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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
domingo, 20 de maio de 2012
A Doutrina Espírita e as Transformações Sociais
Marcadores:
espiritualismo,
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socialismo
Economia do que? Não em Educação
O educador Walter Takemoto rebate Gustavo Ioschpe que escreveu artigo
no qual afirmava que aumentar salário de professor não significa melhora
na qualidade da educação.
Por Walter Takemoto na CAROS AMIGOS
O Sr. Gustavo Ioschpe em entrevista ao portal Terra no dia 27 de abril (leia aqui)
ao comentar as greves de professores em defesa do piso salarial
nacional declarou que reajustar os salários do magistério não significa
que a educação no país vai melhorar: aumentar salário de professores não
é um caminho para a melhoria da qualidade da educação, afirmou ele. O
Sr. Ioschpe, especialista e mestre em economia da educação nos EUA,
declarou ainda "É surpreendente e decepcionante que o País perca tanto
tempo com uma discussão que toda a experiência internacional e
brasileira já demonstrou ser infrutífera."
"Discuto essa questão com os professores para que compreendam a armadilha que representa para a categoria quando o movimento sindical vincula, única e exclusivamente, o baixo salário ao grave problema da qualidade da escola pública brasileira" |
Em encontros com professores eu costumo afirmar que reajustar os
salários não significa que a aprendizagem dos alunos irá melhorar
automaticamente, ou seja, se o magistério receber um reajuste de 100%
não ocorrerá um impacto imediato de 100% na aprendizagem de matemática,
ou nem mesmo de 10%. Pois, caso isso ocorresse, poderíamos concluir que
antes os alunos não aprendiam por uma decisão deliberada dos
professores, como forma de protesto pelos baixos salários. E isso seria
criminoso, por representar destruir o futuro de milhões de crianças e
adolescentes (a grande maioria pobres), que não possuem nenhuma
responsabilidade pelas decisões dos gestores e governantes.
Uma atitude desse tipo seria comparável ao médico que deixa parte dos
seus pacientes morrerem por falta de tratamento para protestar contra o
salário pago pelo SUS. Ou o engenheiro que sabota a construção do
prédio para exigir aumento de salário, e coloca em risco a vida dos
moradores.
Discuto essa questão com os professores para que compreendam a
armadilha que representa para a categoria quando o movimento sindical
vincula, única e exclusivamente, o baixo salário ao grave problema da
qualidade da escola pública brasileira. Essa vinculação é que abre
espaço para que especialistas como o Sr. Ioschpe ofereçam os argumentos
necessários para os que querem jogar sobre os salários pagos ao
magistério o mal uso dos recursos destinados à educação.
E ai aproveito para perguntar ao Sr. Ioschpe: se reajustar os
salários não vai elevar a qualidade da educação no país, mantê-los em
níveis aviltantes vai contribuir para melhorar? As experiências
educacionais internacionais que o senhor tanto estudou, comprovam que
pagar baixo salário melhora a educação mais do que pagar salários dignos
profissionalmente?
Diz, ainda, o Sr. Ioschpe na entrevista “...trabalham em uma escola
cumprindo carga horária inferior à maioria das profissões e com férias
mais longas, e ganha aquilo que é de se esperar para o seu nível de
formação e carga horária. Enquanto não superarmos esses estereótipos e
mistificações, a discussão nacional não vai pra frente. Estamos
discutindo falsos problemas".
De quais professores fala o Sr. Ioschpe? Dos que trabalham em escolas
privada consideradas de excelência, que atende parte da elite
"Quando o Sr. Ioschpe fala de carga horária, provavelmente deve estar se referindo a jornada de trabalho medida em horas e esquecendo-se de analisar o efetivo exercício do trabalho docente e os seus desdobramentos" |
brasileira, que cobram mensalidades dos seus alunos que é muito
superior ao que ganha na média o professor da escola pública, ou do
custo aluno/ano estabelecido pelo FUNDEB?
Quando o Sr. Ioschpe fala de carga horária, provavelmente deve estar
se referindo a jornada de trabalho medida em horas e esquecendo-se de
analisar o efetivo exercício do trabalho docente e os seus
desdobramentos.
Segundo o censo escolar de 2009 do MEC/INEP, o Brasil conta atualmente com 1.882.961 professores atuando na educação básica.
Do total de professores da educação básica 63,8% atuam em um único
turno, que são os que o Sr. Ioschpe diz que “atuam em uma escola e
cumprindo carga horária inferior à maioria das profissões”, argumento
que utiliza para defender que o salário pago aos docentes é compatível
com o mercado. Na grande maioria esses docentes são os professores dos
anos iniciais do ensino fundamental, contratados para uma jornada
semanal de trabalho de 20 a 25 horas semanais, o que dificulta que
possam acumular um outro contrato. São professores unidocentes ou
polivantes, ou seja, são responsáveis por alfabetizar e ensinar todos os
conteúdos curriculares para, em média, 35 crianças. São esses
professores responsáveis, em grande parte, pelo futuro escolar dessas
crianças, pois profissionalmente são responsáveis pelo complexo processo
de alfabetização e letramento dos alunos, que muitos dos chamados
especialistas em educação desconsideram quando se referem aos
professores dos anos iniciais do ensino fundamental.
E se não sabe o Sr. Ioschpe é bom que passe a considerar em suas
análises futuras: alfabetizar e ensinar 35 crianças é considerar que
cada uma delas aprende em um processo e ritmo diferentes das demais, não
sendo possível parametrizar e modelar técnicas que possibilitem ensinar
todas ao mesmo tempo e do mesmo jeito, por mais que queiram impor essa
concepção determinados especialistas.
Os professores dos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano)
são os professores especialistas, que em grande parte ministram uma
única disciplina. Do total de professores dessa etapa da educação básica
66,3% atuam em até 5 turmas, ou seja, são responsáveis por ensinar
para, em média, 175 alunos de escolas diferentes. E 17,8% dos
professores atuam em mais de 9 turmas, o que representa ensinar para no
mínimo 315 alunos!
"E será que o especialista em economia da educação sabe que a gestão de uma única turma significa, no cotidiano, lidar com situações diferentes a cada dia" |
Será que o Sr. Ioschpe tem noção do que significa ter sob sua
responsabilidade por volta de 250 alunos por semana? Organizar aulas,
materiais, lidar com problemas dos alunos e os próprios problemas,
improvisar diante da falta de recursos, se locomover de uma escola a
outra, conviver com os problemas sociais da comunidade que atravessam os
muros da escola e muitas vezes explodem na sala de aula, entre outros
que desafiam a resistência pessoal e profissional dos docentes?
E será que o especialista em economia da educação sabe que a gestão
de uma única turma significa, no cotidiano, lidar com situações
diferentes a cada dia, pois a complexidade das relações que se
estabelecem entre professor-aluno, aluno-aluno e os fatos sociais locais
ou não, interferem decisivamente na dinâmica das mesmas e, portanto, no
contexto da sala de aula?
Não quero aqui ser leviano e comparar o salário que é pago ao
professor com o de outros profissionais, pois correria o risco de ser
inconsequente.
Importa dizer, como apontam pesquisas internacionais que o Sr.
Ioschpe parece consultar e dar credibilidade, que o professor brasileiro
recebe um dos piores salários pagos ao magistério no mundo, inclusive
comparando com países com PIB mais baixo.
E, por outro lado, em todo o mundo governantes e pesquisadores
afirmam que a educação, principalmente a formal, é o principal recurso
do qual dispõe a humanidade para fortalecer a democracia, implementar um
modelo de desenvolvimento sustentável e mais justo socialmente, e
reduzir as diferenças existentes entre os países e povos ricos e pobres.
