domingo, 28 de agosto de 2011

Elogio à preguiça

Para o preguiçoso, “é preciso ser distraído para viver”, afastar-se do mundo sem se perder dele, sendo por isso acusado de não contribuir p/ o progresso. Além de crime contra a sociedade do trabalho, o preguiçoso comete ainda pecado capital. Pela lógica do trabalho e da Igreja, deve, assim, pagar pelo que não faz
por Adauto Novaes no LEMONDE-BRASIL
O crítico e ensaísta Jean Starobinski começa assim o livro Ação e reação:“Em A comédia humana, Balzac descreve as deliciosas viagens de Louis Lambert em meio às palavras: ‘Que belo livro escreveríamos narrando a vida e as aventuras de uma palavra!’”.
É isso que o ciclo “Elogio à Preguiça”propõe. Filósofos franceses e brasileiros narram em oitenta conferências, em quatro estados – Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo e Brasília – a vida e as aventuras da preguiça, e mostram que sua história sempre foi mal contada.
Apesar da oposição, preguiça e trabalhoguardam um misterioso parentesco, quase simétrico e especular. As palavras preguiça e trabalhotêm história. Como nos lembra o filósofo francês Francis Wolff, o trabalho, no sentido moderno do termo, consiste em uma relação intrínseca entre duas ideias: a ideia de labor (pena) e a ideia de atividade socialmente útil. Vemos que para os gregos, diz Wolff, as atividades produtivas, mesmo socialmente úteis, não são moralmente valorizadas. Nada corresponde ao valor “trabalho” nem, em consequência, a desvalorização da preguiça. Acontece mesmo o contrário: “Scholein em grego, que corresponde ao latim otium, designa o que se pode fazer quando não se tem nada a fazer: o ócio. Ascholia, ao contrário, designa o fato de ser privadodessa liberdade... Em latim, ascholia vai se tornar neg-otium, negação do otium, que deu em negócio nas línguas latinas modernas. O negócio é, portanto, desvalorizado, ao contrário daquilo que vai se tornar, no cruzamento de certa moral ascética e do espírito do capitalismo. O negócio é tão desvalorizado na Antiguidade grega, que, na maioria das vezes, é deixado aos escravos. Com efeito, se numerosos escravos eram forçados a trabalhos manuais, por exemplo, nas minas, havia escravos banqueiros, como havia escravos policiais. Nem finanças nem ordem pública eram atividades valorizadas, uma vez que deixadas aos escravos”.
Ora, se saltarmos no tempo, vemos que os laços que atam preguiça e pecado tecem um nó invisível que prende imagens sociais do preguiçoso como improdutivo, indolente, melancólico, indiferente, distraído, voluptuoso, incompetente... Mas eis a questão posta por Marilena Chaui em sua conferência: não é curioso que o desprezo pela preguiça e a extrema valorização do trabalho possam existir em uma sociedade que não desconhece a maldição que recai sobre o trabalho, visto que trabalhar é castigo divino e não virtude do livre-arbítrio humano? A hipótese que passa por quase todas as conferências pode ser assim resumida: no mundo dominado pela tecnociência, nunca se trabalhou tanto e se pensou tão pouco não apenas sobre as condições do trabalho, mas principalmente sobre a ausência do trabalho do espírito, entendendo por espírito “potência de transformação da inteligência”.
A vida íntima que a preguiça leva com o trabalho pode revelar que o preguiçoso trabalha muito. Como?
Para o preguiçoso, “é preciso ser distraído para viver” (Paul Valéry), afastar-se do mundo sem se perder dele, sendo ele, exatamente por isso, acusado de em nada contribuir para o progresso. Além de praticar crime contra a sociedade do trabalho, o preguiçoso comete ainda pecado capital. Pela lógica do mundo do trabalho e da Igreja, o preguiçoso deve, portanto, sentir-se culpado e pagar pelo que não faz.
Ao ver de modo peculiar o fazer, o ocioso pode prestar um grande serviço e ajudar a responder à velha questão moral: “o que devo fazer?”. Dependendo da resposta, teremos diferentes definições do que seja o homem, a política, as crenças, o saber, nossa relação com o mundo e, principalmente, nossa relação com o trabalho. A resposta pode dizer um pouco mais precisamente, não apenas o que fazemos, mas também o que o trabalho faz em nós. Na era do grande desenvolvimento tecnocientífico e digital, maravilhosas máquinas “economizam” o trabalho mecânico, mas criam, ao mesmo tempo, dois novos problemas: primeiro, uma espécie de intoxicação voluntária, “mais a máquina nos parece útil, mais ela nos torna incompletos”. Isto é, mais precisamente, a máquina governando quem a devia governar; daí decorre o segundo problema, bem mais complexo: tantas potências auxiliares mecânicas tendem a reduzir “nossas forças de atenção e de capacidade de trabalho mental”, o que se relaciona aos seguintes fenômenos: impaciência, rapidez e volatilidade nunca antes vistas. Assim escreveu Valéry: “Adeus trabalhos infinitamente lentos, catedrais de trezentos anos cuja construção interminável acomodava curiosas variações e enriquecimentos sucessivos... Adeus perfeições da linguagem, meditações literárias e buscas que tornavam as obras, ao mesmo tempo, comparáveis a objetos preciosos e a instrumentos de precisão! [...] Eis-nos no instante, voltados aos efeitos de choque e contraste, quase obrigados a querer apenas o que ilumina uma excitação de acaso. Buscamos e apreciamos apenas o esboço, os rascunhos. A própria noção de acabamento está quase apagada”.
Certamente o preguiçoso tem muito a dizer sobre o mundo acelerado do progresso e do trabalho que cria objetos indispensáveis, mas também nos deixa, como herança, neurose, depressão, alienação, desastres ecológicos, excesso de ruídos artificiais e técnicos, apressamento, economia de guerra, morte do sujeito, inconsciência de si e, enfim, 191 milhões de vítimas em massacres nos últimos cem anos, entre outros feitos. É certo que o trabalho investiu muita ciência e técnica para criar esse mundo.
A mobilização veloz e incessante do trabalho cego hoje não permite ao homem dizer qual o seu destino e muito menos o que acontece. Ele não dispõe de tempo para pensar e, muito menos, consciência de que seus gestos, no trabalho, produzem muito mais que os objetos que fabrica. Há um excedente invisível, entendendo-se por “excedente” tudo o que não é mensurável, que produz catástrofes através do trabalho “normal e produtivo” que se manifesta na poluição da natureza, nos desastres ecológicos resultantes do descontrole dos sistemas de produção, no esquecimento e na desconstrução de si. Como lembra Robert Musil em O homem sem qualidades, foi preciso muita virtude, engenho e trabalho para tornar possíveis as grandes descobertas científicas e técnicas, graças ao sucesso dos “homens de guerra, caçadores e mercadores”. Tudo isso fundado na disciplina, no senso de organização e na eficácia do trabalho, o que talvez se pudesse resumir assim: o trabalho mecânico da produção de mercadorias pretende tomar o mundo de assalto, produzindo ao mesmo tempo agitação social e frenesi econômico e consumista, dada a multiplicação de objetos “não naturais e não necessários”. Já o preguiçoso põe-se na escuta de si e do mundo que o cerca.
Mas, afinal, quem é o preguiçoso? Enfim, como se pode, então, pensar essa figura que sempre teve péssima reputação no Ocidente? Talvez uma boa definição seja a de um autor inglês, Jerome K. Jerome, em seu livro Pensamentos preguiçosos de um preguiçoso:“A preguiça sempre foi o meu forte. Não é nenhuma glória, é um dom. Um dom raro. É certo que existem muitos farniente, mas um autêntico preguiçoso é exceção. Isso nada tem a ver com alguém que anda com as mãos nos bolsos. Ao contrário, o que melhor caracteriza um verdadeiro preguiçoso é o fato de ele estar sempre intensamente ocupado. De início, é impossível apreciar a preguiça se não há uma massa de trabalho diante de si. Não é nada interessante nada fazer quando não se tem nada a fazer! Em revanche, perder seu tempo é uma verdadeira ocupação, e uma das mais fatigantes. A preguiça, como um beijo, para ser agradável deve ser roubada”. Jerome K. Jerome leva-nos a pensar que a preguiça não é uma coisa passiva. Perder o tempo mecânico dá trabalho e exige enorme atividade do espírito. O farnientesubmete-se à lógica do capital; é parte do processo, porque já está nos cálculos da mão de obra excedente do processo de produção: a existência de excluídos. O ocioso não é propriamente quem se opõe ao trabalho. É quem sabe usar a inteligência.

