domingo, 3 de maio de 2009

Carta do MST em homenagem a Augusto Boal



O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) divulgou a seguinte carta escrita em homenagem a Augusto Boal, falecido neste sábado, 2 de maio, aos 78 anos:

Companheiro Boal,

A ti sempre estimaremos por nos ter ensinado que só aprende quem ensina. Tua luta, tua consciência política, tua solidariedade com a classe trabalhadora é mais que exemplo para nós, companheiro, é uma obra didática, como tantas que escreveu. Aprendemos contigo que os bons combatentes se forjam na luta.

Quando ingressou no coletivo do Teatro de Arena, soube dar expressão combativa ao anseio daqueles que queriam dar a ver o Brasil popular, o povo brasileiro. Sem temor, nacionalizou obras universais, formou dramaturgos e atores, e escreveu algumas das peças mais críticas de nosso teatro, como Revolução na América do Sul (1961). Colaborou com a criação e expansão pelo Brasil dos Centros Populares de Cultura (CPC), e as ações do Movimento de Cultura Popular (MCP), em Pernambuco.

Mostrou para a classe trabalhadora que o teatro pode ser uma arma revolucionária a serviço da emancipação humana. Aprendeu, no contato direto com os combatentes das Ligas Camponesas, que só o teatro não faz revolução. Quantas vezes contou nos teus livros e em nossos encontros de teu aprendizado com Virgílio, o líder camponês que te fez observar que na luta de classes todos tem que correr o mesmo risco.

Generoso, expôs sempre por meio dos relatos de suas histórias, seu método de aprendizado: aprender com os obstáculos, criar na dificuldade, sem jamais parar a luta.

Na ditadura, foi preso, torturado e exilado. No contra-ataque, desenvolveu o Teatro do Oprimido, com diversas táticas de combate e educação por meio do teatro, que hoje fazemos uso em nossas escolas do campo, em nossos acampamentos e assentamentos, e no trabalho de formação política que desenvolvemos com as comunidades de periferia urbana.

Poucas pessoas no Brasil atravessaram décadas a fio sem mudar de posição política, sem abrandar o discurso, sem fazer concessões, sem jogar na lata de lixo da história a experiência revolucionária que se forjou no teatro brasileiro até seu esmagamento pela burguesia nacional e os militares, com o golpe militar de 1964.

Aprendemos contigo que podemos nos divertir e aprender ao mesmo tempo, que podemos fazer política enquanto fazemos teatro, e fazer teatro enquanto fazemos política. Poucos artistas souberam evitar o poder sedutor dos monopólios da mídia, mesmo quando passaram por dificuldades financeiras. Você, companheiro, não se vergou, não se vendeu, não se calou.

Aprendemos contigo que um revolucionário deve lutar contra todas, absolutamente todas as formas de opressão. Contemporâneo de Che Guevara, soube como ninguém multiplicar o legado de que é preciso se indignar contra todo tipo de injustiça. Poucos atacaram com tanta radicalidade as criminosas leis de incentivo fiscal para o financiamento da cultura brasileira. Você, companheiro, não se deixou seduzir pelos privilégios dos artistas renomados. Nos ensinou a mirar nos alvos certeiros.

Incansável, meio século depois de teus primeiros combates, propôs ao MST a formação de multiplicadores teatrais em nosso meio. Em 2001 criamos contigo, e com os demais companheiros e companheiras do Centro do Teatro do Oprimido, a Brigada Nacional de Teatro do MST Patativa do Assaré. Você que na década de 1960 aprendeu com Virgílio que não basta o teatro dizer ao povo o que fazer, soube transferir os meios de produção da linguagem teatral para que nós, camponeses, façamos nosso próprio teatro, e por meio dele discutir nossos problemas e formular estratégias coletivas para a transformação social.

Nós, trabalhadoras e trabalhadores rurais sem terra de todo o Brasil, como parte dos seres humanos oprimidos pelo sistema que você e nós tanto combatemos, lhes rendemos homenagem, e reforçamos o compromisso de seguir combatendo em todas as trincheiras. No que depender de nós, tua vida e tua luta não será esquecida e transformada em mercadoria. O teatro mundial perde um mestre, o Brasil perde um lutador, e o MST um companheiro. Nos solidarizamos com a família nesse momento difícil, e com todos e todas praticantes de Teatro do Oprimido no mundo.

Dos companheiros e companheiras do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

02 de maio de 2009.

Grande Obra...fantástico....

Vidas Secas, Nélson Pereira dos Santos




Formato: rmvb
Áudio: Português
Legendas: S/L
Duração: 1:40
Tamanho: 526 MB
Divididos em 06 Partes
Servidor: Rapidshare

Créditos: F.A.R.R.A.- Eudes Honorato

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Senha para descompactar: http://farra.clickforuns.net



Sinopse: Família de retirantes, Fabiano, Sinha Vitória, o menino mais velho, o menino mais novo e a cachorra Baleia, que, pressionados pela seca, atravessam o sertão em busca de meios de sobrevivência.


Curiosidades:

- Neste filme fica perceptível a influência marcante do neo-realismo italiano na obra do diretor Nelson Pereira dos Santos.

