Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
XUL SOLAR
HOMENAGEM AO PIONEIRISMO SURREALISTA DE XUL SOLAR
Pioneiro na arte surrealista e antecessor de Paul Klee, amigo do escritor José Luis Borges, Alejandro Xul Solar, é o artista homenageado pela I Bienal de Artes Visuais do Mercosul. Suas obras estão expostas no Espaço Cultural Aplub,
Xul Solar, nasceu
Segundo depoimento de seus conterrâneos, falava e escrevia seis idiomas vivos, além do latim, do grego e do sânscrito. Este conhecimento lingüístico levou-o a criar duas línguas, o "neocrilo", fundada em raízes provenientes do latim, com expressões locais, latino-americanas, e "panlengua", que pode ser vista como uma das muitas construções similares ao "esperanto".
Xul Solar integrou, nos anos 20, o grupo denominado Martin Fierro, que instaurou o modernismo na Argentina e do qual faziam parte, entre outros, Olivério Girondo, Macedônio Fernandez e Jorge Luiz Borges. Este, ao apresentar mostra de Xul Solar, em 1949, afirmou ser ele "um dos acontecimentos singulares de nossa época", afirmando, em outra oportunidade, que nunca conheceu um homem de "tão rica, heterogênea, imprevisível e incessante imaginação".
O artista argentino produziu algumas centenas de desenhos, aquarelas (seu meio de expressão preferido) e pinturas, geralmente de pequeno porte, as quais, juntas, formam uma espécie de escritura plástica. Arte semiótica. Além da figura humana, estilizada geometricamente, mas sem perder sua dimensão mágica, das arquiteturas e bandeiras, proliferam em suas obras signos e símbolos, muitos deles esotéricos e arcaizantes, tais como estrelas, flechas, hieróglifos, números, letras, etc. Signos e símbolos que ocupam um espaço mental e imaginário, isto é, não-realista. Em suas proposições, Xul Solar antecipa-se ao Surrealismo, assim como tangencia o Maneirismo e o Dada. Sua pintura não exige uma interpretação literal de seu sentido, podendo ser apreciada independente das questões místicas e esotéricas que a fundam.
(Jornalista Joyce Larronda - Reg. Prof.: 5349-RS/BR)
Faça você mesmo!
Os jovens continuam fazendo arte no Brasil como em outras épocas. A novidade são os meios, cujo acesso tornou-se mais viável. Por outro lado, a recente ampliação das políticas públicas voltadas para tal segmento da população, também tem impacto importante, tanto para o acesso aos meios como para difusão da produção artística. É nova, também, a afirmação de uma cultura produzida por artistas que vivem nos arrabaldes das metrópoles. E finalmente, o compartilhamento completa o quadro da cultura juvenil contemporânea. A idéia do compartilhar se estabelece, em função da expansão do mundo virtual e da flexibilização dos suportes decorrentes da inovação tecnológica, traz consigo um questionamento: cultura e conhecimento não devem ser mercadorias de acesso restrito. Esses quatro elementos estão produzindo uma conexão muito promissora entre coletivos culturais de classe média, adeptos de concepções anti-capitalistas no mundo da cultura, e grupos de artistas de periferia. Um diálogo que nos remete aos ideais do movimento punk e do hip hop: tenha consciência, ocupe as ruas, faça você mesmo. Junte tudo isso, e temos o caldo de cultura no qual as diferentes juventudes produzem arte, compartilham, articulam circuitos, disputam concepções: em outras palavras, renovam a cena cultural.
Há trinta anos, o movimento punk explodiu na Europa sob o lema: do it yourself. Os músicos aprendiam alguns acordes e se juntavam para tocar em bares, universidades, escolas, ruas - em qualquer lugar. A agenda cultural era divulgada nos fanzines, que se reproduziam aos milhares. Cenário, luz, alta tecnologia, cachê? Nada disso. O que importava era a atitude. E o discurso contra o sistema não tinha meias palavras: “Eu sou um anarquista. Eu sou um anti-cristo…”, gritava em alto e péssimo som o vocalista do Sex Pistols, Jhonny Rottem, deixando os conservadores completamente atordoados. Sobrou também para a Rainha e para a Major EMI, alvos da verve punk-rock implacável dos Pistols.
Paralelamente, o hip hop emergia dos guetos de Nova York em meados dos anos 70, e causou um rebuliço no cenário cultural. Espalhou-se por todo o Planeta. Surgiu como um movimento de rua. Entretanto, diferente do punk, a cultura hip hop adaptou-se bem ao showbizz, em função da popularização do rap. O hip hop autêntico, que une seus quatro elementos: RAP, DJ, MC, o Grafite [1] e um quinto: o conhecimento a partir do qual se formam as posses - já não tem a mesma força no hemisfério Norte. Mas nas periferias dos centros urbanos da América Latina e da África a essência da cultura hip hop ainda mantém seu vigor, mobilizando milhões de jovens.
