terça-feira, 27 de julho de 2010

Afeganistão: Relatórios secretos vazam e revelam conflito brutal


 Guardian, UK (editorial) via Viomundo

Tradução Caia Fittipaldi

A névoa da guerra é excepcionalmente densa no Afeganistão. No momento em que se dissipa, como hoje, com a publicação, pelo Guardian, de excertos de relatos secretos de militares dos EUA, revela-se paisagem muito diferente daquela a que nos habituamos. São relatos de guerra escritos no calor da hora e mostram um conflito no qual reinam a mais brutal confusão e todos os desacertos, sem qualquer plano ou projeto. Há muitas diferenças entre o que mostram esses documentos e a guerra organizada, bem embalada, da versão ‘pública’ dos comunicados oficiais e dos flashes necessariamente resumidos de jornalistas incorporados à tropa.
No material agora publicado há mais de 92 mil relatórios de ações dos militares norte-americanos no Afeganistão entre janeiro de 2004 e dezembro de 2009. Os arquivos foram distribuídos por Wikileaks, website que publica material não rastreável de várias fontes. Em colaboração com o New York Times e Der Spiegel, o Guardian trabalhou durante semanas nesse oceano de dados, até extrair deles a textura oculta e as histórias de horror humano que são o dia a dia da guerra.
Esse material teve de ser tratado como o que é: um relato contemporâneo ao conflito. Alguns dos relatórios de inteligência não têm fonte confirmada: alguns dos aspectos da contagem do número de mortes entre civis não parecem confiáveis. São relatos – classificados como secretos – enciclopédicos, mas incompletos. Foram removidas do que adiante se lê todas as informações que ponham em risco a segurança dos soldados, de informantes locais e de agentes colaboradores.
O quadro geral que emerge é extremamente perturbador. Há relatos de cerca de 150 incidentes nos quais as forças da coalizão, inclusive soldados britânicos, mataram e feriram civis, a maioria dos quais jamais divulgados; de centenas de confrontos de fronteira entre soldados afegãos e paquistaneses, de dois exércitos supostamente aliados; da existência de uma unidade de forças especiais cuja única missão é assassinar líderes Talibã e da al-Qaeda; do massacre de civis apanhados em locais onde aconteçam explosões das bombas de fabricação caseira dos Talibã; e uma longa lista de incidentes nos quais os soldados da coalizão atiraram uns contra os outros, também envolvendo soldados afegãos, com mortos e feridos.
Ao ler esses relatos, é fácil suspeitar de que reine por lá o mais absoluto descaso pela vida de inocentes. Um ônibus que não para para uma patrulha a pé é metralhado (4 passageiros mortos e 11 feridos). Os documentos contam como, na caça a um guerrilheiro local, uma unidade das Forças Especiais executou sete crianças. As crianças não eram prioridade. Relato assinalado “Noforn” (ing. not for foreign elements of the coalition, “proibido para elementos estrangeiros [não da coalizão, locais, portanto]”) sugere que a prioridade daquela unidade foi esconder, o mais rapidamente possível, o sistema de mísseis móveis que haviam usado na ação.
Nesses documentos, as agências de inteligência do Irã e do Paquistão organizam manifestações e tumultos. O Serviço Secreto do Paquistão (Inter-Services Intelligence, ISI) tem ligações com os mais conhecidos senhores-da-guerra. Diz-se que o ISI teria entregue 1.000 motocicletas a Jalaluddin Haqqani, um desses senhor-da-guerra, para serem usadas em ataques suicidas nas províncias de Khost e Logar, e que estariam implicados em sequência impressionante de ações, desde atentados contra a vida do presidente Hamid Karzai até o envenenamento dos carregamentos de cerveja para os soldados ocidentais. São relatos que não há como comprovar e é possível que sejam parte de uma barreira de falsa informação distribuída pelo serviço secreto afegão.
Mas a resposta da Casa Branca ontem – que negou que o exército paquistanês seja tão direta e especificamente ligado aos guerrilheiros locais – basta, para que se tenha de definir como inaceitável o status quo na guerra do Afeganistão.
Para a Casa Branca, os “paraísos seguros” para “terroristas” em território paquistanês continuam a ser “ameaça intolerável” às forças dos EUA. Sejam ou não, esse não é um Afeganistão que EUA ou Grã-Bretanha estejam a alguns meses de entregar, embrulhado em papel de presente e fitas cor-de-rosa, a um governo nacional soberano em Cabul. Antes, exatamente o contrário. Depois de nove anos de guerra, o caos, sim, ameaça tornar-se incontrolável. Guerra ostensivamente feita para conquistar corações e mentes afegãs não será vencida do modo como as coisas parecem estar, por lá.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Discurso de Charles Chaplin em "O Grande Ditador"...

