Os laços com a América Latina e o Caribe, considerados estratégicos, e o bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba, que considerou anacrônico, foram alguns dos tópicos tratados pelo primeiro-ministro da Rússia, Dimitri Medvedev, em entrevista à agência noticiosa cubana Prensa Latina.
Para o primeiro-ministro russo, “as
relações com os países da América Latina e Caribe não são conjunturais e
nada têm a ver com as relações com outros países, sejam os Estados
Unidos ou outras nações; aqui temos vários países amistosos com os quais
estamos desenvolvendo uma colaboração em todos os níveis”.
Tendo em conta a análise do papel político e econômico da região, Medvedev afirma que se trata de uma região “de interesse estratégico e de aliados, por isso mantemos excelentes relações diplomáticas e econômico-comerciais com os países da região”.
O governante russo conta que acaba de visitar o Brasil, “o maior país da região, a quinta economia do mundo, que participa do Brics e com o qual mantemos vínculos muito variados”. Destacando o papel de outros países da região, assinala: “Podemos dizer o mesmo sobre a Argentina, o Chile, a Venezuela, o Equador e outros países com os quais mantemos relações muito avançadas”.
Rússia e Cuba
O primeiro-ministro russo se considera “otimista” quanto ao desenvolvimento das relações com Cuba. E explica os motivos. “Agora estou realizando uma visita a Cuba, que inclui todos os principais componentes de nossas relações, boas, tradicionais e avançadas. Nos últimos anos temos conseguido restabelecer um alto nível das relações cubano-russas e russo-cubanas. Nesta visita mantivemos negociações sobre todos os aspectos de nossa cooperação, seja econômica, humanitária e de política externa”.
Medvedev explica ainda que as relações entre a Rússia e Cuba não têm nenhum tema problemático. “Pelo contrário, avançamos em todas as direções”, enfatiza. Ele exemplifica que os dois governos assinaram 10 documentos muito importantes, cada um dos quais inclui oportunidades econômicas e soluções estatais e conta que manteve negociações amistosas e de confiança com o presidente do Conselho de Estado e de Ministros da República de Cuba, Raúl Castro Ruz. “Foi o nosso segundo encontro, já que nosso colega cubano visitou a Rússia há pouco.” Medvedev lembrou que em 2009 ele e Raúl Castro assinaram o memorando sobre relações estratégicas entre Cuba e a Federação Russa e que o desenvolvimento das relações entre os dois países se rege por este plano.
Medvedev detalha os aspectos que considera importantes nessas relações: “Colaboramos em muitas esferas, tanto tradicionais como novas. Não vou falar muito sobre projetos energéticos, pois uma parte deles já está realizada, ao passo que a outra parte será realizada. Gosto muito de nossos projetos no âmbito das altas tecnologias, seja a medicina, o espaço ou alguns planos industriais nos quais temos avançado muito”.
O primeiro-ministro teceu considerações sobre o estágio de desenvolvimento das relações comerciais e econômicas: “Provavelmente o atual intercâmbio comercial não esteja no nível que deveria, um pouco mais de US$ 200 milhões, o que não é muito. Os planos de investimentos são bons e crescerão, mas a circulação de mercadorias não é muito grande. Contudo, estou seguro de que é um assunto em mutação e que este indicador irá subindo e adquirindo novas formas de colaboração”.
Uma das áreas mencionadas por Medvedev foi o turismo. “Recuperamos em grande parte os contatos de circulação de pessoas. No ano passado, cerca de 90 mil turistas russos visitaram Cuba, apesar da enorme distância entre os dois países. Nossa gente conscientemente escolhe Cuba como destino para descanso e turismo. As pessoas gostam daqui, sentem-se cômodas aqui e têm sentimentos amistosos para com os cubanos, gostam de descansar aqui. Temos um fundamento muito sólido criado em outro período histórico e creio que é sumamente importante para nós não só conservar o que foi feito, mas também fortalecê-lo”.