Os meios justificam os fins: já não é preciso recorrer a corporações para difundir idéias e arte
O ideário estético e político do punk e do hip hop ainda influencia corações e mentes de grupos juvenis urbanos, que se cruzam em diferentes circuitos culturais das metrópoles brasileiras. Consciência, engajamento, rima, ritmo, força da palavra escrita e falada, atitude, intervenção e a convicção de que “posso fazer e constranger o sistema” é o que marca a arte produzida nas periferias e por coletivos juvenis universitários de classe média que se articulam sob o lema da desmercantilização da cultura [2]. Esses últimos, mais próximos do punk e de toda sua derivação [3]; os primeiros umbilicalmente ligados ao hip hop.
O diálogo entre esses dois universos vem sendo cada vez mais freqüente, em virtude da ampliação do acesso aos meios. A redução dos custos de produção de CD, DVD e as infinitas possibilidades de difusão da criação artística pela internet estão abrindo oportunidades de exposição antes inimagináveis, mesmo para os jovens de classe média. Até uma década atrás, fazer um filme, gravar um CD, publicar um livro, era algo que passava, necessariamente, por corporações — fossem elas pequenas, médias ou grandes. Hoje em dia, os jovens produzem seus trabalhos em estúdios caseiros ou com equipamentos de uma ONG parceira, licenciam e difundem no Creative Commons, My Space, Overmundo ou em outros espaços virtuais de compartilhamento. Em menos de 24 horas, alguém já teve acesso, baixou, reproduziu, criando, assim, uma cadeia de difusão planetária, onde todo tipo de oportunidade aparece, inclusive, para apresentações remuneradas. Nessa nova cultura, os meios justificam os fins.
Assim é o caso do B Negão, rapper carioca que foi integrante do extinto Planet Hemp. Em 2003, ele começou a disponibilizar suas músicas na Internet. O retorno foi imediato. Internautas de todas as partes do mundo baixaram suas músicas e passaram a divulgá-las em rádios alternativas, festas e outros espaços. Algum tempo depois, chegaram os primeiros convites para apresentações na Europa. Começou com um show de curta temporada numa casa de espetáculos com capacidade para 300 pessoas, em Portugal, em em 2005. Na mesma turnê, lotou uma Casa na Espanha com capacidade para 2 mil pessoas. No ano seguinte, participou de um Grande festival na Dinamarca para 50 mil pessoas.
Na periferia do Distrito Federal, outro rapper, chamado GOG, um dos nomes mais importantes do hip hop brasileiro , criou um selo próprio - Só Balanço - e disse não às grandes gravadoras. Além de disponibilizar algumas de suas canções pela internet, declarou toda a sua obra como domínio público. Em um de seus discos, GOG gravou uma canção chamada A Ponte, uma referência crítica muito criativa à construção da Ponte Juscelino Kubitschek de Brasília. Nesse rap, ele sampleou uma canção homônima do compositor Lenine. A música chegou aos ouvidos do cantor pernambucano. Numa atitude de desapego aos rigores da proteção autoral, Lenine não só aprovou a colagem, como convidou GOG para uma participação muito especial em seu DVD. Essa participação deu uma calibrada na carreira do rapper brasiliense. Resultará na ampliação de suas produções no Só Balanço, que hoje tem como nome de ponta entre seus artistas o MC - ou cantador, como ele prefere - Rapadura, jovem revelação que é um dos mais talentosos do Brasil na atualidade, assegura GOG.
A produção das periferias chega aos livros e abre debate: destruir ou abrir espaço no mercado editorial?
Em 2005 ,motivado pela idéia do faça você mesmo, o poeta periférico paulistano Allan da Rosa resolveu publicar seu próprio livro. Mas ele não procurou uma dessa editoras que fazem livro sob encomenda como a Scortecci ou Livro do Autor, para citar duas empresas de São Paulo especializadas no ramo. Da Rosa, como é conhecido, queria um livro cujo padrão gráfico fosse ele próprio, expressão do conteúdo de seus poemas. Fez um belo livro de poesias, escrito à mão, em papel reciclado e com a lombada perfurada por qual passam fios vermelhos de novelo de lã. Assim surgiu Vão, sua obra seminal. Com o apoio da ONG Ação Educativa e de uma gráfica, imprimiu 500 exemplares do livro. Esgotou a tiragem em quatro meses. Produziu mais uma edição, que acabou em menos de um ano. Allan vendeu, de mão em mão, na porta de teatro e cinemas, em palestras, eventos e oficinas.