Adauto Novaes

foi jornalista e professor. Estudou filosofia na França. Foi diretor, durante 20 anos, do Centro de Estudos e Pesquisas da Fundação Nacional de Arte/Ministério da Cultura. Organizou diversos ciclos de conferências, sendo o último deles "Mutações – a experiência do pensamento" (mais informações em www.cultura.gov.br/pensamento).

Falácias, amnésia seletiva e má sociologia da RBS deseducam o “Rio Grande




Eu quase não acreditei quando enxerguei a manchete do jornal Zero Hora deste domingo (28): “Gosto pelo confronto emperra o Rio Grande”. Ainda isso? Não é possível. Mas o grupo da RBS não desiste de sua tarefa de deseducar a população do Rio Grande do Sul: “Falta de consenso em temas importantes trava o desenvolvimento do Estado, que está ficando para trás em comparação com outras unidades da federação”. Não se trata apenas de uma incursão sociológica equivocada. É uma tese falsa que consegue a proeza de tirar conclusões sobre a situação econômica do Estado sem tratar de economia. Os problemas do “Rio Grande” seriam “uma cultura que valoriza o conflito, a polarização ideológica, a atmosfera de discórdia e a força do corporativismo”.
É verdade. A economia do Rio Grande do Sul vem perdendo terreno no cenário nacional, não acompanhando o crescimento médio registrado no país. Mas não é possível analisar esse problema sem levar em conta dados objetivos sobre a economia do Estado. Chega a ser constrangedor ter que afirmar isso. Até onde minha memória alcança, esse discurso foi inaugurado pela RBS no governo Olívio Dutra (PT) que, do início ao fim, foi caracterizado pelos veículos dessa empresa como um “governo do conflito”. Há um editorial inesquecível de Zero Hora, no dia seguinte à vitória de Germano Rigotto (PMDB), na eleição para o governo do Estado em novembro de 2002: o jornal comemora a derrota do “governo de conflito” e saúda a chegada do “governador pacificador”, que iria recolocar o “Rio Grande” nos trilhos.
Não recolocou. Rigotto fez um governo apático, sem grandes conflitos ou realizações. Há uma amnésia permanente nas matérias editorializadas da RBS sobre o “Rio Grande”. Uma amnésia que anda de mãos dadas com uma postura de tirar o corpo fora. Esses textos “esquecem” que a RBS tomou posições claras nas últimas décadas, defendeu propostas, projetos e determinados governos. Aliás, não só defendeu como participou ativamente dessas escolhas como ocorreu durante o processo de privatizações do governo Britto (PMDB), onde participou da compra da empresa telefônica do Estado. Na época, a RBS prometeu ao “Rio Grande” em seus editoriais que as privatizações, a vinda da GM, a guerra fiscal e a renegociação da dívida do Estado feita pelo governo Britto iriam colocar o Estado em um novo patamar de desenvolvimento. Não deu certo, assim como a pacificação de Rigotto e como o choque de gestão de Yeda Crusius (quando, aliás, um dos fiadores da pacificação de então era o coronel Mendes).
Naquele período, a tese da “mania do conflito” ainda não existia. Ela surgirá com o governo seguinte e, a partir daí, passará a ser afirmada e reafirmada até hoje. O Rio Grande do Sul teria perdido posições em relação a outros Estados por que aqui há um gosto pelo confronto, que teria suas origens na Revolução Farroupilha. A alternância de governos e de projetos é apontada como uma erva daninha, como se, em outros Estados da Federação não houvesse tal alternância. Em três páginas de matéria, não há uma única menção à manutenção de uma matriz produtiva que ignorou as mudanças na economia mundial. O sucateamento do setor calçadista, por exemplo, não tem nada a ver com o “gosto pelo confronto”, mas sim com a concorrência massacrante da indústria chinesa e de outros países asiáticos.
Entrevistei dias atrás, para o jornal Adverso, da Adufrgs Sindical (Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior de Porto Alegre), o professor Luiz Augusto Estrella Faria, técnico da Fundação de Economia e Estatística (FEE) e professor associado da UFRGS nos cursos de pós-graduação em Economia e em Estudos Estratégicos Internacionais. Entre outras coisas, Faria fala sobre a decadência da economia gaúcha e aponta alguns elementos que não frequentam a má sociologia do grupo RBS:
O Rio Grande do Sul vive uma semi-estagnação desde nos anos 80. O Estado teve poucos momentos de crescimento neste período. É verdade que todo o Brasil viveu duas décadas perdidas em termos de crescimento, mas, mesmo assim, isso foi pior no Rio Grande do Sul, na média. Com exceção do início dos anos 2000, quando o Estado teve uma media de crescimento maior que a do Brasil, na década de 90 tinha sido pior e na segunda metade dos anos 2000 voltou a ser pior que a média nacional. Historicamente, o Estado sempre teve algo entre 7 e 8% do PIB brasileiro. Hoje estamos entre 5 e 6%.
A economia do RS não se modernizou neste período e ficou, em larga medida, vinculada a alguns setores tradicionais que passaram a crescer pouco por razões diversas. Durante boa parte desse período, os preços dos produtos agropecuários atravessaram uma fase ruim. Só foram melhorar na segunda metade dos anos 2000. Então, foram cerca de 15 anos com preços ruins para soja, milho, arroz e carne. Isso afetou um setor que, no RS, pesa mais do que a média nacional, que é a agropecuária. Além disso, a nossa indústria é, predominantemente, de pequeno e médio porte e vinculada a setores particularmente vulneráveis à competição da Ásia, principalmente.
 
O maior segmento da indústria gaúcha no início deste período era o calçadista. Hoje, ele praticamente sumiu do mapa, sufocado pela concorrência asiática, que produz o mesmo tipo de calçado, as mesmas grifes tradicionais, em condições de produção muito mais baratas, pois trabalha em uma escala gigantesca. Nós temos aqui pequenas empresas de calçado e lá tudo é mega. Há empresas com dezenas de milhares de trabalhadores fabricando calçado. Esse nível de escala dá um poder de competição gigantesco. Não dá para achar que podemos produzir com uma escala chinesa.
É pedir muito que, em uma matéria que pretende analisar a situação econômica do Estado, se utilize dados econômicos objetivos? Para os editores de ZH, aparentemente é. Mas isso não ocorre por acaso. A má sociologia é alimentada por uma postura arrogante que não reconhece os próprios erros e da “elite” econômica que esse grupo midiático representa. Uma “elite” que foi incapaz de ler as mudanças na conjuntura nacional e mundial e que sempre manteve um discurso hostil ao Estado, a não ser, é claro, na hora de pedir generosas isenções fiscais. A RBS se coloca do lado de fora do jogo, como se fosse um ente a-histórico a pairar sobre o “Rio Grande” e a explicar ao povo gaúcho o que ele deve ou não fazer. Suas escolhas políticas e econômicas permanecem sistematicamente dentro do armário. Isso é fundamental para que volta e meia Zero Hora venha nos alertar para os riscos da “mania de conflito” e do “gosto pelo confronto”. A RBS tem responsabilidade direta sobre várias das escolhas políticas e econômicas feitas no Rio Grande do Sul nas últimas décadas. E, sistematicamente, faz de conta que não tem nada a ver com isso. Talvez seja essa mistura de má fé, amnésia seletiva e má sociologia que esteja emperrando o “Rio Grande”.

Articulista do ‘Financial Times’ quer espantar alma de Marx de Wall Street

Samuel Brittan, articulista do "Financial Times", resgata, em artigo reproduzido pelo "Valor Econômico" nesta sexta-feira (26), o que ele chama de “recuperação” das teses de Karl Marx.

Por Osvaldo Bertolino na GRABOIS
 

“Em meio a quase todas crises periódicas que afetam as economias mercantis, erguem-se vozes dizendo que 'No fim das contas, Marx estava certo'", diz ele. Brittan recorda que alguns anos atrás Nicolas Sarkozy, o poresidente da França, foi visto empunhando uma cópia de Das Capital. Nas últimas semanas, complementa, gurus financeiros, entre eles Nouriel Roubini e George Magnus, escreveram artigos com referências ao “pensador comunista”.

Segundo Brittan , quando a recuperação acontece a grita se dissipa, apenas para ressurgir na vez seguinte em que ocorre uma contração brusca. “A primeira coisa errada no slogan é que ele tem pouco a ver com Karl Marx”, diz ele. “Lembro-me de uma senhora, sob outros aspectos uma profissional extremamente inteligente que, quando indagada sobre por que era marxista, respondeu: ‘Eu fiquei entediada com os amigos de meu pai’.” Em seguida o articulista do Financial Times divaga por caminhos obscuros da história, deixando de lado as luzes do marxismo para mirar em personagens que o imperialismo elegeu como alvos principais — principalmente os revolucionários marxistas Josef Stálin e Mao Tse tung.

