Chris Harman Um argumento muito utilizado pelos defensores do capitalismo para tentar desacreditar o socialismo é o de que este destruiria a individualidade e reduziria tudo a uma conformidade sombria. E, por tabela, tentam passar a idéia de que o capitalismo proporciona para as pessoas vidas variadas e excitantes. Nada poderia ser mais distante da verdade. O capitalismo proclama a individualidade como uma das suas virtudes mais elevadas. Fala-se de "liberdade de escolha", de se poder comprar qualquer produto desejado. Isto é uma ilusão. A escolha que nos é oferecida é comprar os produtos semelhantes das multinacionais que dominam o mundo - McDonald ou Burguer King, Levi´s ou Wrangler, Pepsi ou Coca-cola. As ruas principais de quase todas as cidades médias são praticamente idênticas entre si, oferecendo os mesmos bens de consumo. A maioria das pessoas usam roupas parecidas, comem comidas semelhantes, fazem compras nos mesmos lugares, dirigem carros praticamente idênticos, e vivem em casas ou apartamentos semelhantes. Este é um processo que está acontecendo no mundo todo, com o crescente controle das corporações globais. Também se baseia em quanta "liberdade de escolha" as pessoas dispõem para comprar. A individualidade está reservada para muitas poucas pessoas - a minoria que possui e dirige as enormes empresas que dominam a economia. Dos demais espera-se que trabalhem para essas empresas, realizando trabalhos monótonos em linhas de montagem ou escritórios, dos quais se exclui o máximo possível de individualidade. De fato, o capitalismo só poderia desenvolver-se, em primeiro lugar, destruindo deliberadamente a individualidade de seus trabalhadores. Quando as primeiras fábricas se desenvolveram na Inglaterra, a classe capitalista teve a intenção de “igualar” ao máximo os seus trabalhadores. Eles eram forçados a considerar o trabalho como o único objetivo de suas vidas, a sacrificar os seus pequenos prazeres pessoais ao trabalho interminável. No capitalismo moderno este processo foi levado a cabo com maior intensidade. Nas escolas o que importa não é como uma criança aprende a desenvolver as suas capacidades individuais. Ao invés disso, as crianças são medidas, uma contra a outra, em exames e provas cada vez mais numerosos. Esses exames sempre são prestados com base em uma única escala, como se os seres humanos não fossem diferentes de batatas, só diferindo no peso. O que é interessante é que os oponentes mais francos da uniformidade “socialista” são normalmente as mesmas pessoas que insistem para que as crianças vistam o mesmo uniforme escolar e tenham o mesmo comportamento “disciplinado”. Nas fábricas empregam-se pessoas especialmente destinadas para assegurar que as pessoas realizem seus trabalhos de modo eficaz e apóiem política da empresa. Recursos volumosos tem sido investidos para desenvolver falsas ciências de mensuração de trabalho e relações industriais, em um esforço para destruir mais ainda a individualidade dos trabalhadores. As coisas não são diferentes para a maioria das pessoas das classes médias. O leitor típico do “Jornal da Tarde” pode se enfurecer sobre a necessidade de proteger o indivíduo, mas é provável que o seu estilo de vida seja idêntico ao de centenas de milhares de outras pessoas, vivendo em casas suburbanas semelhantes, expressando as mesmas idéias, trabalhando em escritórios semelhantes, e indo ao trabalho em carros, ônibus ou trens quase iguais. Se a monotonia e a uniformidade caracterizam o capitalismo, como as pessoas adquiriram a idéia de que sejam características do socialismo? Um processo de estrangulamento do desenvolvimento individual marcou os países que se reivindicavam socialistas, como a União soviética ou a China. A imagem popular do socialismo como um regime onde todos usam roupas semelhantes vem das práticas dos regimes stalinistas antidemocráticos. E isso não porque esses países tenham sido ou sejam socialistas. Eles nunca o foram. Mas é porque os grupos burocráticos dominantes que dirigiram essas sociedades tentaram fazer o mesmo que os capitalistas fizeram no Ocidente. Quiseram desenvolver as suas economias o mais rapidamente possível, sujeitando os padrões de vida dos trabalhadores a esse imperativo, para que assim pudessem competir com o Ocidente e também entre si. A verdadeira individualidade, o desenvolvimento pleno e completo das capacidades distintas do indivíduo, só será possível em um tipo de sociedade completamente diferente. Teria que ser um mundo no qual o indivíduo e a sociedade já não seriam opostos um ao outro. As pessoas já não competiriam entre si, e não estariam sob a pressão de trabalhar mais e mais. O mundo moderno cria uma enorme quantidade de riqueza, mas está perdido na competição cega entre empresas e estados rivais. Nas suas tentativas de vencer essa competição, essas empresas e estados exigem controles cada vez mais rígidos e maior exploração sobre os trabalhadores. A verdadeira individualidade humana só será possível quando os trabalhadores se unirem internacionalmente, quando utilizarem o seu poder coletivo para destruir as classes capitalistas e reorganizar a sociedade de forma que ela se baseie na satisfação das necessidades humanas, e não sobre as demandas da competição capitalista. |
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