O êxito do livro Vão despertou a veia de editor do poeta Allan da Rosa. Com a mesma estratégia, ele publicou o livro De passagem, mas não a passeio, da Dinha – pseudônimo de Maria Nilda, jovem poeta de 27 anos moradora da periferia da Zonal Sul de São Paulo. Dinha esgotou seu livro, publicado em 2006, em menos de um ano. Começou aí a Selos Toró que, com dois títulos, já se estabelecia como o primeiro empreendimento de literatura de periferia que se tem notícia. Hoje, o catálogo tem dez títulos. A maioria dos autores tem menos de 30 anos e todos são moradores da periferia paulistana. Os livros custam R$ 10,00 na quebrada e R$ 20,00 na porta dos cinemas na avenida Paulista. Não há intermediário: o autor fica com todo o recurso captado na venda. A cópia é livre, mas todos querem ter os livros de feições artesanais.
O caso da Edições Toró, em particular, e de modo geral o movimento da literatura periférica, denota uma tensão importante nessa aproximação da cultura de periferia com os coletivos de jovens de classe média que defendem a desmercantilização da cultura. Allan da Rosa e Dinha, além de Sacolinha, Sergio Vaz e Alessandro Buzo assinaram contrato com a Global Editora em 2007. Esses autores estão inaugurando uma coleção denominada Literatura Periférica. Essa oportunidade lhes confere uma condição de reconhecimento que responde a uma busca de anos. Sentiram-se muito satisfeitos ao receberem 50% de adiantamento do direito autoral de uma edição no ato da assinatura do contrato. Em contrapartida, a editora fica com a posse dessas obras por cinco anos (para edição em livro) e é filiada à ABDR – Associação Brasileira de Direitos Reprográficos, que proíbe a reprodução de qualquer parte do livro sem prévia autorização, sujeitando os infratores aos rigores da Lei de Direito Autoral. Isso causa preocupação aos militantes contrários à propriedade intelectual.
Questionado sobre a contradição, um dos autores disse: “são regras estabelecidas; agora que estamos chegando, querem acabar com o mercado?”, indignou-se. Os ativistas da livre circulação do conhecimento, afirmam por outro lado que é justo remunerar o escritor por sua criatividade. Entretanto, argumentam que não é correto que só alguém com dinheiro na mão possa ter acesso à obra do Sergio Vaz, por exemplo. Nesse caso, o poeta da Cooperifa [4], vem disponibilizando suas poesias no seu blog, como, aliás, já fazia antes de ser publicado. Resolvida a questão? Talvez. O fato é que uma corporação ganha dinheiro com um produto cultural e isso inquieta os coletivos mais radicais da desmercantilização da cultura. O debate está apenas começando e tem sido muito positivo [5].
No cinema, uma alternativa: remunerar a produção e permitir a cópia livre
Tudo fica mais complicado quando se trata de um filme. E é exatamente em tal linguagem artística que os jovens de vinte e poucos anos vem se dedicando com mais ímpeto. Mas nesse campo, assim como na música, há muito espaço para difusão na internet. E nem precisa ser alternativo para circular na grande rede. Exemplo maior do que o filme Tropa de Elite não poderia haver. Antes mesmo de entrar em cartaz, a obra circulou na Internet e pôde ser baixada aos milhares, em qualquer parte do mundo.
Se o autor ganha pouco na venda do livro, menos ainda recebe o cantor e compositor na venda do CD, pior é a situação do cineasta na comercialização de seu filme. Aí a equação pode ser resolvida na remuneração da produção, independente da venda. Nesse caso, é importante a ação do Estado no estímulo à criação cinematográfica. Não por acaso, o setor do audiovisual é o que tem um arcabouço legal mais sofisticado. É, também, o produto com os custos de produção mais elevados.
Mas não se faz filmes apenas pensando no grande circuito. Diego e Daniel, que poderia ser nome de mais uma dupla sertaneja, são, na verdade, dois jovens cineastas que aprenderam roteiro, filmagem e edição num curso de formação da ONG Ação Educativa, em São Paulo. A partir daí começaram a fazer seus filmes e constituíram o grupo NCA – Núcleo de Comunicação Alternativa. A obra de estréia surgiu em 2006: Imagens de uma Vida Simples, documentário sobre o artista plástico, poeta e dramaturgo Solano Trindade. Com esse filme, participam de mostras, fazem exibições em Escolas seguidas de palestras e percorrem toda a periferia paulistana, exibindo em qualquer lugar que lhes dê a oportunidade de divulgar seu trabalho. E para viver? São cinegrafistas. Atuam em projetos de ONGs, além de realizar seus próprios projetos buscando financiamento em editais focados em pequenas produções. Até onde isso vai? Não sabem. Esperam que pelo menos seja assim enquanto forem jovens.
O tema das políticas públicas para a juventude é uma pauta desta década. Até o final dos anos 90, pouquíssimas iniciativas se efetivaram nesse campo. Uma dessas raras ações foi a criação do Centro de Referência da Juventude da Prefeitura de Santo André, no ABC Paulista, no final daquela década. E a criação de espaços públicos para os jovens tem sido uma constante entre as políticas para o segmento juvenil [6]. Mas uma ação que se tornou uma referência de política pública, consagrada em lei e que tem um impacto extremamente positivo, não está dentro de nenhum equipamento de amplas instalações erguido numa região pobre qualquer de uma grande metrópole.