Divisão da história

Brittan tenta separar Marx dos marxistas. “É, evidentemente, absurdo culpar Marx, que viveu de 1818 a 1883, pelos crimes cometidos décadas após sua morte. Na verdade, o grande homem disse certa vez: ‘Seja lá que outra coisa eu possa ser, não sou um marxista’. Muitos analistas sérios têm escrito sobre o que Marx quis dizer ou deve ter desejado dizer. Não sou um deles e minha desculpa principal para dar minha própria opinião extremamente seletiva é que nunca demonizei nem adorei esse homem”, escreve. Essa resvalada retórica na verdade serve de gancho para ele enveredar pelo mais baixo antimarxismo ao discorrer sobre a essência da obra de Marx — possivelmente para tentar espantá-la de Wall Street e adjacências.

Começa dizendo que o aspecto de Marx que originalmente o intrigou foi sua divisão da história após o fim da Idade das Trevas: feudalismo, capitalismo, socialismo e comunismo. “Por socialismo, Marx entendia algo semelhante a uma versão extrema da antiga quarta cláusula do Partido Trabalhista britânico, que contemplava a propriedade pública de todos os meios de produção, de distribuição e de trocas. Mas comunismo não implicava nada semelhante a seu significado posterior. Era uma utopia na qual um dia de trabalho curto proveria todas as necessidades da sociedade e as pessoas ficariam livres para ‘caçar de manhã, pescar à tarde e discutir filosofia à noite’. A visão de uma sociedade assim reteve no campo marxista alguns idealistas que, do contrário, poderiam ter abandonado a causa”, assevera.

Livro de Rudolf Hilferding

Partindo daí ele discorre sobre outros aspectos de menor importância. Para ele, “há muitos problemas na versão marxista”. “Será que o capitalismo começou nas repúblicas da Itália no século XV ou ainda não tivera início em muitas regiões da Europa onde a Revolução Industrial não se firmou efetivamente até um momento bem avançado do século XIX? E o que dizer sobre a Rússia, que ainda não tivera uma revolução capitalista, mas onde Marx tinha um número surpreendente de discípulos? Isso começou a preocupá-lo no fim de sua vida, quando ponderou se a Rússia poderia passar diretamente ao socialismo”, escreve.

Brittan cita a conhecida introdução de A. J. P. Taylor, historiador conservador inglês, em uma edição do Manifesto do Partido Comunista (editora Penguin) na qual ele determina que o marxismo foi uma peculiaridade do mundo de língua alemã. “Sua elaboração mais interessante veio de Rudolf Hilferding, um social-democrata austríaco cuja contribuição duradoura foi formulada em seu livro Das Finanzkapital. Nele, Hilferding chamou a atenção para uma nova faceta sinistra, a ascensão de banqueiros e financistas por trás da crescente cartelização do sistema produtivo. Ele não previu a importância bem maior da massa de dinheiro artificial cruzando fronteiras, o que certamente é extremamente relevante, num momento em que os banqueiros centrais estão quebrando a cabeça sobre como reanimar a economia mundial”, finaliza.

Interpretações da realidade

Essas passagens revelam o velho problema da indiferença em relação à alma do marxismo — a dialética. Um exame, mesmo sumário, da obra de Marx evidencia que Britan repete a batida na mesma tecla já milhões de vezes tocada pelos que evitam compreender o marxismo com espírito científico, isento de paixões e sem a carga irracional de ódio herdada em boa parte de preconceitos incutidos por anos de anticomunismo. Mesmo quando ele não é excluído da categoria de fenômeno social — o marxismo é ensinado até nas universidades norte-americanas —, procuram a todo custo destituí-lo de sua alma. É assim que os espíritos se fecham ao seu conhecimento, possivelmente com medo de a ele se converter.

Foi precisamente esse grande pensador quem decifrou o código da economia de crise. E isso não está em nenhum livro em particular. Está no conjunto de sua obra, da qual a parte mais importante é, certamente, O Capital. Ignorar essa premissa básica do marxismo equivale a sair à cata de mitos na tentativa de fugir da realidade. E quem lembra isso, evidentemente em tom crítico, é ninguém menos do que Paul Krugman, o prestigiado economista do MIT (Massachusetss Institute of Tecnhology), assumidamente keynesiano, que, ao comentar as comemorações dos 150 anos do Manifesto do Partido Comunista, em 1998, escreveu: "Artigos proclamam que a turbulenta economia mundial de hoje é exatamente o que o grande homem previu. Um colunista do New Yorker chegou a proclamar Marx como o pensador do futuro."

Interpretações da realidade

Karl Marx não é, portanto, apenas mais um nome no balaio de gatos dos gurus da economia. Ele é, antes de qualquer outra coisa, um cientista que se destaca na história do pensamento social. Sua teoria difere substancialmente das idéias voláteis que são propagadas por gente que ganha a vida montando frases de efeito e expelindo perdigotos em palestras sobre o mercado e redução do Estado mundo afora.

A interpretação científica dos seus princípios radiografa casos de sucesso e fracasso em uma sociedade, gera novas interpretações da realidade, cria novos paradigmas e equações para entender e explicar o que ocorre no mundo. Ao contrário da maioria das pessoas que escrevem ou escreveram sobre economia, Marx tinha farinha no saco — e, por isso, é uma das raras fontes seguras nesse terreno. Por tudo, Marx precisa ser estudado. Por sua originalidade, pela seriedade e consistência de sua obra, porque escrevia bem. Talvez seja por isso que Wall Street tenha tanto interesse em sua leitura. O medo é o de que as grandes massas compreendam a sua alma e tomem seus destinos nas mãos — seguindo a máxima marxista de que não basta interpretar o mundo, mas, sim, tranformá-lo. Daí o esforço milhões de vezes repetido para tentar vulgarizar o marxismo.

Antimarxismo primitivo

Samuel Brittan adota o modelo mais ordinário de vulgarização da obra de Marx: a tentativa de associá-la ao autoritarismo. Não há dúvida de que as experiências socialistas carregam nas costas distorções grosseiras no que diz respeito à interpretação do marxismo. Não resta dúvida também que os dois personagens citados pelo articulista do Financial Times, Josef Stálin e Mao Tse Tung, são os principais responsáveis por essas distorções. Repassar os motivos que os levaram a cometer erros, no entanto, seria chover no molhado. O que importa é constatar que seus acertos pesam muito mais em qualquer balança honesta que se utilize para analisar os processos históricos.

Ao lado deste antimarxismo primitivo, outras vulgaridades mais sofisticadas tentam demonstrar o marxismo como algo essencialmente equivocado. Uma delas é a apresentação da obra de Marx impregnada de erudição e afogada em terminologia complicada, uma forma de obscurecer os problemas. Falta clareza para chegar às situações concretas. E há também os grupos “esquerdistas”, para os quais o anticomunismo de “esquerda” tornou-se uma fixação fanática, um preconceito inextirpável. Nada melhor do que a definição de Lênin para estes grupos: o extremismo é filho de erros oportunistas.

Marx sem alma

Não é possível falar do legado de Marx sem o seu parâmetro revolucionário, sem a sua alma, a sua essência. Numa palavra: a dialética. O marxismo, independente do que dizem dele os já decrépitos “novos filósofos”, não pode evidentemente ser resumido a um modelo. Os bolcheviques de “têmpera especial” partiram a história em duas, abalaram o mundo, romperam pela primeira vez a estrutura e a lógica do capitalismo e do imperialismo — tomaram o céu de assalto, como dizia Karl Marx sobre os revolucionários da Comuna de Paris de 1871 —, mas foram marxistas do seu tempo. O desenvolvimento histórico obriga os marxistas a uma nova perspectiva revolucionária. E, com isso, a um novo posicionamento.

Marx e Engels, no Manifesto do Partido Comunista, estavam bem longe de qualquer triunfalismo revolucionário. Eles disseram que a luta entre classes antagônicas de uma sociedade dilacerada — como é a sociedade capitalista — pode perfeitamente terminar “com a ruína das classes em luta”. Não há nenhuma “providência histórica” que garanta a vitória da classe revolucionária — aquela que poderia superar a contradição existente e recompor a sociedade. Não basta, portanto, como lembrou Galileu Galilei quando acossado pelos aristotélicos das universidades, filosofar folheando textos nos quais fatalmente são encontradas todas as soluções para todos os problemas. Por tudo isso, pode-se concluir: os antimarxistas, como o articulista do Financial Times, leêm um Marx sem alma.

Carta às esquerdas

 
Livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a sua vocação anti-social. Voltou a ser urgente reconstruir as esquerdas para evitar a barbárie. Como recomeçar? Pela aceitação de algumas ideias. A defesa da democracia de alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas.