Multa abre caminho para punir multi poluidora

Como esta criança, 30 mil pessoas tiveram lesões e intoxicações provocadas pela lama tóxica gerada na limpeza do navio do Probo Koala

Brizola Neto em seu blog Tijolaco

Uma notícia que não saiu, que eu visse, em qualquer jornal brasileiro, é importantíssima.  A Justiça da Holanda condenou a multinacional Trafigura - que opera na comercialização de petróleo e derivados – em 1 milhão de Euros por ter ocultado a natureza tóxica de uma carga de gasolina com alto teor de enxofre, transportada  no navio Probo Koala e tê-la exportado para Abdijan, na Costa do Marfim, sem antes saber se haveria condição de tratar lá este lixo tóxico. A multa é menos importante pelo seu valor em dinheiro – a Trafigura teve um lucro 340 vezes maior, ano passado – do que pelo caminho que abre para que a empresa responda em diversas cortes pela intoxicação que seu produto causou em milhares de marfinenses, levando 16 deles à morte, em 2006.
No ano seguinte, a empresa teria feito um acordo com o governo da Costa do Marfim para evitar processos e iniciou uma ofensiva contra os meios de comunicação para abafar o escândalo.
A Trafigura entrou com uma ação judicial  para proibir o jornal britânico The Guardian de publicar um documento – conhecido como Relatório Milton – no qual especialistas atribuíam os problemas em Abidjan aos resíduos do Probo Koala. O jornal  foi proibido de mencionar não só o relatório, como o próprio recurso judicial da Trafigura.  Mas os detalhes do Relatório Milton, e o próprio documento, rapidamente começaram a circular na Internet. A ação foi movida também contra a BBC, que  teve censurada,  no final do ano passado, uma peça jornalística anterior, com o título “Dirty tricks and toxic waste in the Ivory Coast” (“Jogos sujos e lixo tóxico na Costa do Marfim”). A estatal, porém, não parou de noticiar o caso.
A nossa imprensa, que diz estar tendo sua liberdade “ameaçada” – ninguém sabe como nem porque – não se interessou em noticiar nem o caso, nem a tentativa de abafá-lo na imprensa.

O Novo Transcendente





Frei Betto * Adital
A história da humanidade é uma história de sujeições. No período pré-moderno, sujeição aos deuses do politeísmo, ao Deus do monoteísmo, ao Rei da monarquia e ao Povo (sujeito abstrato) da República. Havia sempre uma figura do Outro ao qual todos deveriam se reportar.
Esse Grande Outro prescrevia o certo e o errado, o bem e o mal, a graça e o pecado, a lei e o crime. O mundo se configurava de acordo com os preceitos do Grande Outro. As alternativas eram simples: sujeitar-se sob promessa de recompensa ou rebelar-se sob risco de punição.
Na modernidade, o Outro se multiplicou, adquiriu várias faces, descentralizou-se na diversidade de ideologias, sistemas de governo e crenças religiosas. Tanto a antiguidade quanto a modernidade nos remetiam à transcendência, ainda que fundada na razão. Se não era Deus, era o Partido, o líder supremo, as ideias inquestionáveis. Algo ou alguém nos precedia e determinava o nosso comportamento, incutindo-nos gratificação ou culpa.
A pós-modernidade, em cuja porta de entrada nos encontramos, promete fazer de nós sujeitos livres de toda sujeição. Seria a volta ao protagonismo exacerbado, em que cada indivíduo é a medida de todas as coisas. Já não se vive em tempos de cosmogonias e cosmologias, teogonias e ideologias. Agora todos os tempos convergem simultaneamente ao espaço reduzido do aqui e agora. Graças às novas tecnologias de comunicação, tempo e espaço ganham dimensão holográfica: cabem em cada pequeno detalhe do aqui e agora. Será que, de fato, a pós-modernidade nos emancipa do transcendente e da transcendência? Introduz-nos no "desencantamento do mundo" apontado por Max Weber?
A resposta é não.
Há um novo Grande Outro que nos é imposto como paradigma inquestionável: o Mercado. As sedutoras imagens deste deus implacável são disseminadas por seu principal oráculo: a publicidade. À semelhança de seu homólogo de Delfos, nos adverte: "Dize o que consomes e eu te direi quem és".
O grande teólogo desse novo deus foi Adam Smith. Inspirado na física de Newton, em "A riqueza das nações" e "A teoria dos sentimentos morais", Smith aplicou à economia a metáfora religiosa do Grande Relojoeiro que preside o Universo.
O relógio funciona graças à precisão mecânica fabricada por alguém fora dele e invisível a quem o porta: o relojoeiro. Assim, na opinião de Newton, seria o Universo. Na de Smith, a vida social regida por interesses econômicos. A diferença é que o Deus Relojoeiro de Newton é chamado de Mão Invisível por Smith. Segundo este, o egoísmo de cada um, guiado pela Mão Invisível, promoveria o bem de todos...
É exatamente o que afirma Milton Friedman, líder da Escola de Chicago: "Os preços que emergem das transações voluntárias entre compradores e vendedores são capazes de coordenar a atividade de milhões de pessoas, sendo que cada uma conhece apenas o próprio interesse".
Esse o fundamento do pensamento liberal e do sistema capitalista. É o principio do laisser faire, deixar (deus) fazer. O que, traduzido em termos políticos, significa desregulamentar, não apenas as esferas econômicas e políticas, mas também a moral. Abaixo a ética de princípios e viva a ética de resultados! Nesse protagonismo pós-moderno, cada ego é a medida de todas as coisas. O que imprime ao sujeito (no sentido latino de sujeição, submissão) a impressão de autonomia e liberdade.
O resultado do novo paradigma centrado no deus Mercado todos conhecemos: degradação ambiental; guerras; gastos exorbitantes em armas, sistemas de defesa e segurança; narcotráfico e dependência química; esgarçamento dos vínculos familiares; depressão, frustração e infelicidade.
Ainda é tempo de professarmos o mais radical ateísmo frente ao deus Mercado e, iconoclastas, apelarmos à ética para introduzir, como paradigma, a generosidade, a partilha dos bens da Terra e dos frutos do trabalho, a felicidade centrada nas condições dignas de vida e no aprofundamento espiritual da subjetividade.
Isso, contudo, só será possível se não ficarmos restritos à esfera da autoajuda, das terapias tranquilizadoras da alma para suportarmos o estresse da competitividade, e nos mobilizarmos comunitariamente para organizar a esperança em novo projeto político fundado na globalização da solidariedade.
Eis o desafio ético que, como assinalou José Martí, será capaz de articular emancipação política e emancipação espiritual.

