domingo, 24 de abril de 2011

Filme Indiano

Ratoeira
(Elippathayam)
Elippathayam
Poster
Sinopse
Drama indiano que discute os sentimentos humanos a partir de histórias envolvendo ratos e os moradores de uma antiga casa, de uma familia tradicional e decadente. O personagem central é Unni, um homem que não consegue conviver tranquilamente com seu egocentrismo, e incapaz de lidar com as demandas de um mundo em transição.

  Créditos e Legendas Exclusivas de KEROUAC - MAKINGOFF
Screenshots (clique na imagem para ver em tamanho real)

Elenco
Informações sobre o filme
Informações sobre o release
Karamana Srada, Jalaja, Rajam K, Nair, Prakash, SomanGênero: Drama
Diretor: Adoor Gopalakrishnan
Duração: 115 minutos
Ano de Lançamento: 1981
País de Origem: India
Idioma do Áudio: Malaiala
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0082318/
Qualidade de Vídeo: DVD Rip
Vídeo Codec: XviD
Vídeo Bitrate: 1787 Kbps
Áudio Codec: MPEG1/2 L3
Áudio Bitrate: 132 kbps 48 KHz
Resolução: 640 x 464
Aspect Ratio: 1.379
Formato de Tela: Tela Cheia (4x3)
Frame Rate: 25.000 FPS
Tamanho: 1.564 GiB
Legendas: Em anexo
  
Coopere, deixe semeando ao menos duas vezes o tamanho do arquivo que baixar.
 
O torrent e a legenda por email

Médicos e pacientes pressionam IPE por melhorias no plano de saúde


Plano de saúde dos servidores gaúchos já foi considerado o melhor do país

Paulo Germano | paulo.germano@zerohora.com.br

A direção do Instituto de Previdência do Estado (IPE), responsável por um dos maiores planos de saúde do Rio Grande do Sul, está pressionada entre médicos e usuários. Do lado dos profissionais credenciados, pesam os pedidos por correção da tabela de procedimentos. Do lado dos pacientes, crescem reclamações a respeito da demora em busca de atendimento. A dimensão do problema fica evidente quando se olha o tamanho da carteira de segurados: quase 1 milhão de pessoas.

Não é mais a mesma a reputação do IPE, o plano de saúde dos servidores gaúchos que já foi considerado o melhor do país. Parte desse abalo deve-se ao pagamento oferecido aos médicos e à conduta de uma parcela dos profissionais. Eles reclamam que o instituto paga mal, mas resistem em deixar o quadro de credenciados. Resultado: algumas práticas questionáveis já estão de tal forma entranhadas no cotidiano de alguns consultórios que nem os pacientes conseguem perceber as distorções.
 
 "Pelo IPE, não paga nem o
consultório", diz presidente do Simers


Um agravante para o problema é que o IPE tem remunerado seus médicos com valores abaixo dos de mercado – o que aguça o embate entre a instituição e entidades como o Sindicato Médico (Simers). Na prática, os maiores prejudicados são os usuários do plano, que atende a quase 1 milhão de pessoas no Estado inteiro.

O IPE em números:
Um dos sistemas de previdência mais antigos do país, o IPE foi criado por Flores da Cunha em 1931

Usuários: 976 mil
Médicos cadastrados: 7,2 mil
Consultas/mês: 260 mil
Atendimentos/mês: 1 milhão
Orçamento de 2011: R$ 1,1 bilhão
Receita mensal: R$ 87,1 milhões*
Despesa mensal: R$ 84 milhões*
Saldo no Fundo de Assistência à Saúde: R$ 331,4 milhões*
Servidores estaduais que contribuem: 350 mil
Desconto no contracheque: 3,1%
Prefeituras e Câmaras Municipais conveniadas: 330
Servidores municipais que contribuem: 45 mil

*Dados referentes ao mês de fevereiro


>>>Leia a reportagem completa na edição de Zero Hora deste domingo

sábado, 23 de abril de 2011

Ensino técnico. Qualidade e quantidade, só o Estado

Brizola Neto no TIJOLACO

O Globo anuncia hoje o lançamento, em maio, do Programa Nacional de Ensino Técnico, o Pronatec. Posto aí em cima uma entrevista, dada em fevereiro, pela Presidente Dilma Rouseff, em que ela explica os objetivos do programa e – muito importante – conecta a educação profissional à formação geral, com a ideia de escolas de dois turnos – o regular e o profissionalizante.
É, como se vê, uma medida que já vem sendo gestada desde o início do ano. Mas é, antes ainda, uma questão que se arrasta, no Brasil, há quase 80 anos, sem que tenha sido solucionada de forma adequada.
Já nos anos final dos anos  30, o país vivia o dilema entre dois modelos de educação profissional e tecnológica. De um lado, o Ministro da Educação, Gustavo Capanema, defendendo que o Estado o assumisse diretamente e o fizesse associado à educação dita “formal”; de outro, o “grupo industrial”, formado por dirigentes empresariais paulistas de vanguarda, como Roberto Simonsen e Euvaldo Lodi, que sustentava que o próprio empresariado – garantidos os recursos para isso – seria o melhor para gerir essa qualificação profissional.
 
A solução do Sistema “S” – Senai, Senac, etc – foi a predominante. E se provou de alta qualidade, ao longo de décadas. A outra vertente, ainda que de maneira periférica, também se mostrou um vitoriosa, embora restrita, com a criação, em 1942, da Escola Técnica Nacional – hoje o Cefet – que proporcionava visão mais ampla e teórica da atividade industrial ao lado do ensino convencional. Tanto que, nos anos 70, passou a ter um acesso tão disputado que, praticamente, só a classe média a ela conseguia ter acesso, pela admissão concorridíssima, quase a tornar obrigatórios os cursos de preparação.
Da mesma forma, a partir do fim dos anos 80, o Sistema “S” foi deixando de ser uma alternativa de formação de profissionais qualificados. Se antes a necessidade era tão intensa que algumas oficinas do Senai era envidraçadas para atrair a atenção dos passantes e  captar alunos, a crise econômica acabou com a quase total “garantia de emprego” com que contavam os egressos do sistema. De outro lado, o preço desta formação passou a se tornar proibitivo – mais ainda por não assegurar contratação imediata em bons padrões salariais.
Afinal, excetuando as vagas gratuitas proporcionadas por acordos com o Governo, que atinge apenas metade das vagas, fazer um curso profissionalizante nestas instituições  passou a ter um custo proibitivo. O ex-presidente Lula, por exemplo, dificilmente teria condições de fazer hoje um curso de torneiro mecânico. Por dois meses e 160 horas aula, o custo desta aprendizagem no Senai chega a R$ 1,3 mil.
O esforço feito pelo Governo Lula para criar cursos de qualificação profissional, muito embora tenha sido e seja ainda positivo, esbarra nos limites da inexistência, fora do setor estatal e semi-estatal (como o Sistema “S”)  de estruturas capazes de fazê-lo com qualidade e eficiência. Em geral, acaba-se por produzir apenas profissionais para funções muito básicas, embora nossa demanda seja, cada vez mais, por mão-de-obra de média/alta qualidade, capaz de se adequar às estruturas mais exigentes, competitivas e tecnológicas da atividade industrial e de serviços.
O Governo Lula produziu muitos avanços. Primeiro, acabou com a virtual proibição aos Estados de fazerem ensino técnico, pela restrição imposta por FHC de que arcassem com todo o custeio. Depois, expandiu a rede de escolas técnicas federais de maneira expressiva e faz subir de 113 mil para 219 mil o número de matrículas, entre 2003 e 2009 (não tenho os números de 2010).
Mas era preciso um passo adiante, uma decisão. E Dilma a tomou, ao que parece, com o Pronatec.
A formação profissional de qualidade – e isso é inseparável da formação do ser humano – vai passar a ser uma causa de Governo, à qual as instituições públicas e semi-públicas devem se integrar.
E dou, desde já, uma sugestão: porque não convovar a Petrobras, as universidades públicas estaduais e federais do Rio de Janeiro e as indústrias da cadeia petroleira, inclusive a naval,  para fazermos uma grande Escola Técnica de Petróleo e Gás no Rio de Janeiro, para formar a mão de obra que o setor já  necessita e vai precisar com o pré-sal?
Sem prejuízo do Prominp, que dá formação básica, essencialmente, temos de formar centenas, milhares de profissionais de alta qualidade para as plataformas e refinarias. E temos conhecimento para isso. Ali, em Itaboraí, onde se ergue o pólo petroquímico que será a maior refinaria brasileira, a pouca distância do pólo naval de Niteroi/São Gonçalo e do Centro de Pesquisa da Petrobras, há espaço e proximidade para fazer uma escola de alto padrão, fisica e pedagogicamente conectada com as necessidades do setor.
A oportunidade está aí. E os recursos também, pois o Fundo Social para o qual irão boa parte das receitas do pré-sal tem destinação obrigatória também para esta área da educação, da ciência e da tecnologia.