Medvedev encerra seus comentários sobre as relações com Cuba, mencionando os encontros que manteve com os líderes da Revolução. “Depois da reunião com Raúl Castro tive uma conversação com o comandante Fidel, de carácter informal. Foi meu segundo encontro desse tipo com ele, o primeiro foi em 2008. Foi muito interessante falar com Fidel, escutar suas sensações sobre o que está ocorrendo, ele está muito bem informado sobre todos os acontecimentos internacionais. Falamos de distintos assuntos, como o desenvolvimento da economia cubana e os problemas mundiais. Em geral, falamos das coisas mais diversas e até de alguns fatos extraordinários como a explosão de um meteorito no céu sobre a Rússia ou o problema do gás de xisto. Parece-me que conversações como estas demonstram que o potencial de nossas relações não só tem muita história, mas também um futuro maravilhoso. Para mim pessoalmente é muito interessante.”
Rússia e EUA
A entrevista com o primeiro-ministro russo abordou temas estratégicos de interesse mundial, nomeadamente as relações bilaterais com os Estados Unidos. “Temos passado por diferentes períodos em nossas relações. É preciso reconhecer que em geral nos últimos anos nossas relações não se desenvolveram mal, porque temos conseguido preparar e assinar documentos muito importantes, inclusive o Tratado de Redução de Armas Estratégicas Ofensivas e alguns acordos comerciais. Nossos colegas estadunidenses favoreceram nosso ingresso na Organização Mundial de Comércio (OMC). São fatos positivos.
Contudo, nossas atitudes a respeito de alguns assuntos se diferenciam seriamente. Um deles é o armamento, inclusive a defesa antimísseis. Apesar de todas as nossas tentativas de explicar aos estadunidenses que vemos a defesa antimísseis europeia em seu estado proposto como um sistema dirigido contra a Federação Russa e nosso potencial atômico (com o qual agora se mantém uma paridade nuclear no mundo), os Estados e a Otan não gostam dos nossos argumentos. Tratam de tranquilizar-nos dizendo ‘não é contra vocês, mas contra outros países’. Infelizmente, estas considerações não nos parecem convincentes”.
Medvedev adverte para os perigos que tais divergências encerram para a situação internacional. “Se não conseguimos chegar a nenhum acordo, as consequências para as relações internacionais poderiam ser muito desagradáveis, porque teríamos que tomar medidas de resposta; qualquer governo russo, teria que tomar, qualquer dirigente da Rússia teria que tomar medidas, simplesmente porque assim determinam os nossos interesses estratégicos.”
O chefe do governo russo menciona ainda outros fatores agravantes nas relações com os Estados Unidos. “De fato, depois de nosso ingresso na OMC e de uma aparente normalização das relações econômico-comerciais e da abolição de certas emendas discriminatórias muito conhecidas... os Estados Unidos gostam de aprová-las e algumas eram dirigidas contra nosso país; mencionaremos também o bloqueio econômico a Cuba e por certo, quero destacar que não mudaremos nossa posição e consideramos que é uma medida indigna, um anacronismo e quanto antes seja eliminado, melhor será para todos, não só para os cubanos, mas para os estadunidenses em primeiro lugar. Voltando às nossas relações com os Estados Unidos, simultaneamente com a revogação da chamada emenda Jackson-Vanik, aprovaram um documento claramente anti-Rússia, a chamada 'Ley Magnitski'.”
“Em reiteradas ocasiões, dei minha visão sobre a natureza deste documento e considero que se trata da politização de um caso muito triste que ocorreu com um cidadão da Rússia. Mas algumas forças políticas, não digo que seja a administração dos Estados Unidos no sentido estrito da palavra, fizeram aprovar este documento, com o apoio dos legisladores. Tivemos que responder. Eu falei sobre isso quando era presidente e o mandatário atual, Vladimir Putin, também tinha avisado os Estados Unidos. Mas tivemos que tomar medidas em resposta como a lei sobre a responsabilidade das pessoas que violam os direitos humanos e interesses dos cidadãos russos. Este é um bom caminho? Não. É um mau caminho e quanto menos motivos surjam, melhor será para as relações russo-americanas em particular e as relações internacionais em geral.”
O primeiro-ministro da Federação Russa também discorreu sobre a crise econômica internacional e se mostrou otimista com o desenvolvimento de seu país nos campos econômico, social, científico e tecnológico. Medvedev crê que a Rússia pode desempenhar um papel ativo na construção de uma nova arquitetura econômico-financeira mundial, baseada na cooperação e no policentrismo.
Com Prensa Latina
Tendo em conta a análise do papel político e econômico da região, Medvedev afirma que se trata de uma região “de interesse estratégico e de aliados, por isso mantemos excelentes relações diplomáticas e econômico-comerciais com os países da região”.
O governante russo conta que acaba de visitar o Brasil, “o maior país da região, a quinta economia do mundo, que participa do Brics e com o qual mantemos vínculos muito variados”. Destacando o papel de outros países da região, assinala: “Podemos dizer o mesmo sobre a Argentina, o Chile, a Venezuela, o Equador e outros países com os quais mantemos relações muito avançadas”.
Rússia e Cuba
O primeiro-ministro russo se considera “otimista” quanto ao desenvolvimento das relações com Cuba. E explica os motivos. “Agora estou realizando uma visita a Cuba, que inclui todos os principais componentes de nossas relações, boas, tradicionais e avançadas. Nos últimos anos temos conseguido restabelecer um alto nível das relações cubano-russas e russo-cubanas. Nesta visita mantivemos negociações sobre todos os aspectos de nossa cooperação, seja econômica, humanitária e de política externa”.
Medvedev explica ainda que as relações entre a Rússia e Cuba não têm nenhum tema problemático. “Pelo contrário, avançamos em todas as direções”, enfatiza. Ele exemplifica que os dois governos assinaram 10 documentos muito importantes, cada um dos quais inclui oportunidades econômicas e soluções estatais e conta que manteve negociações amistosas e de confiança com o presidente do Conselho de Estado e de Ministros da República de Cuba, Raúl Castro Ruz. “Foi o nosso segundo encontro, já que nosso colega cubano visitou a Rússia há pouco.” Medvedev lembrou que em 2009 ele e Raúl Castro assinaram o memorando sobre relações estratégicas entre Cuba e a Federação Russa e que o desenvolvimento das relações entre os dois países se rege por este plano.
Medvedev detalha os aspectos que considera importantes nessas relações: “Colaboramos em muitas esferas, tanto tradicionais como novas. Não vou falar muito sobre projetos energéticos, pois uma parte deles já está realizada, ao passo que a outra parte será realizada. Gosto muito de nossos projetos no âmbito das altas tecnologias, seja a medicina, o espaço ou alguns planos industriais nos quais temos avançado muito”.
O primeiro-ministro teceu considerações sobre o estágio de desenvolvimento das relações comerciais e econômicas: “Provavelmente o atual intercâmbio comercial não esteja no nível que deveria, um pouco mais de US$ 200 milhões, o que não é muito. Os planos de investimentos são bons e crescerão, mas a circulação de mercadorias não é muito grande. Contudo, estou seguro de que é um assunto em mutação e que este indicador irá subindo e adquirindo novas formas de colaboração”.
Uma das áreas mencionadas por Medvedev foi o turismo. “Recuperamos em grande parte os contatos de circulação de pessoas. No ano passado, cerca de 90 mil turistas russos visitaram Cuba, apesar da enorme distância entre os dois países. Nossa gente conscientemente escolhe Cuba como destino para descanso e turismo. As pessoas gostam daqui, sentem-se cômodas aqui e têm sentimentos amistosos para com os cubanos, gostam de descansar aqui. Temos um fundamento muito sólido criado em outro período histórico e creio que é sumamente importante para nós não só conservar o que foi feito, mas também fortalecê-lo”.
Medvedev encerra seus comentários sobre as relações com Cuba, mencionando os encontros que manteve com os líderes da Revolução. “Depois da reunião com Raúl Castro tive uma conversação com o comandante Fidel, de carácter informal. Foi meu segundo encontro desse tipo com ele, o primeiro foi em 2008. Foi muito interessante falar com Fidel, escutar suas sensações sobre o que está ocorrendo, ele está muito bem informado sobre todos os acontecimentos internacionais. Falamos de distintos assuntos, como o desenvolvimento da economia cubana e os problemas mundiais. Em geral, falamos das coisas mais diversas e até de alguns fatos extraordinários como a explosão de um meteorito no céu sobre a Rússia ou o problema do gás de xisto. Parece-me que conversações como estas demonstram que o potencial de nossas relações não só tem muita história, mas também um futuro maravilhoso. Para mim pessoalmente é muito interessante.”