- Prêmio do OCIC e prêmio dos Cinemas de Arte em Cannes, 1964.

- Foi indicado à Palma de Ouro.

- Melhor Filme na Resenha de Cinema de Gênova, 1965.

- Único filme brasileiro a ser indicado pelo British Film Institute, em junho último, como uma das 360 obras fundamentais em uma cinemateca.


Elenco:

Átila Iório (Fabiano)
Genivaldo Lima
Gilvan Lima
Orlando Macedo (Soldado Amarelo)
Maria Ribeiro (Sinhá Vitória)
Jofre Soares (Fazendeiro)
Pedro Santos
Maria Rosa
José Leite
Antônio Soares
Clóvis Ramos
Gilvan Leite
Inácio Costa
Oscar Souza
Vanutério Maia
Arnaldo Chagas
Gileno Sampaio
Manoel Ordônio
Moacir Costa
Walter Mointeiro


Screen Shots:











sábado, 2 de maio de 2009

Linha de Passe - O FILME....


Gênero: Drama
Tempo de Duração: 108 minutos
Ano de Lançamento (Brasil): 2008
Direção: Walter Salles e Daniela Thomas
Gênero: Drama
Origem/Ano: BRA/2008
Formato: RMVB
Áudio: Português
Duração: 108 min
Tamanho: 387 MB
Servidor: Rapidshare (4 partes)
CRÉDITOS: Ronaldo - Almas Corsárias


Sinopse:

São Paulo. Reginaldo (Kaique de Jesus Santos) é um jovem que procura seu pai obsessivamente. Dario (Vinícius de Oliveira) sonha em se tornar jogador de futebol mas, aos 18 anos, vê a idéia cada vez mais distante. Dinho (José Geraldo Rodrigues) dedica-se à religião. Dênis (João Baldasserini) enfrenta dificuldades em se manter, sendo também pai involuntário de um menino. Os quatro são irmãos, tendo sido criados por Cleuza (Sandra Corveloni), sua mãe, que trabalha como empregada doméstica e está mais uma vez grávida, de pai desconhecido. Eles precisam lidar com as transformações religiosas pelas quais o Brasil passa, assim como a inserção no meio do futebol e a ausência de uma figura paterna.


Elenco:

João Baldasserini (Dênis)
Vinícius de Oliveira (Dario)
José Geraldo Rodrigues (Dinho)
Kaique de Jesus Santos (Reginaldo)
Sandra Corveloni (Cleuza)
Ana Carolina Dias

















O fino do Blues...O MELHOR GUITARRISTA DESCONHECIDO DO MUNDO

Este é o título de um documentário sobre o grande Roy Buchanan - 'O melhor guitarrista desconhecido do mundo'. Depois de tantos discos de funk’n’soul, fiquem agora com um pouco de blues.

Segue a discografia desse guitarrista fenomenal, que é Roy Buchanan, aqui estão os discos lançados em vida e algumas coletânias póstumas. Roy morreu em 1988. Quem não conhece, não perca tempo e baixe logo de uma vez.

Creditos: EuOvo

1971 Buch and The Snake Stretchers


1. Sweet dreams
2. Down by the river
3. Since you’ve been gone
4. I am a lonesome fugitive
5. The messiah will come again
6. Johnny B. Goode

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1972 Roy Buchanan

1. Sweet dreams
2. I am a lonesome fugitive
3. Cajun
4. John's blues
5. Haunted house
6. Pete's blues
7. The messiah will come again
8. Hey good lookin'

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1973 Second Album

1. Filthy Teddy
2. After hours
3. Five string blues
4. Thank you Lord
5. Treat her right
6. I won't tell you no lies
7. Tribute to Elmore James
8. She once lived here

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1973 That's What I am Here For

1. My baby says she's gonna leave me
2. Hey Joe
3. Home is where I lost her
4. Rodney's song
5. That's what I am here for
6. Roy's bluz
7. Voices
8. Please don't turn me away
9. Nephesh

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1974 Amazing Grace Evanston

1. Done your daddy dirty
2. Reelin' and rockin'
3. Hot cha
4. Roy's bluz
5. Change my mind
6. Hey Joe/ Foxy lady
7. Johnny B. Goode
8. Further on up the road
9. I hear you knockin'
10. Sweet dreams

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1974 In the Begining

1. Rescue me
2. I'm a ram
3. In the beginning
4. CC rider
5. Country preacher
6. You're killing my love
7. She can't say no
8. Wayfaring pilgrim

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1975 Live Stock

1. Reelin' and rockin’
2. Hot cha
3. Further on up the road
4. Roy's bluz
5. Can I change my mind
6. I'm a ram
7. I'm evil

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1976 A Street Called Straight

1. Running out
2. Keep what you got
3. Man on the floor
4. Good God have mercy
5. Okay
6. Caruso
7. My friend Jeff
8. If six was nine
9. Guitar cadenza
10. The messiah will come again
11. I still think about Ida Mae

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1977 Loading Zone

1. Heat of the battle
2. Hidden
3. Circle
4. Adventures of Brer Rabbit and Tar Baby
5. Ramon's blues
6. Green onions
7. Judy
8. Done your daddy dirty
9. Your love