Bertolino: Maurício Grabois e os devaneios de um jornalista


Por coincidência, acabo de ler o que seria o diário de Maurício Garbois, no exato momento em que a revista CartaCapital chega às bancas com este tema como matéria de capa. O texto, intitulado "Devaneio na selva" e assinado por Lucas Figueiredo, comenta “O diário do Araguaia”, tema anunciado como “exclusivo”. O assunto, no entanto, não é novo. Quando escrevi a biografia de Maurício Grabois, publicada em 2004 pela editora Anita Garibaldi, deparei com informações que davam conta desse diário.

Reprodução
carta capital - araguaia
A capa da revista CartaCapital desta semana traz a reportagem de Lucas Figueiredo sobre o diário de Maurício Grabois no Araguaia
 
Por Osvaldo Bertolino*no Portal Vermelho

Recebi, anonimamente, trechos do que seriam as anotações do comandante militar da Guerrilha do Araguaia, mas, impossibilitado de verificar a veracidade do documento, não usei as informações.

Segundo o jornalista Hugo Studart, que escreveu o livro A Lei da Selva, trata-se uma cópia preservada por um militar. Em artigo publicado pela revista Brasil História, edição de março de 2007, ele diz que o destino e principalmente o teor do diário ficaram ocultos por três décadas. “O diário foi encontrado pelas tropas que mataram Grabois, dentro de suas roupas, já estufado pela umidade. O documento chegou a Marabá no final da tarde de 25 de dezembro de 1973, para ser encaminhado na primeira hora do dia seguinte ao Centro de Informações do Exército (CIE), em Brasília”, diz ele.

Segundo Studart, um capitão da área de informações pediu o material emprestado aos colegas para examiná-lo e, sem consultar os superiores, convocou cinco soldados para que atravessassem a madrugada copiando o conteúdo à mão. Pela manhã devolveu o documento. O diário original desapareceu dos arquivos do CIE, provavelmente destruído no crematório ocorrido em fins de 1974, por ordem do presidente Ernesto Geisel, para ocultar os combates no Araguaia. Restou a cópia (mais tarde datilografada), preservada nos arquivos pessoais daquele capitão. Três oficiais superiores, antigos membros da Comunidade de Informações que tiveram acesso aos originais antes da cremação, atestam a autenticidade do conteúdo que consta na cópia.

O último combate

O jornalista diz que Grabois começou o diário três semanas após a chegada do Exército. Ele esmerou-se nos detalhes dos crimes cometidos pela repressão no Araguaia, a principal razão que levou os generais do regime militar mandar destruir a maior parte dos documentos sobre a Guerrilha, incluindo o diário do seu comandante militar. Studart descreveu o documento como rico na descrição das receitas de alimentos e medicamentos utilizadas pelos guerrilheiros, assim como na transcrição de poemas e letras de canções invocadas no cotidiano das selvas.

Grabois escreveu até dia do seu último combate, em 25 de dezembro de 1973, quando, segundo escreveu João Quartim de Moraes no prefácio da biografia que fiz, o Brasil vivia o tempo dos assassinos, dos curiós, dos sérgios fleury e congêneres. Era “também o tempo dos verdadeiros heróis, dos que em vida se comoviam até as lágrimas com a imensa miséria e o indizível sofrimento dos humilhados, dos famélicos, dos sem-infância e sem-esperança, mas que, na hora do combate final, caem de pé, olhando a morte na cara”. Grabois morreu no grande combate que ficou conhecido como o “Chafurdo de Natal”.

Descrevi, no livro, a cena nestes termos:

“No início da operação, batizada de 'Sucuri', instalou-se na região um sujeito chamado Marco Antônio Luchini, enviado como engenheiro do Incra. Era na verdade o major Sebastião Rodrigues de Moura, o Curió, ferrenho anticomunista que em 1961, como tenente, foi preso por participar da trama que tentou impedir a posse presidencial de João Goulart. No golpe de 1964, ele participou ativamente da conspiração e chegou ao CIEx. Frio e sanguinário, ficou famoso na região por receber de pistoleiros as cabeças, mãos e dedos decepados dos guerrilheiros para os quais pagava de 10 a 50 mil cruzeiros – dependendo da importância política da vítima.

Por trás da operação estava o general Antônio Bandeira. Curió foi, possivelmente, a figura que mais encarnou o espírito da “guerra suja”, que rasgou todas as leis e princípios que regem os conflitos militares e os direitos básicos do ser humano. Curió ainda iria participar de outras atrocidades praticadas pela ditadura – como a “chacina da Lapa”, quando em 1976 a repressão assassinou dirigentes do PCdoB em São Paulo – e se estabelecer na região, onde foi eleito deputado, dominou o garimpo de Serra Pelada à força e fundou uma cidade em homenagem ao seu nome – Curionópolis.

No dia 25 de dezembro de 1973, Curió comandava a patrulha que, no final daquela manhã chuvosa, por volta das onze horas e vinte cinco minutos, encontrou o grupo de guerrilheiros. O major viu entre eles aquele que o relatório do CIEx classificou como o comandante militar da Guerrilha, que destacava-se dos demais pela idade – estava com 61 anos. Maurício Grabois recebeu um tiro de fuzil no braço esquerdo, abaixou-se, puxou o revólver e de joelhos atirou até ser atingido mortalmente na cabeça. Apropriadamente, o oficial que presenciou a cena proclamou: “Foi a morte de um lutador”.

No início do dia 25 de dezembro de 1973, exatamente seis anos depois do desembarque de Maurício Grabois no Araguaia, dos 69 guerrilheiros enviados à região 41 estavam vivos, 20 mortos, 7 presos e um – João Carlos Borgeth, o “Paulo Paquetá” – havia fugido. No tiroteio contra a Comissão Militar naquela manhã de Natal, dos 15 que estavam no grupo dez sobreviveram. Os mortos foram, além de Maurício Grabois, seu genro Gilberto Olímpio Maria, Líbero Giancarlo Castiglia, o “Joca” – que chegou com ele e Elza Monnerat à região em 1967, e possivelmente foi preso ainda com vida –, Paulo Mendes Rodrigues e Guilherme Gomes Lund. Os demais guerrilheiros estavam acampados num local mais abaixo ou realizando tarefas nas redondezas.”

Para escrever a biografia, consultei muitas fontes, conversei demoradamente com pessoas que conviveram com Grabois e mergulhei fundo em seus escritos. A impressão que fiquei é de um homem à frente do seu tempo, de rara capacidade intelectual, de caráter sólido e totalmente envolvido com a causa que embala a humanidade desde tempos imemoriais: a luta pelo futuro. É daqueles que, como disse o escritor Monteiro Lobato na carta enviada a Caio Prado Júnior quando este estava na prisão, quanto mais a gente conhece, mais admira. “A regra é ao contrário: à proporção que a gente vai conhecendo um homem, vai se decepcionando – vendo-lhe as falhinhas...”, disse.

Formulação de Karl Marx

No caso de Grabois e de seus contemporâneos que reorganizaram o Partido Comunista do Brasil em 1943, na Conferência da Mantiqueira, e em 1962, aplica-se muito bem a formulação de Karl Marx, na obra O dezoito brumário de Luis Bonaparte, de que a tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. “Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”, diz ele.

Esse é ponto: Grabois se destaca nos noticiários por ter participado até à morte naquela que é considerada a mais dura linha de resistência à ditadura de 1964, a Guerrilha do Araguaia, mas o seu legado oprime o cérebro dos que procuram esvaziar as suas ideias. O conjunto da sua obra nem sempre é devidamente valorizado – uma opção da mídia que, sabemos muito bem, não tem o menor interesse em retratar o alcance da Guerrilha do Araguaia.

Chutes teóricos de Lucas Figueiredo

O que causa estranheza é a opção de CartaCapital de entregar esse assunto ao jornalista Lucas Figueiredo, que se revelou um desconhecedor das elementares informações que possibilitariam um juízo mais em conformidade com os fatos descritos no diário. Já no início da matéria, ele deduz que Grabois ilude-se sobre o ânimo das “massas”, que seriam “a miserável população local que quer cooptar para fazer a revolução comunista no Brasil”. Devaneio maior, impossível.