Fundamental
Se a educação possui essa importância global, aqui no Brasil os
governantes e os empresários dizem que o crescimento econômico
verificado nos últimos anos não se sustentará sem que ocorra a melhoria
efetiva da qualidade das escolas públicas, formando alunos que atendam
aos desafios impostos pela competitividade da globalização e do mercado.
São interesses fundamentalmente empresariais e econômicos, mas que
demonstram o quanto a educação está no centro dos interesses de todos os
setores sociais.
Se a educação é fundamental para o país, estamos falando, portanto,
dos professores das escolas públicas, aos quais o governo federal
garantiu em lei um piso salarial nacional que no inicio de 2012 deveria
ser de R$ 1.451,00 para uma jornada de 40 horas semanais e que,
infelizmente, muitos governantes não cumprem o que determina a lei.
Leis descumpridas
O que diz o Sr. Ioschpe sobre os governantes que não cumprem a lei
federal que determina o piso salarial como o menor salário a ser pago a
um professor de escola pública? Nada! Se os governos estaduais e
municipais cumprissem a lei do piso, inclusive criando planos de cargos,
carreiras e remuneração que valorizem efetivamente o profissional da
educação, não estaríamos aqui discutindo os salários aviltantes e nem os
professores precisariam recorrer à greve, que sabemos o quanto é
desgastante para o magistério e para os alunos e seus familiares.
Bastaria os governantes fazerem o mínimo: cumprir a lei federal que
instituiu o piso nacional como o menor salário a ser pago aos
professores das escolas públicas que o desejo do Sr. Ioschpe seria
atendido!
E ai poderíamos estar discutindo outras questões que estão associadas à qualidade da escola pública, como:
- qual o currículo adequado para os cursos de formação inicial de
professores, que efetivamente garanta aos futuros profissionais o
conhecimento didático necessário para que possam ensinar com qualidade a
todos os alunos;
- quais são as estratégias formativas mais adequadas, que possam
substituir os estágios como hoje são desenvolvidos em grande parte das
instituições formadoras, para que os futuros professores possam se
apropriar da cultura escolar e profissional, na perspectiva de
contribuir para que a escola possa se transformar em uma organização
social flexível e permeável;
- construir um amplo movimento de educadores, não subordinado aos
órgãos governamentais, que debata nas escolas e comunidades o projeto
educativo para o país que possa efetivamente orientar as políticas
educacionais que são fundamentais para que a escola pública possa ser de
qualidade;
- debater com as comunidades, sindicatos, conselhos escolares, do
Fundeb, e outras instituições e movimentos interessados em discutir a
educação, quais devem ser as prioridades para investimentos dos recursos
destinados à educação e que estão associados a qualidade do ensino e da
aprendizagem.
Debates
Esses, e muitos outros temas, devem fazer parte permanentemente dos
debates entre os profissionais da educação, e seus sindicatos, pois quem
faz a educação são aqueles que cotidianamente estão nas escolas e salas
de aula, portanto são os que podem, e devem, estar a frente das
definições das políticas educacionais do nosso país. Caso contrário,
veremos sempre os especialistas dizendo o que é importante para a
educação, um pequeno grupo planejando as políticas educacionais e as
prioridades para o país, alguns determinando como e quando serão
implementadas, os educadores nas escolas executando o que mandaram ser
feito, e os milhões de alunos sofrendo os efeitos perversos do que se
decidiu em algum lugar distante das escolas.
Isso não significa, como tenta nos fazer crer o Sr. Ioschpe, que a
discussão salarial é perda de tempo, ou que os professores estão
satisfeitos com a remuneração que recebem, e que falar em desinteresse
pelo magistério é bobagem. Em todo o país grande parte dos professores
são contratados em caráter precário, muitos lecionam disciplinas para as
quais não foram formados em decorrência da dificuldade das secretarias
de contratar professores habilitados em diversas especialidades, como
física, química, matemática, biologia, entre outras. Por outro lado,
como especialista em economia da educação deveria saber que quanto mais
atrativos são os salários e os benefícios oferecidos, maior é a
capacidade de se atrair e reter os profissionais mais qualificados. Não é
por outro motivo que algumas das chamadas escolas privadas de
excelência chegam a pagar salários superiores a R$ 10.000,00 mensais.
Medidas concretas
Finalizando, é preciso que a importância que se atribui à educação se
converta em medidas concretas, valorizando a escola pública e seus
educadores na mesma proporção da responsabilidade que se deposita na
instituição escolar e seus profissionais. Da mesma forma que se avalia o
professor e seus alunos, por meio das avaliações externas de
desempenho, é preciso que a sociedade avalie os gestores, as políticas e
as prioridades que definem, os modelos de gestão que adotam para o
sistema de ensino e as relações que estabelecem com os educadores e as
comunidades. Se a qualidade da educação tem como centro a escola pública
(o que significa seus profissionais e alunos), é preciso não perder de
vista que ela integra um sistema e, portanto, sofre as consequências das
decisões que são tomadas no órgão central, que muitas vezes trata o
desempenho escolar como responsabilidade única e exclusiva dos seus
profissionais.
Se não sabe o Sr. Ioschpe é bom que saiba: muitos professores estão
cansados, desiludidos de tanto ouvir que a educação é prioridade, e não
perceberem essa importância se transformar em ações efetivas que mudem a
realidade das escolas e salas de aula. Ou investimentos efetivos na
valorização do trabalho que desenvolvem. O que garante os avanços que a
escola pública vem tendo nos últimos anos é que, apesar de tudo que ao
longo da história as elites e os governantes fizeram no nosso país para
reduzir a qualidade da escola pública quando esta se tornou acessível
para todos os pobres e excluídos, ainda existem muitos professores que
teimam em militar pela profissão docente e a resistir por acreditarem
que é possível uma outra escola pública. Diferente daquela que projeta o
Sr. Ioschpe.
Walter Takemoto é educador
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sábado, 19 de maio de 2012
64 anos do Nakba: A limpeza étnica da Palestina e as responsabilidades ocidental e brasileira
Por Idelber Avelar na REVISTA FORUM
I -Palestina Árabe
A derrota que os árabes impuseram ao domínio bizantino na Palestina,
confirmado entre os anos 633 e 638 da era cristã, foi bem recebida pela
população local,
tanto por cristãos como por judeus e samaritanos, que ainda eram grupos
numericamente importantes na região. Estes últimos grupos tinham todos
os motivos para preferir a organização árabe, vítimas que já eram da
intensa perseguição cristã, que só pioraria com os séculos (aliás, no
início do período árabe na Palestina—que se estenderia pelos próximos
1.300 anos–, uma pequena população judaica voltaria a se estabelecer em
paz em Jerusalém, depois de 500 anos de ausência, que datavam da
sangrenta expulsão que os romanos lhe haviam imposto no segundo século
da era cristã). O período árabe também foi bem recebido pelos cristãos
da região, que “eram arameus [e] não ficaram incomodados pela
organização árabe, pois a etnia era semelhante, de origem semítica”, não
tendo eles “motivos para gostar da administração bizantina, de origem
romana, não semítica”1.
Na Palestina árabe, apesar de um imposto específico para judeus e
cristãos, eles gozavam de proteção como “Povos do Livro”, e a atmosfera
não tinha muito em comum com o regime de terrorífica perseguição que se
instalaria nas regiões controladas pelo Cristianismo. A Sura 2 de Maomé
explicitamente rejeita a conversão e o proselitismo violento: “Não
obrigueis ninguém em assuntos de religião”. A violência sectária só
voltaria a se disseminar na Terra Santa com as empresas cristãs de
conquista conhecidas
como Cruzadas, a primeira das quais foi proclamada pelo Papa Urbano II
em 1095 e resultou no estabelecimento do “Reino de Jerusalém”, em 1099,
uma fortaleza de reduzidas relações com seu entorno árabe, ironicamente
semelhante, neste aspecto, ao enjaulamento que as construções
israelenses ilegais hoje impõem a Jerusalém.