Boaventura de Sousa Santos * por email de Marcos Vargas


Não ponho em causa que haja um futuro para as esquerdas mas o seu futuro não vai ser uma continuação linear do seu passado. Definir o que têm em comum equivale a responder à pergunta: o que é a esquerda? A esquerda é um conjunto de posições políticas que partilham o ideal de que os humanos têm todos o mesmo valor, e são o valor mais alto. Esse ideal é posto em causa sempre que há relações sociais de poder desigual, isto é, de dominação. Neste caso, alguns indivíduos ou grupos satisfazem algumas das suas necessidades, transformando outros indivíduos ou grupos em meios para os seus fins. O capitalismo não é a única fonte de dominação mas é uma fonte importante.
Os diferentes entendimentos deste ideal levaram a diferentes clivagens. As principais resultaram de respostas opostas às seguintes perguntas. Poderá o capitalismo ser reformado de modo a melhorar a sorte dos dominados, ou tal só é possível para além do capitalismo? A luta social deve ser conduzida por uma classe (a classe operária) ou por diferentes classes ou grupos sociais? Deve ser conduzida dentro das instituições democráticas ou fora delas? O Estado é, ele próprio, uma relação de dominação, ou pode ser mobilizado para combater as relações de dominação?
As respostas opostas as estas perguntas estiveram na origem de violentas clivagens. Em nome da esquerda cometeram-se atrocidades contra a esquerda; mas, no seu conjunto, as esquerdas dominaram o século XX (apesar do nazismo, do fascismo e do colonialismo) e o mundo tornou-se mais livre e mais igual graças a elas. Este curto século de todas as esquerdas terminou com a queda do Muro de Berlim. Os últimos trinta anos foram, por um lado, uma gestão de ruínas e de inércias e, por outro, a emergência de novas lutas contra a dominação, com outros atores e linguagens que as esquerdas não puderam entender.
Entretanto, livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a sua vocação anti-social. Voltou a ser urgente reconstruir as esquerdas para evitar a barbárie. Como recomeçar? Pela aceitação das seguintes ideias.
Primeiro, o mundo diversificou-se e a diversidade instalou-se no interior de cada país. A compreensão do mundo é muito mais ampla que a compreensão ocidental do mundo; não há internacionalismo sem interculturalismo.
Segundo, o capitalismo concebe a democracia como um instrumento de acumulação; se for preciso, ele a reduz à irrelevância e, se encontrar outro instrumento mais eficiente, dispensa-a (o caso da China). A defesa da democracia de alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas.
Terceiro, o capitalismo é amoral e não entende o conceito de dignidade humana; a defesa desta é uma luta contra o capitalismo e nunca com o capitalismo (no capitalismo, mesmo as esmolas só existem como relações públicas).
Quarto, a experiência do mundo mostra que há imensas realidades não capitalistas, guiadas pela reciprocidade e pelo cooperativismo, à espera de serem valorizadas como o futuro dentro do presente.
Quinto, o século passado revelou que a relação dos humanos com a natureza é uma relação de dominação contra a qual há que lutar; o crescimento económico não é infinito.
Sexto, a propriedade privada só é um bem social se for uma entre várias formas de propriedade e se todas forem protegidas; há bens comuns da humanidade (como a água e o ar).
Sétimo, o curto século das esquerdas foi suficiente para criar um espírito igualitário entre os humanos que sobressai em todos os inquéritos; este é um patrimônio das esquerdas que estas têm vindo a dilapidar.
Oitavo, o capitalismo precisa de outras formas de dominação para florescer, do racismo ao sexismo e à guerra e todas devem ser combatidas.
Nono, o Estado é um animal estranho, meio anjo meio monstro, mas, sem ele, muitos outros monstros andariam à solta, insaciáveis à cata de anjos indefesos. Melhor Estado, sempre; menos Estado, nunca.
Com estas ideias, vão continuar a ser várias as esquerdas, mas já não é provável que se matem umas às outras e é possível que se unam para travar a barbárie que se aproxima.
* Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).

sábado, 27 de agosto de 2011

Entidades lançam Comitê por Estado da Palestina Já em São Paulo


Da Agência Brasil de Fato


Será lançado nesta segunda-feira (29), em São Paulo, o Comitê pelo Estado da Palestina Já!. O evento ocorrerá às 17h no Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo (rua Genebra, 25 - Centro, próximo à estação de metrô Anhangabau).
O comitê reunirá diversas organizações e centralizará todas as ações no país em torno das mobilizações para que a Palestina seja reconhecida pela 66ª sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que será realizada em 13 de setembro, em Nova York, nos Estados Unidos.
Já no dia 20 de setembro, um dia antes do início das votações na ONU, o Comitê pelo Estado da Palestina Já! promoverá um ato público e uma caminhada em defesa do Estado da Palestina. A concentração do protesto será às 17h na Praça Ramos de Azevedo, no centro da capital paulista (em frente ao Theatro Municipal de São Paulo, na esquina com o viaduto do Chá, próximo à estação de metrô Anhangabaú).
Leia aqui o manifesto das entidades que integram o Comitê.
Abaixo, leia o manifesto da Via Campesina Brasil de defesa do povo palestino.

O POVO PALESTINO TEM O DIREITO DE TER O SEU
PRÓPRIO ESTADO, LIVRE, DEMOCRÁTICO E SOBERANO!!!
ESTADO DA PALESTINA JÁ!!!

Nós, trabalhadoras e trabalhadores dos diversos movimentos e organizações que fazem parte da Via Campesina Brasil, mais uma vez reafirmamos nosso total apoio e solidariedade com a justa e legítima luta do povo palestino.

O colonialismo israelense sempre foi parte da tentativa do imperialismo de sufocar as legítimas lutas de libertação nacional e por transformações sociais que se desenvolveram em diversos países do mundo.

Inspirados numa ideologia conservadora, racista e antidemocrática, o sionismo, os sucessivos governos do Estado de Israel violam cotidianamente os direitos inalienáveis do povo palestino.

Infelizmente a ONU, que se pretende defensora dos direitos humanos e do direito internacional humanitário, não tem feito mais do que aprovar centenas de resoluções de condenação, reprovação e denúncia contra o Estado de Israel que nunca se transformam em ações concretas. Sob a proteção dos países imperialistas, como EUA, França, Inglaterra e seus lacaios, os mais brutais e violentos crimes são cometidos todos os dias contra a população que vive nos territórios ocupados em 1948 e em 1967.

As “Forças de Defesa de Israel” e todas as outras instituições do aparato repressor colonialista israelense são hoje conhecidas no mundo pela sua covardia e pela prática de genocídio e terrorismo contra o povo palestino e contra todos os que se rebelam em defesa de um Estado Palestino.

Nosso grande desafio é transformar essa indignação diante da violência do governo de Israel num gigantesco movimento social e político de massas de caráter internacional, que faça recuar esse monstro nazi-sionista.

A coragem, a sabedoria e as mobilizações do povo palestino são hoje símbolos e exemplos da resistência popular contra toda injustiça praticada em qualquer lugar do mundo.

O grito de Pátria Livre se faz ouvir em todo o território palestino. Judeus, cristãos, muçulmanos e todas as forças democráticas, progressistas e antiimperialistas dentro e fora da Palestina se mobilizam em um movimento unificado contra o inimigo de toda a humanidade: o governo do Estado de Israel e seus aliados, o imperialismo dos Estados Unidos e da União Européia.
Diante das novas manifestações populares na Palestina, a Via Campesina Brasil vem manifestar sua admiração e sua solidariedade com esse heróico povo, conclamando @s brasileir@s para:

1. Defender o direito legítimo do povo palestino de lutar contra a ocupação israelense e pela constituição do Estado da Palestina, bem como apoiar a campanha da Autoridade Palestina pelo reconhecimento do Estado da Palestina como membro pleno da ONU;

2. Apoiar as decisões soberanas do povo palestino e suas legítimas organizações políticas e sociais no que diz respeito ao caráter do Estado e às fronteiras. Acreditamos que tais decisões serão resultado das lutas e do processo de debate no interior das forças da resistência palestina, portanto, consideramos que não cabe a nós a decisão sobre como deve ser e qual será o caráter do Estado Palestino;

3. Fortalecer a luta pela libertação d@s pres@s polític@s que vivem hoje nos cárceres por participarem da legítima luta de libertação nacional palestina;
4. Fortalecer a luta em defesa dos camponeses, trabalhadores rurais e pescadores, que perderam o direito à terra, à água, ao trabalho e à liberdade com a ocupação colonialista israelense;