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1978 Live in Japan

1. Soul dressing
2. Sweet honey dew
3. Hey Joe
4. Slow down
5. Lonely days lonely nights
6. Blues otani
7. My baby says she's gonna leave me
8. Sweet dreams

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1978 You’re Not Alone

1. The opening... Miles from earth
2. Turn to stone
3. Fly... Night bird
4. 1841 shuffle
5. Down by the river
6. Supernova
7. You're not alone

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1980 My Babe

1. You gotta let me know
2. My babe
3. It should’ve been me
4. Secret love
5. Lack of funk
6. Dr. Rock’n’roll
7. Dizzy miss Lizzy
8. Blues for Gary
9. My sonata

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1985 When a Guitar Plays the Blues

1. When a guitar plays the blues
2. Chicago smokeshop
3. Mrs. pressure
4. A nickel and a nail
5. Short fuse
6. Why don’t you want me
7. Country boy
8. Sneaking Godzilla through the alley
9. Hawaiian punch

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1986 Dancing on the Edge

1. Peter Gunn
2. The chokin kind
3. Jungle gyn
4. Drowning on dry land
5. Petal to the metal
6. You can't judge a book by the cover
7. Cream of the crop
8. Beer drinking woman
9. Whiplash
10. Baby baby baby
11. Mathew

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1987 Hot Wires

1. High wire
2. That did it
3. Goose grease
4. Sunset over Broadway
5. Ain’t no business
6. Flash Chordin
7. Somewhere
8. 25 miles
9. These arms of mine
10. Country boogie
11. The blues lover

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1993 Guitar on Fire (The Atlantic Sessions)

1. Ramon’s blues
2. The heat of the battle
3. Hidden
4. Green onions
5. Judy
6. Adventures of Brer Rabbit and Tar Baby
7. Turn to stone
8. Fly... Night bird
9. Supernova
10. Down by the river
11. Running out
12. Man on the floor
13. Okay
14. My friend Jeff
15. If six was nine
16. The messiah will come again

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2001 Deluxe Edition

1. Peter Gunn
2. That did it
3. Chicago smokeshop
4. Mrs. pressure
5. Ain’t no business
6. Blues for Jimmy Nolan
7. A nickel and a nail
8. Mathew
9. You can't judge a book by the cover
10. Beer drinking woman
11. Flash Chordin
12. These arms of mine
13. Whiplash
14. When a guitar plays the blues
15. Hawaiian punch
16. The last word

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A terra enferma III


10800 bilhões de filhos a mais, cada um disposto a te destruir.

Por Raúl Crespo. Venezuela

Enferma como estás tens parido 6600 bilhões de pessoas e te projetam até 10800 bilhões de filhos a mais, cada um disposto a te destruir.

A incapacidade dos capitais para promover uma relação harmoniosa no crescimento da humanidade, nisto, os programas científicos e tecnológicos dos Estados Unidos, Rússia, China e outras potências que não superam os dedos das mãos te estão destruindo mãe terra. Essa ciência é seu melhor aliado.

Ainda não o tem conseguido, mas te tem doente, lhes permite em algum momento abrigar a esperança de que mediante o estrondo bem cronometrado dos projéteis nucleares possam terminar contigo. Enquanto isso, te sangram constantemente, te perfuram por aqui e por lá. Graças ao teu sangue, teus filhos se desenvolvem, se vestem, inclusive se alimentam, teu sangue é a base para uma sociedade petroquímica, por desgraça, uma das principais calamidades que afetam à humanidade. Causadora das piores guerras do século passado e do que começa. Teu sangue é utilizada para o esbanjamento econômico, instabilidade e empobrecimento de muitas nações à quais dotaste de teu sangue para o seu desenvolvimento.

Trás incontáveis golpes de estado, ditaduras e manipulação de democracias, estes países, seus povos, mais da metade de teus filhos estão submetidos à escravidão social, a perda de povos indígenas e a desaparição de espécies trás a destruição de milhões de hectares de bosques, poluição da água doce, do ar, das cidades, do solo e da água dos sete mares. A acumulação de gigantescas quantidades de lixo químico e plástico. A mudança climática, a aparição de doenças degenerativas, as mortes, trás elas, está o petróleo. Teu sangue.

O anteriormente anotado, é o sucesso do desenvolvimento humano. O sucesso da estratégia para este desenvolvimento depende de manter viva a capacidade de sangrar-te. Quando a história, desde meados do século XX nos anunciava tua doença Pacha Mama, a tecnologia que usam te consome mais. Tu, mãe terra, reages com uma constante febre para aliviar tua temperatura. Poucos se preocupam, o resto é indiferente à tua calamidade.

Teu sangue e recursos têm dividido aos teus filhos, 20% deles exploram o resto. Seu poder econômico, industrial e militar, depende dos recursos dos explorados e, isto tem uma longa e triste história de realidade. Tem servido mal ao equilíbrio dos teus filhos. O século XX foi o século do envenenamento e da morte massiva da gente e da doença de nossa mãe. Esta enfermidade é um envenenamento não só produzido durante o processo de extração de teu sangue pelos resíduos, os derrames por terra e mar, também contribuem à acidificação de tuas lágrimas.

Teu sangue serve para que teus filhos se convertam em sociedade petroquímica. Os agroquímicos, os COPS, os combustíveis, os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, os fármacos, os dejetos hospitalares e outros compostos que se produzem a partir de teu sangue já transformados em comodidade, ajuda e lixo, descarregam-se e se acumulam em ti... te estão matando minha mãe.

A defesa de tua saúde e a saúde dos teus filhos, a alimentação, a luta por te ajudar com fontes de energia que te permitam recuperar-te, por uma agricultura sustentável e soberana, a luta por despoluir-te e aliviar tua temperatura, a busca de uma química verde associada à nova política para ajudar-te, a luta contra os interesses desses 20% dos teus filhos egoístas que habitam nações industrializadas culpadas do teu envenenamento, a luta pela paz em teu seio, depende em grande medida de uma consciência que não temos para apertar à indústria que te sangra e à civilização que a sustenta.

Essa civilização está em crise, porque a civilização petroleira chegou ao seu topo, porém, realizam-se gestões para continuar com o sangramento. A solução a essa crise não está em marcha, sua saída se retrasa, enquanto os traços mais decadentes da crise se salientam de forma mais e mais letal.

Entretanto, resulta obvio que o convite a uma nova civilização requer da criação de alternativas técnicas, científicas, culturais, freadas pelos interesses mesquinhos dos teus filhos ricos, a quem só lhes interessam os aspectos macroeconômicos, financeiros, políticos, de dominação que evitem construir alternativas de solução e restaurar a paz e a equidade entre os povos, recuperar tua saúde e que os países onde habitam teus filhos pobres possam negociar suas dívidas financeiras internacionais e compensar o saqueio que ocasionou teu sangramento, assegurar a justiça e a democracia dos teus recursos que os compartes com todos, mas, que poucos se apropriaram para o seu enriquecimento. Negam-se a frear o veneno que te mata.

Em nome de todos teus filhos te peço perdão minha mãe. Os que continuam adoecendo-te, os indiferentes, e por nós que estamos limitados para te ajudar de melhor maneira. Perdoa-nos por não ajudar como te mereces nossa senhora. Proporcionas-nos vida e nós morte.

Versão em português: Raul Fitipaldi, de América Latina Palavra Viva.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Eles(pig) estão com medo....

Como feras acuadas

Um fato da maior importância está passando despercebido àqueles que estão se indignando com as recentes armações contra a ministra Dilma Rousseff.

A fé alardeada pela imprensa oposicionista na vantagem do governador José Serra nas pesquisas de intenção de voto sobre a eleição presidencial de 2010 vem se mostrando legítima como uma nota de três reais.

Na verdade, se formos analisar bem o que estão fazendo contra Dilma, chegaremos à conclusão de que esses grupos políticos estão à beira do desespero.

Ou não é desespero da Folha de São Paulo, por exemplo, publicar um spam que circula há meses na internet – e que é flagrantemente falso – na tentativa de vender à opinião pública a acusação de que Dilma era uma terrorista perigosa que planejava seqüestros?

Outro indício é o boato que a mídia vem alimentando de que a candidata de Lula à própria sucessão teria forjado um câncer para comover o eleitorado ou de que ela estaria tentando explorar a própria doença para angariar simpatias.

Procurei qualquer exemplo de que Dilma estaria “usando” o próprio “câncer” em prol de sua candidatura. Não encontrei. Os que tentam difundir essa barbaridade nem se preocupam em apontar exemplos de que ela seria real.

O máximo que encontrei como exemplo oposicionista-midiático dessa acusação foi a CUT ter levado uma faixa de apoio à ministra por sua doença a um evento qualquer no qual ela teria feito “campanha”.

Esses golpes baixos só fazem provar que a oposição e seus jornais, revistas e tevês estão desesperados. Tão desesperados que já apelam para a menor possibilidade que vêem de prejudicar a imagem de Dilma.

Parece haver uma certeza muito grande dos oposicionistas de que qualquer coisa tem que ser feita rapidamente – e a qualquer custo – para combater um avanço formidável que deixam ver que acham que a candidatura Dilma estaria logrando obter.

Claro que a imprensa e a oposição – assim como o governo Lula – têm acesso a informações que não tenho, tais como pesquisas não divulgadas etc. Contudo, até onde sei, não deveria ser para tanto.

Apesar disso, a direita parece acreditar numa disparada de Dilma quando as cartas estiverem na mesa, lá pelo segundo trimestre de 2010. Há uma certeza fatalista no poder que o presidente da República teria de transferir popularidade à sua candidata.

Publicar na primeira página de um dos maiores jornais do país uma falsificação grosseira como a da ficha criminal de Dilma à época da ditadura ou inventar tentativa dela mesma de explorar politicamente uma doença capaz de levá-la à morte, não é conduta de quem está por cima como a imprensa diz que Serra está.

É inexplicável a insistência da direita numa estratégia que jamais funcionou nos últimos seis anos e tanto. Parece que confundiram a queda tênue da popularidade de Lula – que ocorreu devido ao aumento do desemprego no fim do ano passado – com um inexistente mérito de tal estratégia.

O rápido soerguimento econômico que o Brasil vem exibindo é o que me parece estar assustando a oposição.

Comparo esses ataques tresloucados a Dilma ao comportamento de uma fera acuada, que então se torna mais violenta e feroz. E há que lembrar que, quando o caçador acua a caça, ela já está perdida. Inclusive devido aos erros que o medo a fez cometer.



Escrito por Eduardo Guimarães

Despencam as vendas de Folha, Globo e Estadão

Idelber Avelar - Biscoito Fino & a Massa

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Saíram os números do primeiro trimestre e há muito que comemorar. As organizações criminosas conhecidas pelo eufemismo “grande mídia” tiveram, em termos relativos, o seu pior trimestre da história. A Folha, jornal brasileiro de maior circulação, cai paulatinamente a cada primeiro trimestre desde 2000. No começo daquele ano, vendia uma média de 429.476 exemplares diários. Veio despencando ano após ano até o recorde negativo do primeiro trimestre de 2009, no qual somente 298.352 incautos contribuíram, em média diária, com a organização criminosa.

A bandidagem liderada pela famiglia Marinho não teve melhor sorte. O Globo tinha média diária de 334.098 exemplares diários vendidos no começo de 2000. Fechou o primeiro trimestre de 2009 vendendo 260.869 exemplares por dia. No mesmo período, o Estadão caiu de 391.023 para 217.414 exemplares diários vendidos. Em menos de uma década, a Folha perdeu mais de trinta por cento dos seus leitores. Também despencaram o Diário de São Paulo, o Correio Braziliense e O Dia. Incrivelmente, a Zero Hora teve ligeira subida. A organização criminosa pertencente ao grupo RBS vendeu 184.893 exemplares em média no primeiro semestre de 2009. É um número menor que os 186.471 vendidos diariamente no começo de 2000, mas é ligeiramente superior ao mesmo período em todos os outros anos desta década.

Sem dúvida, a crise da mídia impressa é mundial. Mas os donos dos grandes jornais brasileiros, assim como seus funcionários, deveriam refletir sobre se isso explica, por si só, esses números. Baseadas nos números do Instituto Verificador de Circulação (IVC), a notícia saiu no site meio&mensagem, que é fechado para não-assinantes. Foi repercutida pelo Portal Vermelho, onde há mais números. Para a Folha Online, a queda dos lucros do Yahoo é notícia, a do New York Times também, mas a queda do seu próprio jornal não foi noticiada. A Folha usa os números do IVC quando lhe convém.

Num contexto como este, em que a grande mídia continua sofrendo derrotas nos tribunais, se o leitorado brasileiro de esquerda souber organizar uma massiva campanha de boicote e pressão aos anunciantes das organizações criminosas, elas cairão igual fruta podre. Não haverá Gilmar Mendes nem negociatas sem licitação com José Serra que salve.

Seria interessante fazer um levantamento minucioso das finanças das organizações criminosas, observar quais anunciantes mais contribuem e começar o bombardeio. O boicote a anunciantes é uma arma que, pelo menos nos EUA, a direita tem usado com muito mais habilidade que a esquerda. É uma iniciativa que tem pouca tradição no Brasil. É hora de começar a usá-la.

PS: Não deixe de ler Corrupção de mão única, de Alexandre Nodari.

Pedido do Greenpeace...

Assine contra a MP que acabará com as florestas


A Câmara dos Deputados aprovou na semana passada uma medida feita sob encomenda para acelerar as obras de infra-estrutura previstas no PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), capitaneado pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.


Em um ato de oportunismo político, o deputado petista José Guimarães (CE) “enxertou” na Medida Provisória (MP) 452 uma emenda que dispensa de licenciamento ambiental prévio as obras em rodovias brasileiras. Originalmente, a MP 452 tinha como propósito modificar a lei que cria o Fundo Soberano do Brasil (FSB). Como se não bastasse, a emenda estabelece ainda prazo máximo de 60 dias para a concessão da licença de instalação. Ao final desse prazo, a licença será automática.

A destruição da Amazônia não provoca apenas perda acelerada da biodiversidade e impactos no modo de vida da população local. O desmatamento é também a principal fonte de emissões de gases do efeito estufa no Brasil, colocando o país na posição de quarto maior poluidor do clima global.

Várias iniciativas como essa e o Projeto Floresta Zero, em tramitação no Congresso Nacional, colocam em xeque as metas de redução de desmatamento assumidas internacionalmente pelo governo brasileiro no Plano Nacional de Mudanças Climáticas. A MP 458 segue agora para o Senado e, se aprovada, pode causar danos sem precedentes ao meio ambiente, em particular à Amazônia e ao clima global.

O futuro da floresta – e das futuras gerações – depende das escolhas que fazemos hoje. Diga aos senadores que você é contra a aprovação desta emenda e a favor do desmatamento zero.
Zerar o desmatamento é a principal contribuição do Brasil na luta contra as mudanças climáticas. Clique aqui e participe! Seu gesto vai fazer a diferença!

Turquia: 1º de Maio de novo feriado mas com repressão policial




Mais de cem pessoas ficaram feridas em Istambul
O 1º de Maio voltou a ser dia feriado na Turquia, mas os trabalhadores não puderam celebrá-lo na Praça Taksim, onde ocorreu o "1º de Maio Sangrento", em 1977, quando 36 pessoas foram mortas pela polícia. Este ano, o governo autorizou uma manifestação noutro local da cidade, mas mais de 5.000 pessoas estiveram na Praça Taksim, onde foram repelidas pela polícia, com água, gás lacrimogéneo e cães.

Mais de 5.000 pessoas, ligadas a duas centrais sindicais (DISK e KESK), vários sindicatos, organizações internacionais do trabalho, grupos feministas e movimentos de esquerda juntaram-se na Praça Taksim, em Istambul, para celebrar o Dia do Trabalhador, que na Turquia não era assinalado com um feriado desde 1977 (ver fotos aqui ou aqui)

O 1º de Maio de 1977 ficaria conhecido como "1º de maio Sangrento", em resultado da brutal intervenção policial então ocorrida, que resultou na morte de 36 manifestantes. Desde então, o governo turco aboliu o feriado e não tem autorizado manifestações no Dia do Trabalhador. No entanto, essas manifestações têm ocorrido, sempre com forte repressão policial, como foi o caso do ano passado (ver videos aqui ou aqui).

Este ano, o governo voltou a decretar dia feriado no 1 de Maio e autorizou uma manifestação, mas sem permitir o acesso à Praça Taksim, onde as maiores centrais sindicais turcas pretendiam concentrar-se, para assinalar e homenagear as vítimas do massacre de 1977. O governo apenas autorizou uma concentração na zona asiática da cidade, longe da Praça Taksim.

As centrais sindicais presentes na Praça Taksim criticaram a central Hak-Is por ter aceite fazer a manifestação de 1 de Maio noutro local e cerca de 500 pessoas afectas a esta central sindical acabaram por também participar na concentração na Praça onde se assinala o massacre de 1977.

Apesar da proibição, mais de 5.000 pessoas acabaram por se juntar nesta Praça, tendo-se registado confrontos com a polícia, que resultaram na detenção de 108 pessoas e em 47 feridos (26 polícias e 21 civis).

Frantz Fanon, obra muito interessante....

Frantz Fanon, uma voz dos oprimidos

A divisão dos homens entre opressores e oprimidos, a desumanização indígena e o condicionamento do negro pelo branco. Contribuições fundamentais na primeira metade do século passado, as questões debatidas pelo psiquiatra e intelectual negro continuam atuais

Anne Mathieu

Foi como um estrondo no céu do pós-guerra. Em 1952, aparecia Pele negra, máscaras brancas [1], uma “interpretação psicanalítica do problema negro”. A introdução proclamava: “É preciso libertar o homem de cor de si mesmo. Lentamente, porque há dois campos: o branco e o negro”.

Seu autor, Frantz Fanon (1925-1961), foi ao mesmo tempo psiquiatra, ensaísta e militante político ao lado da Frente de Libertação Nacional da Argélia (FLN), com a qual compartilhava a causa independentista [2]. Martinicano, faz parte do grupo de intelectuais negros cuja importância a França tem dificuldade em reconhecer, embora tratem de uma história comum a todos. anticolonialista radical, de escrita altamente literária e retórica, contribuiu para aclarar não só a história, mas também reflexões e debates contemporâneos. Preferem, no entanto, esquecê-lo sob o rótulo de “profeta fracassado [3]”.

A temática dos “dois campos” evocada por Fanon não é exclusivamente uma oposição entre essas duas cores de pele; inscrevem-se na antinomia “opressores” e “oprimidos”. Em sua visão, “uma sociedade é racista ou não é” e “o racismo colonial não difere de outros racismos”. Quando busca explicar uma ideia-força e mostrar o escândalo que representa, sua prosa poética e retórica se revela. além disso, para ele, a libertação dos indígenas passa pela recusa do mundo da interdição, pela afirmação do “eu” negado pelo colonizador, que os vê como uma massa disforme e serviçal: “o indígena é um ser aprisionado, o apartheid é apenas uma modalidade da compartimentação do mundo colonial. a primeira coisa que o indígena aprende é a manter-se em seu lugar, a não ultrapassar os limites. É por isso que seus sonhos são musculares, de ação, agressivos – Sonho que salto, nado, corro, escalo. Sonho que estou gargalhando, que atravesso o rio com um pulo, que sou perseguido por carros que nunca me alcançam. Durante a coloni- zação, o colonizado não pára de se libertar entre as nove horas da noite e as seis da manhã”. Em outros tempos, Paul Nizan escrevia: “Enquanto os homens não forem completos e livres, não caminharem por suas próprias pernas nas terras que lhes pertencem, sonharão à noite [4]”. opressão burguesa em 1933, opressão colonial em 1952.

Um libelo apaixonado

Pele negra, máscaras brancas nos conduz ao universo atribuído ao negro que foi sistematicamente condicionado pelo branco. São páginas apaixonantes nas quais a herança – apesar das divergências – dos oradores da negritude e do texto “Orfeu Negro” [5], de Jean-Paul Sartre, se faz sentir por meio de encadeamentos lexicais metafóricos e analíticos do corpo, do olhar. Fanon examina o corpo, talvez por isso escreveu: “a primeira versão deste livro foi ditada, andando de um lado para outro como um orador que improvisa; o ritmo do corpo em movimento, o sopro da voz recitando o estilo [6]”. Porém, a realidade supera a metáfora: “No primeiro olhar branco, ele sentiu o peso de sua melanina”. Séculos de escravidão e colonização determinaram um olhar sobre o outro do qual é difícil para não dizer impossível, se despojar: “Quando me amam, dizem que é apesar da cor da minha pele. Quando me detestam, se justificam dizendo que não é pela cor da pele. Em uma ou outra situação, sou prisioneiro de um círculo infernal”.

O racismo se traduz também na designação do negro, submetido à conotação ancestral de sua cor, que se tornou evidência, quase essência: “O negro, o obscuro, as sombras, as trevas, a noite, as profundezas abissais, denegrir a reputação de alguém; e do outro lado: a mirada clara da inocência, a pomba branca da paz, a luz ofuscante, paradisíaca”. A linguagem não pode expurgar essas conotações, que aparecem também na religião: “O pecado é negro como a virtude é branca”. A análise não era nova naquele momento, mas, de uma obra à outra, Fanon foi mais longe. Seu último livro, Os condenados da terra (1961) [7], demonstra que a “compartimentação” da sociedade colonial e racista gera, obrigatoriamente, uma linguagem racista: “Por vezes, o maniqueísmo alcança o limite de sua lógica e desumaniza o colonizado”. Dito de outra forma, como denunciou Jean-Paul Sartre durante a guerra da Argélia [8], o sistema colonial cria um “sub-homem”.

Fanon prossegue: “Falando claramente, [o maniqueísmo] animaliza. Faz-se alusão aos movimentos arrastados durante o trabalho, ao cheiro que emana das vilas indígenas, às hordas, ao fedor, à reprodução desenfreada, às gesticulações. Demografia galopante, massas histéricas, rostos nos quais não há qualquer traço de humanidade, corpos obesos que não se parecem com nada, preguiça sob o sol, ritmo vegetal, todas essas expressões fazem parte do vocabulário colonial”. E vale mencionar que elas ainda não desapareceram totalmente de nossas latitudes, como lembra a canção Lebruit et e l’odeur [o barulho e o cheiro] (1995) [9], do grupo Zebda.

A “desumanização” do indígena justifica o tratamento ao qual é submetido: “Disciplinar, vestir, dominar e pacificar são as expressões mais utilizadas pelos colonialistas em territórios ocupados”. A guerra da Argélia nada mais é que a continuação paradoxal de um sistema que se baseia na “força” e no desprezo. Dessa forma, a introdução de L’an V de la révolution algérienne [O ano V da revolução argelina] (1959) [10] ressalta que desde o início da guerra, “[o colonialismo] francês não renunciou a nenhum radicalismo: nem o do terror, nem o da tortura”.

Calcularam mal: “as repressões, longe de sufocarem as revoltas, estimulam o progresso da consciência nacional”, analisa Fanon. “Se, de fato, minha vida tem o mesmo valor que a do colono, seu olhar não me fulmina mais, sua voz não mais me petrifica. Sua presença não me perturba mais. Na prática, sou eu quem o incomoda. Não só sua presença não me importuna mais, como já estou lhe preparando tantas emboscadas que logo ele não terá outra opção senão fugir”. Assim, a libertação psíquica induz à perda do medo, ao mergulho no combate pela independência.

A violência da palavra

Em que condições esse combate vai se desenrolar? Em Os condenados da terra postula que “a descolonização é sempre um fenômeno violento”. Isso por que violência chama violência e quando o opressor invade a menor parcela que seja de um território, é difícil manter-se aí pacificamente: “Cada estátua, a de Faidherbe ou Lyautey, de Bugeaud ou do Sargento Blandan, todos esses conquistadores que pousaram sobre o solo colonial não param de significar uma única coisa: ‘Estamos aqui pela força das baionetas...’”. É evidente a resposta dos oprimidos, considerada estrondosa quando se trata de outros países sob outros comandos. Fanon justifica a violência? Não em todos os movimentos: “Condenamos, com o coração aflito, esses irmãos que são jogados à ação com a brutalidade quase psicológica que faz nascer e mantém uma opressão secular”. Não obstante, Fanon nos convida à uma compreensão da gênese da violência e da única alternativa deixada aos oprimidos para sua libertação. Sua descrição da “compartimentação” da sociedade colonial, com sua “linha de partilha” e sua “fronteira indicada pelos quartéis e postos de polícia”, nos remete, aliás, ao nosso universo militarizado que, bem longe de “pacificar”, produz ele mesmo o “radicalismo” que pretende combater.