As cruzadas à Palestina enfrentariam os muçulmanos locais aos
invasores cristãos, com a pequena população judaica da região
frequentemente lutando ao lado daqueles contra estes, como em 1099, em
Jerusalém, e em 1100, em Haifa. No século XII, na época da Segunda
Cruzada, os muçulmanos se reunificam politicamente sob o comando do
General Saladino, curdo nascido em Cairo. Saladino recupera Damasco
(1174), Acre, Jafa, Beirute, e a própria Jerusalém, em 1187. Na Terceira
Cruzada, Ricardo Coração de Leão derrotaria Saladino, forçando-o a
negociar e celebrar o tratado de paz que “abriu caminho a um período de
calmaria militar e tolerância religiosa na Palestina”2, permitindo aos cristãos visitar os lugares sagrados. A Quarta
Cruzada (1199) planejava tomar o Egito por mar, mas fez um desvio para a
região da atual Turquia, instalando o Império Latino de Constantinopla.
A Palestina só voltaria a ser afetada pela Cruzada de Federico II que,
conhecedor da língua árabe, foi capaz de “obter do sultão a entrega
pacífica, embora condicionada, de várias terras e das cidades de Belém,
Nazaré e Jerusalém, onde o imperador entrou e foi coroado em 1229”3.
Já em 1244, Jerusalém voltaria ao poder dos árabes, e o último reduto
cristão na Palestina, São João de Acre, cairia em 1291. O controle de
toda a área entre o Jordão e o Mar Mediterrâneo—os atuais territórios de
Israel e da Palestina Ocupada—permaneceria em mãos árabes até a invasão
turco-otomana, em 1517. Mesmo durante o período marcado pela sua
incorporação ao Império Turco-Otomano (de 1517 até 1917, com uma
interrupção egípcia durante a década de 1830), a Palestina manteria sua
enorme maioria árabe, organizada segundo laços sociais bem arraigados na
região, que o império turco não alteraria significativamente.
As sucessivas demonstrações de desmemória na política ocidental para o
Oriente Médio contrastam com o forte arraigo que certos eventos
históricos possuem na reminiscência das massas árabes. Em 1993, acusado
de estar celebrando com os israelenses, em Oslo, um tratado que não
concedia nada aos palestinos e o instalava na posição de cão de guarda
de Israel, o líder Yasser Arafat insistia, um pouco pateticamente (dadas
as condições em que negociava), que ele não celebraria qualquer paz,
mas “a paz de Saladino”. O leitor dos EUA não tinha a menor noção do que
se referenciava ali, mas o povo árabe não deixava de notar a ironia
involuntária da impotente insistência de Arafat na menção a Saladino.
Antes de entrar no período histórico que imediatamente influencia o
curso dos acontecimentos que nos ocupam, portanto, é boa ideia lembrar
alguns fatos que se desprendem desse esquemático sumário de alguns
séculos de história palestina. Inicia-se no século VII uma intensa
arabização da região, que já era visível em séculos anteriores a Maomé,
mas que solidifica suas raízes com a chegada dos árabes a Jerusalém, em
638, e a construção da mesquita Al-Aqsa. Durante os próximos 1.300 anos
os árabes serão a grande maioria em toda a região da Palestina. No
período das Cruzadas, estima-se que havia em torno de 1.000 famílias
judias na região.4
Em 1914, já depois das primeiras ondas migratórias estimuladas pelo
sionismo, a Palestina (ainda, naquele momento, sob domínio otomano)
tinha uma população de 657.000 árabes muçulmanos, 81.000 árabes cristãos
e 59.000 judeus.5
De acordo com o censo da Palestina de 1922, feito pelos britânicos, a
população era 78% muçulmana, 9,6% cristã (árabe, claro) e 11% judaica.
No entanto, no jornalismo “ponderado” sobre a região, mesmo depois de 60
anos de limpeza étnica e 43 anos de ocupação ilegal, você verá
desinformados funcionários da grande mídia dissertando, “mui
ponderadamente”, sobre os “direitos” dos dois povos sobre a Palestina.
O domínio otomano sobre a Palestina dura de 1517 a 1917, com uma
interrupção de 10 anos de administração egípcia na década de 1830. A
submissão ao império turco não altera de forma significativa o regime de
posse baseado na renda agrícola das terras, já visível no período do
sultanato, anterior aos otomanos. Esse sistema relativamente
descentralizado de vilas e aldeias, com arrecadação por senhores de
terras e trabalho de cultivo por lavradores, arraiga-se na região e
ajuda a explicar o terror dos palestinos com—e sua impotência para se
defender contra—a violenta campanha de confisco de terras e separação de
raças que se inicia com o armamento dos sionistas, nas décadas que
antecedem a fundação do estado de Israel. Nas primeiras décadas do
século XX, o sionismo armado traria à região um modelo eminentemente
europeu de organização territorial e compreensão do espaço,
caracterizado pela acumulação, posse e construção de barrreiras
fronteiriças. Munidos desse olhar que historicamente relativiza os
fatos, nos preparamos para explicar alguns “mistérios” que cercam a
história recente: como foi possível que metade de uma população árabe
palestina que já se media em bem mais de um milhão tenha sido expulsa
tão rapidamente por algumas dezenas de milhares de colonos sionistas?
Como foi possível que o nascente estado judeu tenha adquirido uma
supremacia tão incontestável no conflito com seus vizinhos árabes e com
os palestinos? Para repetir a pergunta que abre um artigo já clássico de
Walid Khalidi: Por que os palestinos foram embora?6Observando
a realidade relativamente fluida de comunicação entre as aldeias
árabes, a intensa organização acumuladora de terras e de armas entre os
colonos sionistas e o papel das grandes potências–particularmente da
Grã-Bretanha—no processo, começamos a vislumbrar a explicação, que só se
completará, claro, com um estudo do que aconteceu em 1948. A
compreensão dessa diferença nos regimes de posse da terra, no entanto, é
parte da explicação da vitória sionista. Essa explicação, aliás, não
tem a menor necessidade de recorrer a estereótipos antissemitas do judeu
mais esperto ou conspirador, nem a estereótipos antissemitas do árabe
mais atrasado ou indolente, nem a falsificações da mitologia oficial
israelense, que repetiram durante décadas que os palestinos saíram
voluntariamente ou obedecendo a misteriosas ordens radiofônicas dos
próprios árabes, mentiras já cabalmente corrigidas pela própria
historiografia israelense.
II – Da Declaração de Balfour (1917) à Palestina do Mandato Britânico (1922-48)
Quando se estuda o processo histórico pelo qual se chegou à atual,
desastrada situação na Terra Santa, salta aos olhos a responsabilidade
das potências ocidentais que, ao longo do século XX (para nos atermos à
história mais recente), jogaram um jogo duplo, perigoso e marcado pela
reversão do que se havia dito antes. Pensando em seu próprio interesse e
em completa desconsideração pelo destino de milhões de civis inocentes,
a Grã-Bretanha literalmente toca fogo na região, ao fazer promessas
contraditórias aos povos árabes e ao movimento sionista. O reino de Sua
Majestade não possui sequer a desculpa de que se tratava de uma causa
nobre. Era 1916 e 1917, e tratava-se da consolidação de sua coalizão na
Primeira Guerra Mundial. Ao contrário da Segunda Guerra, defensável como
reação legítima à agressão nazi-fascista, a Primeira é um típico
conflito napoleônico-clausewitziano moderno, um choque entre impérios. A
Turquia, aliada dos alemães, mantinha a Palestina árabe sob o seu
império otomano (como se viu acima, um jugo relativamente frouxo, onde a
vida palestina seguia com considerável autonomia, situação que nem de
longe tinha nada em comum com o horror das posteriores expulsão e
ocupação israelenses). Interessada em atrair os árabes, a Grã-Bretanha
promete para depois da guerra, em correspondência oficial entre Sir
Henry Mac Mahon e o xeque Hussein, de Meca, a criação de um estado
independente nas províncias do império turco em que se falava o árabe. A
luta dos árabes contra a dominação otomana acabaria sendo decisiva para
a vitória de seus aliados britânicos naquele front. Toda a evidência
histórica demonstra que as lideranças árabes esperavam que os britânicos
cumprissem sua palavra e confirmassem o estado árabe independente
depois da guerra. Não foi o que aconteceu.