5. Intensificar a luta contra o Tratado de Livre-Comércio MERCOSUL-Israel, uma vergonha para o povo brasileiro, pois tal tratado estimula o comércio com um país que não respeita as resoluções da ONU, os direitos humanos e o direito internacional humanitário, além de possibilitar, para Israel, a exportação de produtos dos assentamentos judeus-sionistas que estão hoje ilegalmente nos territórios palestinos de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental;

6. Intensificar, no Brasil, a campanha pelo boicote e desinvestimento contra Israel, para impedir a compra de produtos deste país que pratica hoje um regime de apartheid contra o povo palestino. Boicotar a importação de produtos e/ou serviços, bem como propor também o boicote acadêmico e cultural contra esse país é mais uma forma de lutar pelo fim do apartheid de Israel;

7. Denunciar e lutar contra a compra, por parte dos governos estaduais e do governo federal (em especial as Forças Armadas e o Ministério da Defesa), de equipamentos militares, aviões não-tripulados, veículos blindados, armas e munições israelenses, pois esse tipo de comércio só alimenta e fortalece o complexo industrial-militar israelense-estadunidense, uma indústria que tem lucrado com o assassinato de milhares de pessoas em diversas partes do mundo;

8. Lutar contra o bloqueio econômico, político e militar imposto por Israel ao povo de Gaza, território palestino ocupado que luta cotidianamente e heroicamente pela sua libertação. Fortalecer a solidariedade com Gaza é tarefa de tod@s. Precisamos fazer um esforço para organizar uma missão humanitária de solidariedade à Gaza, com representantes de diversas organizações políticas e sociais da classe trabalhadora brasileira;

9. Intensificar a pressão sob o governo brasileiro para que o mesmo dê um tratamento digno e possa amparar de maneira mais intensa e efetiva os refugiados palestinos que se encontram hoje no Brasil, principalmente os 150 palestinos que saíram do Iraque e ficaram em um Campo de Refugiados na Jordânia, e que se encontram hoje no Estado de São Paulo;

10. Pressionar o governo brasileiro para que o mesmo se utilize de todos os mecanismos disponíveis na Carta das Nações Unidas e outras resoluções internacionais para exigir do governo de Israel que cumpra a decisão do Tribunal Internacional da ONU de derrubar o “muro da vergonha”, que tem cerca de 700 km de extensão e separa o povo palestino, configurando uma situação de apartheid que priva dos palestinos o direito de ir e vir;

11. Discutir com o governo brasileiro ações mais intensas e mais concretas de apoio, estímulo e cooperação para implementar projetos de desenvolvimento econômico, social, cultural e esportivo na Palestina. O Brasil tem condições de dar apoio material e financeiro para garantir melhores condições de vida e de trabalho para o povo palestino. Algumas das propostas da Via Campesina Brasil são: construir as condições para que o Brasil e a América do Sul se transformem em espaços para a comercialização dos produtos dos camponeses palestinos e para intensificar as ações de apoio ao esporte na Palestina, principalmente o futebol, nas modalidades masculino e feminino.

12. Apoiar as lutas dos judeus e israelenses que lutam contra o sionismo e contra a ocupação da Palestina, pois existem dentro do Estado de Israel forças políticas e sociais progressistas, democráticas e anti-colonialistas que são constantemente reprimidas por defender os direitos inalienáveis do povo palestino;

13. Defender o direito de todos os refugiados palestinos de retornarem para sua terra/pátria, bem como o direito de serem reparados pelas perdas que tiveram durante a ocupação militar israelense;

14. Apoiar as mobilizações populares que visam desencadear uma “Terceira Intifada” contra a ocupação israelense. Também acreditamos que só a luta de massas pode alterar radicalmente a correlação de forças nas lutas políticas e sociais.
15. Para discutir como realizar concretamente tais ações propomos organizar um Encontro Nacional de Solidariedade ao Povo Palestino. A Via Campesina Brasil e demais organizações da classe trabalhadora estão convocando este encontro para os dias 26 e 27 de novembro, na Escola Nacional Florestan Fernandes – ENFF, na cidade de Guararema - São Paulo.

Sabemos que o campo de batalha decisivo nesta luta são as ruas, bairros, cidades, vilas, vales e montanhas da Palestina ocupada, e cabe a nós fortalecer as forças vivas da resistência popular palestina.

Sigam em frente irmãos e irmãs palestinos, com uma oliveira numa das mãos e uma pedra na outra, lembrando sempre de sua história, de sua origem e de sua tarefa: lutar permanentemente contra o sionismo e o governo de Israel, mesmo estando em condições bastante desiguais frente ao inimigo-agressor.

Quem não cansa de lutar semeia a cada dia o caminho da vitória. A Palestina será livre, justa e soberana. Esse é o seu caminho e o destino de seu povo. Liberdade e terra para o povo palestino.

VIA CAMPESINA BRASIL
Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal – ABEEF, Conselho Indigenista Missionário – CIMI, Comissão Pastoral da Terra – CPT, Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil – FEAB, Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB, Movimento das Mulheres Camponesas – MMC, Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA, Movimentos dos Pescadores e Pescadoras Artesanais, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, Pastoral da Juventude Rural – PJR.

Ótimo documentário...

A Dança do Leão
(Kagamijishi)
(1936) Kagamijishi
Poster
Sinopse
Documentário, dividido em duas partes, de uma dança tradicional japonesa (kabuki) – a Kagamijishi (dança do leão). A primeira parte – filmada em junho de 1935, e utilizando som sincronizado – registra parcialmente a dança (já que originalmente tem mais de uma hora) com o prestigiado ator de kabuki Kikugoro Onoe VI. A segunda parte – filmada em maio de 1936, e sem som – registra Kikugoro Onoe VI em seu camarim.
 
 
Fonte
LEGENDAS EXCLUSIVAS
Screenshots (clique na imagem para ver em tamanho real)



Elenco
Informações sobre o filme
Informações sobre o release
Kikugoro Onoe ... Yayoi / Shishi no sei (como Rokudaime Onoe Kikugorou)
Kinjirou Onoe ... Kochou
Shigeru Onoe ... Kochou
Wafuu Matsunaga ... Nagauta - Uta
Shinzou Fujita ... Nagauta - Uta
Izaburou Kashiwa ... Nagauta - Shamisen
Tazaemon Morotsuki ... Nagauta - Taiko
Junji Masuda ... Roudoku (voz)
Gênero: Documentário
Diretor: Yasujirô Ozu
Duração: 24 minutos
Ano de Lançamento: 1936
País de Origem: Japão
Idioma do Áudio: Japonês
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0345476
Qualidade de Vídeo: DVD Rip
Vídeo Codec: XviD
Vídeo Bitrate: 2.760 Kbps
Áudio Codec: MPEG1/2 L3
Áudio Bitrate: 64 kbps 48 KHz
Resolução: 608 x 464
Aspect Ratio: 1.310
Formato de Tela: Tela Cheia (4x3)
Frame Rate: 20.000 FPS
Tamanho: 480.4 MiB
Legendas: Em anexo
Curiosidades
Este é o único documentário realizado por Ozu, e foi um pedido do Ministério de Educação. Começou a ser filmado em 26 de junho de 1935.
A Associação para Promoção Internacional da Cultura (Kokusai Bunka Shinko-kai), fundada em 1934, planejou filmar performances extraordinárias da cultura japonesa para apresentá-las ao mundo. Foi solicitado à Shochiku um documentário da dança Kagamijishi, com performance do conceituado ator de kabuki, Kikugoro Onoe VI.
Ozu era fã de Kikugoro e teve oportunidade de conhecê-lo um ano antes da proposta do projeto através de um parente dele, Hiroshi Tojo, que era funcionário da Shochiku.
Quando o projeto foi concretizado, Kikugoro, já amigo de Ozu, solicitou que ele fosse escolhido para diretor. Ozu estava filmando Um hotel em Tóquio (Tokyo no yado), mas interrompeu o trabalho para realizar a primeira parte do documentário.
Fonte
 
Coopere, deixe semeando ao menos duas vezes o tamanho do arquivo que baixar.