[Autor de "A arte de semear estrelas" (Rocco), entre outros livros. www.freibetto.org twitter:@freibetto

Copyright 2010 - FREI BETTO - Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Assine todos os artigos do escritor e os receberá diretamente em seu e-mail. Contato - MHPAL - Agência Literária (mhpal@terra.com.br)].

* Escritor e assessor de movimentos sociais

Banrisul instala em agência sensor que limita uso de banheiro

Equipamento foi instalado em unidade na zona sul de Pelotas-RS. Sindicato dos Bancários denuncia nova forma de assédio moral e constrangimento no trabalho.

Algumas agências do Banrisul da região Sul do Estado estão adotando uma prática que, apesar de inconcebível no mundo atual, é cada vez mais frequente em algumas empresas: o assédio moral, conduta abusiva que pode ser praticada através de gestos, palavras, comportamentos, atitudes.

O Assédio Moral atenta, seja por sua repetição ou sistematização, contra a dignidade ou integridade física de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o ambiente de trabalho.

A situação numa determinada agência da região é talvez a que foi mais longe em termos de assédio: A gerência simplesmente instalou um sensor de presença nos banheiros da agência, onde os funcionários não podem permanecer por mais de um minuto, pois a luz se apaga após esse tempo.

Este é um inacreditável exemplo de onde o assédio pode chegar em termos de humilhação dos trabalhadores.

Essa exposição à tirania é mais frequente em relações hierárquicas autoritárias, nas quais predominam condutas negativas, relações desumanas de longa duração, exercidas por um ou mais chefes contra os subordinados, ocasionando a desestabilização da vítima com o ambiente de trabalho.

Veja algumas atitudes que caracterizam assédio moral:
  • Controlar o tempo de permanência no banheiro através de sensor de presença (mais de um minuto a luz se apaga)
  • Funcionários humilhados por meio de broncas, gritos e até xingamentos, levando-os ao choro e muitas vezes ao desgaste emocional;
  • Quando há prática antisindical. É atribuída ao Sindicato e seus dirigentes a culpa por questões que são legítimas de serem defendidas, como cumprimento de leis, boas condições de trabalho, melhores salários, manutenção do emprego;
  • Relações interpessoais hierárquicas que dividem os colegas entre colaboradores e não colaboradores, prática que piora substancialmente o ambiente de trabalho.
Fonte:http://www.tie-brasil.org/noticias.php

Vocês produzem, nós ganhamos!

  Waldemar Rossi  - Correio da Cidadania 
 
A euforia toma conta do mercado financeiro e a mídia nos mostra isso como uma grande vitória do país. Muita gente, desabituada a ver as notícias com olhos críticos, acaba por recebê-las com um grande sorriso nos lábios. Segundo a crença popular, cuja opinião é formada pelos meios de comunicação, isso é um sinal de que o país caminha certo e que nosso povo, finalmente, "terá paz e sossego na vida", como se canta durante a passagem do dia 31 de dezembro para o primeiro de janeiro. Desabituado a acompanhar no dia a dia o "vai e vem da valsa" financeira, não percebe que isto é um mero jogo fiscal e que quem ganha é exatamente quem vive como urubu que se nutre da carniça dos outros.
 
No último dia 19 a imprensa nos revelou que grandes empresas investiram 12 bilhões de dólares no país, entre janeiro e maio, na ciranda financeira dos altos juros que nosso governo garante e que são, segundo a mesma imprensa, os juros mais altos de todo o planeta.
 
A idéia que passa pela cabeça do povo é que a entrada de mais dinheiro no país significa mais produção, mais emprego e melhores condições de vida para todos. Infelizmente, inúmeros militantes partidários crêem que isto é bom para o país ou simplesmente repassam a "boa nova" como mérito do governo, até porque estão encastelados em gabinetes de parlamentares e se vêem forçados a aceitar a versão dos chefes, que lhes garantem uma renda mensal, também tirada do bolso do povo a quem enganam.
 
Muito ruim para o povo que vai se alimentando da ilusão. Não sabem que o enorme lucro que tais empresas financeiras obtêm da noite para o dia é fruto da espoliação aplicada em cima do próprio povo; que em vez de gerar mais desenvolvimento e distribuição de renda o que tais investimentos fazem é retirar lucro daquilo que é produzido pelos que trabalham; que o governo compra esses dólares com "papéis" oficiais, pagando os tais juros mais altos do planeta, e que esses dólares são aplicados no criminoso "superávit primário", que por sua vez serve para pagar os serviços da dívida pública, sem, porém, fazê-la baixar. Até pelo contrário, porque a dívida pública continua crescendo a passos de elefantes e velocidade de guepardo.
 
Em ano eleitoral, tudo o que se pode usar para alavancar candidaturas é usado e tido pelos espertos como válido, num condenável raciocínio de que os fins justificam os meios. Fala-se muita mentira e outro tanto de meias verdades para enganar os menos informados. Assim, o governante de plantão é tido como um estadista porque se locomove com desenvoltura no cenário internacional. E como não é nada bobo, e até muito "raposa", aproveita dessa popularidade plantada pelos meios de comunicação para se legitimar.
 
