Por Katarina Peixoto
Não é o fato de o Ministério Público Federal não dizer, uma vez mais, algo surpreendente. Não é o constrangimento que a grande mídia, cúmplice, teria de enfrentar, vergonha alguma tivesse, ao anunciar a presença de nomes até hoje pela manhã solenemente sonegados na lista dos suspeitos de saque ao erário e enriquecimento ilícito. Não é a esquisita falta da mínima compaixão pelos que estão, agora, juridicamente implicados, contra qualquer interpretação editorial de plantão. Não é o lamento perante os chargistas de aluguel. Não é o desprezo e mesmo o nojo do colunismo político da grande mídia. Nada disso realmente importa, hoje, nesta tarde em que essa gente toda foi exposta. Nem mesmo importa a constatação não sujeita a qualquer debate de que essa fraude específica começou no ano imediatamente seguinte à saída do PT do governo do estado do RS.
Não é o castelinho de papel de que se fez e faz Rigotto, cujo secretário de segurança pública, louvado pela mídia monopólica cúmplice, encabeça a lista de réus. Não é o desejo de devolver, como cuspe, os perdigotos deliberados e falastrões do senador vitalício da grande cúmplice da hecatombe que assola este estado, e que vem sendo gestada e produzida há pouco mais de dez anos.
Na oposição até 2002, capitaneada pelos cúmplices e seus capangas opinativos hoje homens de patrimônio material improvável a qualquer assalariado, a direita gaúcha liberou-se pelo voto para reiniciar o saque do estado. À oposição ideológica fecunda, construída em campanhas de amparo às crianças e sob a espantosa bandeira da paz, seguiu-se esse saque através de um organismo vinculado à segurança pública. Exatamente a Segurança, aquela vitimada pela guerra ideológica que o monopólio midiático escolheu para massacrar, não poupando pessoas, vidas e histórias, depois de terem sepultado de vez qualquer compromisso com a verdade.
Esta fraude no DETRAN-RS teve início no primeiro ano do governo Germano Rigotto. O rapaz que substituiu José Paulo Bisol encabeça a lista dos denunciados na fraude, de aproximadamente 44 milhões de reais. Um dos substitutos de Flavio Koutzii na casa civil também ocupa a lista, envolvido e ou com enriquecimento ilícito, e ou com desvio de recursos públicos, e ou com a facilitação desses desvios. O rapaz que substituiu Miguel Rossetto na Secretaria Geral de Governo também está na lista, bem como está nas notícias esquisitas sobre o uso de dinheiro sem procedência justificada que comprou a casa em que a senhora que substituiu o cargo ocupado certa feita por Olívio Dutra atualmente habita. E talvez seja preciso lembrar quem indicou o atual presidente do Tribunal de Contas do Estado, também presente na lista desta tarde.
Na Assembléia, os cúmplices desses réus se recusam a assinar uma CPI. Recusam-se, é de se concluir, porque foi um documento produzido após a realização da CPI do DETRAN, no ano passado, que deu origem à investigação cujos resultados hoje vieram parcialmente à tona. Os cúmplices dessa gente não querem CPI, a começar pelo Senador Pedro Simon, neste momento encenando uma peça sobre probidade e ética, no caso, contra José Sarney, o mais recente neófito da política peemdebista.
Nesta tarde, o que importa é a claridão que suprime o ressentimento e libera o espírito e a Política das trevas em que se foi metendo o Rio Grande do Sul, há pouco mais de dez anos. Há uma expressão médica que nomeia aquela melhora que um paciente terminal experimenta dias ou no dia anterior a sua morte: melhora crepuscular. Pode-se dizer que o irracionalismo e a barbárie contra o seu povo e sobretudo contra a democracia constituíram a melhora crepuscular da direita gaúcha, que se fortaleceu a partir de 1999. Melhora que ganhou vigor na campanha delirante de afastamento do fabricado tumor maligno, finalmente derrotado nas eleições de 2002. E que foi se consumindo como metástase e putrefação ao vivo, nesta tarde. Dez anos, esta tarde. É isso o que importa.