Rússia e EUA
A entrevista com o primeiro-ministro russo abordou temas estratégicos de interesse mundial, nomeadamente as relações bilaterais com os Estados Unidos. “Temos passado por diferentes períodos em nossas relações. É preciso reconhecer que em geral nos últimos anos nossas relações não se desenvolveram mal, porque temos conseguido preparar e assinar documentos muito importantes, inclusive o Tratado de Redução de Armas Estratégicas Ofensivas e alguns acordos comerciais. Nossos colegas estadunidenses favoreceram nosso ingresso na Organização Mundial de Comércio (OMC). São fatos positivos.
Contudo, nossas atitudes a respeito de alguns assuntos se diferenciam seriamente. Um deles é o armamento, inclusive a defesa antimísseis. Apesar de todas as nossas tentativas de explicar aos estadunidenses que vemos a defesa antimísseis europeia em seu estado proposto como um sistema dirigido contra a Federação Russa e nosso potencial atômico (com o qual agora se mantém uma paridade nuclear no mundo), os Estados e a Otan não gostam dos nossos argumentos. Tratam de tranquilizar-nos dizendo ‘não é contra vocês, mas contra outros países’. Infelizmente, estas considerações não nos parecem convincentes”.
Medvedev adverte para os perigos que tais divergências encerram para a situação internacional. “Se não conseguimos chegar a nenhum acordo, as consequências para as relações internacionais poderiam ser muito desagradáveis, porque teríamos que tomar medidas de resposta; qualquer governo russo, teria que tomar, qualquer dirigente da Rússia teria que tomar medidas, simplesmente porque assim determinam os nossos interesses estratégicos.”
O chefe do governo russo menciona ainda outros fatores agravantes nas relações com os Estados Unidos. “De fato, depois de nosso ingresso na OMC e de uma aparente normalização das relações econômico-comerciais e da abolição de certas emendas discriminatórias muito conhecidas... os Estados Unidos gostam de aprová-las e algumas eram dirigidas contra nosso país; mencionaremos também o bloqueio econômico a Cuba e por certo, quero destacar que não mudaremos nossa posição e consideramos que é uma medida indigna, um anacronismo e quanto antes seja eliminado, melhor será para todos, não só para os cubanos, mas para os estadunidenses em primeiro lugar. Voltando às nossas relações com os Estados Unidos, simultaneamente com a revogação da chamada emenda Jackson-Vanik, aprovaram um documento claramente anti-Rússia, a chamada 'Ley Magnitski'.”
“Em reiteradas ocasiões, dei minha visão sobre a natureza deste documento e considero que se trata da politização de um caso muito triste que ocorreu com um cidadão da Rússia. Mas algumas forças políticas, não digo que seja a administração dos Estados Unidos no sentido estrito da palavra, fizeram aprovar este documento, com o apoio dos legisladores. Tivemos que responder. Eu falei sobre isso quando era presidente e o mandatário atual, Vladimir Putin, também tinha avisado os Estados Unidos. Mas tivemos que tomar medidas em resposta como a lei sobre a responsabilidade das pessoas que violam os direitos humanos e interesses dos cidadãos russos. Este é um bom caminho? Não. É um mau caminho e quanto menos motivos surjam, melhor será para as relações russo-americanas em particular e as relações internacionais em geral.”
O primeiro-ministro da Federação Russa também discorreu sobre a crise econômica internacional e se mostrou otimista com o desenvolvimento de seu país nos campos econômico, social, científico e tecnológico. Medvedev crê que a Rússia pode desempenhar um papel ativo na construção de uma nova arquitetura econômico-financeira mundial, baseada na cooperação e no policentrismo.
Com Prensa Latina