Arquivo(s) anexo(s)

Líbia: A agressão Imperial Aclamada como vitória popular


A entrada em Tripoli dos bandos do auto denominado Conselho Nacional de Transição e a ocupação da residência e quartel general de Muamar Kadhafi foram aclamados pelo presidente Obama, os governos da União Europeia e as media ocidentais como desfecho da cruzada libertadora da Líbia e vitória da democracia e da liberdade sobre a tirania e a barbárie.
Poucas vezes na Historia a desinformação cientificamente montada ao serviço de ambições inconfessáveis terá tido tanto êxito em transformar a mentira em verdade, ocultando o significado da agressão a um povo.
Desde o inicio em Março dos bombardeamentos selvagens a Tripoli, a oratória farisaica de Obama, Sarkozy e Cameron funcionou como cobertura de um projecto imperial que, sob o manto de pretensa «intervenção humanitária destinada a proteger as populações», tinha como predestinado objectivo tomar posse do petróleo e do gás, bem como dos importantes activos financeiros do estado Líbio.
Planearam o crime com muita antecedência. A «insurreição» de Benghazi foi preparada por agentes da CIA; comandos britânicos treinaram uma escória de mercenários armada pelos EUA e pela Grã-bretanha; a chamada Zona de Exclusão Aérea não passou de um slogan para facilitar a passagem pelo Conselho de Segurança e iludir o propósito da subsequente intervenção militar; a anunciada não participação da Força Aérea Americana, nos primeiros dias dos bombardeamentos, foi só uma farsa porque a NATO, que assumiu a direcção da guerra, é um instrumento dos EUA por estes controlada, e porque as próprias forças aeronavais estado-unidenses interviriam activamente nos bombardeamentos e na guerra cibernética.
Mas as coisas não correram como eles desejavam. Os «rebeldes» somente entraram em Tripoli transcorridos seis meses. As suas vitórias foram forjadas pela comunicação social. A NATO acreditava poder repetir o que aconteceu na Jugoslávia, onde os bombardeamentos aéreos forçaram Mihailovich a capitular. Kadhafi resistiu, apoiado por grande parte do povo líbio. Independentemente do balanço que se faça da sua intervenção na Historia em quatro décadas de poder absoluto, Muamar Kadhafi resistiu com bravura à agressão desencadeada pelas maiores potencia militares Ocidentais. A tropa fandanga do CNT foi um exército ficcional que somente avançava à medida que as bombas da NATO reduziam a ruínas as infra-estruturas líbias. Milhares de civis líbios foram massacrados nesta guerra repugnante.
Nos últimos dias, uma orgia de violência irracional atingiu Tripoli. O bombardeamento sónico, para aterrorizar a população, coincidiu com as bombas que caíam do céu. Os invasores submeteram a cidade a um saque medieval, matando, saqueando, violando, num cenário de horror. Os media europeus e norte americanos difundiam noticias falsas. A bandeira da corrupta monarquia senussita foi hasteada em Terraços donde «rebeldes» disparavam sobre o povo.
Os muitos milhares de milhões de dólares do povo líbio depositados na banca internacional foram confiscados pelos governos ocidentais.
Mas, para frustração de Washington e seus aliados, a resistência prossegue enquanto que o paradeiro de Kadhafi e outros responsáveis líbios, que não se submeteram, é desconhecido.
Sobre o CNT, um saco de gatos mascarado de governo provisório, chovem agora felicitações.
Cavaco Silva e Passos Coelho, obviamente, associaram-se a esse coro da desvergonha, cumprindo o seu papel de pequenos sátrapas coloniais.

Os Editores de odiario.info

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Água fluoretada, uma herança nazista

Cláudia Rodrigues no Sul21

Em setembro de 2003, e lá se vão oito anos, uma petição internacional assinada por mais de 300 cientistas, químicos, técnicos e ambientalistas de 37 países, pediu a revisão, esclarecimento e discussão sobre os benefícios e malefícios da adição à água encanada do flúor, íon utilizado como preventivo de cáries. Atendendo à petição, foram apresentados vários estudos comprovando os riscos para a saúde geral do corpo, especialmente dos ossos, devido à ingestão desse potente agente químico que quando ultrapassa apenas 1 ppm já causa problema até nos dentes. De lá para cá, muitas pesquisas vêm atestando ligações entre ingestão de flúor e doenças da modernidade. Autistas, por exemplo, não devem beber água fluoretada. Embora não haja confirmação de associação direta entre o flúor e a disfunção, sabe-se que ele potencializa os sintomas do autismo.
O problema da adição de uma droga, venenosa ou não, na água de todas as pessoas, é uma questão delicada. Até que ponto as autoridades têm o direito de institucionalizar um tratamento medicamentoso na água para todos os cidadãos de todas as idades? Sabendo-se da ligação entre tal produto e desencadeamento de patologias, como e por quais razões se mantêm a mesma diretriz?
A retirada, diante das evidências, bate na trave econômica e política. Subproduto da indústria do alumínio, o íon, que mata um corpo adulto com apenas 5 gramas, não pode ser simplesmente jogado na natureza. A confiança inicial de que em doses ínfimas espalhadas pelas águas e alimentos no mundo, só faria bem aos dentes, evitando cáries, fez com as políticas se consolidassem nesse gigantesco contrato comercial mundial, agora difícil de ser desfeito, especialmente em países em desenvolvimento que têm de um lado a população ignorante que aceita as decisões públicas e privadas sem questionamentos e de outro os concentradores de renda, que defendem o status quo a qualquer preço.
Alguns países, já a partir de 2003, outros antes, retiraram o flúor da água e passaram a adicioná-lo ao sal de cozinha, já que se consome menos sal do que água, o que reduziria o risco de ingestão excessiva do íon, cumulativo no corpo humano. Diante das evidências e para reparar a visão equivocada, baseada em pesquisas que só levavam em conta a prevenção de cáries, muitos países simplesmente não utilizam mais o uso sistêmico do flúor como preventivo de cáries; apostam na educação alimentar, higiene e no uso tópico, diretamente aplicado nos dentes. No Canadá, Áustria, Finlândia, Bélgica, Noruega, França e Cuba, alguns dos países que pararam de fluoretar suas águas, os índices de cáries continuaram caindo. Estudos sobre a ingestão do flúor, que a partir da década de 1970 também foi adicionado a alimentos, leites em pós e a alguns medicamentos, apontam malefícios graves e cumulativos para a saúde em geral. Os danos começam pela fluorose, que pode ser leve, causando manchas esbranquiçadas nos dentes ou grave, quando a dentição permanente fica com manchas marrons ou chega a ser perdida, esfacelando os dentes. Para que isso ocorra basta que crianças de zero a seis anos sejam expostas à ingestão diária do íon. O resultado visível só aparece nos dentes permanentes, já a ingestão de flúor na gravidez compromete a primeira dentição da criança.
O flúor no corpo- Quando ingerido o flúor é rapidamente absorvido pela mucosa do estômago e do intestino delgado. Sabe-se que 50% dele é eliminado pelos rins e que a outra metade aloja-se junto ao cálcio dos tecidos conjuntivos. Dentes e ossos, ao longo do tempo, passam a ficar deformados, surgem doenças e rachaduras. A hipermineralização dos tecidos conectivos dos ossos, da pele e da parede das artérias é afetada, os tecidos perdem a flexibilidade, se tornam rígidos e quebradiços. Para que tudo isso ocorra, segundo estudo de 1977 da National Academy of Sciences, dos EUA, o corpo humano precisaria absorver durante 40 anos apenas 2mg de flúor por dia. Parece difícil ingerir tanto, mas a fluorose já é um fato, uma doença moderna comprovada. Diversos estudos químicos atestam que o flúor é tão tóxico como o chumbo e, como este, cumulativo. Quanto mais velhos mais aumentamos a concentração de flúor nos nossos ossos, o que traz maiores riscos de rachaduras e doenças como a osteoporose (veja o primeiro link). A versão natural do flúor, encontrada na natureza, inclusive em águas minerais, peixes, chás e vegetais tem absorção de 25% pelo corpo humano, mas a fluoretação artificial é quase que totalmente absorvida. A maior parte se deposita nas partes sólidas do organismo, os ossos, e parte pequena vai para os dentes. Acredita-se que o fluoreto natural tenha algum papel importante para a saúde humana, mas isso ainda não foi completamente comprovado. 
No Brasil a adição de flúor à água começou em 1953 em Baixo Guandu, ES, virou lei federal (6.050/74) e a campanha da fluoretação das águas, abraçada pela odontologia em parceria com sucessivos governos desde a década de 1960, continua em alta e tem como meta atingir 100% da água brasileira encanada. Águas potáveis também recebem flúor e algumas águas minerais possuem mais flúor em sua composição do que é recomendado para evitar a fluorose, que é algo situado entre 0,5 ppm e 1ppm, dependendo da temperatura ambiente, já que no verão ou em locais mais quentes se consome mais água. Os odontologistas que ainda defendem a adição do flúor na água potável e encanada afirmam ser a fluorose, que atingiu adolescentes nas últimas gerações com manchas brancas, um problema menor diante das evidências de redução das cáries, comprovadas por várias teses, elaboradas nos anos 1960 e 1970. Segundo eles esse método é o mais eficaz para reduzir índices de cárie que variam entre 20% e 60%. Da década de 1960 para cá, além da fluoretação das águas brasileiras, a população teve acesso maior às escovas de dentes, que tornaram-se mais baratas e populares. Na Suécia, por exemplo, onde não há fluoretação das águas, a cárie foi erradicada por meio da educação da população.
O flúor nos dentes- A redução de cáries por acesso ao flúor ocorre em decorrência de uma regulação do ph bucal, que teria maior constância via corrente sangüínea a partir da ingestão dessa substância. Após escovarmos os dentes com creme dental fluoretado, mantemos o ph ideal por cerca de duas horas. Apesar da campanha pró-ingestão de flúor, nenhum dentista defende a água fluoretada sem a dobradinha boa higiene e boa alimentação. Não há ph administrado pelo flúor que regule os detritos retidos entre os dentes; esses detritos desregulam o ph local, tornando-o mais ácido, o que favorece o surgimento de cáries e outras doenças periodontais. O açúcar torna o ph do sangue muito ácido e ao lado dele o outro grande vilão é o carboidrato, daí os odontologistas condenarem o abuso de doces, biscoitos e pães entre as refeições, especialmente os feitos com farinhas refinadas. Segundo Pedro Cordeiro, odontologista em Florianópolis, uma boa alimentação e uma escovação bem feita três vezes ao dia são métodos extremamente eficazes para a prevenção de cáries. “Recomendo aos pais que não usem creme dental fluoretado em crianças até cinco anos, pois é possível que engulam o creme acidentalmente ou voluntariamente, o que acarretaria a fluorose.” Uso de fio dental, escovação com água e uma boa alimentação são suficientes para evitar o surgimento de cáries em qualquer idade, garante o dentista.
Medidas seguras- Na água potável encanada são recomendados no máximo 0,6 ppm de flúor, o que causa em crianças menores de sete anos uma fluorose mínima ao nascerem os dentes permanentes. “Acima de 1,5 ppm de flúor na água bebida por crianças menores de sete anos a fluorose é mais agressiva e pode causar má aparência nos dentes permanentes, mas existe tratamento para essa fluorose nos consultórios dentários”, garante o professor Jaime Cury, da Unicamp, defensor da adição de flúor à água. Em Cocalzinho, cidade de Santa Catarina, o flúor contido numa água natural, (1000 ppm) causou sérios danos aos dentes das crianças da região, com perdas parciais e totais dos dentes permanentes. Profissionais de várias partes do Brasil interessaram-se pelo caso, que foi documentado no final da década de 1980. Em 2004 a água mineral Charrua, do RS, apresentava 4ppm de flúor, o que pode resultar em fluorose avançada. O flúor está presente nos cremes dentais desde 1989, inclusive nos infantis, sendo hoje difícil encontrar no mercado convencional um creme dental para uso diário sem o íon. Normalmente os cremes dentais recebem de 1000 ppm a 1800 ppm de flúor. Não há pesquisa que ateste que o flúor aplicado, sem ingestão, cause qualquer mal, mas segundo vários estudos em odontopediatria os problemas de fluorose verificados em todo o Brasil nos últimos anos estão relacionados ao uso de creme dental porque crianças pequenas, além de serem extremamente vulneráveis à ingestão do flúor, engolem acidentalmente ou voluntariamente o creme dental. Uma das razões da ingestão voluntária, em crianças maiores de 3 anos, se deve ao sabor doce dos géis dentais infantis. A fluorose aparente nos dentes de crianças e adolescentes é uma realidade no Brasil.
Diferenças de miligramas são fatais- O argumento que sustenta a adição de flúor à água potável encanada e às águas engarrafadas baseia-se na defesa do controle da cárie infantil, mas quando as águas brasileiras começaram a ser fluoretadas em massa, em 1974, os cremes dentais não eram fluoretados e as informações sobre os hábitos de higiene e de alimentação iniciavam nas capitais e cidades maiores. Naquela época o flúor ainda não era adicionado a medicamentos, chicletes, biscoitos e leites em pó para bebês, que quando somados ao flúor da água ultrapassam o nível recomendado para lactantes em até 80%. O leite humano possui cerca de 00,1ppm de flúor, uma quantidade já bastante inferior à dos leites em pó, mais isso depende, obviamente, da alimentação da mãe. Durante a década de 1980, quando a fama do flúor como preventivo de cáries era inquestionável, muitas mulheres grávidas tiveram prescrição para tomar comprimidos que incluíam o íon na composição. Hoje já não se receitam suplementos de flúor para gestantes, pois as que tomaram enfrentaram problemas de fluorose na primeira dentição de seus filhos. Foi um teste “científico” que não deu certo, mas não foi o primeiro.
Flúor e o nazismo- As primeiras pesquisas com ingestão de flúor em humanos foram feitas em campos de concentração nazistas com o intuito de acalmar os prisioneiros, que ingeriam o íon a partir da água com até 1500 ppm de flúor. O resultado gerava uma espécie de apatetamento, os prisioneiros cumpriam melhor suas tarefas sem questioná-las. Com o mesmo objetivo o flúor é adicionado a alguns medicamentos psiquiátricos hoje em dia. Mais de 60 tranquilizantes largamente utilizados contêm flúor, como Diazepan, Valium e Rohypnol, da Roche, ligada à antiga I.G.Farben, indústria química que atuou a serviço da Alemanha nazista. http://www.theforbiddenknowledge.com/hardtruth/fluoridation.htm
Essa ligação histórica desperta brigas ferrenhas entre os adeptos da adição do flúor à água e os que são contra, esses últimos acusados pelos primeiros de fazer terrorismo e estabelecer o caos social em nome da nova ordem mundial, que está aí a questionar as bases que sustentam a economia.
A Associação Brasileira de Odontologia recomenda a adição de flúor à água potável como método preventivo fundamental para o Brasil, país grande, de população pobre e desinformada sobre os hábitos de higiene e de alimentação. Segundo o professor Jaime Cury,que passou mais de 20 anos estudando a prevenção da cárie, o flúor adicionado à água tem uma importância social inquestionável. “Gostaria de ser o primeiro a anunciar que o flúor não precisa mais ser adicionado à água, mas o povo brasileiro, a maior parte da população, a que é pobre e desinformada, não escova os dentes corretamente, não pode cuidar da alimentação e é beneficiada pela adição de flúor na água.”
Para ele, “a fluorose leve que não causa mal-estar social, nem deveria ser considerada um problema ou doença porque as crianças com fluorose leve, manchinhas brancas, têm dentes mais fortes.”
Questões políticas- A ciência odontológica vê a fluorose média ou grave como problema principal em conseqüência da adição de flúor à água, mas médicos, químicos e toxicologistas afirmam que a fluorose é apenas o começo de um problema espalhado por todos os ossos do corpo, sobrecarregando a glândula pineal e acarretando outras conseqüências na saúde devido a alteração do funcionamento bioquímico. Eles alertam que as doenças podem demorar anos para surgir, pois o flúor é cumulativo. Nunca houve uma denúncia formal ligando o flúor à indústria de alumínio; as pesquisas feitas por químicos e neurologistas focam exclusivamente os danos do íon à saúde humana. Polêmica à parte, algo não está sendo levado em conta: é praticamente impossível encontrar água que não tenha sofrido adição de flúor. Por uma convenção entre sucessivos governos, a ciência odontológica e a indústria de alumínio, o brasileiro perdeu o direito de beber água sem o aditivo.

Cláudia Rodrigues, jornalista, terapeuta reichiana, autora de Bebês de Mamães mais que Perfeitas, 2008. Centauro Editora. Blog: http://buenaleche-buenaleche.blogspot.com