Bastaria raciocinar não mais que cinco minutos para saber que uma “revolução comunista” era o que menos estava em questão naquele movimento. Se for para ser mais rigoroso, é possível dizer que Lucas Figueiredo não se deu sequer ao trabalho de evitar chutes teóricos para qualificar a luta armada no Sul do Pará. Seria o caso de perguntar: onde ele leu, ouviu ou obteve tal informação? Se diz que Grabois e seus camaradas queriam “fazer a revolução comunista”, deveria explicar o que vem a ser isso. É o velho vício da mídia, de disparar preconceitos sem a menor preocupação.

O esperto jornalista

Para Lucas Figueiredo, “tudo conspirava contra os guerrilheiros”, mas o ingênuo Grabois “julgava que a situação era ‘favorável’”. O esperto jornalista diz que “fica patente” no diário “que, entre o sonho e a realidade, Grabois abraça o primeiro e renega a segunda, um gesto bonito para um idealista, mas fatal para um comandante militar”. Bem, quando o assunto chega a esse tom professoral, é preciso tomar cuidado. Como sabemos, professores nem sempre gostam de ser contestados. Mas alguns pontos são tão falseados que, mesmo com esse risco, não dá para não comentar.

Lucas Figueiredo descreve Grabois como um ser tão incapacitado intelectualmente que passava horas de seu dia a ouvir as transmissões da Rádio Tirana e acreditava nas notícias que chegavam “da distante e fechada Albânia comunista”. “Grabois chega a acreditar que não só ele e seus companheiros ouvem a propaganda vermelha da Tirana (sic), a ‘melhor fonte de informações’”, escreve. Aqui a desinformação assusta. Bastaria um rápida busca na internet para saber que o PCdoB montara um sofisticado sistema de transmissão de informações, via Rádio Tirana, que vinham exatamente de onde Grabois estava. Dizer, como faz Lucas Figueiredo, que Grabois tomava propaganda como informação é o cúmulo do descaso.

Uma confusão primária

Para o jornalista, a capacidade do comandante “de se entregar ao autoengano parece infinita”. “O diário mostra que ele confundia o apoio logístico dado pela população local, que realmente existiu durante um tempo, com a nunca efetivada adesão à luta”, diz ele. Lucas Figueiredo poderia ter assistido ao documentário Camponeses do Araguaia – a Guerrilha vista por dentro (veja aqui do lado, na coluna da esquerda), do qual participei como responsável pelas entrevistas, para ver que Grabois tinha razão. Deveria também ler os documentos sobre o caráter daquela resistência para saber que ninguém, muito menos o comandante, queria que a população aderisse “efetivamente” à luta. É uma confusão primária, sabe-se lá com qual propósito.

O texto se lança em outros devaneios de menor intensidade, como as descrições de Grabois sobre as dificuldades enfrentadas na mata e a busca incessante por comida. Aí Lucas Figueiredo voa tão baixo que é impossível alcançá-lo. “O diário revela um guerrilheiro obcecado por comida”, diz ele. Depois dessa triste passagem, ele volta a atacar Grabois, “um comandante rigoroso, sobretudo com os outros”.

Palavreado rasteiro, chulo

Aparece novamente um ser ingênuo e incapacitado a ponto de escrever regras como “garantir o autoabastecimento” e “levar a cabo ações armadas contra o inimigo”. “Espera que os estudantes e profissionais liberais de pouca idade levados pelo PCdoB para a mata sejam verdadeiros Rambos”, escreve. “E quando não o são, Grabois os chama de ‘problema’, ‘acovardado’, ‘pouco desenvolto’ ‘ingênuo’ e ‘um tanto lerdo de raciocínio’”, diz o jornalista, fazendo citações descontextualizadas e demonstrando que leu o diário de forma artificial.

Mas, segundo Lucas Figueiredo, Garbois era tão estulto que “quando se tratava de analisar a si próprio como comandante e o PCdoB como Estado-Maior da guerrilha, era generoso”. O palavreado é rasteiro, chulo. “Se os 69 combatentes ‘inexperientes’ – pelo menos isso ele admitia – seguissem à risca as ordens emanadas da cúpula vermelha e da inspiração do ‘mestre da guerra popular' Mao Tse Tung, seria ‘impossível’ perder a luta contra o rolo compressor liderado pelo Exército e apoiado pela Aeronáutica, Marinha, Polícia Federal e as PMS de três estados”, escreve. Quantos devaneios!

Dignidade humana personalizada

Para finalizar, Lucas Figueiredo atribui às chuvas as derrotas sofridas pela repressão em suas duas primeiras campanhas. E na operação final fica-se com a impressão de que os bandos comandados por Curió é que estavam certos. “Em fevereiro de 1973, às vésperas do início da campanha definitiva dos militares, (Grabois) aceita em sua mente (sic) o jogo do tudo ou nada. ‘No final, como nos filmes de mocinho, tudo acabará bem. Se não acabar... azar nosso’”, escreve ele.

Grabois não merecia isso tudo. Se pudesse dizer algo para o comandante da Guerrilha do Araguaia, utilizaria ideias e palavras de Monteiro Lobato na carta a Caio Prado Júnior. Cada ato seu o eleva mais. Morreu por ser digno, honesto em uma era de desonestos, corajoso nesse tempo de covardes, limpo em um século de sujeiras. Eu aqui, da minha insignificância, Grabois, te beijo a mão comovido – como se beijasse a mão da própria dignidade humana personalizada.

*Osvaldo Bertolino é jornalista, pesquisador da Fundação Maurício Grabois e editor do portal desta instituição (grabois.org.br).

Fonte: Blog O outro lado da notícia

Download Leia aqui a íntegra do diário de Maurício Grabois

sexta-feira, 22 de abril de 2011

141 anos do nascimento de Lenin.

Do blog de Zequinha Barreto


Companheirada hoje 22 abril completa 141 anos do nascimento de um dos homens mais brilhantes da política, um herói e guia do proletariado no caminho para a libertação, me referimo a Vladimir Ilyich Ulyanov, mais conhecido como Lenin.
Transformador do Partido Obrero Social Demócrata de Russia em Partido Comunista, como se denominava Marx y Engels tal como disse o proprio Lenin, fervoroso marxista que lutou enconadamente contra o reformismo, o revisionismo, o anarquismo e contra o “infantilismo da esquerda” com a mesma força que lutava contra a burguesía  e o capital; criador de aportes universais que complementam conceitos económicos do marxismo como o descubrimento de uma fase más atroz do capitalismo a  que chamou de imperialismo. Transformador Social Democrata Partido dos Trabalhadores da Rússia, Partido Comunista, como Marx e Engels eram conhecidos como disse Lênin, um fervoroso marxista, que lutou amargamente contra o reformismo, o revisionismo do anarquismo, e contra o "infantilismo da esquerda" com o mesmo força que foi contra a burguesia e criador contribuições de capital complementar universal conceitos econômicos do marxismo como a descoberta de uma fase terrível do capitalismo, que ele chamou de imperialismo.
Lenin foi líder e condutor da Revolução de Outubro o Revolución Bolchevique de 1.917 na Russia que tirou do poder o governo reformista da burguesía e pequena burguesía que havía derrotado varios meses antes, revolução que permitiu construir um estado socialista poderoso na linha  do marxismo e de experiencias práticas de exercicio de poder pela classe trabalhadora como a Comuna de Paris de 1.871 e que pouco tempo depois se transforou em  Unión de Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS); Lenin é o fundador da  III Internacional que se opos a  guerra imperialista mundial do momento (I guerra mundial). Lênin era o líder e maestro da Revolução de Outubro ou Revolução Bolchevique de 1917 na Rússia, que transfere o poder ao governo reformista da burguesia e a pequena burguesia que haviam derrubado  meses antes de uma revolução que permitiu a construção de um poderoso Estado socialista, sob a orientação do Marxismo e experiências práticas de exercício do poder pela classe operária como a Comuna de Paris de 1871 e logo depois se tornou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), Lenin também é fundador da Terceira Internacional, que se opôs a guerra imperialista mundial.
Entre essas contribuições são essenciais para examinar agora as características que fizeram Lenin sobre o imperialismo: a fase do capitalismo monopolista, a fusão do capital bancário e o capital industrial para criar o capital e a burguesia financeira, as exportações do capital sobre a exportação de bens , a formação de associações de capitalistas-monopolistas que são donos do mundo (corporações transnacionais), o emprego do colonialismo territorial dos países poderosos para satisfazer as suas necessidades saque das matérias-primas.
. Os homens e mulheres trabalhadores, camponeses, estudantes, intelectuais, revolucionários e amantes da paz, progresso e dignidade dos seres humanos tem um herói  proporções gigantescas de Lenin a 141 anos após seu nascimento continua a guiar a revolução antes que estremecerá a burguesia.