Mal compreende a maioria dos brasileiros que tal popularidade é também, e muito, fruto de um belo plano do capital nacional e internacional para garantir sua continuidade (seja com "A" ou com "B"), para que não se mate "a galinha de ovos de ouro" dos juros e da dívida eterna. Afinal, como nos informou o próprio presidente, "nunca antes neste país os ricos ganharam tanto dinheiro como neste governo". Lembram-se desta frase?
 
"Há dezesseis anos que faço viagens internacionais para ‘vender’ Brasil e essa é a primeira vez que venho exclusivamente para trabalhar renda fixa" (altos ganhos com juros assegurados), relatou Dalton Gardman, responsável pela área de pesquisa em renda fixa do Bradesco. Precisa dizer mais?
 
Pois é isto o que pensa o capital. Os donos do dinheiro querem e planejam para que aconteça: os povos de países como o Brasil devem trabalhar e produzir ao máximo, pagar bons impostos porque essa é a fonte dos nossos interesses.
 
Nós produzimos e eles faturam às nossas custas! E o povo torce por "S" ou por "D" chegar ao governo!
 
Waldemar Rossi é metalúrgio aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
 

sábado, 24 de julho de 2010

Palavras de Mujica, presidente do Uruguai

Nesta vida, não se trata somente de produzir: também é preciso desfrutar.

Fonte: http://www.elfinancierocr.com/blog/coaching/?p=2651

Tradução: Renzo Bassanetti


Vocês sabem melhor do que ninguém que no conhecimento e na cultura não há só esforço, mas também prazer.
Dizem que as pessoas que correm pela Rambla (avenida à beira-mar em Montevidéu) chegam num ponto em que entram em uma espécie de êxtase, onde já não existe o cansaço e fica somente o prazer.
Creio que com o conhecimento e a cultura acontece a mesma coisa. Chega-se a um ponto onde estudar, ou pesquisar, ou aprender, já não são um esforço, mas sim um prazer.
Que bom seria se esses manjares estivessem à disposição de muitas pessoas!
Que bom seria se, na cesta de qualidade de vida que o Uruguai pode oferecer à sua gente houvesse uma boa quantidade de consumos intelectuais, não para ser elegante, mas sim para dar prazer.
Porque pode se desfrutar disso com a mesma intensidade com que se pode desfrutar um prato de talharim.
Não há uma lista obrigatória das coisas que nos fazem felizes!
Alguns podem pensar que o mundo ideal é um local repleto de shoppings centers. Nesse mundo, as pessoas são felizes porque todos podem sair cheios de sacolas de roupa nova e de caixas de eletrodomésticos.
Não tenho nada contra essa visão, digo somente que essa não é a única possível.
Digo que também podemos pensar em um país onde as pessoas escolhem arrumar as coisas em vez de jogá-las fora, escolher um carro pequeno em vez de um grande, escolher agasalhar-se em vez de aumentar a intensidade da calefação.
Desperdiçar não é o que fazem as sociedades mais maduras.
Vão para a Holanda e vejam as ruas repletas de bicicletas.
Lá vocês vão se dar conta de que o consumismo não é a escolha da verdadeira aristocracia da humanidade.
É a escolha dos noveleiros e dos frívolos.
Os holandeses andam de bicicleta, usam-na para trabalhar mas também para ir aos concertos ou aos parques.
Isso é por que chegaram a um nível em que sua felicidade quotidiana se alimenta tanto de consumos materiais como intelectuais.
Dessa forma, amigos, vão e contagiem o prazer pelo conhecimento.
Paralelamente, minha modesta contribuição será de tratar de que os uruguaios andem de bicicletada em bicicletada.
A EDUCAÇÃO É O CAMINHO
E, amigos, a ponte entre este hoje e este amanhã que queremos tem um nome e chama-se EDUCAÇÃO (com maiúsculas). E olhem que essa é uma ponte comprida e difícil de atravessar, porque uma coisa é a retórica da educação e outra coisa é que nos decidamos a fazer os sacrifícios que implicam em lançar um grande esforço educativo ou sustentá-lo através do tempo.
Os investimentos em educação são de lento rendimento, não atraem a nenhum governo, mobilizam resistências e obrigam postergar outras demandas, mas é necessário fazê-los.
Devemos isso a nossos filhos e nossos netos.
E é preciso fazê-lo agora, quando ainda está fresco o milagre tecnológico da Internet e abrem-se oportunidades nunca vistas de acesso ao conhecimento.
Eu me criei com o rádio, vi nascer a televisão, depois a televisão colorida, depois as transmissões via satélite.
Depois, resultou que na minha televisão apareciam quarenta canais, incluindo os que transmitiam diretamente desde os Estados Unidos, Espanha e Itália.
Depois, vieram os celulares e depois o computador, que no início só servia para processar números.
Em cada uma dessas vezes, fiquei com a boca aberta.
Mas agora, com a Internet, esgotou-se a capacidade da minha surpresa.
Sinto-me como aqueles humanos que viram a roda pela primeira vez.
Ou como os que viram o fogo pela primeira vez.
Estão se abrindo as portas de todas as bibliotecas e de todos os museus; vão estar à disposição todas as revistas científicas e todos os livros do mundo.
Provavelmente também todas os filmes e todas as músicas do mundo.
É estarrecedor.
Por isso, necessitamos que todos os uruguaios e, sobretudo, os uruguaiozinhos, saibam nadar nessa corrente.
É preciso entrar nessa corrente e navegar nela como um peixe na água.
Conseguiremos isso se está sólida a matriz intelectual da qual falamos antes.
Se nossas crianças sabem raciocinar nesse sentido e sabem fazer-se as perguntas que valem a pena.
É como uma rodovia de duas pistas, lá em cima o mundo do oceano da informação, aqui em baixo preparando-nos para a navegação transatlântica.
Escolas de turno integral, faculdades no interior, ensino superior massificado. E, provavelmente, inglês desde o pré-escolar no ensino público, porque o inglês não é o idioma que falam os ianques, é o idioma com o qual os chineses se entendem com o mundo. Não podemos ficar de fora.
Essas são as ferramentas que nos habilitam a interagir com a explosão universal do conhecimento. Esse mundo novo não nos simplifica a vida, mas a complica. Nos obriga a ir mais longe e mais fundo na educação.
Não há tarefa maior diante de nós.

Boicote Acadêmico contra Israel? Umberto Eco não entendeu nada

por PACBI

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Este artigo de opinião tem uma história por trás. Quando o duro artigo de opinião de Umberto Eco contra o boicote cultural a Israel apareceu no jornal italiano L'espresso , a PACBI (The Palestinian Campaign for the Academic and Cultural Boycott of Israel, A Campanha Palestina para o Boicote Acadêmico e Cultural a Israel) decidiu que seria necessário refutá-lo. Dois membros da PACBI contataram o jornal através de um colega italiano para pedir que fosse publicada uma refutação no jornal. Depois de muita negociação e muitos emails trocados com um dos editores, a refutação foi reduzida a um mínimo, e o jornal concordou em publicá-la em 2 de julho de 2010 na sua secção de cartas . Todavia, ficou aparente que a versão publicada fora ainda mais reduzida, e que as identidades dos autores não haviam sido incluídas. Isto é na realidade um triste comentário sobre o estado da liberdade de imprensa na Itália, onde se permite que figuras influentes defendam livremente Israel e seus atos criminosos enquanto àqueles que se opõem não é concedido espaço para expressar sua oposição a essas opiniões.
Em 14 de maio de 2010, nas páginas do L'espresso [1] , Umberto Eco atacou os crescentes esforços na Itália em apoio à Palestinian Campaign for the Academic and Cultural Boycott of Israel (PACBI), argumentando que "qualquer posição política, qualquer polêmica contra um governo, não deveria envolver todo um povo e uma cultura inteira”. Nós concordamos, Mas quão relevante é isto para o debate sobre os méritos de um boicote acadêmico contra Israel? Nossa campanha tem consistentemente mirado Israel e suas instituições cúmplices, e não indivíduos.

Uma das mais importante lições aprendidas a partir da luta global contra o apartheid na África do Sul é que recusar tratar nos termos habituais com instituições que são cúmplices em violações graves e persistentes dos direitos humanos não é somente justificado; é um dever ético para intelectuais conscientes em todo o mundo. Ao se tornarem coniventes com políticas contrárias à lei internacional e que infringem direitos fundamentais, as instituições tornam-se responsáveis e portanto imputáveis. Todas as instituições acadêmicas de Israel, sem exceção, estão nesta categoria, tornando imperativo o apelo ao seu boicote a fim de para apoiar os direitos palestinos e por fim à ocupação de Israel e ao sistema de discriminação racial que se enquadra na definição de apartheid da Convenção para a Supressão e Punição do Crime de Apartheid da ONU.

Numa época em que Israel está desconsiderando a lei internacional com completa impunidade, atacando embarcações civis que transportam ajuda humanitária para 1,5 milhões de palestinos que sofrem sob anos de um sítio ilegal israelense, matando e ferindo grande número de trabalhadores voluntários desarmados e outros ativistas, o silêncio acadêmico israelense é mais ruidoso que nunca. Mas isso era previsível. Nunca na sua história as instituições acadêmicas, associações profissionais ou organizações de acadêmicos de Israel condenaram a ocupação. Nunca vocalizaram qualquer oposição aos repetidos encerramentos militares de universidades palestinas, muitas vezes por quatro anos consecutivos, para não falar da negação de direitos sancionados pela ONU aos refugiados palestinos. Quando estudantes palestinos foram detidos durante a primeira intifada (1987-92) por portar livros técnicos ou professores presos por dar aulas "clandestinas", a academia israelense permaneceu vergonhosamente silenciosa, e os acadêmicos israelenses na maior parte continuaram a propagar a imagem enganosa de Israel como uma "democracia" esclarecida.

Israel, de fato, impôs um cerco estrito a instituições palestinas de educação superior durante as últimas três décadas. Que estas instituições tenham sobrevivido e estejam florescendo é um testemunho de sua determinação e perseverança em resistir a seu modo a um opressivo regime militar determinado a silenciar a voz da academia palestina. Em Gaza, Israel impõe um boicote acadêmico geral, entre outras formas de cerco, ao evitar a quase todos os estudantes entrarem ou sairem da Faixa. A última manifestação do cerco a universidades palestinas – boicote, na verdade – foi o ato arrogante e desdenhoso de Israel ao negar entrada ao renomado intelectual Noam Chomsky para falar na Birzeit University.

