sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A transformação autoritária de Israel



Por Sharon Weill e Valentina Azarov (tradução Victor Barone)
Publicado originalmente no site Eletronic Intifada

Uma das principais questões levantadas durante o recente conflito na Faixa de Gaza – além do considerável número de denúncias de violações das leis humanitárias internacionais, que não trataremos neste artigo – diz respeito ao funcionamento da lei em Israel nos casos relacionados à liberdade de expressão, opinião e acesso a informação. O Estado fez tudo que estava ao seu alcance (e além dele) para silenciar as vozes que se opuseram as políticas de governo e a recente operação militar na Faixa de Gaza.

Estes eventos foram componentes primordiais no processo que levou ao resultado das eleições para o parlamento israelense, onde um partido, o Yisrael Beiteinu, cujo líder defende uma agenda racista e autoritária, tornou-se a terceira força política no País. As políticas de Estado, que serão examinadas neste artigo – o banimento dos protestos, as restrições à liberdade de expressão e a desqualificação dos partidos árabes – são parte da transformação de Israel em um regime autoritário baseado na segregação.

O banimento dos protestos

Durante as operações militares em Gaza, manifestantes pacifistas se defrontaram com a brutalidade da polícia e do exército. De acordo com relatórios de 12 de janeiro de 2009, de autoria do jornal Haaretz, e de 2 de janeiro de 2009, de autoria da organização de direitos humanos Adalah, em 230 protestos, 801 manifestantes foram presos, 277 deles crianças ou adolescentes. O motivo das prisões: “perturbação da paz”, “acenar com bandeias palestinas”, e “ferir o moral da nação”.

Em 7 de fevereiro de 2009, 225 pessoas permaneciam detidas, incluindo 89 crianças e adolescentes; 114 pessoas foram levadas a julgamento. Outras foram interrogadas pelos serviços de segurança e alertadas a não tomar parte de outras manifestações; alguns foram mantidos em prisão domiciliar e proibidos de entrar em certas cidades.

A grande maioria destes presos era composta por palestinos com cidadania israelense. Palestinos, israelenses e manifestantes de outros países participaram de protestos pacíficos na Cijordânia e foram violentamente reprimidos pelo exército israelense, inclusive à bala. Estes confrontos causaram a morte de quatro palestinos em Nilin, Qalqiliya e Sawad, além de inúmeros feridos.

A liberdade de expressão e de manifestação e as liberdades pessoais foram sistematicamente violadas pelo Estado.

Violação da liberdade de imprensa

Jornalistas israelenses têm sido proibidos de entrar na Faixa de Gaza nos últimos dois anos. Amira Hass e Shlomi Eldar, dois conhecidos jornalistas que entraram em Gaza antes da ofensiva, foram imediatamente presos e reenviados para Israel. Jornalistas estrangeiros também tiveram acesso negado à região desde o início de novembro de 2008, devido à interrupção do cessar fogo com o Hamas e o fechamento dos pontos de passagem entre Israel e a Faixa de Gaza.

A Foreign Press Association fez uma petição à Suprema Corte de Israel em 24 de novembro de 2008 solicitando livre acesso a região. A petição deixava claro que os repórteres eximiriam Israel de qualquer responsabilidade pela sua segurança ao adentrarem a Faixa de Gaza.

A primeira reação surgiu apenas em 31 de dezembro de 2008, após jornalistas terem pedido pressa na decisão devido ao início da operação militar israelense na Faixa de Gaza. O exército permitiria que oito jornalistas adentrassem a zona do conflito.

No dia 2 de janeiro de 2009 a justiça israelense se pronunciou:

... a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa, como o direito do público a informação, mantêm-se inalterados, mesmo em tempos de guerra, e em um período como este têm uma importância especial; no entanto, estes direitos não são absolutos e diante das circunstâncias têm de ser equilibrados diante do risco para vidas humanas como resultado da abertura de pontos de passagem entre Israel e a Faixa de Gaza”.

A corte, inequivocamente, endossou a proposta do Estado de liberar o acesso a apenas oito jornalistas estrangeiros, quando a passagem se tornasse possível para fins humanitários e esta entrada teria que ser coordenada junto às autoridades competentes com um dia de antecedência á data de entrada requerida pelos jornalistas.

Além disso, a corte endossou a posição do Estado de que os procedimentos estariam “sujeitos a mudanças de acordo com as circunstâncias. No entanto, esperamos que sejam tomadas todas as medidas necessárias, de acordo com os procedimentos estabelecidos e em consideração aos direitos e interesses representados pelos peticionários”.

Um dia depois, a operação terrestre em Gaza teve início. O Estado usou este fato como um fator de mudança nas condições expressas pela justiça, impossibilitando a entrada dos jornalistas na Faixa. Assim, a obrigação de viabilizar a entrada dos jornalistas, que havia sido acordada um dia antes, nunca foi implementada pelo exército israelense.

Em 20 de Janeiro de 2009, após o fim da operação, o Estado se predispôs a garantir o acesso dos jornalistas. Ainda assim, a Foreign Press Association protocolou outra petição requerendo acesso total dos jornalistas, como havia feito em novembro de 2008, pois não estava satisfeita com uma mera declaração de intenção por parte do Estado. No curso dos dias Israel concordou em permitir o acesso, mas apenas para jornalistas estrangeiros.

O Estado violou a primeira decisão?

Na sua segunda decisão, a corte afirmou que não iria julgar a violação de sua decisão anterior por parte do Estado, uma vez que a questão não seria relevante ao caso em questão. O Estado, por sua vez, também alegou que não houve violação da primeira decisão, uma vez que todas as restrições foram impostas apenas por razões de segurança.

Os peticionários não pediram que o Estado fosse confrontado pela corte. Eles ainda não tinham a informação - publicada um dia após a segunda petição ter sido feita pelo jornal Haaretz – revelada por uma carta do Ministério da Defesa endereçada ao assessor jurídico do Gabinete do primeiro-ministro, segundo a qual as condições de segurança não eram impedimentos para a entrada de jornalistas na Faixa de Gaza e que o bloqueio ao acesso dos jornalistas foi mantido por motivo de relações públicas. A questão da segurança teria sido uma desculpa.