Trata-se do VAI – Valorização de Iniciativas Culturais, programa de fomento à cultura da cidade de São Paulo dirigido a indivíduos e grupos preferencialmente jovens de regiões pouco atendidas pelo poder público. Criado durante a Gestão da prefeita Marta Suplicy, o VAI vem abrindo editais a cada ano, e na sua terceira edição, em 2007 , contemplou 100 propostas entre 765 concorrentes, destinando uma verba de R$ 17 mil para cada um desenvolver seu projeto. Talvez, seja a verba orçamentária mais bem gasta da prefeitura paulistana: R$ 1,7 milhão financiando pequenas revoluções no cotidiano de grupos juvenis.
O selo Toró, liderado pela Allan da Rosa foi um dos grupos agraciados no último edital. Conseguiu, com a verba, publicar cinco livros com tiragem de 600 exemplares cada. Por meio do VAI, Akins Kinté, de 22 anos e Elizandra Souza, de 24 anos, freqüentadores de saraus na Periferia de São Paulo, concretizaram o sonho de ter seus poemas impressos num livro. Uma obra em dupla face, metade para cada um. Dois jovens negros, suburbanos. Ela da Zona Sul; ele, da Leste. Ambos venderam seus exemplares em menos de seis meses e, com o dinheiro arrecadado, bancaram uma nova tiragem. Elizandra, que ingressou no curso de jornalismo da Universidade Mackenzie, beneficiada pelo Pró-Uni, hoje trabalha como estagiária na sua área, dá palestras e participa de debates. Akins segue a mesma trilha, ainda almejando o sonho da faculdade. Mas expandiu suas aptidões artísticas e produziu, junto com dois jovens cineastas diletantes, um documentário sobre literatura e negritude, chamado Vaguei nos livros e me sujei com a m… toda.
Na mesma direção do programa paulistano, porém com um investimento maior, há no plano federal, a ação dos Pontos de Cultura, do Ministério da Cultura. São mais de 600 grupos apoiados em todo o Brasil, recebendo cerca de R$ 150 mil cada para desenvolver seus projetos. Essas políticas têm o mérito de perceber o movimento da cultura feito por grupos. São vontades criativas que se concretizam na dinâmica da ação coletiva, movimentando a comunidade, interferindo na realidade. No VAI, 90% são jovens. Nos Pontos de Cultura, há uma estimativa de pelo menos 60% dos grupos contemplados estarem na faixa dos 18 a 29 anos. Em ambos os casos, a maioria está nas periferias, vilas e assentamentos no interior do País, nos morros e palafitas.
O que está em jogo hoje na cultura produzida pelos jovens, embora não só pelas garotas e rapazes de vinte e poucos anos, é a emergência da criação. E o acesso às novas mídias tem reforçado essa questão. Sob a bandeira da inclusão digital e democratização do acesso aos meios de comunicação, está a idéia de que é possível fazer, escrever, compor, interferir, difundir. Daí a pertinência do debate sobre propriedade intelectual e livre circulação do conhecimento e da cultura. E, se são novidades as tecnologias, não é nova a idéia de apropriação dos meios, da afirmação da condição juvenil pela cultura. A questão que o movimento punk e o hip hop trouxeram nos anos 1970, parece estar emergindo de uma forma decisiva. Uma revolução está em curso.
Não é por um acaso que assistimos a banda Radiohead, uma das mais populares do mundo, descendente do punk-rock, romper com sua gravadora e comercializar seu último disco exclusivamente na Internet, dando ao consumidor a condição de definir o preço, incluindo a possibilidade de baixar gratuitamente as músicas. Não menos coerente é observar que muitos grupos de rap prensam seus próprios CDs e distribuem diretamente aos camelôs, como faz Dudu de Morro Agudo, do coletivo Enraizado do Rio de Janeiro. “Quero que o maior número de pessoas ouçam minha música, eu tenho uma mensagem para passar”, afirmou Dudu, no debate sobre o tema no Debate Cultura e Conhecimento Livres [7]. Nessa mesma linha e com com muito mais ênfase, grupos de rap de Belém do Pará e demais capitais do Norte do Brasil articulam-se no Movimento Hip Hop da Floresta. A capital paraense é pródiga nesse tipo de circulação da cultura. Nas famosas festas de aparelhagem, o público compra o CD com as músicas tocadas durante a balada, na saída do local do evento.
A produção cultural juvenil articula-se em grupos, invariavelmente pequenos . É preciso observar essas micro-agremiações para se ter uma idéia da diversidade e complexidade das formas de expressão da cultura feita por jovens [8]. Mas os grupos se conectam em circuitos, às vezes, formando um contorno geográfico restrito a uma localidade, às vezes, sem apego a fronteiras. Ao se conectarem, formam grandes movimentos, abalam as estruturas e põem de ponta-cabeça os parâmetros estabelecidos, os cânones. Elizandra, Akins, Sacolinha, Allan da Rosa, Daniel, Diego, o pessoal do Epidemia, e outros que figuraram neste texto, estiveram conectados (presencial ou virtualmente) na Semana de Arte Moderna da Periferia que rolou em novembro na Zona Sul de São Paulo. “A arte que liberta, não pode vir da mão que escraviza”, diz um dos versos do Manifesto da Antropofagia Periférica, que serviu de liturgia ao evento. Esses e muitos outros jovens empoderaram-se e fazem, eles mesmos, a arte que os liberta.
Formato: rmvb
Duração: 72min (1h e 12min)
Áudio: Original (o filme não possui dialagos, apenas trilha sonora)
Tamanho: 298MB (dividido em 4 partes)
Servidor: Rapidshare
Créditos: Forum - Craviee
Direção: Marcelo Masagão
Música: Win Mestens
SINOPSE:
Uma incrível retrospectiva de um século que marcou a mudança de como o homem pensa e interage com o seu mundo e com ele mesmo.
Premiações: Melhor Edição (Festival de Gramado 1999)
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Peter Gabriel - Deutsches Album (1982)
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Versão Alemã
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01. Der Rythmus der Hitze (05:22)
02. Das Fischernetz (06:50)
03. Kontakt (04:32)
04. San Jacinto (06:16)
05. Schock den Affen (05:48)
06. Handauflegen (06:08)
07. Nicht die Erde hat dich verschluckt (06:04)
08. Mundzumundbeatmung (04:54)
sentir uma excitação quando massas de pessoas oprimidas e ao
mesmo tempo abandonadas derrubam a barreira que os
aprisionava. A Faixa de Gaza é hoje a maior prisão no globo, e a
derrubada do Muro de Rafah foi um ato de libertação, que serviu
para provar que qualquer política desumana é uma política
estúpida. Essa foi a lição de Gaza em janeiro de 2008.
Meses antes, Israel impôs um cerco militar à Faixa de Gaza, e se
posicionou orgulhoso de sua decisão. Com o apoio ideológico dos
Estados Unidos (falsamente interessados na paz da Palestina), os
palestinos ficaram sem acesso a água, alimentos, remédios,
combustível e eletricidade. Os hospitais, todos operando além do
limite, foram forçados a desligar incubadoras para crianças
prematuras e maquinas de diálise, e o sistema de saneamento
básico foi interrompido. É difícil imaginar um ato mais estúpido.
A justificativa israelense para a punição coletiva de Gaza – de
população de mais de meio milhão de habitantes dividindo uma
área de 365 km² – é a violência na cidade de Sderot, supostamente
causada pelo lançamento de foguetes Qassam vindos de Gaza.
Trata-se de uma justificativa bem escolhida – ela evita críticas da
ONU e da comunidade internacional que, caso contrário, poderiam
condenar o ato de punição coletiva conduzido pelo governo
israelense – um crime de guerra, segundo a Lei Internacional. Mas
como então acabar com a violência em Sderot?
instante: o Hamas já ofereceu duas tréguas a Israel recentemente –
o último deles na semana passada. Segundo o Hamas, uma trégua
seria: foguetes Qassam deixariam de ser lançados contra Israel,
que se comprometerá a abrir o cerco e deixará de invadir Gaza para
conduzir suas operações de assassinatos pré-selecionados. Mas o
governo israelense, seguindo a linha George W. Bush, se recusa a
“negociar com terroristas”, e, por isso, Sderot continuará a ser
bombardeada.
A realidade, muito mais simples do que qualquer profunda análise
da mídia ocidental, é que Sderot é simplesmente um pretexto para
Israel, assim como a captura dos dois soldados pelo Hizbollah em
2006 também foi. O sonho israelense é que a barricada de Gaza
poderia levar à renúncia do Hamas, democraticamente eleitos pelo
povo palestino em 2006, e impedir que, no futuro, a Cisjordânia
passe também a ser controlada pelo partido islâmico.
Israel calculou quando a população palestina poderia desistir, mas
aconteceu o que poucos esperavam, apesar de ter sido o evento
mais previsível possível. Primeiro, uma grande explosão. Multidões
se rebelaram nos portões do Egito, a polícia não abriu fogo e tudo
se acalmou – foi um alerta. No próximo dia, palestinos derrubaram o
muro, centenas de milhares fugiram para o território egípcio e
respiraram aliviados – o cerco foi terminado. A punição coletiva de
Gaza foi um crime de guerra, e pior – um erro estúpido.
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PIONEIRA Há mais de três décadas Clara Brandão criou um composto alimentar que revolucionou a nutrição infantil |
Há duas semanas a energia elétrica da sala de Clara dentro do prédio do Ministério da Saúde foi cortada. Hoje, ela trabalha no escuro. 'Já me avisaram que agora eu estou clandestina dentro do governo', ironiza a pediatra Mas ela nem sempre viveu na escuridão. Prova disso é que, na semana passada, o governo comemorou a redução de 13% nos óbitos de crianças entre os anos de 1999 e 2004 - brasileiros, com a ajuda da Pastoral da Criança, reduto do PT. Os compostos da multimistura têm até 20 vezes mais ferro e vitaminas C e B1 em relação à comida que se distribui nas merendas escolares de municípios que optaram por comprar produtos industrializados. Desde 1973, quando chegou à fórmula do composto, Clara já levou sua multimistura para quase todos os municípios, período em que a multimistura tinha se propagado para todo o País.
Sem contar a economia: 'Fica até 121% mais caro dar o lanche de marca', compara Clara.
Quando ela começou a distribuir a multimistura em Santarém, no Pará, 70% das crianças estavam subnutridas e os agricultores da região usavam o farelo de arroz como adubo para as plantas e como comida para engordar porco. Em 1984, o Unicef constatou aumento de 220% no padrão de crescimento dos subnutridos. Dessa época, Clara guarda o diário de Joice, uma garotinha de dois anos e três meses que não sorria, não andava, não falava. Com a multimistura, um mês depois Joice começou a sorrir e a bater palmas. Hoje, a multimistura é adotada por 15 países. No Brasil só se transformou em política pública em Tocantins.
Clara acredita que enfrenta adversários poderosos . Segundo ela, no governo, a multimistura começou a ser excluída da merenda escolar para abrir espaço para o Mucilon, da Nestlé, e a farinha láctea, cujo mercado é dividido entre a Nestlé e a Procter & Gamble . 'É uma política genocida substituir a multimistura pela comida industrializada', ataca a pediatra. A coordenadora nacional da Pastoral da Criança, Zilda Arns, reconhece que a multimistura foi importante para diminuir os índices de desnutrição infantil. 'A multimistura ajudou muito', diz. 'Mas só ela não é capaz de dizimar a anemia; também se deve dar importância ao aleitamento materno.' ISTO É' procurou as autoridades do Ministério da Saúde ao longo de toda a semana, mas nenhuma delas quis se pronunciar. 'O multimistura é um programa que não existe mais', limitou-se a informar a assessoria de imprensa.
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Por elaine tavares – jornalista no OLA
Desprovidos de suas terras os mapuches se espalharam pelas cidades, mas nunca perderam a referência de seu lugar e já no início do século XX iniciaram movimentos para a retomada do território original. Com a presidência de Salvador Allende, nos anos 70, essa luta se intensificou e boa parte das terras originárias foram recuperadas. Ainda assim, com a ditadura de Pinochet, a luta arrefeceu e o movimento teve de seguir a passos lentos.
Essa retomada mapuche ainda não acabou. Não existem mais os espanhóis nem os “criollos” independentistas. O inimigo agora são as transnacionais e a elite chilena que insistem em não reconhecer o território, usando dos mesmos velhos métodos de usurpação das terras e criminalização da luta da comunidade. A fase atual do conflito começou no início dos anos noventa quando uma empresa espanhola alagou milhares de hectares de terra com a construção de uma represa, obra que foi repudiada pelos mapuche. Não bastasse isso, madeireiras começaram um trabalho de destruição sistemática das florestas, além da plantação de pinus, o que provoca ainda mais destruição.
É neste contexto que em dezembro de 2001, os mapuches, em mais um episódio da luta pelo território, entram na Empresa Florestal Mininco (um dos maiores grupos empresariais do Chile) e ateiam fogo a ela, num desesperado protesto contra a destruição que esta vinha causando ao meio ambiente, além de estar nas terras mapuches. Nesse episódio, Patrícia Troncoso, uma estudante de teologia e líder comunitária, é presa – junto com outros membros do povo mapuche - e mais tarde condenada a 10 anos de prisão. Só que a lei na qual o “crime” de Patrícia foi enquadrado é a famosa lei anti-terrorista criada ainda no tempo do ditador Augusto Pinochet.
Cumprida já a metade da pena, Patrícia requereu sua liberdade, conforme a lei ordinária. Mas, o fato de ter sido julgada como terrorista a impede que use desta prerrogativa. Além disso, foi afastada para outro cárcere, longe de suas comunidade, para impedir que acontecessem manifestações, recorrentes desde a sua prisão. Indignada com esse tratamento e exigindo que o Estado reveja a lei na qual foi enquadrada, Patrícia iniciou uma greve de fome no dia 12 de outubro de 2007, a qual sustentou até o dia 29 de janeiro de 2008, perfazendo 110 dias, depois que, finalmente, o governo chileno aceitou suas reivindicações. A jovem mapuche deixava claro que só sairia da greve de fome se fosse outorgado o benefício de ir para um Centro de Educação e Trabalho e o direito de liberdade nos finais de semana para ela e mais dois ativistas do seu povo, Jaime Marileo e Juan Millalen.
A semana passada, quando os mais de 100 dias de greve de fome já colocavam a vida de Patrícia em risco, houve uma mobilização mundial por parte de lideranças, intelectuais e populações, para que o governo de Bachelet se sensibilizasse. Foi só aí que o governo decidiu designar uma pessoa para tratar de assuntos indígenas e, entre eles, o de Patrícia. O escolhido foi Rodrigo Egaña Baraona que terá por missão estabelecer o diálogo com o povo mapuche.
Agora, Patrícia vai iniciar um período de recuperação e promete logo estar forte para visitar sua gente. Foi um longo e doloroso processo de luta que precisou ir até as últimas conseqüências, mas a vontade férrea desta mulher que redescobriu suas raízes na luta, foi maior. Na queda de braço com outra mulher, a presidente chilena, venceu a originária. Mas, a grande batalha ainda não teve fim. As terras mapuches seguem invadidas, os campos seguem sendo minados por eucaliptos, a vida se esvai com a fumaça das fábricas de celulose e sob a roda do capital. Muito há por fazer, por isso ninguém duvide que esse povo seguirá sua luta. Como bem diz a própria Patrícia num vídeo gravado desde a cadeia: “Não é possível que essa gente que lutou pela democracia no Chile agora venha colocar preço em nossa vida, colocar preço na terra, em favor de uns poucos”. A luta mapuche está longe de acabar.
Veja o vídeo com o depoimento de Patrícia no endereço:
http://www.youtube.com/v/Fy6_ZQgC2AY&rel=1"
Nunca mais?
A conivência europeia com Israel no genocídio palestino
por Omar Barghouti [*]
Cartoon de Latuff. A União Europeia, o maior parceiro comercial de Israel em todo o mundo, está a observar como Israel endurece o seu bárbaro sítio em torno de Gaza, punindo colectivamente 1,5 milhão de civis palestinos, condenando-os à devastação e à morte iminente de centenas de pacientes necessitados de diálise ou que sofrem do coração, bebés nascidos prematuramente e todos os outros que dependem da energia eléctrica para a sua sobrevivência.
Ao congelar os fornecimentos de combustível e energia eléctrica a Gaza, Israel, o poder ocupante, está essencialmente a garantir que a água "limpa" – só de nome, pois a água de Gaza é a mais poluída em toda a região, após décadas de roubo e abuso israelense – não será bombeada e distribuída a lares e instituições, que hospitais não poderão funcionar adequadamente, conduzindo à morte eventual de muitos, particularmente os mais vulneráveis, fábricas que ainda estejam a trabalhar apesar do sítio serão agora forçadas a encerrar, empurrando a já extremamente elevada taxa de desemprego para níveis ainda mais altos, o tratamento de esgotos terá de ser interrompido, poluindo mais uma vez o precioso e escasso abastecimento de água de Gaza, instituições académicas e escolas não poderão efectuar o seu trabalho habitual, e as vidas de todos os civis serão severamente afectadas, se não irreversivelmente prejudicadas. E a Europa está apática a observar.
O académico Richard Falk, de Princeton, considerou o sítio de Israel um "prelúdio para o genocídio", mesmo antes deste crime mais recente do corte geral dos abastecimentos de energia. Agora, os crimes de Israel em Gaza podem ser precisamente classificados como actos de genocídio, embora lento. De acordo com o Artigo II da Convenção das Nações Unidas sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, de 1948, o termo é definido como:
"Qualquer dos seguintes actos cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, tais como:
(a) Matar membros do grupo;
(b) Provocar sérios danos corporais ou mentais a membros do grupo;
(c) Infligir deliberadamente ao grupo condições de vida calculadas para provocar a sua destruição física no todo ou em parte".
Claramente, o sítio hermético de Gaza por Israel, destinado a matar, provocar sérios danos corporais e mentais, e deliberadamente infligir condições de vida calculadas para provocar a parcial e gradual destruição física, qualifica-se como um acto de genocídio, se não genocídio total. E a UE está suspeitosamente silenciosa.
Mas por que acusar a Europa, em particular, de conivência neste crime quando quase toda a comunidade internacional não está a levantar um dedo, e o obsequioso secretário-geral da ONU, que ultrapassou todos os seus antecessores na obediência ao governo dos EUA, está pateticamente a fazer meras declarações verbais? Além disso, por que não o próprio governo dos EUA, o mais generoso patrocinador de Israel que está directamente implicado no actual sítio, especialmente depois de o presidente George Bush, na sua visita recente, ter dado um sinal verdade nada subtil ao primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, para arrasar Gaza? Por que não culpar os tranquilos irmãos árabes, particularmente o Egipto – o único país que pode romper imediatamente o sítio com a reabertura do cruzamento Rafah e fornecimento através do mesmo do combustível, energia eléctrica necessários e do abastecimento de emergência? E finalmente, por que não culpar a Autoridade Palestina baseada no Ramallah, cujo líder subserviente e sem visão jactou-se abertamente numa conferência de imprensa do seu "acordo total" com Bush sobre todas as matérias substantivas?
Após Israel, os EUS são sem dúvida a parte mais culpada no crime actual. Sob a influência de uma ideologia fundamentalista, militarista, neo-conservadora que apossou-se do seu leme e de um omnipotente lobby sionista que não tem paralelo na sua influência, os EUA estão numa categoria por si mesmo. Não é preciso dizer que a AP, a ONU, bem como governos árabes e do mundo que mantêm negócios como de costume com Israel deveriam todos ser considerados responsáveis por aquiescência, seja directa ou indirectamente, com os crimes de Israel contra a humanidade em Gaza. Também é verdade que cada um dos mencionados acima arca com a responsabilidade legal e moral de intervir e aplicar a pressão que venha a ser necessária para travar o crime antes de milhares de pessoas perecerem. Mas a UE detém uma posição única em tudo isto. Ela está não apenas silenciosa e apática; na maior parte dos países europeus Israel e instituições israelenses actualmente são bem vindas e procuradas com entusiasmo sem precedentes, generosidade e deferência em todos os campos – económico, cultural, académico, atlético, etc. Exemplo: Israel foi convidado como hóspede de honra de uma grande feira de livros em Turim, Itália. Filme financiados pelo governo israelense são exibidos em festivais de cinema por todo o continente. Produtos israelenses, desde abacates e laranjas a sistemas de segurança de alta tecnologia, estão a inundar mercados europeus como nunca antes. Instituições académicas israelenses estão a desfrutar um acordo de associação especial, muito lucrativo, com órgãos relevantes na UE. Grupos de dança israelenses, bandas de cantores e orquestras são convidados a tours e festivais europeus como se Israel fosse não só um membro normal como também o mais favorecido do assim chamado mundo "civilizado". O outrora desbotado abraço da Europa a Israel tornou-se um intenso, aberto e enigmático caso de amor.
Se a Europa pensa que pode assim arrepender-se do seu Holocausto contra a sua própria população judia, ela está de facto a facilitar vergonhosamente e conscientemente a validação de actos de genocídio recentes contra o povo da Palestina. Mas os palestinos, parece, não contam muito, pois somos encarados não só por Israel como também pelos seus velhos patrocinadores "brancos" e aliados como humanos inferiores, ou relativos. O continente que inventou o moderno genocídio e foi responsável nos últimos dois séculos por massacrar mais seres humanos, sobretudo "humanos relativos", do que todos os outros continentes juntos está a acobertar crimes que recordam em qualidade, embora certamente não em quantidade, os seus próprios odiosos crimes contra a humanidade.
Em nenhum outro assunto internacional, talvez, pode o establishment europeu ser acusado de ser tão desinteressado e indiferente para com a sua própria opinião pública. Enquanto apelos pelo boicote a Israel como um Estado apartheid estão vagarosa mas firmemente a difundir-se entre organizações e sindicatos da sociedade civil europeia, esboçando paralelos perturbadores com o boicote ao apartheid da África do Sul, os governos europeus estão a considerar difícil distinguir-se da posição abertamente cúmplice dos EUA. Mesmo os clichés europeus de condenação e "exprimindo profunda preocupação" tornaram-se mais raros do que nunca nos dias de hoje. Além disso, a cruel e desafiadora violação de Israel das próprias leis de direitos humanos da Europa são ignoradas sempre que alguém questiona se Israel deveria continuar a beneficiar do seu magnânimo acordo de associação com a UE apesar da sua ocupação militar, colonização e horrendo récord de abuso dos direitos humanos contra as suas vítimas palestinas. Se isto não é cumplicidade, então o que é?
Moralidade posta de parte, afundar Gaza num mar de escuridão, pobreza , morte e desespero não pode augurar nada de bom para a Europa. Ao apoiar activamente um ambiente conducente à ascensão do fanatismo e da violência desesperada próximo às suas fronteiras, a Europa está loucamente a convidar a devastação para a sua entrada. Ao invés de prestar atenção – ou pelo menos considerar seriamente – apelos ao boicote, desinvestimento e sanções contra o Israel do apartheid, adoptado por virtualmente todo o espectro da sociedade civil palestina, pode em breve ter de ajustar contas com forças impossíveis de conter de violência irracional e indiscriminada e o caos resultante.
Parece que as elites europeias estão actualmente determinadas a nunca se oper a Israel, não importa que crimes cometa. É como se o clamado – e cada vez mais hipócritas – slogan sustentado por sobreviventes judeus do genocídio europeu, "Never again!" ("Nunca mais!") , fosse agora endossado pelas elites europeias com uma diferença: o acréscimo de duas letras, 's' e 't', no fim — "Never against" ("Nunca contra").
21/Janeiro/2008
[*] Analista político palestino, independente, membro fundador da Campanha Palestina pelo Boicote Académico e Cultural de Israel.
O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/barghouti01212008.html
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .