento. Um experimento foi publicado pelo Dr. Herbert Specter, pelo Instituto Nacional de Saúde, em que ele deu, a ratos, uma injeção de um químico chamado “polyIC” que estimula o sistema imunológico. Ele fez com que esses ratos cheirassem cânfora ao mesmo tempo. Depois de o tempo passar, ele descobriu que sempre que esses ratos cheiravam cânfora, eles estimulavam o seu próprio sistema imunológico. Outros cientistas verificaram este trabalho. Se você contaminasse os ratos com “bactéria de doença” e fizesse com que eles cheirassem cânfora, eles não ficariam doentes. A diferença crucial entre vida e morte é a interpretação da memória do cheiro da cânfora.
A interpretação da memória. Isto tem qualquer sentido para nós? Você aposta que sim, porque isto é tudo que a gente faz. Estamos, constantemente, interpretando nossas memórias. A média dos humanos pensa, mais ou menos, 60.000 pensamentos por dia. O desconcertante é que, mais ou menos, 85% dos pensamentos que você teve hoje são os mesmos que você teve ontem. Humanos se tornaram “bandos de reflexos condicionados”, constantemente, reestimulados e provocados pela mídia, pessoas e circunstâncias nos mesmos eventos quânticos, químicos, resultados comportamentais e experiências de vida.
Nós nos tornamos “vítimas” da mesma repetição das nossas memórias obsoletas. A ironia é que o seu atormentador, de hoje, é o você que sobrou de ontem. Imagine que o edifício em que nós estamos é feito de tijolos, e você tem a habilidade de mudar cada tijolo do edifício uma vez ao ano — é o que nós fazemos com o nosso corpo físico. Você pergunta: “Bem, se eu estou realmente reconstituindo o meu corpo inteiro a cada ano, então, porque ainda tenho este problema nas costas e esta artrite?" A resposta é que, através da resposta condicionada e do apego ao conhecido, nós engendramos os mesmos eventos quânticos, com nossa própria auto-interação, que têm o mesmo resultado.
Se lermos a antiga literatura védica da Índia, em um trecho, o Sr. Shiva diz: “Veja o mundo como se fosse pela primeira vez, veja através dos olhos de uma criança e, subitamente, descubra que você está livre”.
Escravidão não é outra coisa senão ver o mundo através da camuflagem de idéias pré-concebidas, noções, expectativas, interpretações, rótulos, descrições, definições, avaliações, análises e, finalmente, com julgamento. Se você pudesse ver o mundo sem julgamento, o veria como uma criança — fresco, com infinitas possibilidades, todas contidas num eterno contínuo. O que você precisa para ser livre não é do desconhecido — o que você precisa para ser livre é do conhecido. Liberdade do conhecido é o que nós precisamos. Nós precisamos pular no Desconhecido a cada segundo da nossa vida, porque o Conhecido não é outra coisa que padrões rígidos de condicionamento do passado — memórias e pesos do passado. O Conhecido está dentro da Consciência Temporal. A Consciência Temporal é a consciência da Auto-Imagem.
Através da nossa própria interpretação, abandonamos o self pela auto-imagem. A auto-imagem não é nada mais que uma máscara social, o verniz de proteção e a máscara em que nos escondemos. A auto-imagem tem somente um objetivo: ela quer se reforçar a si mesma o tempo todo. A auto-imagem tem uma consciência temporal, onde cada ação comportamental é provocada por antecipação de uma resposta ou em perseguição de uma memória.
Vá além da consciência temporal e encontrará o self, que é consciência sem tempo, porque o self está além do corredor do tempo-espaço, energia e matéria. O Self tem uma consciência sem tempo, na qual a vida é, supremamente, concentrada no presente.
Na literatura Védica, os Rishis dizem: “Eu não me preocupo com o passado, eu não estou sobrecarregado pelas culpas e memórias do passado, eu não antecipo o futuro ou tenho medo dele, porque a minha vida está supremamente concentrada no Presente —a resposta certa para cada situação acontece para mim como ela ocorre—, porque construído dentro de meu Self está um processo que é ainda mais preciso do que pode ser encontrado dentro das limitações do pensamento racional — não existe destino pior do que ser pego em mecanismos de racionalidade”.
Quando uma pessoa escapa dos mecanismos da racionalidade, então, escapa da prisão do condicionamento tempo-espaço e causa. Você deve ir além do intelecto. Experiência sensorial é o teste crucial da realidade.
Então, se nossos corpos são idéias auto-engendradas, a pergunta é: Quem está tendo estas idéias? Eu gostaria de dizer para você que esta pessoa que “faz a escolha” não é local, você não pode alfinetá-lo em qualquer lugar, porque ele está em todo lugar e em nenhum lugar ao mesmo tempo. Você não pode encontrar o local daquele que decide movimentar o seu braço. Você pode encontrar no cérebro a execução do comando, mas não daquele que decide movimentar o braço. Onde está aquele “que faz a escolha”? Aquele que faz a escolha está entre os espaços, entre os nossos pensamentos. Este espaço contém escolhas infinitas, e em cada pequeno espaço, entre cada pensamento, existe o EU sentado lá, como parte do “pensador atrás dos pensamentos”.
Aquele espaço é a janela e o vortex transformador através do qual a mente individual se comunica com a mente Cósmica. Este processo é a restauração da memória do todo — de quem nós somos.
Eu sou o Espírito Ilimitado que está presente em cada pedacinho da manifestação. Eu apenas escolhi estar aqui por este tempo — um acontecimento de tempo-espaço do contínuo da Eternidade. Ter a restauração desta memória, como experiência, é ser livre e inteiro. Você pode realizar qualquer coisa e tudo, como a Natureza faz, sem esforço, apenas sendo —o mundo vai se oferecer para você—, não há escolha.
Tradução: Ma Devam Prashanti