Na carta, o conselheiro jurídico do Ministério da Defesa alertava que se o gabinete do primeiro-ministro continuasse a bloquear o acesso dos jornalistas, o Estado poderia se ver em confronto com a corte. Deve-se notar que o Estado israelense nunca negou a existência desta carta ou seu conteúdo (O artigo foi originalmente publicado em hebreu no dia 21 de janeiro de 2009 na edição impressa do Haaretz. Uma tradução parcial foi publicada na edição online do jornal).

Banindo partidos árabes das eleições israelenses

A repressão sobre a minoria palestina em Israel é uma reminiscência da história sócio-política do poder militar israelense e das suas políticas de limpeza étnica. Para destacar apenas um dos muitos problemas representados pela estrutura do autoritário sistema jurídico do país seria necessário lançar uma luz sobre sua própria natureza discriminatória, que visa a erosão da identidade dos palestinos que vivem dentro das fronteiras de Israel, através da proibição da bandeira palestina e da sistemática negação dos direitos à propriedade por parte de palestinos em Israel.

Em 12 de Janeiro de 2009, a Comissão Eleitoral Central (CEC) do parlamento israelense desqualificou a candidatura dos dois partidos árabes - United Arab List-Ta'al e Balad (ou Aliança Democrática Nacional (NDA) - que representam mais de 160 mil eleitores israelenses. Estes partidos se viram proibidos de disputar as eleições para o Knesset (Parlamento), a ser realizada em 10 de Fevereiro de 2009. A desqualificação foi seguida de uma denúncia apresentada ao CEC por Avigdor Lieberman, chefe do partido da extrema-direita Yisrael Beiteinu.

De acordo com a secção 7A da Lei Básica de Israel, o Knesset permite a desqualificação de um partido quando seus objetivos ou os de seus candidatos envolvem: (i) a destruição do Estado de Israel como um Estado judeu e democrático, (ii) incitamento racismo, ou (iii) apoio a um estado inimigo ou de uma organização terrorista durante um conflito. Além disso, a lei foi recentemente alterada para incluir todos aqueles que visitaram um país inimigo nos últimos sete anos antes da apresentação da sua candidatura, como se tais ações pudessem ser vistas como suporte a um conflito armado contra Israel.

A moção de desqualificação foi proposta por partidos de direita e defendidos por uma maioria dos membros da comissão, incluindo membros do partido Kadima e os trabalhistas. Vários membros da CEC equipararam o apoio dos partidos árabes aos palestinos residentes na Faixa de Gaza durante as recentes incursões, ao apoio ao terrorismo. A maior preocupação dos membros da Comissão foi a intenção destes partidos em alterar a definição da constituição de Israel de um Estado "judeu e democrático" para um Estado “democrático de todos os seus cidadãos.".

A Adalah, uma organização não governamental dedicada a proteger os direitos dos palestinos em Israel, submeteu uma petição legal contra a decisão do Knesset.

A principal alegação foi de que a decisão fere os direitos dos candidatos serem eleitos e que impede o direito constitucional dos cidadãos votarem nestes partidos para elegerem seus representantes para o Knesset. Além disso, a ONG alegou que maioria dos membros do CEC levou em conta argumentos irrelevantes, negligenciando a legislação e a jurisprudência existentes. As plataformas destes partidos já haviam sido avaliadas e aprovadas por uma extensa banca de juízes nas eleições anteriores e desde então não houve nenhuma mudança na sua agenda política.

A ONG Adalah salientou que os debates na CEC foram violentos e descontrolados, não permitindo um encaminhamento construtivo sobre a questão e isolando uma das partes. A situação ficou tão fora de controle que Eliezer Rivlin, presidente da Comissão de Justiça declarou: "tendo em conta a situação que foi criada, eu decidi não votar" (Ata dos debates de 12 de Janeiro de 2009, p. 60).

Os representantes das partes não tiveram a oportunidade de apresentar seus argumentos e foram várias vezes interrompidos (ver págs. 20-25 da ata). No curto período de tempo que foi concedido a MK Ahmed Tibi, líder da United Arab List (UALAMC), ele declarou claramente que "os partidos árabes se opõe a uma política e não a um país" e confirmou que as suas agendas políticas buscam uma solução comum para que os dois povos possam "viver em conjunto e não morrer juntos" (pp 31-33 da ata).

Assim, a decisão tomada pela CEC foi tendenciosa e baseada em informações incompletas, colhidas muitas vezes da mídia. Mesmo que as alegações feitas pelos que pediram a desqualificação dos partidos árabes fossem verdadeiras, ainda assim não constituiriam motivo suficiente para esta desqualificação. No entanto, uma maioria esmagadora aprovou a medida: 21 votaram a favor da inelegibilidade do UALAMC, sete membros votaram contra e dois abstiveram, 26 membros votaram a favor da retirada da NDA, três membros votaram contra e um absteve-se.

Em 21 de Janeiro de 2009 o Supremo Tribunal de Israel, com uma bancada de nove juízes, aceitou por unanimidade a petição que invalidou a decisão da CEC e reintegrou o direito de ambos os partidos disputarem a eleição para o Knesset.

Caminhando para um regime autoritário

Uma vez que o Estado comece a dificultar a criação e desenvolvimento de uma opinião pública; uma vez que a mídia é silenciada ou transforma-se em uma ferramenta de propaganda; uma vez que manifestações e partidos políticos são colocados na clandestinidade por se oporem ao governo, a sociedade passa a se transformar lenta mas inexoravelmente, movendo-se ao largo dos regimes democráticos rumo ao autoritarismo.

Os alegados crimes de Guerra cometidos pelo exército israelense na Faixa de Gaza, as violações de direitos básicos de cidadãos israelenses e o resultado das eleições de 2009 são exemplos desta transformação. O que ocorreu nos dois meses que antecederam as eleições em Israel explica, em certo ponto, o voto de muitos israelenses que fizeram de um partido racista a terceira força política em Israel.

O partido de Avigdor Lieberman advoga o banimento dos partidos árabes que clamam por um “Estado democrático para todos os cidadãos” e a repressão do que vê como “traição” por parte dos cidadãos árabes em Israel. De acordo com seu site, o Yisrael Beiteinu reivindica um “patriotismo incondicional” e exige que os cidadãos “afirmem sua lealdade ao Estado e estejam prontos a servir ao exército ou ao Serviço Nacional para poderem se tornar elegíveis para qualquer benefício estatal”.

O partido declara em sua plataforma a intenção de fazer de Israel um Estado puramente judeu e, ao mesmo tempo, “aumentar a Presença Judia em Yehuda, Shomron, (Cijordânia em outras palavras), Golan (Colinas de Golas, território sírio ocupado) e Jerusalém Leste, assim como trabalhar para a separação entre Gaza e Cijordânia".

De acordo com o site do partido, "Idealmente, o lobo habitará com o carneiro, mas nós não vivemos tempos ideais. A história tem mostrado que há um perigoso potencial para a eclosão de conflitos em regiões habitadas por povos que professam religiões diferentes. ...Membros desta minoria (árabe) tendem a servir como agentes terroristas sob o comando da Autoridade Palestina. Muitos já tornaram pública sua falta de lealdade para com o Estado. Esta situação pode levar ao colapso de Israel como um Estado Judeu e democrático e, talvez, como entidade coesa. Além disso, em nossa opinião, a única solução possível é a troca de territórios e de população, com o objetivo de separar as nações judia e árabe respectivamente”.

Lieberman tem feito incitações racistas contra palestinos com nacionalidade israelense. Em uma recente coletiva de imprensa organizada pelo seu partido em Haifa, impediu a participação de jornalistas árabes. Como o Haaretz noticiou em 6 de fevereiro, durante recente visita a escolas no norte de Israel, Lieberman foi saudado com gritos de “morte aos árabes” e propostas de “revocar a nacionalidade israelense dos árabes”. O Haaretz revelou também que Lieberman foi seguidor do movimento Kahane Kach, de extrema-direita, banido em 1988.

Idéias que já foram consideradas extremamente racistas para serem legitimamente expressas são agora parte do discurso político em Israel, enquanto outras opiniões são silenciadas. Trata-se de um sério sinal de que a situação em Israel lembra mais e mais a era do apartheid na África do Sul.

Sharon Weill is a PhD candidate in International Humanitarian Law, University of Geneva, Research Assistant with the Rule of Law in Armed Conflicts project and lecturer in IHL. Valentina Azarov is a Legal Researcher with HaMoked - Center for the defence of the individual and author with the International Law Observer and the Alternative Information Center.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Till Brönner - Oceana (2006)






Músicas:

01. Bumpin' ( music by Wes Montgomery)
02. Love Theme From Chinatown
03. In My Secret Life (feat. Carla Bruni)
04. The Peacocks
05. I'm So Lonesome I Could Cry (feat. Madeleine Peyroux)
06. Subrosa
07. Pra Dizer Adeus (feat. Luciana Souza)
08. It Never Entered My Mind
09. River Man (vocal Till Bronner)
10. Danny Boy
11. A Distant Episode
12. Tarde
13. You Won't Forget Me

Till Bronner (trumpet)
Dean Parks (guitar)
Gary Foster (alto saxophone)
Jim Cox (piano)
Larry Goldings (Hammond b-3 organ)
David Piltch (bass guitar)
Jay Bellerose (drums)

Créditos: Rogerio

O Capitalismo em crise...

Refeitório para americanos carentes: público crescente


'Fome Zero made in USA' dá US$ 6 por dia para 31 milhões


Uma notícia no diário argentino Clarín conta como vivem os 31 milhões de cidadãos americanos que recebem cupons de alimentação para viver. Um jornalista da Louisiana (o estado mais pobre do país) faz a experiência, tentando viver com US$ 6 (R$ 14) por dia. O plano de socorro de Barack Obama amplia em 13% os gastos com esses cupons, na previsão de que a crise e o desemprego aumentarão sua clientela. Veja a íntegra.


Refeitório para americanos carentes: público crescente

É o lado obscuro da vida em um dos países mais do mundo. Nos Estados Unidos, quem depende dos cupons de alimentação oferecidos pelo "Papai Estado" não recebe mais que um punhado de dólares. Mas a maior crise económica das últimas décadas faz o número necessitados aumentar rapidamente. Nunca houve tantos americanos vivendo desses cupons. E a tendência é aumentar.


Jornalista conta experiência em site


A lista de alimentos Sean Callebs assemelha-se à de uma dieta para emagracer. "Uma porção de cereal, uma banana, uma xícara de chá.. e faltam quatro longas horas até almoço", ele lamenta.


Em uma experiência que tem tido grande impacto sobre a audiência, este jornalista da CNN resolveu experimentar na própria carne como se pode viver de cupons de alimentação. Ou não. Suas experiências são relatadas em um blog.


Faz um mês que ele tenta viver gastando até US$ 6 por dia. Já chegou quase no fim. Mas este repórter da Louisiana queixara-se em seu blog de permanentes ataques da fome. Poucas vezes você pode comprar frutas e legumes frescos, conta.


Fome à americana


Embora provisoriamente, Callebs experimenta a sina de um em cada dez americanos. Em setembro passado, 31 milhões de pessoas no país compravam alimentos com os cupons.


"Eles são os números mais elevados de todos os tempos", disse Ellen Vollinger, diretor de Frac, uma organização de Washington de pressão contra a fome.


"Muitos americanos já não sabem onde arrumarão sua próxima refeição", destaca ela. O aumento do desemprego faz com que a procura de cupons aumente constantemente, mas as carências não terminam aí: cada vez mais pessoas, mesmo tendo um emprego, dependem dos "Food Stamps".


Muita gente tem até mais de um emprego, mas a renda não basta. "Muitas famílias pulam refeições para pagar o aluguel", disse Ellen. "Pais deixam de comer para que fique alguma coisa para os filhos e às vezes até crianças passam fome, nos Estados Unidos. É uma vergonha."


O estigma do cupom


Os cupons de alimentação começaram a ser distribuídos durante a 2ª Guerra Mundial. Hoje, o governo já não distribui cupons papel, mas por meio de um cartão eletrônico, que fornece em média US$ 100 por pessoa.


Desde 2008, o Ministério da Agricultura evita usar o termo cupom de alimentação. O título oficial agoora é "Programa de ajuda para suplementar a nutrição".


Mas o plano ainda tem um estigma. "Aqueles que precisam muitas vezes se recusam a pedir ajuda", diz a agente social Srindhi Vijaykumar, da organização DC Hunger Solutions, que promove os cupons nas ruas de Washington. É especialmente difícil chegar até os aposentados, imigrantes e famílias operárias, diz ela.


Quem usa os cupons é confrontado com algumas dificuldades no supermercado. O carentes têm em média US$ 3 por dia para fazer compras. Por isso muitas vezes são obrigados a fazer cortar alimentos.


"As pessoas só compram o que é barato, não é perecível e enche a barriga", diz Vijaykumar. O crédito mensal normalmente é consumido em duas ou três semanas. "Muitas famílias vão então para os sopões", disse Ellen Vollinger.


Obama aumenta verba do programa


Não poucos depositam as suas esperanças no novo governo de Barack Obama. O plano de socorro económico de US$ 787 bilhões, lançado na semana passada pelo chefe da Casa Branca, permitirá um aumento de 13% na verba para os cupons de alimentação.


No entanto, Ellen estima que a fome vai aumentar nos EUA. "Esta recessão certamente não será breve."


A crise também atingiu duramente a classe média. De acordo com dados do Departamento do Comércio, o seu consumo caiu novamente em dezembro, pelo sexto mês consecutivo, enquanto a taxa de poupança subiu 2,9% no fim de 2008.
Annie Moncada, 63 anos, confessa que comprava coisas "desnecessárias". Mas agora seu cupom está guardado. "Agora eu ponho na panela mais carne moída e menos bifes e também economizo mais eletricidade", diz. Tal como ela, milhares de famílias cortam gastos, passeios, idas a restaurantes ou ao cabeleireiro. O fim da crise parece longe.

Fonte: Clarín; intertítulos do Vermelho

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Enquanto isso na Bolívia....

Morales denuncia infiltração da CIA em petrolífera boliviana


Photo

LA PAZ (Reuters) - O presidente da Bolívia, Evo Morales, denunciou nesta terça-feira uma infiltração da agência norte-americana de inteligência, a CIA, na petrolífera estatal boliviana YPFB, com o suposto propósito de fracassar a nacionalização do setor de hidrocarbonetos iniciada em 2006.

Morales sugeriu que um recente escândalo de corrupção que provocou a saída do presdiente da YPFB e a prisão de seu companheiro de partido Santos Ramírez têm ligação com a infiltração, no entanto evitou defender o ex-funcionário.

"Está totalmente confirmada uma infiltração (na YPFB) de agentes externos, agentes da CIA", disse Morales em um programa na região cocaleira de Chapare.

Morales disse que "talvez seja assim que o império opera para tentar fracassar políticas que vamos levando adiante".

Ele assegurou estar preparado para enfretar "mais intenções de desestabilização após tentarem armar um golpe no ano passado para me tirar do Palácio do Governo".

O presidente boliviano informou como principal fonte da denúncia de infiltração um ex-capitão da polícia local, Rodrigo Carrasco, que se identificou como um agente da CIA que chegou de maneira inesperada no ano passado à gerência de comercialização da YPFB com um diploma falso de engenheiro.

Carrasco foi exonerado do cargo no início de fevereiro, acusado de prejudicar uma investigação pelas mesmas acusações de corrupção que afetaram Ramírez, um dos fundadores do Movimento al Socialismo, partido do governo.

(Reportagem de Carlos Alberto Quiroga)

Outubro, obra do genial Eisenstein - 1925

Oktyabr, Sergei M. Eisenstein.


Sinopse

Terceiro longa-metragem de Eisenstein, que ele fez para comemorar os dez dias de Revolução Soviética, em 1917, durante os quais os bolchevistas derrubaram o governo Kerensky. Outra obra máxima de Eisenstein. Aqui ele usa, de forma impressionante, métodos experimentais e sofisticados de montagem, baseada no choque entre imagens para comunicar idéias abstratas, e o conceito das massas como herói. Filme obrigatório aos amantes da sétima arte, pleno de criatividade e forte apelo político social.


Informações do Arquivo

Formato: Rmvb.
Tamanho: 600 Mb.
Duração: 95 Min.
Legendas: Português - BR.
Créditos: F.A.R.R.A.-Shadows V.

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Informações do Filme

Direção: Sergei Eisenstein e Grigory Alexandrov.
Roteiro: Sergei Eisenstein e Grigory Alexandrov.
Música: Edmund Meisel.
Fotográfia: Vladimir Nilsen, Vladimir Popov, Eduard Tisse.
Direção de Arte: Vasili Kovrigin.
Elenco: Vladimir Popov, Boris Livanov, Eduard Tisse, Nikandrof, Layaschenko, N. Podvoisky.





Sobre Gaza....

Israel no mau caminho




Luiz Eça

Na verdade, o resultado das eleições não alterou o caminho que Israel vem seguindo. Apenas deixou-o mais explícito. A ultra-extrema-direita vitoriosa tem os mesmos objetivos dos últimos governos, só que não os camufla com falsas declarações favoráveis a um acordo de paz e à independência da Palestina.

Desde a criação de Israel, a grande preocupação da população do país tem sido com a segurança, que seria ameaçada pelos seus vizinhos, inconformados com a expulsão manu militari dos primitivos habitantes árabes da Palestina. O modo escolhido para garanti-la foi manter forças armadas muito superiores às dos inimigos, prontas para esmagar qualquer ataque, limitado que fosse, gerando terror e desestimulando futuras ações hostis.

Assim, contando com a decisiva colaboração dos Estados Unidos, o exército israelense travou 4 guerras vitoriosas contra os países árabes, entre 1948 e 1973. Depois dessa última, o Egito, o mais forte deles, passou para o lado americano e fez as pazes com Israel, inclusive estabelecendo completas relações diplomáticas. Os demais países do bloco antijudaico eram militarmente fracos e não tinham condições de empreender novas guerras. Quem continuou lutando foi a OLP (Organização pela Libertação da Palestina), entidade que unia movimentos islâmicos de diversas linhas de atuação: desde ataques a objetivos militares até ações terroristas.

De acordo com sua política agressiva, Israel reprimiu duramente todas as ações rotuladas como ameaças à segurança nacional. Chegou a invadir e a ocupar o Líbano – onde viviam em favelões a maioria dos palestinos desalojados – em 1978 e 1982, devastando o país e fazendo milhares de prisioneiros e vítimas civis. Somente na invasão de 1982 foram mortos 20.000 civis palestinos e libaneses.

Mais recentemente, em 1993, por pressão da opinião pública mundial, o governo de Tel Aviv concordou em assinar os acordos de Oslo, nos quais, pela primeira vez, admitia a criação de uma Palestina árabe independente, cujos limites seriam definidos posteriormente com base na resolução da ONU, que mandava Israel sair dos territórios ocupados na guerra de 1967 e voltar às fronteiras anteriores. Também em Oslo, parte da Cisjordânia ganhou "autonomia administrativa" (em certas questões), passando a ser gerida pela chamada "Autoridade Palestina".

De Oslo para cá, houve muitas tentativas de negociação, todas elas rompidas por atentados terroristas dos movimentos árabes mais radicais – impacientes com a lentidão das negociações - ou, na maioria dos casos, pelas próprias forças armadas de Israel. De acordo com sua doutrina de "assassinatos seletivos", elas se arrogaram o direito de matar, especialmente via mísseis lançados por aviões, aqueles que sua espionagem acusasse de terrorismo. Sem direito de defesa ou julgamento, uma aberração nos tempos de hoje, centenas dessas pessoas foram assim executadas. E, o que é mais grave, os vizinhos e transeuntes próximos dos alvos acabaram também assassinatos sem culpa alguma.

E Israel seguiu promovendo novas invasões. Primeiro da Cisjordânia, desrespeitando a "Autoridade Palestina", cujos edifícios públicos (inclusive a polícia) e equipamentos de infra-estrutura foram alvos preferenciais dos mísseis e bombas dos judeus. Devido a conflitos com o Hizbollah na fronteira do Líbano, seu exército e força aérea lançaram-se contra o país, danificando pesadamente sua infra-estrutura, reduzindo a escombros aldeias inteiras e matando cerca de 1.000 pessoas, quase todas civis. Mais recentemente, fizeram o mesmo em Gaza, agora com requintes de barbaridade tipo Gengis Khan. Bombardearam escolas, hospitais, depósitos de alimentos, instalações da ONU e prédios repletos de famílias de refugiados, sob o pretexto de enfraquecer o insubmisso Hamas.

Na verdade, Israel nunca aceitou a idéia de um país palestino livre. Pelo contrário: procurou sempre dificultar sua viabilização, permitindo e mesmo estimulando a fundação de novos assentamentos judaicos, contra proibições da ONU e compromissos firmados internacionalmente.

Hoje, 60 anos depois da fundação de Israel, a política de garantir segurança pelo uso da força bruta fracassou. Os judeus estão conscientes de que, a qualquer momento, o Hamas voltará a lançar foguetes e os movimentos islâmicos mais exaltados lançarão atentados terroristas. O Hizbollah, na fronteira do Líbano, continua forte e pronto a novas incursões guerrilheiras. Na área internacional, Israel perdeu um importantíssimo aliado, a Turquia, que condenou veementemente o massacre de Gaza, tendo o primeiro-ministro Erdogan brigado em pleno plenário de Davos com Shimon Peres, presidente de Israel. Some-se a isso a progressiva deterioração da imagem de Israel, hoje visto universalmente como país que não respeita o Direito Internacional e não tem escrúpulos em praticar ações desumanas e brutais contra populações civis.

Apesar disso tudo, Israel continua no "mau caminho". Acaba de eleger o parlamento mais direitista e agressivo de sua história. Basta dizer que todos os deputados pacifistas eleitos (árabes, esquerdistas e liberais) somaram apenas 8% dos votos.

A postura alienante do eleitorado, favorável a uma política de força provadamente errada, pode ser creditada à manipulação da opinião pública pelo "partido da guerra", formado pelas forças armadas, a indústria de armas e certos grupos políticos religiosos, tendo como porta-vozes líderes políticos de direita.

Com sua imagem fortalecida pelos triunfos nas guerras dos primeiros 25 anos do país, os militares conseguiram posição hegemônica na política israelense – haja vista o grande número deles que já foram primeiros-ministros: Rabin, Barak, Netanyahu, Sharon e Begin, sem contar os muitos que exerceram e exercem altos cargos na administração. Eles são estreitamente ligados à indústria de armas, cujos lucros sobem nesse clima de estado de guerra permanente. Frise-se que os interesses econômicos envolvidos não são de desprezar, pois Israel é hoje o quarto maior exportador de armas do mundo, constituindo-se a indústria do setor num poderoso grupo de pressão. A terceira força que integra o partido da guerra é o rabinato político. Adeptos da vinculação do Estado a conceitos pretensamente religiosos, eles podem ser comparados aos mais furiosos e reacionários membros do clero radical islâmico.

As citações abaixo falam por si: "Há uma proibição bíblica de entregar um único milímetro da terra de Israel (Palestina) aos gentios" (livros do rabino Shlomo Aviner); "Quando você mostra compaixão por um cruel inimigo, você está sendo cruel para os soldados puros e honestos" (citação do rabino Avinet, em publicação do alto rabinato do exército de Israel distribuída aos soldados em Gaza); "Soldados de Israel: poupem suas vidas e as de seus amigos, não se preocupando com uma população (palestinos) que nos cerca e fere" (alunos do rabi Yitzhak Ginsburg, autor de artigo enaltecendo Baruch Goldstein, assassino de árabes desarmados em Hebron).

Além dos grupos de pressão claramente comprometidos com a "política de força", existem em Israel intelectuais de renome, jornalistas, estudantes e políticos que defendem caminhos diferentes. Eles acreditam que agora é um bom momento para procurar um entendimento com os palestinos, inclusive o Hamas. Afinal, esse movimento ganhou as últimas eleições democraticamente, é seu representante legítimo.

Evidentemente, os problemas são difíceis de serem superados. O que fazer com os assentamentos na Palestina, onde vivem 400 mil judeus? Como atender aos 700 mil refugiados palestinos? E Jerusalém, poderá ser dividida entre os dois países?

Esses temas são os mesmos que vêm sendo discutidos sem êxito, desde os acordos de Oslo. Agora poderá ser diferente, desde que os judeus renunciem aos "assassinatos coletivos" e a novos assentamentos. E os árabes aos atentados e ao lançamento de foguetes. Com Obama, os Estados Unidos poderão ser mediadores imparciais, inclusive, exercendo pressões que eventualmente sejam necessárias, sobre ambos os lados.

Mas a perspectiva atual é sombria. Com a ultra-extrema-direita no poder, acabaram-se os subterfúgios. Netanyahu já afirmou que não existe problema da Palestina. Ele nem pensa em retirar-se da Cisjordânia ou acabar com um único assentamento. Quanto ao Hamas, voltando a lançar foguetes, será atacado com toda energia, até sua destruição final. Custe o que custar. Ao povo palestino, é claro.

Para Netanyahu, problema mesmo é o Irã. A possibilidade de Teerã vir a ter uma bomba atômica seria inaceitável. O país dos aiatolás passou a ser um fantasma a ser exorcizado a ferro e fogo, especialmente depois que o populista Ahmadinejad ameaçou varrer Israel do mapa. Não importa ele ter esclarecido que falara figuradamente; que o Irã não pretendia atacar Israel, cujo regime racista afundaria por si só.

Pela doutrina militarista israelense, a segurança do país fica ameaçada pela simples existência de um inimigo poderoso. No caso presente, o programa nuclear militar dos iranianos não é fato comprovado, mas ainda que o fosse eles contariam com uma ou duas bombas atômicas somente daqui a alguns anos. Mesmo trabalhando a toda, nunca teriam o suficiente para enfrentar as 200 bombas de Israel, somadas às milhares do seu protetor e fiel aliado, Estados Unidos.

A "ameaça atômica" de Teerã não passa de mais um pretexto para manter Israel militarizado, com apoio do povo - temente por sua segurança. E a indústria bélica faturando horrores.

Como se sabe, o soi disant centrista Olmert pediu licença a Bush para bombardear o Irã. Bush negou, para evitar o envolvimento americano em uma aventura guerreira com potencial de muitas mortes de "our boys" e prejuízos à combalida imagem dos republicanos. Olmert obedeceu. Será que o agressivo Netanyahu fará por menos?

Luiz Eça é jornalista.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

FMLN - El Salvador

EL SALVADOR

Chamado de apoio a Mauricio Funes Presidente

El Salvador realiza eleições presidencias no próximo dia 15 de março. Mauricio Funes, candidato da Frente Farabundo Marti para Libertação Nacional, tem grandes chances de vitória e entrenta o candidato da Arena, representante da direita e do autoritarismo local. Um dos desafios da campanha é superar o medo da mudança, fruto de 12 anos de sangrenta guerra civil, alimentado pelo meios de comunicação controlados pela direita. Por isso todo apoio internacional é bem vindo. Veja a seguir um manifesto de apoio, e ao final um link para subscrição.

EM DEFESA DE EL SALVADOR

El Salvador é um dos países mais pobres e o mais violento da América Latina.

É um país traumatizado por uma guerra civil atroz, que durou 12 anos, e deixou uma imensa sequela de dor, medo e ressentimento.

O ícone do absurdo desta guerra é o corpo crivado de balas de Monsenhor Romero, arcebispo de San Salvador, assassinado durante a celebração de uma missa.

Desde os acordos de paz, há 19 anos, governa um mesmo partido, autoritário e oligarca : Arena, que é hoje o último bastião da velha direita nas Américas.

Durante a permanência da Arena no poder, emigraram ilegalmente -especialmente para os Estados Unidos e Canadá- quase três de milhões de salvadoreños, escapando da fome e do desemprego. Eles representam um terço de toda a população do país.

Por qualquer ângulo que se mire, El Salvador é hoje um país que sofre. Uma chaga aberta. E o pior : um país que sofre uma terrível manipulação político-psicológica, onde o governo, com o apoio quase absoluto dos meios de comunicação, trabalha ostensivamente uma política de medo e terror.

Ao longo dos anos, o partido governista se tornou especialista em manipular o trauma da guerra e em incutir o medo de um suposto "perigo esquerdista" na população.

Em El Salvador, ficou congelado no tempo o pior dos piores ambientes de propaganda da guerra fria.

Mas apesar de tudo isso, existe, hoje, a possibilidade concreta de que Mauricio Funes, um ex-jornalista de 49 anos, que conta com o apoio das esquerdas e de setores independentes, vença as próximas eleições presidenciais, previstas para 15 de março.

Ele está na frente em todas as pesquisas, porém a Arena, tem usado, nos últimos dias, uma poderosa máquina política, econômica e de comunicação para esmagar a candidatura.

Por isso é fundamental que vozes independentes, de todo o mundo, se unam em favor da candidatura de Mauricio Funes, da FMLN.

Mauricio é a expressão plena de um El Salvador que quer deixar para trás seu lastro de traumas coletivos e pessoais, recuperar a autoestima e pensar que existe outra maneira de ser e viver no mundo.

Ele é a primeira grande liderança da geração pós-guerra. Sua candidatura é um signo de paz em um cenário político onde ainda pontilham comandantes que se enfrentaram nos dois lados na guerra.

E uma forte esperança de mudança, em um país onde o governo e o partido governista ainda abrigam pessoas direta e indiretamente ligadas ao assassinato de Don Romero.

Na verdade, a candidatura de Mauricio Funes encarna mais que um processo político, e sim um processo de renovação emocional e espiritual que vive El Salvador.

Um processo de crer em si mesmo, de respeitar e de se fazer respeitar, de sentir-se digno e protegido, de deixar atrás a sombra escura de suas piores experiências sociais e pessoais.

Em suma, de recuperar a alegria de viver como nação, como sociedade e como pessoas.

Participe deste processo de mudança, paz e esperança de El Salvador, assinando este manifesto de apoio à candidatura de Mauricio Funes e de repúdio aos abusos eleitorais da Arena.

Mais de 50 mil pessoas já assinaram este documento; coloque seu nome:


http://www.mauriciofunespresidente.com/manifesto.php?act=v&l=pt

Publicação da Democracia Socialista - Tendência do PT


contato@democraciasocialista.org.br

O repúdio à ditadura da Folha

Altamiro Borges

Circula pela internet um manifesto, aberto à adesão dos interessados, de repúdio ao editorial da Folha de S.Paulo publicado na semana passada. Na ocasião, para desqualificar a vitória de Hugo Chávez num referendo democrático sobre a possibilidade da reeleição, o jornal da Famíglia Frias escancarou toda a sua postura autoritária, de viés fascista, ao insinuar que o governo bolivariano seria pior do que a ditadura militar brasileira que prendeu, matou e torturou milhares de patriotas entre 1964-1984. O asqueroso editorial chega a qualificar a ditadura brasileira de “ditabranda”.

Além do repúdio, a petição também presta solidariedade à professora Maria Victoria Benevides e ao jurista Fabio Konder Comparato, os primeiros a condenarem o editorial na sessão de cartas do jornal, e que foram duramente insultados pela abjeta direção da Folha. “Que infâmia é essa de chamar os anos terríveis da repressão de ‘ditabranda’?”, questionou Benevides. “O autor do vergonhoso editorial e o diretor que o aprovou deveriam ser condenados a ficar de joelhos em praça púbica e pedir perdão ao povo brasileiro, cuja dignidade foi descaradamente enxovalhada”, afirmou Comparato.

A resposta do jornal lembrou a reação de Bush, Cheney e Rumsfeld aos críticos de suas políticas terroristas. “A Folha respeita a opinião dos leitores que discordam da qualificação aplicada em editorial ao regime militar brasileiro e publica algumas delas. Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio às ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua ‘indignação’ é obviamente cínica e mentirosa”. Juntos, o editorial fascista e a resposta arrogante indicam a urgência da coleta de adesões ao manifesto.

A íntegra do manifesto

“Ante a viva lembrança da dura e permanente violência desencadeada pelo regime militar de 64, os abaixo-assinados manifestam o seu mais firme e veemente repúdio a arbitrária e inverídica revisão histórica contida no editorial da Folha de S. Paulo de 17 de fevereiro. Ao denominar de ditabranda o regime político vigente no Brasil de 1964 a 1985, a direção do jornal insulta e avilta a memória dos muitos brasileiros e brasileiras que lutaram pela redemocratização do país”.

“Perseguições, prisões iníquas, torturas, assassinatos, suicídios forjados e execuções sumárias foram crimes corriqueiramente praticados pela ditadura militar no período mais longo e sombrio da história polí¬tica brasileira. O estelionato semântico manifesto pelo neologismo ditabranda é, a rigor, uma fraudulenta revisão histórica forjada por uma minoria que se beneficiou da suspensão das liberdades e direitos democráticos no pós-1964”.

“Repudiamos, de forma igualmente firme e contundente, a nota de redação, publicada pelo jornal em 20 de fevereiro em resposta as cartas enviadas pelos professores Maria Victória de Mesquita Benevides e Fabio Konder Comparato. Sem razões ou argumentos, a Folha de S.Paulo perpetrou ataques ignominiosos, arbitrários e irresponsáveis a atuação desses dois combativos acadêmicos e intelectuais brasileiros. Assim, vimos manifestar-lhes nosso irrestrito apoio e solidariedade ante as insólitas críticas pessoais e políticas contidas na infamante nota da direção editorial do jornal. Pela luta pertinaz e conseqüente em defesa dos direitos humanos, Maria Victoria Benevides e Fabio Konder Comparato merecem o reconhecimento e o respeito de todo o povo brasileiro”.

A história suja da famíglia Frias

O manifesto já teve a adesão de mais de mil pessoas - entre outras, do professor Antonio Candido, do jurista Goffredo da Silva Telles Jr., dos sociólogos Emir Sader e Caio Toledo e dos historiadores Augusto Buonicore e Antonio Mazzeo. Como afirma o jornalista e ex-preso político Alípio Freire, é preciso reagir às bravatas de Otavio Frias Filho, diretor editorial da Folha. “Elas não podem ser atribuídas apenas aos ‘maus bofes’ de um jovem (?) herdeiro rico, mimado, que se supõe gênio (o que diariamente lhe repete a sua corte), que não conhece limites e, portanto, é afeito a chiliques. Embora seja também isso, é muito mais, e só pode ser entendido a partir da história daquele jornal”.

Como se sabe, o Grupo Folhas sempre esteve ligado aos setores mais reacionários da sociedade. Clamou pelo golpe militar de 64 para “combater o comunismo e a república sindical de Jango”; apoiou a setor “linha dura” dos generais golpistas; cedeu suas peruas para transportar os presos políticos à tortura; e foi o jornal de “maior tiragem do país”, segundo repete Mauro Santayana, não pela quantidade de exemplares, mas sim pelo número de tiras (policiais) na redação. Neste período sombrio, Grupo Folhas também esteve envolvido em casos obscuros de corrupção, como o da antiga Rodoviária Júlio Prestes. A empresa prosperou nas masmorras da ditadura militar.

“O menino idiota chamado Otavinho”

Alípio Freire, no artigo para o jornal Brasil de Fato, cita alguns episódios marcantes da história do Grupo Folhas. Lembra o caso da jornalista Rose Nogueira, presa pelos órgãos de repressão da ditadura. “Vinte e sete anos depois [1997], descubro que fui punida não apenas pela polícia toda-poderosa... Ao buscar, agora, nos arquivos da Folha a minha ficha funcional, descubro que, em 9 de dezembro de 1969, quando estava presa no Dops, incomunicável, ‘abandonei’ meu emprego de repórter do jornal”, relata a jornalista, que estava de licença-maternidade quando da sua prisão ilegal e que foi demitida sem qualquer direito trabalhista da Folha.