¡Viva Lenin! Viva Lênin!

Quatro notas latinoamericanas


Uma epopéia latino-americana: soldados e patriotas cubanos, sob o comando do então jovem Fidel Castro, derrotaram os invasores em 66 horas. Foto: Reprodução.

1 – Praia Girón: Primeira derrota militar dos EUA na América Latina

Na madrugada de 15/abril/1961, há 50 anos – passados então dois anos e pouco do triunfo da Revolução Cubana -, aviões camuflados como se fossem cubanos bombardearam aeroportos militares da Ilha e, logo em seguida, tropas mercenárias sob orientação do Pentágono e da CIA (serviço de inteligência) desembarcaram na Baía de Cochinos. Seriam “insurgentes cubanos” retomando o domínio de Cuba, conforme informavam entusiasmadas as agências de notícias.
A farsa durou pouco. Em 66 horas, os militares e patriotas cubanos, sob o comando direto do então jovem Fidel Castro, derrotaram os invasores e a grande maioria se rendeu. O combate decisivo deu-se no dia 19 na Praia Girón, foi a primeira derrota militar do império estadunidense na América Latina, uma epopéia latino-americana.
O sonho do governo norte-americano era reconhecer de imediato o “governo provisório” a ser declarado pelos invasores numa “zona libertada” e, com respaldo da então submissa OEA (Organização dos Estados Americanos), prestar ajuda militar aos “rebeldes” cubanos. Eram os tempos do glamoroso John Kennedy alimentando os sonhos de mudança em Cuba, ou seja, a volta do neocolonialismo. Hoje, mais de meio século depois, continuam tentando e sonhando…
(Pena que façanhas como essa não possam chegar ao conhecimento do povo brasileiro de forma mais ampla, devido à censura dos monopólios privados de comunicação).

2 – Senado do Uruguai derruba anistia aos torturadores

Foi um parto traumático. Depois de uma polêmica imensa, o Senado do Uruguai decidiu, no dia 12/abril, pelo apertado escore de 16 a 15, derrubar a chamada Lei de Caducidade, que durante 25 anos garantiu a vigência de anistia aos repressores da ditadura uruguaia (1973-1985), impedindo que fossem a julgamento acusados de crimes de lesa humanidade – sequestros, torturas, desaparições e assassinatos de opositores políticos. A decisão terá que passar ainda na Câmara dos Deputados e ser sancionada pela Presidência.
A Lei de Caducidade estava respaldada por dois referendos populares, isto é, tinha sido confirmada duas vezes pelo eleitorado do país, o que sinaliza o grau de enfrentamento em torno da decisão do Senado. O senador Fernández Huidobro, ex-tupamaro, surpreendeu ao anunciar que votou com a governista Frente Ampla por disciplina partidária, seguindo a posição da maioria, mas renunciaria a seu mandato, lembrando que a maioria do povo uruguaio, nos dois plebiscitos, aprovou a anistia aos repressores.
Chegou-se a prever o veto presidencial, no caso da aprovação na Câmara, mas tal hipótese foi descartada pelo presidente José Mujica, também um ex-guerrilheiro, eleito pela mesma Frente Ampla que patrocinou a derrubada da lei.

3 – Os “10 mandamentos” da segurança argentina
Ilustração Página/12.

O jornal Página/12 (edição de 29/março) criou o que chamou os “10 mandamentos” da segurança do governo da Argentina, com base na orientação da ministra da Segurança, Nilda Garré, no que diz respeito à atuação das forças policiais diante dos chamados “conflitos sociais”, ou seja, greve de trabalhadores, protestos de caráter sindical, ocupação de terras, ocupação de prédios na luta por moradia popular, fechamento de ruas, manifestações populares, etc. Em síntese, diálogo e não repressão policial, dentro da ótica de defesa dos Direitos Humanos, de acordo com a política oficial do governo federal. (No “IX mandamento”, “funcionário político” quer dizer uma pessoa designada pelas autoridades dos órgãos de segurança).
I – Não portarás armas de foto;
II – Não usarás pistolas lança-gases;
III – Só usarás balas de borracha para defesa;
IV – Deverás estar identificado;
V – No utilizarás veículos sem identificação;
VI – Garantirás a livre cobertura jornalística;
VII – Não impedirás a tomada de imagens;
VIII – A intervenção policial será progressiva;
IX – Um funcionário político coordenará as ações;
X – Antes de tudo, dialogarás.

4 – Correa: SIP quer “mentir, caluniar e ficar na impunidade”

Declarações no sábado, dia 16, em seu programa de rádio, do presidente do Equador, Rafael Correa, um dos presidentes da América Latina que vivem sob bombardeio cerrado dos monopólios dos meios privados de comunicação:
“A SIP (Sociedade Interamericana de “Prensa” – Imprensa), apesar de ter nome bonito, não representa nem os jornalistas nem os cidadãos, e sim os donos dos principais jornais da América (…) É o sindicato dos donos de jornais, empresários que produzem em vez de batatas, informação, mas que perseguem uma finalidade, lucro, dinheiro (…) Esses senhores, que são empresários como quaisquer outros, por manejar meios de comunicação, se crêem acima do bem e do mal”. Enfatizou que não cederá ante a lógica do poder dos meios de comunicação, que pretendem colocar-se acima da lei, “mentir, caluniar e ficar na impunidade”. (Com base em matéria do sítio da TV Telesur).

(*) Jadson Oliveira é jornalista baiano e vive viajando pelo Brasil, América Latina e Caribe. Atualmente está em Buenos Aires. Mantém o blog Evidentemente (blogdejadson.blogspot.com).