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Expansão do ensino universitário e técnico no Brasil: condição para o desenvolvimento

editorial do Sul21

O lançamento da terceira fase do Plano de Expansão da Rede Federal de Educação, ocorrido na última segunda feira (22), marca o esforço que o governo brasileiro vem fazendo para modificar o quadro do ensino universitário e da qualificação técnica e científica no país. O Plano prevê a criação de quatro novas universidades, 47 campi federais e 208 Institutos Profissionais e Tecnológicos, distribuídos em municípios de todos os estados da federação, selecionados entre os que se situam nas faixas de até 50 mil e de até 80 mil habitantes.
No Rio Grande do Sul serão implantados dois novos campi universitários, um da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em Cachoeira do Sul, no Vale do Jacuí, região Central, e outro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Tramandaí, no Litoral Norte. Serão criados, até 2014, 16 novos Institutos Federais de Ensino Técnico (IFETs), em todas as regiões do estado, e 40 novas Escolas Técnicas Federais, em 38 municípios gaúchos. O número total de matrículas no ensino universitário federal no Rio Grande do Sul chegará a 84 mil e a 44 mil no ensino técnico e tecnológico.
Em todo o Brasil, a meta fixada para 2014 será atingir 1,2 milhão de matrículas nas universidades federais e 600 mil nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Um esforço importante, que colocará o Brasil e sua população em condições mais favoráveis para enfrentar as transformações em curso no mundo contemporâneo. A passagem da era industrial, baseada no petróleo e nos automóveis, para a era da informática, firmada nas tecnologias de comunicação e informação, produzirá um reordenamento na economia mundial e nos países que a lideram. Só aqueles que estiverem preparados para enfrentar os novos desafios colocados, sejam países ou populações, terão condições de ocupar posição de relevo.
Depois de “dormir em berço esplêndido” durante séculos, o Brasil despertou nas últimas décadas e se lança agora ao esforço de recuperar o tempo perdido. Último país das Américas a criar uma universidade e figurando hoje entre os países com menor número de estudantes universitários proporcionalmente à sua população, o Brasil precisa, de fato, ter pressa.
Segundo o Mapa da Educação Superior, produzido pela UNESCO em 2008, enquanto no Brasil apenas 20% dos jovens na faixa dos 18 aos 24 anos frequentavam universidades, no Chile eles somavam 43% e na Argentina chegavam a 61%. Números que não são muito diferentes dos encontrados na França, na Espanha e no Reino Unido, onde o total de estudantes universitários situa-se sempre acima de 50% dos jovens da referida faixa etária.
De acordo com o mesmo estudo da UNESCO, grande parte dos estudantes universitários brasileiros está matriculada em instituições superiores particulares. Apenas 27% deles estão em universidades públicas, colocando o país no último lugar entre os países pesquisados na América Latina e no Caribe quanto à freqüência de instituições superiores públicas. À frente do Brasil situam-se El Salvador (penúltimo lugar), com 34%, o México, com 66%, e a Argentina (primeiro lugar), com 75% dos estudantes universitários na rede pública.
Vem crescendo, no entanto, nos últimos anos, o acesso das classes C e D ao ensino superior no Brasil. Segundo estudo do Instituto Data Popular, realizado com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a classe D ultrapassou, desde 2009, a classe A no número de estudantes nas universidades públicas e privadas brasileiras. Os estudantes das classes C (renda familiar entre  três e dez salários mínimos) e D (renda familiar entre um e três salários mínimos) somados representam 72,4% dos estudantes universitários no país.
O Plano de Expansão da Rede Federal de Educação, agora anunciado, evidencia um redirecionamento significativo na política educacional brasileira. Iniciado no governo Lula, com a retomada da criação de escolas técnicas federais, com a ampliação das vagas e dos cursos nas universidades federais, bem como com a criação do financiamento estudantil público, o redirecionamento agora se aprofunda. O Estado, por meio do governo federal, assume a tarefa de expandir os ensinos universitário, técnico e tecnológico no país, levando-os a todas as regiões e aos seus municípios de pequeno e médio porte – o que facilitará também o acesso da população de baixa renda ao ensino técnico e universitário públicos.
O Brasil se prepara, finalmente, para ingressar no rol das nações desenvolvidas. Fará isto, ao que tudo indica, incorporando cada vez mais o conjunto amplo de sua população às benesses do desenvolvimento econômico, social e cultural. Aliás, é bom que não se esqueça nunca, tomando por base as Nações desenvolvidas, que as possibilidades de desenvolvimento de um país só se tornam plenas quando se tornam plenas também as possibilidades de desenvolvimento das mais amplas parcelas de sua população.

Outra vez campeão: Leandro Damião dá bi da Recopa ao Inter


por Alexandre Alliatti no Globo Esporte

É uma fonte que não seca, é uma rotina que não cansa, é uma história escrita sem ponto final. Ano após ano, desde 2006, o Inter conquista pelo menos um título de nível internacional. O novo integrante da lista é a Recopa Sul-Americana de 2011. Com excelente primeiro tempo de Leandro Damião, autor de dois gols, o time gaúcho bateu o Independiente por 3 a 1 e conquistou o bicampeonato.
Damião sobrou. Chegou a 34 gols na temporada e virou o grande protagonista do título. Kleber, cobrando pênalti sofrido por Jô, fechou o placar depois de o Independiente descontar. No primeiro jogo, na Argentina, o time de Avellaneda havia vencido por 2 a 1.
Assim, o Inter repete a conquista de 2007. Já são oito títulos internacionais desde 2006 - duas Libertadores, um Mundial, uma Sul-Americana, uma Copa Suruga e uma Copa Dubai completam a coleção. O título embala o Inter para o Campeonato Brasileiro. E tem Gre-Nal. Domingo, os colorados encaram seu maior rival no Olímpico.
O futebol certamente não era a preferência de Nietzsche, pensador dos mais pirados (e dos mais geniais), quando ele criou a tese do eterno retorno. Em um resumo simplista, é como se o mundo vivesse um ciclo em repeteco infinito: o passado, o presente e o futuro ocorrendo repetidas vezes, eternamente, sempre com os mesmos fatos. Se não entendeu, peça explicação a um colorado. Ele acorda, todos os dias, com a certeza de que Leandro Damião fará gol.
O Inter vive em um paradoxo de tempo e espaço. Está em eterno retorno por causa de seu camisa 9. O passado de gols dele, o presente de goleador dele, o futuro certamente de matador dele parecem se juntar a cada instante, se repetir a cada dia. Os gols de ontem são os gols de hoje e serão os gols de amanhã - um pouco diferentes uns dos outros, é bem verdade, mas sempre presentes.
Exageros à parte, não foi brincadeira o que o camisa 9 do Inter fez nos primeiros 45 minutos do jogo contra o Independiente. Ele marcou dois gols, quase deixou mais um, quase encerrou a carreira de Gabriel Milito, zagueiro com pompa de Europa, ex-jogador do Barcelona, que vai passar alguns dias se perguntando de onde saiu esse centroavante.
internacional campeão recopa (Foto: AP)Jogadores do Inter comemoram o título da Recopa, após vitória por 3 a 1 no Beira-Rio (Foto: AP)

Cinco minutos separaram os dois gols. No primeiro, aos 20, Damião passou reto por dois marcadores pela ponta direita, especialmente por Milito, avançou área adentro e bateu. De bico. O mesmo jogador que havia feito um gol de bicicleta contra o Flamengo agora marcou de bico. Belo gol.
Aos 30, aconteceu o segundo. A bola viajou até a direção onde estavam Damião e Milito. No corpo, o colorado ganhou a jogada. A bola tocou no chão, subiu e já encontrou a chuteira do centroavante. Foi uma pancada em diagonal. Golaço.
Não foi tudo. Damião deu chapéu em um marcador e saiu fazendo embaixadinhas de cabeça. O Beira-Rio soltou um grito coletivo de prazer estético. O mesmo centroavante quase fez outro. Mandou uma patada cruzada. A bola voltou a encontrar a rede, mas por fora.
Mas havia um porém, um aviso, um recado. Por duas vezes, o Independiente chegou com força no ataque. Poderia ter diminuído, levado o jogo a um placar que renderia prorrogação. O sinal ficaria mais claro no segundo tempo.
 
Susto antes do título

Parecia encaminhado o título. Só parecia. Veio o segundo tempo, e com ele, a galope, veio o susto. Com apenas três minutos do período final, a defesa colorada vazou (o que também passa um sentimento de eterno retorno: acontece sempre), e Maxi Velázquez recebeu dentro da área, acossado apenas por Elton, para mandar chute forte. Muriel não teve muito a fazer. Era o gol do Independiente.
Ficou ruim. E poderia ter ficado ainda pior. Muriel fez defesa muito difícil em pancada de Ferreyra. No rebote, Pérez arrumou o corpo para empatar, mas Kleber cortou na hora certa.
A torcida tentava apoiar. Mas era palpável a tensão no estádio. O Inter se ajeitou em campo e quase ampliou - primeiro com Índio, de cabeça, depois com Dellatorre, parado pelo goleiro Navarro. E aí veio outra má notícia. D’Alessandro sentiu fisgada muscular e teve de ser substituído.
Andrezinho entrou no lugar dele. Jô também foi a campo, na vaga de Dellatorre. O Independiente passou a dar sinais de satisfação com o resultado. E foi punido. O goleiro Navarro fez pênalti em Jô. Kleber partiu para a cobrança. E fez. Era o gol do título.
Aí foi esperar, foi deixar o tempo passar, foi contar os minutos até mais um título. Doce rotina: desde 2006, ano após ano, o Inter conquista pelo menos um troféu estrangeiro. Também é um eterno retorno...
leandro damião e kleber comemoram gol do Internacional sobre o Independiente (Foto: EFE)Heróis da noite: Damião, autor de dois gols, e Kleber, que marcou o terceiro, comemoram juntos (Foto: EFE)