Ter prometido algo aos árabes não impediu que a Grã-Bretanha
celebrasse com a sua aliada França um tratado contraditório com a
promessa anterior. Os acordos de Sykes-Picot, de 1916, entre
Grã-Bretanha e França, reservavam aos franceses a Síria e o Líbano. Em
1917, as forças otomanas se rendem ao general britânico Allenby em
Jerusalém e em 1918 se confirma o fim do regime otomano na Palestina. O
Tratado de Versalhes, de 1919, selaria o arranjo de Sykes-Picot entre
França e Grã-Bretanha, deixando aos britânicos a área da Jordânia (então
chamada de Transjordânia), do Iraque e da Palestina. A Liga das Nações,
fundada depois da guerra, avalizaria esse arranjo, segundo o qual as
duas potências ocidentais se responsabilizariam por um “mandato”
temporário sobre essas regiões, até a sua independência formal. Em 22 de
julho de 1922, a Liga das Nações aprova o mandato britânico na
Palestina, que deixaria como legado o progressivo armamento dos
colonizadores sionistas e a catástrofe palestina de 1948.
Ao mesmo tempo em que prometia independência aos árabes, o império
britânico fazia sua famosa promessa ao movimento sionista internacional,
a Declaração de Balfour (1917), patentemente contraditória com a
promessa feita aos árabes e com o próprio arranjo subjacente a
Sykes-Picot e a Versalhes. Enviada pelo secretário exterior britânico
Arthur James Balfour ao Barão Rotschild, para transmissão à Federação
Sionista da Grã-Bretanha e da Irlanda, a declaração mudaria a história
do Oriente Médio: “O governo de Sua Majestade vê favoravelmente o
estabelecimento na Palestina de um lar nacional para o povo judeu, e
usará seus melhores esforços para facilitar a realização desse objetivo,
ficando claramente entendido que nada será feito que possa prejudicar
os direitos civis e religiosos das comunidades não judias existentes na
Palestina, ou os direitos e status político desfrutados por judeus em
qualquer outro país”. Apesar de que a declaração mencionava a
preservação de todos os direitos da população nativa, é evidente que
“Balfour não tinha nenhum interesse em consultar os árabes da Palestina
acerca de seu futuro”7.
Em suas memórias, Lloyd-George, primeiro-ministro em 1917, se refere à
declaração como uma recompensa a Chaim Weizmann, um dos líderes
sionistas mais importantes daquele momento (depois primeiro presidente
de Israel) e químico que havia desenvolvido um método de sintetizar a
acetona na produção de pólvora. A declaração também está inserida na
tentativa de mobilizar as comunidades judaicas da Rússia e dos EUA no
apoio aos esforços de guerra britânicos, e termina sendo um enorme
estímulo ao movimento sionista. Depois da vitória aliada, o próprio
Chaim Weizmann participaria da Conferência de Paz de Paris, em 1919,
clamando por uma “Palestina tão judia como a Inglaterra é inglesa”8,
num momento em que os judeus representavam não mais que 10% da
população da Palestina. No ano seguinte, fundava-se na Palestina a
Hagana, organização paramilitar judaica depois responsável pelo
extermínio ou limpeza étnica de centenas de aldeias palestinas.
Só depois de três décadas (1880-1910) de migração, compra de terras e
armamento sionistas é que aparecem os primeiros registros de
preocupação entre as lideranças palestinas. Em 06 de maio de 1911, o
palestino e membro do parlamento otomano, Said al-Husayni, apontava que
“os judeus planejam criar um estado na área que incluirá a Palestina, a
Síria e o Iraque”9.
Segundo o historiador israelense Ilan Pappe, já entre 1905 e 1910 há
alguma evidência de discussão, entre líderes palestinos, do fenômeno do
sionismo como movimento político que acumulava poder e terra. Mas só a
partir da queda do regime otomano na Palestina (1917) e o começo do
período britânico (ocupação em 1918, mandato da Liga das Nações em
1922), o movimento sionista se lançaria paulatinamente a um plano de
limpeza étnica dos árabes. Ali passa a ser visível a preocupação
sistemática e, por vezes, o pânico das lideranças palestinas com as
ondas migratórias, a acumulação de terras e a violência física que se
iniciava. Mas ao longo das duas últimas décadas do século XIX e das duas
primeiras do século XX, a imigração sionista não esteve entre as
grandes preocupações dos palestinos.
Na década de 1920, os palestinos representavam ainda uma maioria de
80% a 90% na região. A tentativa inglesa de construir estruturas
paritárias que reconciliassem as promessas contraditórias feitas por
eles ao povo árabe e ao movimento sionista encontrou compreensível
resistência entre os palestinos, que “se recusaram, no começo, a aceitar
a sugestão britânica de paridade, especialmente uma paridade que os
colocava na prática em desvantagem—o que incentivou os líderes sionistas
a endossarem-na”10.
Começa a se desenhar ali um paradigma que seria reconhecível até os
dias de hoje: 1) instala-se uma mediação ocidental que recomenda uma
solução patentemente favorável ao sionismo; 2) os árabes protestam,
apontando, como no caso em questão, que a paridade entre um povo que
representa 90% da população e outro que totaliza 10% contraria o mais
elementar princípio da democracia; 3) a liderança sionista, com intenso
trabalho de relações públicas, manifesta concordância tática com a
solução apresentada, sabendo que a recusa árabe os coloca na posição de,
ao mesmo tempo, aceitar um plano e não se comprometer com ele; 4)
enfraquecidos politica e militarmente, os representantes árabes voltam
atrás e aceitam a solução originalmente apresentada pela potência
ocidental; 5) ante a concordância árabe com o plano, é a vez da
liderança sionista dizer que a solução lhe é inaceitável, o que lhe
permite arrastar o impasse e, a partir de sua posição de força,
aboncanhar mais e mais, ao mesmo tempo em que adia outra vez uma solução
definitiva; a vitória não impede que a liderança sionista prolongue o
impasse, reinstalado por um aumento das suas exigências; 6) esse
prolongamento faz com que todo o ciclo se reinicie, com mais concessões
árabes e mais impasse, até o ponto a que chegamos hoje, em que a
população palestina já não tem o que oferecer, exceto alguma forma
mágica de desaparição. Esse filme se repete com macabra previsibilidade,
ante o olhar conivente das potências cúmplices (Grã-Bretanha e, depois,
os EUA), desde 1928, vinte anos antes da fundação do estado de Israel. É
a data em que as lideranças palestinas, “apreensivas com a crescente
imigração judia ao país e com a expansão de seus assentamentos
colonizadores, concordam com a fórmula [paritária] como uma base para as
negociações”11.
É a data em que os sionistas já não a aceitam e os britânicos
permanecem de braços cruzados. Esses mesmos sete passos se repetirão em
1947-48, no episódio que os apologistas da ocupação israelense descrevem
como o momento em que as Nações Unidas ofereceram um plano de partição
“que os judeus aceitaram e os árabes recusaram”. Já veremos adiante todo
o contexto que essa frase omite.
Entre 1924 e 1928 chegam mais 67.000 judeus (metade dos quais
oriundos da Polônia), elevando a população judaica para 16% do total da
Palestina do Mandato. Naquele momento, os judeus são donos de 4% da
terra na Palestina. O censo de 1931 registra uma população de 1,03
milhão de almas, 16,9% judeus. A não implementação, por parte da
Grã-Bretanha, da fórmula paritária que ela própria havia proposto, leva à
rebelião árabe de 1929, o primeiro grande sinal de descontentamento com
a política imposta no Mandato. Imagine um povo que representa quase 85%
da população se rebelando, em sua própria terra, para ter a paridade
que lhe havia sido proposta com os outros 15% que acabavam de chegar.
Agora imagine que a autoridade administrativa responsável pela proposta
se beneficiara da colaboração desse povo, como aliado seu, numa guerra
mundial, e que a moeda de troca oferecida por essa colaboração não era
paridade nenhuma, mas um estado seu, autônomo, em suas terras. Com isso
você terá os elementos centrais para entender a primeira rebelião de
desobediência civil árabe na Palestina moderna. Os confrontos em torno
ao Muro das Lamentações em 1929 levam à morte de 133 judeus e 116
árabes, a maioria por mãos inglesas.12 Em 1931, funda-se o Irgun, outra organização paramilitar judia que se caracterizaria pelos ataques sangrentos aos árabes.
Ao se completar uma década e meia da queda do regime otomano e uma
década da implantação do Mandato Britânico na Palestina, vão se
configurando os elementos que produziriam a tragédia: 1) o fim da ameaça
otomana ao sionismo, que depois de 15 anos já não tem que temer
qualquer eventual expulsão sua da Palestina vinda do regime de Istambul;
2) o pesado armamento de grupos paramilitares sionistas como a Hagana e
o Irgun, que vão acentuando a escolha por conquista e violência; 3) a
perplexidade das lideranças palestinas, arraigadas em séculos de
organização social descentralizada e não equipadas por sua experiência
para se contrapor de forma efetiva à ofensiva territorial e armamentista
do sionismo; 4) a incapacidade de setores das elites árabes de perceber
a natureza do fenômeno sionista, vendo-o muito mais como uma “tentativa
irresponsável por parte da Europa de transferir ao país o seu povo mais
pobre e sem estado”13;
e evidentemente 5) a subida ao poder do Partido Nacional Socialista
alemão, que em menos de uma década alçaria 19 séculos de antissemitismo a
níveis jamais vistos, com a intensa campanha de perseguições, agressões
bélicas e matanças que culmina, já numa Europa em guerra, com o
genocídio de 6 milhões de judeus.
Qual é, então, a Palestina que assiste à invasão hitlerista da
Polônia que dá início à Segunda Guerra Mundial em 1939? Robert Fisk
acerta ao descrevê-la como presa a uma “atmosfera de suspeita, paranóia e
intenso sofrimento”, tanto para árabes como para judeus, “os primeiros
com medo de a Grã-Bretanha acabar autorizando a fundação do estado
israelense em suas terras, e os segundos observando a aniquilação de sua
raça na Europa”14.
Não há dúvidas de que, na medida em que vão ficando visíveis as
dimensões do Holocausto judeu na Europa, reforça-se a percepção sionista
de que a implantação de seu estado na Palestina é uma questão de
sobrevivência. Mas antes mesmo do início da Segunda Guerra Mundial, em
1938, a voz de historiadores como George Antonius já se levantava contra
a eventual “resolução” do problema às custas dos árabes palestinos:
O tratamento dado aos judeus da Alemanha e outros países europeus é uma vergonha para seus autores e para a civilização moderna; mas a posteridade não exonerará nenhum país que não consiga enfrentar sua parte dos sacrifícios necessários para aliviar o sofrimento e a angústia dos judeus. Impor a maior parte da carga à Palestina árabe é uma miserável forma de esquivar-se das responsabilidades que deveriam recair sobre todo o mundo civilizado. Também é moralmente vergonhoso. Nenhum código moral pode justificar a perseguição de um povo em uma tentativa de pôr fim à perseguição de outro. O remédio para a expulsão dos judeus da Alemanha não deve ser buscado na expulsão dos árabes de sua pátria; e também não se conseguirá o alívio da angústia dos judeus às custas da angústia de um povo inocente e pacífico.15
Seria difícil formular o protesto em termos mais claros e moralmente
firmes que os de Antonius. Suas palavras datam de 1938 e são, portanto,
anteriores à guerra e aos horrores dos fornos crematórios nazistas;
precedem, em uma década inteira, a fundação do estado de Israel e a
expulsão de 750.000 palestinos de suas terras. Mais de sete décadas
depois de enunciadas, elas ainda ecoam em sua atualidade e retidão
ética.
III – A responsabilidade da diplomacia brasileira no Nakba: Oswaldo Aranha
Antes de transferir a questão da Palestina às mãos das Nações Unidas,
em fevereiro de 1947, os ingleses apresentaram a proposta de um estado
binacional, rejeitada pelos sionistas. Na mitologia oficial israelense, é
frequente a referência à rejeição árabe do plano de partição
apresentado pela ONU em 1947, mas é muito menos comum qualquer menção à
rejeição sionista do plano inglês de um estado binacional. Já antes da
transferência da questão à ONU, a liderança sionista tinha bastante
claro que a Grã-Bretanha saía da Segunda Guerra Mundial como uma
potência de segunda ordem, muito mais interessada, portanto, em
abandonar o imbróglio da Palestina que em ajudar a resolvê-lo. Também já
estava claro para os sionistas que só restavam os britânicos entre eles
e a execução do plano de limpeza étnica, e que a saída britânica da
região era iminente. O imperialismo ocidental mais uma vez largava um
desastre de sua criação nas mãos de uma população nativa não equipada
para resolvê-lo. Qualquer semelhança com o Iraque atual não é mera
coincidência.
O Brasil também tem sua responsabilidade histórica no arranjo que
produz a catástrofe palestina. Foi Oswaldo Aranha, diplomata brasileiro,
quem presidiu as discussões que levariam à fundação do estado de
Israel. Até mesmo a hagiográfica biografia de Aranha escrita pelo
norte-americano Stanley Hilton dá alguma ideia do que foram as manobras
do diplomata brasileiro. Convocado pelo general Dutra em 1947, Aranha
seria o representante brasileiro no Conselho de Segurança da recém
fundada Organização das Nações Unidas. Depois, seria eleito presidente
da sessão especial da Assembleia Geral encarregada de discutir o
problema da Palestina. Aranha prometeria aos representantes árabes
“plena liberdade de discussão” do tema, logo depois que a Assembleia
rejeitara uma proposta árabe para que se incluísse na agenda a questão
da independência da Palestina. Não foi o que aconteceu. Ante a
observação do Grã Mufti de Jerusalém, de que “os judeus queriam se
apoderar da Palestina para sua maior expansão na região”, Aranha
retrucou que “a opinião do Mufti não me interessa”16.
A recomendação do comitê enviado à Palestina foi favorável ao ponto de
vista sionista, ou seja, a partilha, por uma maioria de sete votos (num
total de onze). Mas na Asssembleia Geral, vinte países se abstiveram e a
recomendação não teve os dois terços necessários. Hilton relata que os
últimos dias de novembro foram de crescente tensão, e que apesar das
declarações públicas de Aranha, de que não exerceria nenhuma influência,
sua atuação nos bastidores era fortemente alinhada com os sionistas,
fato reconhecido por Abba Eban, membro da equipe negociadora da Agência
Judaica na ONU17.
Quando a liderança sionista percebe que ainda não detinha a maioria,
inicia uma manobra pelo adiamento da votação. Aranha “inteirado da
situação, usou de sua autoridade para ajudar: quando terminaram alguns
discursos protelatórios encomendados, anunciou ‘com irreverência’ que,
sendo período de férias nos Estados Unidos, seria justo que a Assembleia
o respeitasse e suspendeu a sessão”18.
Quando se reabriram os trabalhos, no dia 29 de novembro, eram os árabes
que sentiam que haviam perdido terreno. Tentaram adiar o voto. Aranha
ignorou uma moção do Irã, que pedia um reexame da questão palestina e um
adiamento dos trabalhos para janeiro de 1948. Aranha, que tinha “a mão
mais rápida no martelo que já vi”, segundo a expressão de Abba Eban,
procedeu a conduzir a votação, que aprovou a partição da Palestina por
33 votos a favor, 13 contra e 10 abstenções. Note-se aí, claro, a
limitada representatividade da ONU naquele momento anterior à
descolonização na África e Ásia. Os árabes, num padrão que se repetiria
ao longo do anos, deixaram o espaço livre para os sionistas ao se
retirarem do recinto. Chaim Weizmann, que seria o primeiro presidente de
Israel, testemunhou a Aranha que “a sessão da Assembleia não poderia
ter terminado com esta decisão histórica [...] se não fosse vosso
esforço persistente e vossa devoção como presidente”19.
Em 29 de novembro de 1947, quando a ONU adotou a resolução de
partição da Palestina, os árabes representavam dois terços da população
da região. Eles eram aproximadamente 90% no início do Mandato Britânico,
em 1922. A partição proposta pelo Comitê Especial das Nações Unidas
para a Palestina (UNSCOP, pela sigla em inglês) concedia ao terço judeu
nada menos que 56% do território, deixando aos dois terços árabes
somente 44% da terra. Por pressões do Vaticano e das nações católicas, a
resolução da partição reservava à cidade de Jerusalém (de população de
200.000 pessoas, divididas mais ou menos igualmente entre árabes e
judeus) a condição de área internacionalmente governada. A divisão
demográfica dos dois putativos países era bizarra: no estado árabe,
deveriam viver 818.000 palestinos, hospedando 10.000 judeus. No estado
judeu, viveriam 438.000 palestinos entre 499.000 judeus. Esse estado
detinha a esmagadora maioria das terra férteis e, das 1.200 aldeias
palestinas, aproximadamente 400 estavam incluídas em seu interior, sob
soberania sionista20.
Elaborada pelo UNSCOP, cujos membros não sabiam muito sobre a
Palestina, a partição se transformaria na Resolução 181 da ONU. Não é de
se estranhar que a liderança palestina do momento a rejeitasse. Com o
boicote palestino ao UNSCOP, com certeza um erro político grave, a
liderança sionista, de ampla superioridade bélica, se viu livre para
dominar também o jogo diplomático.
A amarga ironia da história, quando a vemos do ponto de vista árabe, é
que, como já argumentou a própria historiografia israelense (Simcha
Flapan, por exemplo), se os palestinos tivessem aceitado a partição, a
liderança sionista com certeza a teria rejeitado21.
Basta examinar as comunicações entre Ben-Gurion e a hierarquia sionista
para ver como a rejeição árabe ao plano de partição permitiu ao
sionismo aceitá-lo publicamente e ao mesmo tempo trabalhar contra ele.
Logo depois da adoção da Resolução 181, Ben-Gurion afirmava ao círculo
da liderança sionista que a rejeição árabe ao plano significava que “não
há fronteiras territoriais para o futuro estado judeu” e que as
fronteiras “serão determinadas pela força e não pela resolução de
partição” (p.37). Respondendo a um líder sionista e ministro do exterior
(Moshe Sharett) acerca das possibilidades de defender o seu território,
Ben-Gurion afirmava: “seremos capazes não só de nos defendermos, mas de
infligir golpes letais aos sírios em seu próprio país—e tomar a
Palestina como um todo” (p.46). Essas comunicações, disponíveis para
consulta nos próprios arquivos israelenses, demonstram claramente que a
liderança sionista viu o plano de partição como uma conquista tática,
que colocava em definitivo sobre a mesa a legitimidade de um estado
judeu na Palestina e estabelecia um trampolim para conquistas
posteriores. Essas conquistas, é certo, foram facilitadas pelo perplexo
boicote palestino ao Comitê da ONU. Reitere-se, então, que as citações
de Ben-Gurion acima são parte de uma ampla documentação que prova que a
liderança sionista jogou um jogo duplo e não se comprometeu com a
partição como fórmula definitiva. Isso jamais é mencionado pelos
apologistas da ocupação de Israel que repetem a consigna de que “os
judeus aceitaram a partição de 1947 e os árabes a rejeitaram” como
justificativa dos crimes cometidos por Israel em 2010, e bem além dos
limites dessa partição.
Antes de descrever a expulsão dos palestinos de suas terras, mais um
elemento do xadrez político legado pelo Mandato Britânico deve ser
explicado: o acordo sionista-jordaniano que deixa os palestinos sem o
apoio do principal exército árabe na Guerra de 1948 e à mercê do
superior poder bélico sionista. Aliada dos ingleses na Primeira Guerra
Mundial, a família real Hashemita havia recebido os reinos da Jordânia e
do Iraque como recompensa por seus serviços. O que passou a ser
conhecido como Transjordânia “era um pouco mais que um principado
desértico e árido ao leste do Rio Jordão, cheio de tribos beduínas e
aldeias circassianas” (p.43). As férteis terras da Palestina situadas a
oeste do Rio Jordão, no que hoje é conhecido como Cisjordânia (ou seja, o
grosso do território do que é, legalmente, a Palestina atual), passaram
a ser objeto da cobiça da família real Hashemita. Havia poucos judeus
ali, e entre 1946 e 1947 a realeza jordaniana e a liderança sionista
chegaram um acordo: os jordanianos não interfeririam na guerra
árabe-israelense que se avizinhava—promessa que os jordanianos
cumpriram—e a região da Cisjordânia seria anexada pelo reino dos
Hashemitas, sem interferência sionista—promessa que os israelenses
quebraram em 1967, ao ocupar o território e mantê-lo sob seu controle,
picotagem policial e colonização armada até hoje. Também ali se
instalaria um paradigma repetido incontáveis vezes desde 1948. Acuados
pelo poder superior dos sionistas, as elites árabes vizinhas rifavam os
palestinos, deixando-os entregues à própria sorte num jogo no qual não
tinham nenhuma chance. É mais um elemento da tragédia do Oriente Médio.
Revisando os diários de Ben-Gurion e os arquivos israelenses
posteriores à partição, o historiador Ilan Pappe encontra certa surpresa
e júbilo entre a liderança sionista com o caráter limitado da reação
palestina ao recorte de suas terras. Seguindo-se à Resolução 181, os
palestinos se limitam a convocar uma greve geral de três dias, durante a
qual a repressão inglesa foi duríssima. As revoltas árabes que
aconteceram entre 1936 e 1939 deram também à organização paramilitar
judia Hagana sua primeira experiência na execução das táticas militares
aprendidas com a Grã-Bretanha. A destruição da liderança política
palestina seria decisiva para o rumo posterior dos acontecimentos. O
quadro que precede a guerra de 1948 é de intenso armamento sionista,
coincidindo com um momento de particular fragilidade da liderança
palestina, destroçada pela repressão britânica à revolta de 1936-39. No
jogo diplomático, começa a pesar a consciência culpada da Europa, em
choque com as dimensões gigantescas do Holocausto judeu, recém
perpetrado. Quebrar as promessas feitas aos árabes era preço
relativamente pequeno para expiar, às custas de outrem, a culpa européia
pelo judeocídio. No xadrez político da região, o acordo
sionista-jordaniano neutralizava o principal exército árabe. Em pânico
com os constantes ataques dos grupos paramilitares judeus (Hagana, Irgun
e Stern), a população autóctona, já em 1947, começa a perceber o
poderio sionista como uma força imbatível. Estava aberto o caminho para a
limpeza étnica da Palestina.
IV – A preparação da expulsão
Toda sorte de distorções e mitos já foram circulados sobre o que
aconteceu na Palestina entre o final de 1947 e o começo de 1949. Na
mitologia oficial israelense, no senso comum, no jornalismo mais venal
ou preguiçoso, nas Wikipédias e até mesmo em livros embalados como se
fossem de pesquisa historiográfica séria, essas distorções foram
sedimentando uma coleção de narrativas que recorrem a falsificações não
raro contraditórias entre si: 1) que o povo palestino como tal não
existia; 2) que ele existia mas que saiu voluntariamente de suas terras
em 1948; 3) que não saiu voluntariamente, mas que tampouco foi vítima do
sionismo, pois abandonou suas aldeias atendendo a ordens radiofônicas
dos próprios árabes; 4) no ramo da pseudo-historiografia sem-vergonha,
paga para mentir, já apareceram até livros sobre como os palestinos não
eram tão antigos assim na região, já que eles teriam chegado também em
imigração recente. Essas diferentes versões da mitologia oficial vão se
sucedendo ou se combinando, a gosto do freguês, formando uma geleia
geral de enganação empacotada. Acompanham-na algumas frases que, até
corretas em si mesmas, omitem um universo de contexto que lhes
transforma o sentido, como é o caso de “os sionistas aceitaram a
partição proposta pela ONU, os árabes, não”, analisado acima, e “a
guerra de 1948 foi iniciada pelos palestinos”, mantra que é essencial em
todo mascaramento do processo.
Como se sabe agora, a liderança militar sionista ficou surpresa com o
caráter limitado dos protestos palestinos que se seguiram ao decreto da
partição, em novembro de 1947. Afinal de contas, seu território havia
sido rachado com uma comunidade minoritária de colonos, que receberam
não só um naco de 56% do território, desproporcional à sua representação
na população, mas um naco que continha pelo menos 400 aldeias
palestinas, nas quais 800.000 palestinos deviam seguir vivendo sob
soberania imposta e recém chegada. Ao longo dos dias que se seguem à
partição, o comando sionista se reúne para encontrar formas de ataque
possíveis, ante a ausência de pretextos. Os arquivos estudados por Ilan
Pappe, das reuniões a liderança judaica na Palestina, dão amplo
testemunho do planejamento da limpeza étnica. Os fazendeiros dos
Kibbutzim transformavam suas cooperativas em postos militares, enquanto
nas aldeias palestinas a vida seguia seu curso, no qual a “normalidade
era a regra e a agitação a exceção”, segundo os informes do próprio
Palti Sela, membro de uma unidade de inteligência sionista. Ao longo do
mês de dezembro de 1947, anterior à guerra propriamente dita, as aldeias
palestinas sofrem uma campanha de terror e intimidação das organizações
paramilitares judias que representam o primeiro capítulo da limpeza
étnica da Palestina.
A linguagem da ameaça foi prática comum naquele momento, como mostra o
exemplo citado por Ilan Pappe, de panfletos lançados às aldeias sírias e
libanesas na fronteira palestina: “Se a guerra for levada até você, ela
causará expulsão massiva de aldeões, com suas mulheres e crianças …
haverá matança sem piedade, sem compaixão” (p.56). Lembremos que nesse
momento o sionismo já possui um mapa completo das aldeias palestinas,
incluindo-se informação sobre água, possíveis defesas e indivíduos
vinculados à resistência árabe durante os protestos de 1936-39. Esse
mapeamento seria chave na destruição das centenas de aldeias palestinas e
na expulsão de centenas de milhares de habitantes autóctonos da região
No mês de dezembro se disseminam as ações que a Hagana chamava de
“reconhecimento violento” (hassiyur ha-alim): invadir uma
aldeia à noite, instaurar toque de queda, atirar em qualquer um que ouse
sair de casa, permanecer durante algumas horas e ir embora. A aldeia de
Deir Ayyub foi uma das vítimas de dezembro de 1947. Com aproximadamente
500 habitantes, ela acabava de comemorar a abertura de uma escola. Foi
invadida por tropas judaicas que passaram a atirar indiscriminadamente
nas casas. Deir Ayyub ainda seria atacada três vezes antes de ser
destruída em sua totalidade em abril de 1948 (p.56). No nordeste da
Galileia, na aldeia de Khisas, algumas centenas de muçulmanos coexistiam
pacificamente há tempos com uma centena de cristãos. Até que no dia 18
de dezembro de 1947, tropas judaicas a invadiram e passaram a explodir
casas durante a noite, provocando a morte de quinze aldeões, pelo menos
cinco crianças. Ações como estas proliferaram ao longo de dezembro de
1947, e não costumam ser mencionadas pelos que justificam as atrocidades
de Israel com o argumento de que “os palestinos iniciaram a guerra” em
janeiro de 1948.
As ações de expulsão da população anteriores à declaração formal de
guerra em janeiro de 1948 não se limitaram às aldeias pequenas. Na
cidade de Haifa, principal porto da Palestina, 75.000 palestinos “foram
submetidos a uma campanha de terror instigada conjuntamente pelo Irgun e
pela Hagana. Como haviam chegado em décadas recentes, os colonos
judaicos construíram suas casas no alto das montanhas. Viviam
topograficamente acima dos bairros árabes e podiam disparar e lançar
morteiros contra elas. Começaram a fazê-lo com frequência a partir do
começo de dezembro. Usaram também outros métodos de intimidação: as
tropas judaicas rolavam barris cheios de explosivos, e enormes bolas de
aço, na direção das áreas residenciais árabes, lançavam óleo misturado
com combustível nas estradas, que aí incendiavam. Os residentes
palestinos, aterrorizados, corriam para fora de suas casas para tentar
apagar o fogo, e aí passavam a ser alvo de rajadas de metralhadora”
(p.58). A descrição documentada do que aconteceu em Haifa em dezembro de
1947 é importante porque a cidade é, com frequência, mencionada como
exemplo de que as lideranças judaicas insistiram para que os palestinos
ficassem e eles saíram “voluntariamente”.
V – Epílogo e promessa
Não está contada aqui, evidentemente, nada da história do Nakba
propriamente dito. Para se entender a monstruosidade a que foi submetida
o povo palestino, há que se conhecer os quatro planos de limpeza étnica
da Palestina elaborados pela liderança sionista desde antes da II
Guerra Mundial. O Plano A, também conhecido como “Plano Elimelech”, toma
seu nome do líder do comandante da Hagana que, em 1937, já elaborara, a
pedido de Ben-Gurion, um projeto de limpeza étnica a ser executado no
momento em que os ingleses abandonassem a Palestina. O Plano B foi
escrito em 1946 e ambos depois se fundiram no Plano C, que previa: a)
assassinatos seletivos da liderança política palestina; b) destruição da
infraestrutura de transporte palestina; c) sabotagem específica às
fontes de sustento da população nativa, como os moinhos; d) ataques
escalonados às aldeias; e) bombardeios de ônibus, cafés, locais de
reunião. O fundamental desse plano é mantido no projeto que é
efetivamente executado, o Plano D (Dalet), anterior à guerra de 1948, e que previa a sistemática expulsão do povo palestino de suas terras.
O Plano Dalet já é consenso entre a liderança sionista em Dezembro de
1947, antes da oficialização da guerra. Ao cabo do processo de limpeza
étnica, espantosamente curto e brutal, mais da metade da população
palestina nativa (pelo menos 750.000 pessoas) foi expulsa, 531 aldeias
foram destruídas e onze bairros urbanos foram esvaziados de sua
população, um crime contra a humanidade de enormes proporções, ainda
hoje negado e envolvido em falsificação. Hoje, os refugiados e seus
descendentes vivem esparramados por, em números aproximados, Jordânia (2
milhões), Líbano (430.000), Síria (480.000), além de 800.000 que são
parte da população palestina que mora sob ocupação militar israelense na
Cisjordânia (2,3 milhões) e outro 1,1 milhão que vive sob bloqueio (e
frequente bombardeio) militar israelense em Gaza. Outros 1,2 milhão de
palestinos vivem como cidadãos de segunda classe em Israel. O melhor
guia do Nakba é o livro de Ilan Pappé, The Ethnic Cleansing of Palestine,
infelizmente ainda inédito em português. Pretendo publicar num futuro
próximo, aqui pela Editora Publisher, um breve livro que contará um
pouco dessa história. Se você lê inglês e se interessa pelo
acompanhamento diário do horror, sugiro o site Electronic Intifada.
.
Referências bibliográficas: otoRe.N
1 Aragão, Maria José. Israel x Palestina: Origens, História e Atualidade do Conflito (Rio de Janeiro: Revan, 2006), p. 23-4.
4 Heynick, Frank. Jews and medicine, An Epic Saga, KTAV Publishing House, Inc., 2002 p.103.
5 McCarthy, Justin. The Population of Palestine. (Nova York: Columbia UP, 1990), p. 37-8.
5 McCarthy, Justin. The Population of Palestine. (Nova York: Columbia UP, 1990), p. 37-8.
6 Khalidi, Walid. “Why did the Palestinians leave?” Journal of Palestine Studies 34.2 (2005): 42-54. Ver também Benny Morris, The Birth of the Palestinian Refugee Problem Revisited (Cambridge: Cambridge UP, 2004).
7 Fisk, Robert. A grande guerra pelo Oriente Médio. Trad. Sandra Dolinsky (São Paulo: Planeta, 2007), p. 432.
15 Antonius, George. Arab Awakening: The Story of the Arab National Movement (Londres: International Book Center, 1938), p. 387.
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Discografia Antonio Nobrega
07 - Antonio Nobrega - Nove de Frevereiro 02 - 2006
Antonio Carlos Nóbrega nasceu em Recife, em 02 de maio de 1952 é um dos nossos melhores artistas sem sombra de duvidas.
Filho de médico, estudou no Colégio Marista do Recife. Aos 12 anos ingressou na Escola de Belas Artes do Recife. Foi aluno do violinista catalão Luís Soler e estudou canto lírico com Arlinda Rocha.
Com sua formação clássica, começou sua carreira na Orquestra de Câmara da Paraíba em João Pessoa, onde atuou até o final dos anos 60. Na mesma época participava da Orquestra Sinfônica do Recife, onde fazia também apresentações como solista.
Como contraponto à sua formação erudita, Antonio Nóbrega participava de um conjunto de música popular com suas irmãs.
Filho de médico, estudou no Colégio Marista do Recife. Aos 12 anos ingressou na Escola de Belas Artes do Recife. Foi aluno do violinista catalão Luís Soler e estudou canto lírico com Arlinda Rocha.
Com sua formação clássica, começou sua carreira na Orquestra de Câmara da Paraíba em João Pessoa, onde atuou até o final dos anos 60. Na mesma época participava da Orquestra Sinfônica do Recife, onde fazia também apresentações como solista.
Como contraponto à sua formação erudita, Antonio Nóbrega participava de um conjunto de música popular com suas irmãs.
"Só que a música popular que eu compunha e tocava era a das rádios e da
televisão: Beatles, Jovem Guarda, a nascente MPB, Caetano Veloso, Edu
Lobo". dizia ele.
Em 1971 Ariano Suassuna procurava um
violinista para formar o Quinteto Armorial e, após ver Antônio Nóbrega
tocando um concerto de Bach, lhe fez o convite que mudaria completamente
sua carreira musical.
Antônio Nóbrega, que até essa ocasião tinha pouco conhecimento da cultura popular, passou a manter contato intenso com todas suas expressões como os brincantes de caboclinho, de cavalo-marinho e tantos outros, que passou a conhecer e pesquisar.
Nóbrega revelou-se um fenômeno, ao conseguir unir a arte popular com a sofisticação. É, literalmente, um homem dos sete instrumentos, capaz de cantar, dançar, tocar bateria, rabeca, violão etc. Realizou espetáculos memoráveis em teatros do Rio de Janeiro e de São Paulo, com destaques para Figural (1990) e Brincante (1992). Figural é um espetáculo em que Nóbrega, sozinho no palco, muda de roupa e de máscaras para fazer uma das mais ricas demonstrações da cultura popular brasileira e mundial.
Terminou em 12 de novembro de 2006 a temporada paulistana do espetáculo 9 de Frevereiro, e, em seguida, iniciou a temporada carioca. Este espetáculo, cujo nome é uma alusão ao carnaval pernambucano e um trocadilho com frevo, explora várias formas de se tocar frevo: com uma orquestra de sopro, com um regional, com violino e percussão etc. Também há várias das formas de se dançar frevo: com apenas um dançarino (Nóbrega) em passos estilizados de dança moderna, com vários dançarinos em passos de frevo, com e sem sombrinha e até o público todo, em ciranda de frevo. Como não poderia faltar em um espetáculo enciclopédico sobre o frevo, há pelo menos dois momentos didáticos: em um a orquestra explica várias modalidades e costumes do frevo, e Antonio Nóbrega ensina uma pessoa da platéia a dançar frevo.
Como sempre, Nóbrega é praticamente desconhecido na televisão do Brasil. Apesar disso, seus espetáculos são extremamente concorridos.
Antônio Nóbrega, que até essa ocasião tinha pouco conhecimento da cultura popular, passou a manter contato intenso com todas suas expressões como os brincantes de caboclinho, de cavalo-marinho e tantos outros, que passou a conhecer e pesquisar.
Nóbrega revelou-se um fenômeno, ao conseguir unir a arte popular com a sofisticação. É, literalmente, um homem dos sete instrumentos, capaz de cantar, dançar, tocar bateria, rabeca, violão etc. Realizou espetáculos memoráveis em teatros do Rio de Janeiro e de São Paulo, com destaques para Figural (1990) e Brincante (1992). Figural é um espetáculo em que Nóbrega, sozinho no palco, muda de roupa e de máscaras para fazer uma das mais ricas demonstrações da cultura popular brasileira e mundial.
Terminou em 12 de novembro de 2006 a temporada paulistana do espetáculo 9 de Frevereiro, e, em seguida, iniciou a temporada carioca. Este espetáculo, cujo nome é uma alusão ao carnaval pernambucano e um trocadilho com frevo, explora várias formas de se tocar frevo: com uma orquestra de sopro, com um regional, com violino e percussão etc. Também há várias das formas de se dançar frevo: com apenas um dançarino (Nóbrega) em passos estilizados de dança moderna, com vários dançarinos em passos de frevo, com e sem sombrinha e até o público todo, em ciranda de frevo. Como não poderia faltar em um espetáculo enciclopédico sobre o frevo, há pelo menos dois momentos didáticos: em um a orquestra explica várias modalidades e costumes do frevo, e Antonio Nóbrega ensina uma pessoa da platéia a dançar frevo.
Como sempre, Nóbrega é praticamente desconhecido na televisão do Brasil. Apesar disso, seus espetáculos são extremamente concorridos.
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