Caminhos para a descolonização da América Latina


Por Elaine Tavares - jornalista - Revista Pobres & Nojentas

A sétima edição das Jornadas Bolivarianas discutiu este ano um tema árduo e muito pouco palatável: a presença imperialista na cultura latino-americana. A idéia foi dar um panorama de como o império vai consolidando sua forma de ser na capilaridade da vida cotidiana através da escola, dos meios de comunicação, da vestimenta, da comida, da indústria do entretenimento, da moda etc... Como um conta-gotas, misturando-se aos diversos aspectos da vida cultural, grande parte das vezes sem usar a força bruta, o modo de vida do império toma conta das gentes, até parecer ser natural esquecer os mitos locais, os pratos típicos, a maneira de viver, as brincadeiras, e até a língua. A cultura, expressão material da realidade humana, na América Latina, segue cativa do colonialismo e a tarefa de descolonização mostra-se, às vezes, grande demais, para os países que continuam sem uma alternativa política nacional/popular. Nestas Jornadas, discutiu-se a situação dramática da América Central, as tentativas de mudança na América do Sul e a proposta ainda solitária de Cuba, que desde há 50 anos busca a criação de um pensamento próprio, baseado na cultura nacional. O totalmente novo ficou por conta da perspectiva indígena, que desde os anos 90, assoma na América Latina, recuperando elementos chave de sua cultura ancestral.
Poucas pessoas desconhecem a força da cultura estadunidense na vida da América Latina. Desde que proclamaram sua independência da Inglaterra, em 1776, os Estados Unidos da América do Norte decidiram trilhar o caminho da rapina e da dominação. Como foi o primeiro país a realizar o feito de se libertar da colônia em todo o território do “mundo novo”, nada poderia ser mais natural que os demais povos o vissem como um exemplo a ser seguido. Mas, o que veio logo depois já deveria ter servido como um sinal de que as famosas “13 colônias”, agora livres e unificadas, também iriam arvorar-se a disputar o cargo de donas do mundo. A doutrina do “destino manifesto” - que tinha por princípio defender a idéia de que os colonos norte-americanos de origem calvinista teriam sido eleitos por Deus para comandar todos os povos da terra, com a missão civilizatória de ocupar os territórios situados entre os oceanos Atlântico e Pacífico – levou à trágica conquista do Oeste, com a destruição de nações indígenas inteiras. O massacre dos povos locais expandiu o território e aguçou a pretensão de fazer daquele país um império. Naqueles dias, os governantes já faziam uso de armas químicas como bem mostra essa célebre frase do presidente Benjamin Franklin "Se faz parte dos desígnios da Providência extirpar esses selvagens para abrir espaço aos cultivadores da terra, parece-me oportuno que o rum seja o instrumento apropriado. Ele já aniquilou todas as tribos que antes habitavam a costa". E assim foi.
Poucos anos depois da independência, já no século XIX, outra doutrina expansionista iria ganhar corpo, a doutrina Monroe, que pregava a idéia de a “América para os americanos”. No discurso, os governantes estadunidenses afirmavam a necessidade da independência das terras latino-americanas, mas, na verdade, tudo o que queriam era anexá-las aos seu círculo de poder, já configurado como imperialismo.
Assim, em 1820, quando a América Latina dava consequência ao sonho de libertação, o governo estadunidense invadia o que hoje é o Texas, ocupando também a Califórnia, o Novo México, Nevada, Arizona e Utah. Com esta segunda incursão expansionista (a primeira foi a que anexou os territórios indígenas do centro do país) roubava grande parte das terras mexicanas, conformando pela força das armas e da destruição o seu atual território. Nesse sentido, em 1850 os EUA já eram um império, no modo de operar e na política de disseminação da cultura de dominação.
Terminada a operação de ocupação das terras mexicanas, os dirigentes do país se voltaram para a América Latina recém liberada. As guerras de independência já tinham sido travadas e os estados-nação começavam a formar-se. Era necessário, na visão dos estadunidenses, que alguém ficasse no comando e esse alguém eram eles, coisa já definida por deus no destino manifesto. É a Nicarágua, em 1855, o primeiro país a ser ocupado pelas tropas do já formado império, pelas mãos do mercenário William Walker que desembarca e se faz presidente, distribuindo terras aos fazendeiros do sul dos EUA. Depois, em 1898, é a vez de Cuba, tirada da Espanha e transformada em quintal estadunidense, um protetorado que durou até 1933. No mesmo ano de 98, o Havaí também é ocupado, sendo colônia até hoje.
Quando o século XX nasceu, trouxe com ele a sede de expansão do império estadunidense, que nunca mais parou. Intrigas muito bem urdidas lograram a separação do Panamá da Colômbia e lá ficou o pequeno país, com a riqueza de um canal ligando os dois oceanos, nas mãos do império. Como bem lembrou Rafael Cuevas Molina, da Universidade Central da Costa Rica, presente nas Jornadas Bolivarianas, a América Central passou a ser um espaço estratégico para os Estados Unidos e desde então, nunca mais conseguiu caminhar com as próprias pernas. A cada tentativa de garantir soberania, os países eram invadidos e submetidos aos desejos dos governantes estadunidenses.
Pouco depois da Primeira Guerra Mundial, num mundo devastado pelo conflito, os Estados Unidos iniciaram outra estratégia de dominação na América Latina. A proposta era conquistar corações e mentes pela via da cultura. Enriquecido pela indústria da guerra, os EUA deram linha para a indústria cultural. Inicia-se um período de ouro no cinema, no qual os filmes eram produzidos para propagandear o “modo americano de ser”. O mito do mundo livre, das oportunidades para todos, da democracia, vai se construindo e invadindo a América Latina. O círculo do far west (corrida para o oeste) demoniza os índios, transformando-os em assassinos sanguinários, enquanto os cowboys (vaqueiros) era pintados como heróis. A completa inversão de valores. Em toda América Latina esses produtos culturais se popularizaram e em pouco tempo as crianças sabiam mais de John Wayne do que de seus vizinhos. Estava aberta a veia da dominação “limpa”. Igualmente, os açucarados filmes românticos mostravam o jeito de ser da sociedade estadunidense, gravando nas cabeças latino-americanas o desejo de ser como aqueles heróis que infestavam os cinemas de todos os países. No campo da comunicação de massa, o rádio também reproduzia a propaganda do “mundo livre” e com ela, introduzia nos países as megaempresas que iriam dominar economicamente cada pedaço desse chão. No Brasil, o repórter Esso, noticiário diário, era um fenômeno de audiência. Só o que se noticiava ali, sob a chancela da Esso, era considerado verdade.
E é essa forma de dominação - que ocorre num terreno aparentemente invisível - que as Jornadas Bolivarianas se propuseram discutir. Compreender qual o alcance desta política ainda hoje nos países latino-americanos e encontrar as brechas para sair do atoleiro da dominação cultural.
 
A América Central
 
Na franja de terra que separa as Américas do Sul e do Norte, a vida nunca foi fácil, desde a dominação espanhola. Depois, com a influência estadunidense, as condições de vida das gentes só pioraram. Sem os “patrões” europeus, os países da América Central e do Caribe passaram a ser dominados pelas grandes empresas estadunidenses, principalmente as chamadas bananeiras. No controle da economia, elas ainda tinham pleno domínio da política e elegiam e derrubavam governos ao seu bel prazer. Eram um estado dentro do estado. Assim, as regiões que antes eram espaços das culturas Caribe, Chicha, Maya, Kuna e outras, passam a receber mão de obra escrava vinda da Jamaica, já inoculada com a cultura britânica, a qual tinha absorvido com a colonização. Com o enclave bananeiro, o modo de vida que passou a ser hegemônico foi o estadunidense. “O planejamento urbano, a religião, a cultura, a arquitetura, a língua, tudo estava ligado com a vida nos Estados Unidos”, diz o professor da Universidade Nacional da Costa Rica, Rafael Cuevas Molina.
Segundo ele foi Augusto César Sandino o primeiro a se insurgir contra essa dominação que já extrapolava o campo do território e se espraiava pela via da cultura. Quando no início do século XX os EUA invadem outra vez a Nicarágua para tomar conta do canal e desde ali frear a revolução mexicana, Sandino aparece com seu “pequeno exército louco”, dando vida a um nacionalismo latino-americanista e antiimperialista, capaz de mostrar que seria possível a vida sem as megaempresas e sem o domínio do mal nominado “Tio Sam” (já que irmão de nossa pátria ele não, como dizia Alí Primera). E é essa idéia que vai incendiar as lutas populares nos anos 60 por toda a América Central com o surgimento dos movimentos armados de libertação nacional.
O resultado de décadas de lutas insurgentes, praticamente todas derrotadas, é o que se vê na realidade atual. A constituição de um Estado terrorista, que torna naturalizada a cultura da violência e da discriminação. Os anos 80, que marcaram o derrocamento das propostas revolucionárias, ainda trouxeram consigo as reformas neoliberais, esgarçando um pouco mais o frágil tecido social. O resultado disso é uma identidade cultural esfacelada, o que torna ainda mais fácil a dominação. E, se a bananeiras já não tem mais poder na América Central, o espaço foi tomado pelas empresas maquiladoras, que seguem trabalhando no mesmo velho ritmo: trabalho precário, produção de coisas que as gentes jamais usarão e esgotamento total das pessoas. O que sobra é a violência, a pobreza, o crime organizado e as gangues juvenis. Sem horizontes de futuro, os jovens ou se matam ou migram. E, de um jeito ou de outro vão se transformando em uma cópia mal feita dos jovens empobrecidos do centro do poder. “Na América Central, hoje, os ricos sonham com Nova Iorque, os de classe média sonham com Miami e os pobres com o que vêem na TV. Isso é uma mostra segura de que há um mal estar cultural. Todos, de alguma forma, imitam a vida dos EUA”.
 
A comunicação é a via de transmissão do imperialismo
 
Se nos anos 30 os EUA iniciaram sua corrida às mentes do povo latino-americano pode-se dizer que isso segue sendo feito num ritmo frenético. Usando a velha tática da repetição, a indústria cultural estadunidense continua hegemônica em praticamente todos os países. O cinema exporta o modo estadunidense de ser, os programas de televisão, as séries, os desenhos animados, as teorias culturais, os movimentos artísticos, a estética, a filosofia. Tudo é colonizado. E, os meios de comunicação bombardeiam o cérebro das pessoas diuturnamente. Romper essa dominação colonial requer mudanças drásticas na vida dos países, ensina o jornalista uriguaio/venezuelano Aram Aharonian, um dos formuladores da proposta da Telesur – um canal de televisão latino-americano.
Para Aram é impossível mudar qualquer coisa nos países que vivem dominados culturalmente, se não houver primeiro uma mudança radical de paradigma. “Há mais de 40 anos que não temos uma teoria nova na comunicação. Tudo copiamos dos gringos”. Essa formulação teórica tem de ser própria, fruto da realidade local. Já basta de pensar com a cabeça mergulhada num mundo que não é nosso.
Mas, fazer isso tampouco é fácil, uma vez que o império, ao ser confrontado com novas teorias e paradigmas usa de todas as armas para absorver o impacto, usando-as para contra-atacar. “Nós pudemos ver isso quando na Telesur colocamos nossos apresentadores de maneira bem informal, como são os latino-americanos. Não passaram dois meses e lá estava a CNN em espanhol copiando nossa forma de fazer, e usando isso contra nós”. Assim, nossa tarefa parece ser cada dia mais desafiadora.
Aharonian adverte que se no mundo da arte, da cultura e da comunicação estamos cada dia mais enfeitiçados pelo sistema hegemônico, a única saída parece ser liberar os 1.400 cm cúbicos de cérebro que cada um tem. É a capacidade de pensar com a própria cabeça que definirá o futuro. Aram mostrou que mesmo a comunicação dita alternativa, que fez sucesso em determinado momento, acabou se domesticando. “As rádios comunitárias se profissionalizaram e não são mais o espaço popular, os sindicatos se conformem em ter apenas um boletim, a palavra está sequestrada pelas empresas. Estamos cegos de nós mesmos. Não sabemos quem somos e não cremos em nós mesmos. É isso que precisa mudar”.
Uma comunicação libertadora precisa ter o compromisso de manejar ela mesma a agenda informativa. Os espaços alternativos não podem ser marginais, precisam almejar ao universal. O grande desafio é deixar de copiar conteúdos e formas. Criar o próprio estilo e a partir daí criar redes de comunicação que possam chegar ao maior número de pessoas. “Nós vivemos a síndrome da praça sitiada. Ocorre que ela não está mais sitiada, nós podemos romper o sítio. Mas, para isso, temos de criar nosso próprio paradigma. Já basta de choramingar e de gritar palavras de ordem. Vamos produzir conteúdo de qualidade e formar redes. Assim, superaremos a dominação cultural”.
No campo do cinema a ordem parece ser a mesma. Sérgio Santeiro, cineasta brasileiro que bebe na proposta estética e filosófica de Glauber Rocha - como se pode ver no seu deslumbrante curta metragem “Paixão” (http://youtu.be/AS3Oep2cCsw ) - desafia a se constituir uma estética própria, fora dos padrões “roliudianos”, que dêem conta da realidade latino-americana e que provoquem o desconforto gerador da mudança. Glauber, de alguma forma, conseguiu isso no seu tempo, mas a nova geração precisa encontrar outro caminho, original. Outra estética para vencer a lógica da violência e do medo imposta pela arte cinematográfica estadunidense. Igualmente a proposta do pensamento crítico e próprio, na senda do ensinamento de Simón Rodriguez, que pregava como um louco a máxima: “Basta de imitar. Há que criar”.
 
A proposta cubana
 
Faz mais de 50 anos que a pequena ilha caribenha, Cuba, busca um caminho original. Até o triunfo da revolução, a mídia, comandada pelos EUA, confundia o mundo e os cubanos sobre o que passava no país. Na ilha se podia viver em inglês, como lembrou o vice-ministro da Cultura, Fernando Rojas. Depois não. A revolução, pela proposta de liberdade que carregava, foi definindo uma identidade que até então só aparecia nos escritos de José Martí. Hoje, depois de acertos e erros, a cultura cubana segue rechaçando o neocolonialismo que se expressa na invasão do ar via televisão desde Miami, mas busca estabelecer uma relação dialógica com a cultura dos EUA. “Nós acreditamos que é preciso conhecer muito bem essa cultura para podermos conformar um anti-imperialismo. Mas, a proposta é enfrentar a colonização cultural com o melhor do pensamento socialista, fazendo assomar a rumba, o guagancon e o balé nacional de Cuba”.
Segundo Fernando, a ilha de Cuba já superou os tempos em que se buscava importar a experiência socialista do leste. Atualmente, incorporados os elementos da afro descendência, dos indígenas, dos descendentes dos colonizadores, as forças políticas do campo e a cultura popular urbana, tem-se a cultura cubana, tomada por uma liderança coletiva anticolonialista e anti-imperialista. “Em Cuba há uma questão que nos parece vital. Todas as pessoas têm acesso à cultura. Nós não dizemos: crê. Dizemos: lê. E, com isso, os cubanos recebem gratuitamente o melhor da cultura, inclusive a dos EUA. Fundamos escolas de arte em todo o país, na montanha e na capital. E esse acaba sendo nosso desafio. Afinal, temos de pensar em como sustentar isso economicamente”.
Em Cuba as políticas culturais significam esforços estatais e públicos. Vem daí a Casa das Américas, a escola de Cinema e outras milhares de instituições de cultura de base. “Como tudo isso custa, agora andamos pensando em cobrar do público para ver um teatro, por exemplo. Mas é coisa simbólica, nada comparada ao mundo capitalista no qual é praticamente impossível aos trabalhadores freqüentarem o teatro”.
A polêmica em Cuba agora passa pela discussão do direito de autor. Segundo Fernando, existem manifestações da cultura popular que precisam de proteção e que não podem ser apropriadas por este ou aquele. São construções coletivas. “Mas esse ainda é um debate ainda inicial”. Para o vice-ministro, a originalidade cubana está no fato de o governo ter uma política cultural que possibilita a liberdade criativa e a garantia do acesso ilimitado à cultura. É uma aposta na qualidade da vida das pessoas, pois, com isso, elas se tornam pessoas melhores. Ele ressaltou que Cuba vive sob bloqueio econômico, mas não cultural. Todo o lixo produzido no império chega às casas cubanas e, por isso, esse campo de batalha é tão importante. Vencer aí é fazer meio caminho no rumo da sustentação da nova sociedade.
 
O paradigma andino
 
Se a questão do enfrentamento do império passa pelo desafio de sermos originais, o mundo indígena tem muito a contribuir para esse debate. Foi o que mostrou a socióloga aymara Silvia Rivera Cusicanqui na sua exposição. Segundo ela os índios há muito que deixaram de ser estudo de caso e sua cosmovisão assoma como uma proposta de vida absolutamente diferente da que foi pregada pelo mundo ocidental, europeu. Muito antes da invasão já havia muitas culturas aqui nestas terras, com histórias milenares, que, mesmo sob a dominação, mantiveram-se vivas e hoje saem da obscuridade, oferecendo novas formas de viver no mundo. Sua originalidade consiste justamente na diferença radical. Enquanto a filosofia ocidental busca o uno, o mundo andino, por exemplo, trabalha com a idéia do terceiro incluído: ou seja, os contrários podem sim conviver e se encontrar.
Silvia defende a idéia de que a cultura é um sistema de significados que não tem como passar pelo mercado. É o imaginário, o desejo das comunidades, mas ao mesmo tempo é o que se torna real pela força da arte humana. Segundo ela, na Bolívia, a esquerda não tem falado em imperialismo ao discutir as mazelas do tempo presente. “Falam em pós-colonialismo, mais encobrindo do que revelando o que está por trás de tudo isso”. Ela conta que os povos indígenas da Bolívia sabem muito bem que a identidade naquele país é uma questão política de primeira grandeza. E tanto que conforme são os dirigentes mudam as cifras sobre a porcentagem de indígenas no país. Já houve momentos em que a porcentagem foi de 19%, pulando no ano seguinte para 68%. O trágico é que o racismo contra o índio é algo internalizado também na esquerda, até porque suas fileiras são formadas por gente que tem o pensamento colonizado também.
Nos Andes, as comunidades vivem sob outro paradigma, fora da dualidade maniqueísta ocidental. “Para nós é fundamental o conflito das dualidades, porque isso é a energia que nos move”. Entre os indígenas das comunidades andinas a cultura é parte da forma de organizar a vida. Nos tempos mais remotos, mesmo as obras públicas sempre eram precedidas de grandes festas, de encontros com dança, música, imagens e gestos, tudo recheado do simbólico e do sagrado. Mesmo a religião é múltipla, com deuses de muitas faces, que são anjos e demônios ao mesmo tempo, porque é esse conflito que move a vida. Coisas bastante difíceis de serem assimiladas pelos cérebros formatados na mentalidade ocidental. Palavras desconcertantes para os 1.400 cm cúbicos de racionalidade instrumental. “Para nós o futuro é algo que está atrás, porque não sabemos dele, o passado é algo que está à frente, pois dele temos conhecimento. E o presente é o que de fato importa”. Para Silvia a tarefa de descolonização dos estados na América Latina é árdua e difícil, mas esta é uma batalha que precisa ser travada. Derrubar o colonialismo, o racismo, o preconceito. No território que serpenteia junto à cordilheira dos Andes, as comunidades estão descobrindo suas potencialidades, estão recuperando suas formas de organizar a vida. “É bobagem pensar que não podemos ser modernos. Podemos sim. Comunitários e modernos. Temos nossos paradigmas e nossa cultura. Mas, o fato é que nós vimos o mundo ao contrário. Nossa lógica é “al revés”. Isso precisa ser entendido e respeitado”.
 
Desafios do presente
 
A experiência indígena pode parecer desconcertante num primeiro momento, já que coloca o mundo de pernas para o ar. Mas a idéia de convivência dos contrários parece ser a única possível num mundo onde as diferenças se afirmam cada vez mais. Transitar neste território conflituoso e desde aí criar o novo é também desafiador. A nova sociedade sonhada pela racionalidade marxista precisa levar em conta esse paradigma indígena, precisa incorporar as demandas destas comunidades que assomam cada dia com mais força. Desconhecer esse mundo é apostar no fracasso. Assim já foi com Simón Bolívar, quando subestimou a força dos lañeros venezuelanos e foi derrotado por eles. Só depois de voltar do Haiti, com os ensinamentos dos revolucionários negros sobre a necessidade de incorporar a cultura local é que Bolívar logrou a confiança dos indígenas e, com eles, abriu caminhos para a libertação. Foi assim com Artigas, na Banda Oriental, que, conhecendo e respeitando a cosmovisão Charrua, trouxe os indígenas para fazer real o sonho da liberdade. Tanto Bolívar quanto Artigas respeitaram de verdade a forma de viver dos indígenas, não fizeram mero uso instrumental, como se vê por aí. Esse pode ser o segredo.
Em toda a América Latina vive e pulsa uma Abya Yala, um espaço de propostas que exigem mudanças radicais na forma de raciocinar sobre a realidade. Outra episteme, outra forma de conhecer. Não necessariamente precisa-se aceitar toda a cosmovisão que vem destes povos milenares aqui nestas terras, mas fundamentalmente há que se incorporar essas formas de ver a realidade. Os indígenas querem estar no mundo, fazer parte da planetização da vida boa e bonita. Mas eles precisam ser compreendidos na sua cultura. Assim, no conflito destes contrários, mundo indígena X mundo colonizado, talvez se possa chegar ao novo tão esperado. Uma América Latina descolonizada, livre do imperialismo, aberta para o presente.

Hermeto Paschoal


HERMETO PASCHOAL – A MUSICA LIVRE DE HERMETO PASCHOAL – 1973Biografia:

Extraido do sitio Virtual Musical Box
 
Nascido em Olho d´Água e criado em Lagoa da Canoa, na época município de Arapiraca, estado de Alagoas, em 22 de junho de 1936, Hermeto Pascoal é filho de Vergelina Eulália de Oliveira (dona Divina) e Pascoal José da Costa (seu Pascoal). Foi no seu alistamento militar que colocaram o pré nome de seu pai como seu sobrenome.
Os sons da natureza o fascinaram desde pequeno. A partir de um cano de mamona de "gerimum" (abóbora), fazia um pífano e ficava tocando para os passarinhos. Ao ir para a lagoa, passava horas tocando com a água. O que sobrava de material do seu avô ferreiro, ele pendurava num varal e ficava tirando sons. Até o 8 baixos de seu pai, de sete para oito anos, ele resolveu experimentar e não parou mais. Dessa forma, passou a tocar com seu irmão mais velho José Neto, em forrós e festas de casamento, revezando-se com ele no 8 baixos e no pandeiro.
Mudou-se para Recife em 1950, e foi para a Rádio Tamandaré. De lá, logo foi convidado, com a ajuda do Sivuca (sanfoneiro já de sucesso), para integrar a Rádio Jornal do Commercio, onde José Neto já estava. Formaram o trio "O Mundo Pegando Fogo" que pegou fogo mesmo já na primeira vez em que tocaram, pois, segundo Hermeto, ele e seu irmão estavam apenas começando a tocar sanfona, ou seja, eles só tocavam mesmo 8 baixos até então.
Porém, por não querer tocar pandeiro e sim sanfona, foi mandado para a Rádio Difusora de Caruaru, como refugo, pelo diretor da Rádio Jornal do Commercio, o qual disse-lhe que "não dava para música". Ficou nessa rádio em torno de três anos. Quando Sivuca passou por lá, fez muitos elogios sobre o Hermeto ao diretor dessa rádio, o Luis Torres, e Hermeto, por conta disso, logo voltou para a Rádio Jornal do Commercio, em Pernambuco, ganhando o que havia pedido, a convite da mesma pessoa que o tinha mandado embora. Ali, em 1954, casou-se com Ilza da Silva, com quem viveu 46 anos e teve seis filhos: Jorge, Fabio, Flávia, Fátima, Fabiula e Flávio. Foi nessa época também que descobriu o piano, a partir de um convite do guitarrista Heraldo do Monte, para tocar na Boate Delfim Verde. Dali, foi para João Pessoa, PB, onde ficou quase um ano tocando na Orquestra Tabajara, do maestro Gomes.
Em 1958, mudou-se para o Rio para tocar sanfona no Regional de Pernambuco do Pandeiro (na Rádio Mauá) e, em seguida, piano no conjunto e na boate do violinista Fafá Lemos e, em seguida, no conjunto do Maestro Copinha (flautista e saxofonista), no Hotel Excelsior.
Atraído pelo mercado de trabalho, transferiu-se para São Paulo em 1961, tocando em diversas casas noturnas. Depois de um tempo, formou, juntamente com Papudinho no trompete, Edilson na bateria e Azeitona no baixo, o grupo SOM QUATRO. Foi aí que começou a tocar flauta. Com esse grupo gravou um lp. Em seguida, integrou o SAMBRASA TRIO, com Cleiber no baixo e Airto Moreira na bateria. No disco do Sambrasa Trio, Hermeto já registrou sua música "Coalhada".



Com o florescimento dos programas musicais de TV, criaram o QUARTETO NOVO, em 1966, sendo Hermeto no piano e flauta, Heraldo do Monte na viola e guitarra, Théo de Barros no baixo e violão e Airto Moreira na bateria e percussão. O grupo inovou com sua sonoridade refinada e riqueza harmônica, participando dos melhores festivais de música e programas da TV Record, representando o melhor da nossa música. Nessa época, venceram um dos festivais com "Ponteio", de Edu Lobo. Além disso, Hermeto ganhou várias vezes como arranjador. No ano seguinte gravou o LP QUARTETO NOVO, pela Odeon, onde registrou suas composições O OVO e CANTO GERAL.
Em 1969, a convite de Flora Purim e Airto Moreira, viajou para os EUA e gravou com eles 2 LPs, atuando como compositor, arranjador e instrumentista. Nessa época, conheceu Miles Davis e gravou com ele duas músicas suas: "Nem Um Talvez" e "Igrejinha". De volta ao Brasil, gravou o lp "A MÚSICA LIVRE DE HERMETO PASCOAL", com seu primeiro grupo, em 1973.
Em 1976, retornou aos EUA, gravou o "SLAVES MASS" e realizou mais alguns trabalhos com Airto e Flora.
Com o nome já reconhecido pelo talento, pela qualidade e por sua criatividade, tornou-se a atração de diversos eventos importantes, como o I Festival Internacional de Jazz, em 1978, em São Paulo. No ano seguinte, participou do Festival de Montreux, na Suíça, quando é editado o álbum duplo HERMETO PASCOAL AO VIVO, e seguiu para Tóquio, onde participou do LIVE UNDER THE SKY. Lançou o CÉREBRO MAGNÉTICO em 1980 e multiplica suas apresentações pela Europa.

HERMETO PASCHOAL – LIVE MONTREAUX JAZZ FESTIVAL – 1979

Em 1982, lançou, pela gravadora Som da Gente, o lp HERMETO PASCOAL& GRUPO. Em 1984, pelo mesmo selo, gravou o LAGOA DA CANOA, MUNICÍPIO ARAPIRACA, onde registrou pela primeira vez o SOM DA AURA com os locutores esportivos Osmar Santos (Tiruliru) e José Carlos Araújo (Parou, parou, parou). Esse disco também foi em homenagem à sua cidade, que se elevou, então, à categoria de município e conferiu-lhe o título de Cidadão Honorário. Em 1986, o BRASIL UNIVERSO, também com seu grupo.
Compôs ainda a SINFONIA EM QUADRINHOS, apresentando-se com a Orquestra Jovem de São Paulo. Em seguida, foi para Kopenhagen, onde lançou a SUITE PIXITOTINHA, que foi executada pela Orquestra Sinfônica local, em concerto transmitido, via rádio, para toda a Europa.
Em 1987, lançou mais um LP: o SÓ NÃO TOCA QUEM NÃO QUER, através do qual o músico homenageia jornalistas e radialistas, como reconhecimento pelo seu apoio ao longo da carreira. Em 1989, fez seu primeiro disco de piano solo, o lp duplo POR DIFERENTES CAMINHOS.
Em 1992, já pela Philips, gravou com seu grupo o FESTA DOS DEUSES. Depois do lançamento, viajou à Europa para uma série de concertos na Alemanha, Suíça. Dinamarca, Inglaterra e Portugal.
Em março de 1995, apresentou uma Sinfonia no Parque lúdico do Sesc Itaquera, em SP, utilizando os gigantescos instrumentos musicais do parque. No mesmo ano foi a convite da Unicef para Rosário, Argentina, onde apresentou-se para 2.000 crianças, sendo que seu grupo entrou para tocar dentro da piscina montada no palco a pedido dele.
De 23 de junho de 1996 a 22 de junho de 1997, registrou uma composição por dia, onde quer que estivesse. Essas composições fazem parte do CALENDÁRIO DO SOM, lançado em 1999 pela editora Senac/ SP.
Em 1999 lançou o CD EU E ELES, primeiro disco do selo Mec, no Rio de Janeiro.
Nesse CD produzido por seu filho Fábio Pascoal, Hermeto toca todos os instrumentos.
Em 2003, lançou, com seu grupo, o cd MUNDO VERDE ESPERANÇA, também produzido por Fábio.