A perspicácia de Fanon vale também para sua análise sobre o futuro de um país descolonizado quando uma “burguesia nacional (in)autêntica” sobe ao poder e não fornece ao povo “capital intelectual e técnico”. Baseando-se no exemplo da América Latina, ele previne sobre o risco de transformação de um país em “território de prazeres a serviço da burguesia ocidental”. Disseca a propensão dessa burguesia “cinicamente burguesa” de romper a unidade nacional jogando com o “regionalismo”. E conclui: “Essa luta implacável à qual se entregam as etnias e tribos, essa preocupação agressiva de ocupar os postos livres pela partida do estrangeiro vão, igualmente, gerar competições religiosas. Assistiremos a confrontação entre as duas grandes religiões reveladas: o islamismo e o catolicismo”. Fanon alerta até para o perigo de um partido único, que utiliza o passado para “adormecer” o povo, “mandá-lo lembrar da época colonial e medir o imenso caminho percorrido”. Quantos países africanos nos vêm à cabeça?

Em reação à colonização, segundo ele, não se deve clamar por uma cultura negra como único horizonte. Se houve “obrigação histórica” para “os homens de cultura africana ‘racializar’ suas reivindicações, de falar antes em cultura africana que em cultura nacional”, por outro lado isso “vai conduzi-los a um beco sem saída”. Suas crenças foram lançadas desde sua primeira obra numa fórmula magnífica sobre a qual os adeptos do comunitarismo poderiam refletir: “Não quero cantar meu passado às custas do meu presente e futuro”. Tal afirmação, no entanto, não se fecha a uma reflexão sobre a história do colonialismo, a qual, como ele lembrava em 1952, se apoiou sobre a história da Europa. O colonialismo baseou-se em “valores” que precisam ser repensados: “Se é em nome da inteligência e da filosofia que proclamamos a igualdade dos homens, é também em seu nome que decidimos exterminá-los”.

Em 1961, a condenação de Fanon se amplificaria com uma veemência radical: “Abandonemos essa Europa que não para de falar no homem, ao mesmo tempo que o massacra onde quer que o encontre, em todos os cantos de suas ruas limpas, em todos os cantos do mundo”. Afrontemos de uma maneira salutar essa França que, ao mesmo tempo em que se liberava do nazismo e se reconstruía, massacrava Sétif (maio de 1945) ou Madagascar (março de 1947). Essa França que, no fim da batalha, virava as costas aos seus irmãos de combate senegaleses ou marroquinos que estavam na linha de frente. Escutemos essa voz que há mais de quarenta anos martela sua verdade incisiva, que poderia muito bem ainda ser a nossa: “Podemos fazer qualquer coisa hoje em dia sob a condição de não imitar a Europa, sob a condição de não sermos obcecados pelo desejo de alcançá-la. A Europa adquiriu tal velocidade, louca e desordenada, que escapa a todos os outros condutores, a toda razão, que segue numa vertigem assustadora em direção a abismos dos quais é melhor se distanciar rapidamente”.

Fanon sabe a qual Europa se refere, ele que soube homenagear os judeus da Argélia, os franceses daqui ou de lá que abraçaram a causa independentista. O gesto é universal: “Eu, o homem de cor, quero apenas uma coisa: que jamais o instrumento domine o homem. Que cesse para sempre a servidão de homem para homem. Quer dizer, de mim para outro.”

*Anne Mathieu é diretora da revista Aden-Paul Nizan , de Paris.



[1] Peau noire masques blancs, Edições Seuil (Paris), com prefácio de Francis Jeanson, que redigiria também um posfácio para a reedição de 1965. A obra está disponível até hoje na coleção “Points Essais”.

[2] Ele foi seu porta-voz a partir de junho de 1957. Desde 1953, foi médico-chefe do hospital psiquiátrico de Blida-Joinville (Argélia)

[3] Ver o texto do ensaísta Lothar Baier (Agone, n°33, Marselha, abril de 2005).

[4] Paul Nizan, Antoine Bloyé (1933), Grasset, Les Cahiers rouges [Cadernos vermelhos], Paris, 2005.

[5] Jean-Paul Sartre, “orfeu Negro”, prefácio em: Léopold Sedar Senghor, Antologie de la poésie nègre et malgache [Antologia da poesia negra e malgaxe], Presses universitaires de France [imprensas universitárias da França], Paris, 1948.

[6] Alice Cherki, Frantz Fanon, portrait [Frantz Fanon, um re trato], Seuil, 2000, p.46.

[7] Publicado por François Maspero com um prefácio de Sartre; foi proibido desde o lançamento. Fanon, já sabendo que estava condenado pela leucemia, ditou cada página. Recebeu um exemplar do livro assim que foi impresso, três dias antes de morrer num hospital dos Estados Unidos. De acordo com sua vontade, foi enterrado num vilarejo argelino libertado próximo à fronteira com a Tunísia.

[8] Jean-Paul Sartre et la guerre d’Algérie [Jean-Paul Sartre e a guerra da Argélia], Le Monde Diplomatique, novembro de 2004.

[9] Inspirada em uma declaração de Jacques Chirac sobre o “barulho e cheiro” provocados pelos imigrantes.

[10] Publicado por Maspero. Longos trechos do último capítulo foram publicados em Les Temps Modernes [os Tempos Modernos]. A obra foi acusada de atentar contra a segurança do Estado. Hoje, está disponível pela editora Découverte, na coleção “(re)Découverte” [(re)Descorberta]. A introdução, redigida em julho de 1959, não figurava na primeira edição.