Compreendendo a arraigada conivência da academia israelense com as estruturas de opressão naquele país, o eminente historiador israelense Ilan Pappe declarou já em 2005 que "o boicote atingiu a academia porque a academia em Israel optou por ser oficial" [2] Citando a pesquisa de outro acadêmico israelense que mostrou que "de 9000 membros da academia em Israel, somente 30 a 40 estão ativamente engajados na leitura de críticas significativas, e um número menor, apenas três ou quatro, estão ensinando aos seus alunos de maneira crítica sobre o sionismo e assim por diante". Pappe conclui que "a academia escolheu ser a propaganda oficial de Israel. ... A academia é o mais importante embaixador de Israel na alegação de que somos a única democracia no Oriente Médio".

Durante a guerra de agressão de Israel a Gaza em 2008-2009, quando mais de 1400 pessoas, predominantemente civis, foram mortos, milhares de lares foram destruídos junto com dezenas de escolas e abrigos da ONU, hospitais e clínicas foram alvejados e a maior universidade palestina foi bombardeada por F-16's, a academia israelense não foi somente um "observador neutro". Várias universidades contribuíram ativamente para os crimes de guerra cometidos contra palestinos.

Por exemplo, a Universidade de Tel Aviv colaborou diretamente no desenvolvimento de armas e doutrinas militares que foram usadas na agressão maciça de Israel a Gaza, uma guerra que foi condenada pelo Relatório Goldstone e pela Assembléia Geral das Nações Unidas como constituindo crimes de guerra e possivelmente crimes contra a humanidade. [3]

Outras universidades em Israel não fizeram melhor. Um estudo [4] encomendado pelo Israeli Alternative Information Center (AIC – Centro de Informação Alternativa Israelense) documenta inúmeras facetas da cumplicidade acadêmica em Israel. O Ariel College foi construído em território ocupado palestino, tornando-o uma colônia "acadêmica" ilegal. Da mesma forma um dos dois campi da Universidade Hebraica, construído na Jerusalém Leste ocupada, em violação direta à Quarta Convenção de Genebra. O Technion desempenha um papel chave no desenvolvimento de sistemas de armamento usados contra civis palestinos. De fato, a cumplicidade institucional com as instituições militares e de segurança israelenses são a norma em toda a academia, que se orgulha abertamente desta parceria.

Mesmo a defesa das mais básicas exigências de liberdade acadêmica para palestinos sofre a oposição da esmagadora maioria dos acadêmicos israelenses. Ao expressar "grande preocupação com respeito à deterioração em curso do sistema de educação superior na Cisjordânia e na Faixa de Gaza", quatro acadêmicos judeus-israelenses em 2008 redigiram uma petição [5] pedindo ao seu governo que "permitisse a estudantes e professores livre acesso a todos os campi nos territórios...". Tendo sido a petição enviada para todos os 9.000 principais acadêmicos israelenses, somente 407 a assinaram – pouco mais de 4%.

Apesar da cumplicidade generalizada, a PACBI tem sistematicamente feito distinção clara entre visar instituições e visar acadêmicos individualmente; rejeitamos a segunda opção, focando todas as nossas energias num boicote institucional. Isso decorre da nossa oposição, de princípio, a testes políticos ou "listas negras".

Inspirados pela luta da África do Sul pela liberdade, a PACBI e o crescente número de campanhas de boicote acadêmico ao redor do mundo acreditam que a academia israelense não deveria ser automaticamente isentada do boicote, especialmente quando seu papel em disfarçar e perpetuar crimes de Guerra está fora de dúvida.

[1] espresso.repubblica.it/dettaglio/boicottiamo-i-latinisti-israeliani/2127031
[2] Meron Rapoport, "Alone on the Barricades" (entrevista com Ilan Pappe), Haaretz. 6 May 2005
[3] www.electronicintifada.net/downloads/pdf/090708-soas-palestine-society.pdf
[4] alternativenews.org/images/stories/downloads/Economy_of_the_occupation_23-24.pdf
[5] www.pacbi.org/etemplate.php?id=792&key=407


O original encontra-se em www.odsg.org/... . Tradução de RMP.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Os 80 anos de Plínio


Plínio de Arruda Sampaio completará 80 anos no próximo dia 26 de julho. Seus amigos e companheiros do PSOL preparam uma festa suprapartidária para o sábado, 24, em São Paulo. Os 80 anos deste intelectual da ação serão comemorados em meio a uma de suas mais duras batalhas. Plínio é candidato à presidência da República pelo PSOL. Pode-se concordar ou discordar das posições de Plínio. Mas não se pode ignorar a admirável trajetória desse comunista que acredita em Deus, como ele mesmo se define. O artigo é de Gilberto Maringoni.

Plínio nasceu no exato dia em que assassinaram o presidente da Paraíba – assim eram chamados os governadores -, no processo que deflagrou o início da Revolução de 1930. Ao longo do tempo, sua vida política o aproximou dos ideais de outro 26 de julho. Esta é também a data em que um grupo de barbudos tentou tomar de assalto o quartel Moncada, em Santiago de Cuba, em 1953. O comandante da ação era um grandalhão falante, cujo nome ecoaria mundialmente pelas seis décadas seguintes, Fidel Castro Rúz.