Alípio também retoma uma pérola do renomado Mino Carta: “A Folha não só nunca foi censurada, como emprestava as suas C-14 [peruas usadas no transporte do jornal] para recolher torturados ou pessoas que iriam ser torturadas na Oban. Isso está mais do que provado. É uma das obras-primas da Folha... Hoje você vê esses anúncios do jornal – desse menino idiota chamado Otavinho – que contam de um jeito que parece que a Folha, nos anos de chumbo, sofreu muito. Ela não sofreu nada. Quando houve mínima pressão, o Sr. Frias afastou o Cláudio Abramo da direção do jornal. Digo que foi a ‘mínima pressão’ porque o Sr. Frias estava envolvido na pior das candidaturas, apoiava o Frota [general Sílvio Frota, ministro do Exército de Geisel].

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

A triste (pra eles) ironia do capital e do mercado...

EUA liquidam bancos e avaliam estatização

FERNANDO CANZIAN

Os EUA liquidaram nos primeiros 40 dias deste ano o equivalente a mais da metade dos bancos fechados em 2008 inteiro, quando foram extintas 25 instituições, um recorde recente. Sete bancos foram fechados só na primeira semana de fevereiro, o maior número em um mês desde 1993.
Aos acionistas desses bancos, 13 médios e pequenos, foram impostas perdas totais, e suas agências, distribuídas entre os concorrentes, assim como as contas dos clientes. A expectativa é que até 1.000 dos 8.348 bancos dos EUA sejam liquidados nos próximos três anos pela FDIC, a agência federal que supervisiona o sistema.
Na semana passada, as ações dos quatro principais bancos dos EUA (Citigroup, Bank of America, JPMorgan Chase e Wells Fargo) derreteram na Bolsa de Valores de Nova York.
O Citi vale hoje 10% do que valia há um ano, e suas ações despencaram 44% na semana. Por trás da fuga dos investidores está o temor crescente de que algumas dessas instituições, espe cialmente Citi e Bank of America (BofA), sejam estatizadas. Se isso ocorrer, os acionistas perdem tudo.
O próprio presidente do Fed (o banco central dos EUA), Ben Bernanke, e o ex-presidente da instituição, Alan Greenspan, já consideraram abertamente a opção, pois o governo vai ficando sem alternativa para lidar com a virtual falência desses bancos, vistos como "grandes demais para cair". "Qualquer que seja a decisão, há um forte compromisso dessa administração de manter os bancos privados e de devolvê-los ao setor privado o mais rapidamente possível", declarou Bernanke.
Na sexta-feira, o presidente do Comitê de Bancos do Senado, o democrata Cristopher Dodd, disse que a estatização "não seria bem vinda". "Mas minha preocupação é que talvez sejamos obrigados a isso [estatizar], pelo menos por um período curto", afirmou.
Entre os republicanos, o senador Lindsey Graham afirmou que a opção de estatizar "deve estar sobre a mesa".
Na sext a, enquanto as ações dos bancos despencavam em Nova York, o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, procurou acalmar os ânimos dizendo que o governo de Barack Obama "acredita fortemente que o modo de irmos adiante é com um sistema bancário privado e suficientemente regulado".
Mesmo assim, as ações do conjunto de bancos listados na Bolsa de Nova York caíram 7%. As do Citigroup e Bank of America (BofA), cerca de 10%.
Citi, BofA, JPMorganChase e Wells Fargo já receberam US$ 140 bilhões em injeções de dinheiro público desde outubro (o maior acionista do BofA já é o governo dos EUA, com 6%). Apesar desses aportes, o valor de mercado dos quatro bancos encolheu em US$ 402 bilhões (um terço do PIB do Brasil) desde então.
Esses bancos concentram o grosso dos chamados ativos "tóxicos", que travaram o sistema financeiro americano e que são a causa da atual crise, considerada a maior desde os anos 1930. Os títulos "tóxicos" são resultado de emprést imos feitos pelos bancos sem garantias reais suficientes e largamente lastreados pelo setor imobiliário, onde os preços das casas estão em queda livre há dois anos. Em alguns casos, um único dólar em garantia real dada ao banco chegou a financiar outros US$ 35 em empréstimos.
Para voltarem à atividade normal, esses bancos precisam ser limpos desses ativos. O principal problema é que o governo não chegou ainda à conclusão de quanto pagar pelos títulos "tóxicos" e como proteger o contribuinte das perdas. Por isso, a opção pela estatização ganha força no país.
Se adotada, o governo não precisa "precificar" os ativos "tóxicos". Além disso, imporia perdas totais aos acionistas que fizeram apostas arriscadas, afastaria os dirigentes e poderia mais à frente, depois de limpo, revender o banco.
O maior temor dos EUA é que o país mergulhe em uma espiral recessiva parecida com a do Japão nos anos 1990. No país asiático, isso ocorreu justament e porque o governo demorou anos para atacar uma crise bancária de proporções mais modestas, mas parecida com a atual nos EUA. Outro exemplo mais ou menos da mesma época foi a Suécia, que resolveu estatizar bancos com problemas rapidamente, o que acelerou a saída da crise.

Trabalhador da Irlanda sempre atento...

Depois de manifestação de mais de cem mil pessoas, sindicatos ameaçam com greves



Mais de cem mil pessoas manifestaram-se Sábado (21 de Fevereiro) em DublinMais de cem mil pessoas manifestaram-se Sábado passado em Dublin, na Irlanda. O protesto foi convocado pelo Congresso Irlandês dos Sindicatos e visava combater uma nova contribuição social, que o governo quer impor aos funcionários públicos, sob pretexto de financiar as reformas. Os sindicatos ameaçam agora com greves, caso o governo não negoceie.

O governo irlandês quer impor uma nova contribuição sobre os salários de 350.000 trabalhadores da função pública, alegando que é uma medida para garantir a estabilização das finanças públicas.

A manifestação convocada pelo Irish Congress of Trade Unions (ICTU - Congresso Irlandês dos Sindicatos) mobilizou largamente os trabalhadores da função pública e nela Sally-Anne Kinahan, secretária-geral do ICTU afirmou:

"A nossa prioridade é garantir que as pessoas são protegidas, que os seus interesses são protegidos, e não os interesses das grandes empresas ou dos ricos".

Após a manifestação, o ICTU disse que espera até Terça feira que o governo declare que volta à mesa das negociações, caso isso não aconteça terá de enfrentar greves.

Os professores estão já a votar a possibilidade de convocarem uma greve de dois dias, enquanto outros sectores da função pública decidem também sobre a convocação de lutas.

www.esquerda.net