Em outubro de 2002, quando foi dar um workshop em Londrina, PR, conheceu a cantora Aline Morena e convidou-a para dar uma canja no dia seguinte com o seu grupo em Maringá, PR. Em seguida ela foi para o Rio com ele e, no final de 2003, Hermeto passou a residir em Curitiba, PR, com ela. Assim, passou a dar-lhe noções de viola caipira, piano e percussão e, em março de 2004 estreou no Sesc Vila Mariana a sua mais nova formação: o duo "CHIMARRÃO COM RAPADURA" (gaúcha com Alagoano), com Aline Morena.
Em abril de 2004, embarcou para Londres para o terceiro concerto com a Big Band local, sendo que o primeiro já havia sido considerado o SHOW DA DÉCADA. Em seguida realizou mais alguns shows solo em Tóquio e Kyoto.
Em 2005 gravou o CD e o DVD "CHIMARRÃO COM RAPADURA", com Aline Morena, além de realizar duas grandes turnês com seu grupo por toda a Europa. O cd e o dvd de Hermeto Pascoal e Aline Morena foram lançados de maneira totalmente independente em 2006.
Atualmente, Hermeto Pascoal apresenta-se com cinco formações: Hermeto Pascoal e Grupo, Hermeto Pascoal e Aline Morena, Hermeto Pascoal Solo, Hermeto Pascoal e Big Band e Hermeto Pascoal e Orquestra Sinfônica. Diz ele que, por enquanto, é só!! Esse é o nosso "CAMPEÃO"!!!
Obs. Público, shows e discos têm todos a mesma importância para o Hermeto. Não há melhor público, nem melhor show, nem melhor disco. São todos filhos muito amados por ele. Portanto, o que foi mencionado nessa biografia refere-se apenas a um resumo dos fatos que foram lembrados.



Fonte Biográfica(meus agradecimentos): 
http://www.hermetopascoal.com.br/

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Terra à vista! – ou parcelada em 511 vezes sem juros

Leonardo Sakamoto em seu blog

Minha singela homenagem à lembrança do 22 de abril de 1500. Lembrando que nada disso é novidade, mas como cismam em comemorar a data…
Nas últimas linhas da carta que relata o início da invasão portuguesa (“descobrimento”? Há! Sei…) de Pindorama a dom Manuel, rei de Portugal, Pero Vaz de Caminha se aproveita do cargo e da oportunidade para pedir um favorziho. Se a graça foi ou não concedida, não faço idéia e nem quero saber. Afinal, Inês é morta, ou melhor, Pero Vaz. Porém, a utilização do público para atender a interesses privados perdurou durante toda a nossa história – situação que permeia das grandes somas das grandes obras ao cafezinho trocado pela multa na beira da estrada. Culpa do escrivão, porque “aqui se plantando tudo dá”? Nem. Culpa nossa.

“E pois que, senhor, é certo que, assim neste cargo que levo, como em outra qualquer cousa que de vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida. A ela peço que, por me fazer graça especial, mande vir da Ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro – o que d’ela receberei em muita mercê. Beijo as mãos de Vossa Alteza. Deste Porto Seguro, da vossa Ilha da Vera Cruz”

Se a história pode ser escrita com segundas intenções, é reescrita para atender necessidades das mais diversas. Por exemplo, o surgimento de estudos mequetrefes que ignoram séculos de presença de comunidades tradicionais, provando com documentos honestos do 2º Cartório de Registro de Imóveis Faz-Me Rir que um pedaço de chão pertence, desde as capitanias hereditárias, à família que precisa continuar vendendo matéria-prima para uma determinada indústria importante. No ritmo em que vão as coisas, se for deixar a elaboração dos livros didáticos na mão desse povo, não me surpreenderia que fossem feitas algumas atualizações.

“Em 22 de abril de 1500, o empresário português Pedro Álvares Cabral, quando chegou em missão ao Sul da Bahia, estabeleceu comércio com os empreendedores do setor madeireiro, e sua pujante economia, trocando miçangas por toras de eucalipto – o que foi altamente lucrativo para os locais. A primeira missa foi celebrada com a presença de dezenas de operários – entre os turnos da tarde e da noite – de forma a não prejudicar a produção. O bispo, que rapidamente se tornou amigo dos maiores proprietário de terra locais, abençoou aquela união e benzeu o local onde seria erguido o porto para escoamento de mercadorias…”

PS: Sensacional o 22 de abril cair logo em uma Sexta-Feira Santa, não? Se nosso Estado não fosse laico, na teoria e na prática, acharia que isso seria uma fina ironia dos deuses…

1833 - França inicia reforma da educação pública

Do blog Opera  Mundi

 Em 28 de julho de 1833, o ministro da Educação da França, François Guizot, faz votar uma lei que iria transformar o ensino primário no país e no mundo. Ela obrigava as comunas com mais de 500 habitantes a ter pelo menos uma escola primária de meninos e a manter pelo menos um professor primário. Além disso, cada departamento francês deveria ter uma escola de formação de professores do ensino básico. Os estabelecimentos privados foram legalizados e a instrução religiosa, mantida. A instrução pública na França seria modificada mais tarde pelas leis Falloux e Ferry.

Promulgada por iniciativa de Alfred de Falloux, então ministro da Educação (Instrução Pública), uma nova lei, sancionada em 15 de março de 1850, instaurou a liberdade do ensino secundário. Fez a distinção entre educação pública (a cargo de uma comuna, de um departamento ou do Estado) e o ensino privado, ao qual foi conferida ampla liberdade. De outra parte, favoreceu o ensino católico nos estabelecimentos primários e obrigou as comunas de mais de 800 habitantes a abrir uma escola para as meninas. Contrária ao princípio da laicidade no ensino, esta lei acabou revogada. Em 1881 e 1882, as leis Ferry seriam promulgadas.


Em 28 de abril de 1848 surgiu a escola maternal. O termo “maternal” foi empregado pela primeira vez em substituição àquilo que então se chamavam “casas de asilo” ou simplesmente “asilo”. Desde 1830, os asilos tinham por função acolher as crianças que ficavam brincando e perambulando pelas ruas enquanto seus pais trabalhavam. Além do ensino, também era oferecida assistência às crianças, cuja idade variava de 2 a 6 anos. A pedagoga Marie Pape-Carpentier desempenhou um papel importante na modificação do funcionamento desses estabelecimentos, especialmente quanto aos métodos empregados, relativamente duros. Foi necessário, porém, esperar pelas leis de Jules Ferry, em 1881, para que as escolas maternais fossem efetivamente instituídas.
 
Em 15 de novembro de 1866, nasceu a Liga Francesa de Ensino, graças à vontade e empenho de Jean Macé, que tinha lançado um apelo para reunir o máximo de voluntários para melhorar a educação na França. Muitos se entusiasmaram pelo projeto e dele fizeram parte. Com um número de adesões sempre crescente em todo o país, a Liga passou a lutar por uma educação popular, pública. Lançou uma petição pela educação obrigatória, gratuita e laica. Quando as leis Ferry foram aprovadas, a Liga adotou um estatuto jurídico, se organizou em federações e nunca parou de lutar contra as desigualdades e em favor do desenvolvimento cultural.

Finalmente, em 16 de junho de 1881, o novo ministro da Educação, Jules Ferry, aprovou uma lei que estabelecia a gratuidade da escola. A partir de 1879, ordenou a publicação de uma série de textos a fim de promover a escola pública e reduzir o peso da Igreja na educação das crianças e jovens franceses. Nesse contexto, uma nova lei seria sancionada em 28 de março de 1882, tornando obrigatória a educação para as crianças de 3 a 6 anos e definitivamente laica. A educação civil substituiria a religiosa e até os professores deveriam ser laicizados no seio de escolas especializadas. Essa foi a estrutura que serviu de base para o ensino público da França daquela época em diante.