Ela foi até o fim!
Por elaine tavares – jornalista no OLA
O povo Mapuche (homens da terra) tem uma história milenar, existe nestas terras de Abya Yala desde o princípio dos tempos e ocupa historicamente uma região que vai desde o centro/sul do Chile até o sudoeste da Argentina. Quando da invasão espanhola, os Mapuches ofereceram tenaz resistência e pelejaram por quase três séculos pelo direito de continuarem livres e autônomos. A saga mapuche foi reconhecida pelo governo espanhol que chegou a firmar tratados com eles, negociando de nação para nação. No início do século XIX, com as guerras de independência e a formação dos estados-nacionais, os mapuches mais uma vez tiveram de enfrentar os “brancos” na luta por sua autonomia. Desta vez, por conta da modernidade de armamentos e outras estratégias dos exércitos do Chile e da Argentina, eles foram vencidos em 1883. Naqueles dias, o exército chileno tomou posse das terras, como se estas de ninguém fosse.
Desprovidos de suas terras os mapuches se espalharam pelas cidades, mas nunca perderam a referência de seu lugar e já no início do século XX iniciaram movimentos para a retomada do território original. Com a presidência de Salvador Allende, nos anos 70, essa luta se intensificou e boa parte das terras originárias foram recuperadas. Ainda assim, com a ditadura de Pinochet, a luta arrefeceu e o movimento teve de seguir a passos lentos.
Essa retomada mapuche ainda não acabou. Não existem mais os espanhóis nem os “criollos” independentistas. O inimigo agora são as transnacionais e a elite chilena que insistem em não reconhecer o território, usando dos mesmos velhos métodos de usurpação das terras e criminalização da luta da comunidade. A fase atual do conflito começou no início dos anos noventa quando uma empresa espanhola alagou milhares de hectares de terra com a construção de uma represa, obra que foi repudiada pelos mapuche. Não bastasse isso, madeireiras começaram um trabalho de destruição sistemática das florestas, além da plantação de pinus, o que provoca ainda mais destruição.
É neste contexto que em dezembro de 2001, os mapuches, em mais um episódio da luta pelo território, entram na Empresa Florestal Mininco (um dos maiores grupos empresariais do Chile) e ateiam fogo a ela, num desesperado protesto contra a destruição que esta vinha causando ao meio ambiente, além de estar nas terras mapuches. Nesse episódio, Patrícia Troncoso, uma estudante de teologia e líder comunitária, é presa – junto com outros membros do povo mapuche - e mais tarde condenada a 10 anos de prisão. Só que a lei na qual o “crime” de Patrícia foi enquadrado é a famosa lei anti-terrorista criada ainda no tempo do ditador Augusto Pinochet.
Cumprida já a metade da pena, Patrícia requereu sua liberdade, conforme a lei ordinária. Mas, o fato de ter sido julgada como terrorista a impede que use desta prerrogativa. Além disso, foi afastada para outro cárcere, longe de suas comunidade, para impedir que acontecessem manifestações, recorrentes desde a sua prisão. Indignada com esse tratamento e exigindo que o Estado reveja a lei na qual foi enquadrada, Patrícia iniciou uma greve de fome no dia 12 de outubro de 2007, a qual sustentou até o dia 29 de janeiro de 2008, perfazendo 110 dias, depois que, finalmente, o governo chileno aceitou suas reivindicações. A jovem mapuche deixava claro que só sairia da greve de fome se fosse outorgado o benefício de ir para um Centro de Educação e Trabalho e o direito de liberdade nos finais de semana para ela e mais dois ativistas do seu povo, Jaime Marileo e Juan Millalen.
A semana passada, quando os mais de 100 dias de greve de fome já colocavam a vida de Patrícia em risco, houve uma mobilização mundial por parte de lideranças, intelectuais e populações, para que o governo de Bachelet se sensibilizasse. Foi só aí que o governo decidiu designar uma pessoa para tratar de assuntos indígenas e, entre eles, o de Patrícia. O escolhido foi Rodrigo Egaña Baraona que terá por missão estabelecer o diálogo com o povo mapuche.
Agora, Patrícia vai iniciar um período de recuperação e promete logo estar forte para visitar sua gente. Foi um longo e doloroso processo de luta que precisou ir até as últimas conseqüências, mas a vontade férrea desta mulher que redescobriu suas raízes na luta, foi maior. Na queda de braço com outra mulher, a presidente chilena, venceu a originária. Mas, a grande batalha ainda não teve fim. As terras mapuches seguem invadidas, os campos seguem sendo minados por eucaliptos, a vida se esvai com a fumaça das fábricas de celulose e sob a roda do capital. Muito há por fazer, por isso ninguém duvide que esse povo seguirá sua luta. Como bem diz a própria Patrícia num vídeo gravado desde a cadeia: “Não é possível que essa gente que lutou pela democracia no Chile agora venha colocar preço em nossa vida, colocar preço na terra, em favor de uns poucos”. A luta mapuche está longe de acabar.
Veja o vídeo com o depoimento de Patrícia no endereço:
http://www.youtube.com/v/Fy6_ZQgC2AY&rel=1"
Desprovidos de suas terras os mapuches se espalharam pelas cidades, mas nunca perderam a referência de seu lugar e já no início do século XX iniciaram movimentos para a retomada do território original. Com a presidência de Salvador Allende, nos anos 70, essa luta se intensificou e boa parte das terras originárias foram recuperadas. Ainda assim, com a ditadura de Pinochet, a luta arrefeceu e o movimento teve de seguir a passos lentos.
Essa retomada mapuche ainda não acabou. Não existem mais os espanhóis nem os “criollos” independentistas. O inimigo agora são as transnacionais e a elite chilena que insistem em não reconhecer o território, usando dos mesmos velhos métodos de usurpação das terras e criminalização da luta da comunidade. A fase atual do conflito começou no início dos anos noventa quando uma empresa espanhola alagou milhares de hectares de terra com a construção de uma represa, obra que foi repudiada pelos mapuche. Não bastasse isso, madeireiras começaram um trabalho de destruição sistemática das florestas, além da plantação de pinus, o que provoca ainda mais destruição.
É neste contexto que em dezembro de 2001, os mapuches, em mais um episódio da luta pelo território, entram na Empresa Florestal Mininco (um dos maiores grupos empresariais do Chile) e ateiam fogo a ela, num desesperado protesto contra a destruição que esta vinha causando ao meio ambiente, além de estar nas terras mapuches. Nesse episódio, Patrícia Troncoso, uma estudante de teologia e líder comunitária, é presa – junto com outros membros do povo mapuche - e mais tarde condenada a 10 anos de prisão. Só que a lei na qual o “crime” de Patrícia foi enquadrado é a famosa lei anti-terrorista criada ainda no tempo do ditador Augusto Pinochet.
Cumprida já a metade da pena, Patrícia requereu sua liberdade, conforme a lei ordinária. Mas, o fato de ter sido julgada como terrorista a impede que use desta prerrogativa. Além disso, foi afastada para outro cárcere, longe de suas comunidade, para impedir que acontecessem manifestações, recorrentes desde a sua prisão. Indignada com esse tratamento e exigindo que o Estado reveja a lei na qual foi enquadrada, Patrícia iniciou uma greve de fome no dia 12 de outubro de 2007, a qual sustentou até o dia 29 de janeiro de 2008, perfazendo 110 dias, depois que, finalmente, o governo chileno aceitou suas reivindicações. A jovem mapuche deixava claro que só sairia da greve de fome se fosse outorgado o benefício de ir para um Centro de Educação e Trabalho e o direito de liberdade nos finais de semana para ela e mais dois ativistas do seu povo, Jaime Marileo e Juan Millalen.
A semana passada, quando os mais de 100 dias de greve de fome já colocavam a vida de Patrícia em risco, houve uma mobilização mundial por parte de lideranças, intelectuais e populações, para que o governo de Bachelet se sensibilizasse. Foi só aí que o governo decidiu designar uma pessoa para tratar de assuntos indígenas e, entre eles, o de Patrícia. O escolhido foi Rodrigo Egaña Baraona que terá por missão estabelecer o diálogo com o povo mapuche.
Agora, Patrícia vai iniciar um período de recuperação e promete logo estar forte para visitar sua gente. Foi um longo e doloroso processo de luta que precisou ir até as últimas conseqüências, mas a vontade férrea desta mulher que redescobriu suas raízes na luta, foi maior. Na queda de braço com outra mulher, a presidente chilena, venceu a originária. Mas, a grande batalha ainda não teve fim. As terras mapuches seguem invadidas, os campos seguem sendo minados por eucaliptos, a vida se esvai com a fumaça das fábricas de celulose e sob a roda do capital. Muito há por fazer, por isso ninguém duvide que esse povo seguirá sua luta. Como bem diz a própria Patrícia num vídeo gravado desde a cadeia: “Não é possível que essa gente que lutou pela democracia no Chile agora venha colocar preço em nossa vida, colocar preço na terra, em favor de uns poucos”. A luta mapuche está longe de acabar.
Veja o vídeo com o depoimento de Patrícia no endereço:
http://www.youtube.com/v/Fy6_ZQgC2AY&rel=1"
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