Plínio tem uma aparência de senador romano de filmes da Metro. Testa alta, nariz proeminente e olhar seguro. A voz calma e límpida e os gestos firmes não são próprios de alguém de sua idade. Mesmo quando faz um discurso incisivo contra o agronegócio ou em defesa de uma ação mais radicalizada por parte dos setores populares, parece o mais moderado dos homens. No fundo, poderia ser definido como um radical tranqüilo. “Se não fizesse política, o câncer teria me levado”, ironizou ao se recuperar de um tumor no estômago, há quase dez anos.

Militante
“Ele é antes de tudo um militante”, sintetiza sua esposa, Marieta Ribeiro de Azevedo Sampaio, com quem está casado desde 1954, época em que se formou em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco. “Quando eu o conheci, dois anos antes, ele já era um militante e é isso até hoje”.

Ligado à Igreja, Plínio deu seus primeiros passos na política através da Juventude Universitária Católica, organização surgida a partir da Ação Católica Brasileira. Em 1959, foi nomeado subchefe da Casa Civil de Carvalho Pinto, governador do Estado. Ali coordenou o Plano de Ação, um amplo programa de planejamento e de intervenção integrada de todas as esferas do Estado no desenvolvimento. Ainda nos anos 1950, entrou para o Partido Democrata Cristão (PDC), que tinha em André Franco Montoro (1916-1999) um de seus principais líderes.

Refaçamos as contas: são 80 anos de vida e quase 60 de atividade política incessante. Plínio vem de uma família de produtores de café e fez uma trajetória raríssima. De posições inicialmente moderadas, ao longo dos anos ele percorreu um caminho que o leva cada vez mais à esquerda. “Eu vim da direita”, costuma brincar. É um exagero. Mas contam-se nos dedos os ativistas com origem familiar abastada que transitaram rumo à esquerda socialista. No Brasil, possivelmente o caso mais notável seja o de Caio Prado Jr., com quem Plínio conviveu. O ex-Secretário Geral do Partido Comunista Italiano (PCI), Enrico Berlinguer (1922-1984) é outro. Se formos aos mais notáveis, vale lembrar que Friedrich Engels (1820-1895) era filho de um industrial inglês e Fidel Castro tinha um pai latifundiário.

Eleito deputado federal em 1962, Plínio logo se tornaria relator do plano de reforma agrária do governo João Goulart (1962-1964). A antipatia dos setores mais conservadores da sociedade foi imediata.

Golpe e exílio
Não deu outra: quando foi deflagrado o golpe de 1964, Plínio estava na primeira lista de cassações, juntamente com Luiz Carlos Prestes, João Goulart, Leonel Brizola, Miguel Arraes, Darcy Ribeiro, Celso Furtado e dezenas de outros.

No exílio, ele trabalhou na FAO (órgão da ONU que trata das questões relativas à agricultura e à alimentação), em Santiago do Chile e, a partir de 1970, nos Estados Unidos. Assessorou programas de reforma agrária em quase duas dezenas de países da América Latina e da África.

O ex-deputado voltou ao Brasil antes da Anistia. Chegou em 1976 e tornou-se professor da Fundação Getulio Vargas, após ter concluído um mestrado em Economia Agrícola na Universidade Cornell.

Tomou parte nas intensas lutas sociais que marcaram o final da ditadura. Ingressou primeiro no Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e logo saiu para fundar o Partido dos Trabalhadores, em 1980, após as formidáveis greves do ABC paulista, lideradas por Luís Inácio Lula da Silva.

PT e Constituinte
Eleito deputado constituinte, em 1986, Plínio bateu-se por um projeto de reforma agrária que erradicasse o latifúndio. Com a paulatina destruição do texto constitucional, realizada por mais de 60 emendas, nos anos 1990, ele mostra um certo desencantamento com os rumos da Carta de 1988. Em palestra realizada há dois anos no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em Brasília, o ex-parlamentar foi ácido: “O breve resumo histórico das idas e vindas do processo de elaboração da Constituição Cidadã impõe a conclusão de que o texto promulgado em de 1988 foi fruto de uma ilusão. Baseava-se no falso pressuposto de que a nova ordem econômica e política neoliberal, então hegemônica em todo o mundo capitalista desenvolvido, ainda não havia fechado as portas para o prosseguimento de projetos de construção nacional nos países de sua periferia”.

Dirigente petista, membro da coordenação da campanha Lula à presidência em 1989, Plínio foi o principal formulador da política agrária do partido por muitos anos. Foi líder da agremiação na Câmara e candidato a governador pelo PT, em 1990. Tornou-se presidente da Associação Brasileira pela Reforma Agrária (ABRA) e um dos mais importantes colaboradores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Membro da corrente majoritária do PT, a Articulação, aos poucos ele se tornou um aliado da esquerda partidária.

Paulatinamente desencantado com os rumos do PT, após a eleição de Lula, em 2002, Plínio foi candidato à presidência da legenda em 2005. Sua maior contrariedade estava com a política econômica capitaneada por Antonio Palocci e Henrque Meirelles, o que entendia ser uma continuidade da orientação adotada durante o governo Fernando Henrique Cardoso.

PSOL e candidatura
Em setembro daquele ano, juntamente com cerca de dois mil militantes de todo o país, ele deixa a legenda que ajudou a fundar e filia-se ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

A avaliação de Valter Pomar, membro do Diretório Nacional do PT, é dura sobre o episódio: “Foi um erro político imperdoável. Em 2005, a esquerda ganhou o primeiro turno na disputa pela presidência nacional do PT. Perdemos no segundo turno, entre outros motivos, porque ele e seu grupo saíram do partido".

Ivan Valente, deputado federal pelo PSOL-SP e ex-dirigente petista tem outra opinião: “A construção do PT representou um marco histórico de consciência e organização da classe trabalhadora brasileira. Mas é necessário reconhecer que o pragmatismo da chegada a todo custo ao poder desvirtuou seu programa, seus princípios e seus compromissos mais profundos com a transformação social”.

Em 2006, Plínio sai novamente candidato ao governo de São Paulo. “Tivemos quase 450 mil votos com um orçamento de cerca de R$ 20 mil reais. Os publicitários calculam, em campanha, que um voto custa, em média, de R$ 10 a R$ 15. Multiplicados pelo número de sufrágios, temos esses dispêndios milionários em campanhas. Pois gastamos cerca de R$ 0,04 por voto. Um fenômeno!”, diz ele.

Os 80 anos deste intelectual da ação serão comemorados em meio a uma de suas mais duras batalhas. Plínio é candidato à presidência da República pelo PSOL. Tem viajado incansavelmente. Sabe que o principal perigo para o Brasil e para o continente é a candidatura de José Serra, que reúne a maior parte da direita brasileira, de golpistas a neoliberais. Mas busca se diferenciar também da campanha de Dilma Rousseff, criticando especialmente a política monetária do Banco Central e a não efetivação da reforma agrária, no ritmo que julga necessário.

A festa dos 80 anos de Plínio será realizada no próximo sábado (24 de julho), num jantar-festa no restaurante Spasso Buffet & Music, a partir das 21h. O endereço é Avenida Rio Branco, 82, República (centro de São Paulo). Os convites custam R$ 20.

Sempre que perguntado quais os melhores anos de sua longa trajetória, Plínio repete um bordão:

“São aqueles que ainda vou viver”.

Para Ivan Valente, “Plínio é uma figura histórica da luta democrática, da resistência à ditadura e da construção de uma alternativa de esquerda para o nosso país. Sua trajetória é um exemplo para os que lutam por igualdade e justiça social”.

Pode-se concordar ou discordar das posições de Plínio. Mas não se pode ignorar a admirável trajetória desse comunista que acredita em Deus, como ele mesmo se define.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Por que Chávez rompeu relações com a Colômbia

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou nesta quinta (22) o rompimento das relações diplomáticas com a Colômbia. A decisão foi tomada após o embaixador colombiano na OEA acusar Caracas de abrigar guerrilheiros das FARC. O governo venezuelano disse que as afirmações são mentirosas. Fontes do Palácio de Miraflores disseram que as provocações de Uribe, além de fixar seu alvo em Chavéz, seriam estranhamente coincidentes com o discurso de José Serra e Indio da Costa no Brasil. O artigo é de Breno Altman.

Veja o momento em que Chávez anuncia o rompimento (em espanhol):

Nas últimas semanas, o presidente venezuelano Hugo Chávez passou diversos sinais conciliadores para o mandatário eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos, que tomará posse dia 7 de agosto. O retorno também foi promissor: o novo chefe de Estado colombiano revelou-se disposto a construir uma agenda positiva, que permitisse o pleno reatamento entre os dois países.

Mas a aproximação foi fulminada pela ação de Álvaro Uribe, desconfortável com a autonomia de seu sucessor e o risco de perder espaço na vida política do país. Mesmo sem qualquer incidente que servisse de pretexto, jogou-se nos últimos dias a reativar denúncias sobre supostos vínculos entre as Farc e a administração chavista.

O ápice da performance uribista foi a atual reunião da OEA (Organização dos Estados Americanos), que se realiza em Washington. Bogotá apresentou provas para lá de duvidosas, que sequer foram corroboradas por seus aliados tradicionais, de que a Venezuela estaria protegendo e acobertando atividades guerrilheiras. A reação de Caracas foi dura e imediata.

A decisão pela ruptura de relações diplomáticas, no entanto, pode ser provisória. O próprio presidente Chávez, nas primeiras declarações a respeito dessa atitude, reafirmou a esperança de que Santos arrume a bagunça armada pelo atual ocupante do Palácio de Nariño. Mas reiterou sua disposição de enfrentar e desqualificar a estratégia de Uribe.

O presidente colombiano parece mirar dois objetivos. O primeiro deles é interno: a reiteração da “linha dura” como política interna facilita sua aposta de manter hegemonia sobre os setores militares e sociais que conseguiu agregar durante seu governo. O segundo, porém, tem alcance internacional. O uribismo é parte da política norte-americana para combater Chávez e outro governos progressistas; mesmo fora do poder, o líder ultradireitista não quer perder protagonismo e se apresenta como avalista para manter Santos na mesma conduta.

Fontes do Palácio de Miraflores não hesitam em afirmar que as provocações de Uribe, além de fixar seu alvo no presidente venezuelano, seriam estranhamente coincidentes com o discurso de José Serra e Indio da Costa no Brasil, retomando a pauta de eventuais relações entre o PT e a guerrilha colombiana. Esses analistas afirmam que o governante de Bogotá deu um lance para se manter em evidência na disputa regional entre os blocos de esquerda e direita.

Autoridades venezuelanas, nos bastidores, se empenham para que haja uma condenação generalizada, dos países latino-americanos, à conduta de Bogotá e ao cúmplice silêncio norte-americano. Não desejam que outras nações sigam o caminho da ruptura, mas Chávez parece convencido que seu colega colombiano não poderá ser detido com meias-palavras ou atos de conciliação.

(*) Breno Altman é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi