Oriente Médio abre os olhos para a América Latina
Gulf News – Dubai
A primeira visita à América Latina do
Xeque Abdullah Bin Zayed Al Nahyan, ministro de Relações Exteriores dos
Emirados Árabes Unidos (EAU), foi um grande passo na implementação da
política de adaptação do seu país ao mundo multipolar emergente.
Em sua visita à América Latina, o
diplomata visitou mais de oito países em duas semanas, demonstrando uma
disposição substancial por parte dos EAU para criar novas e mais
estreitas relações com o continente.
Historicamente, as relações entre o Golfo Pérsico e a América Latina sempre foram fracas e
nenhuma das regiões interveio em questões relacionadas à outra. Mas
esta situação vem mudando rapidamente nos últimos anos. Como qualquer
outra região do planeta, o Golfo Pérsico não pode mais dialogar
unicamente com seus vizinhos imediatos e com as poucas potências
globais. O mundo emergente globalizado necessita que todas as regiões
do mundo se relacionem diretamente e sem a intermediação de Washington
ou Moscou. As grandes questões globais do século XXI abrangem um
espectro muito maior do que as rivalidades entre as grandes potências e
incluem a busca de novos meios para gerenciar as economias mundiais sob
a liderança do G20, a promoção de energias sustentáveis e combate ao
aquecimento global, a repressão aos tráficos de drogas e de humanos,
além do trabalho para a implementação dos valores sociais definidos
pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da ONU.
A passagem do Xeque Abdullah por tantos países levou a importante mensagem para a América Latina de que os EAU se importam com a região e querem manter contato, e que os
EAU têm consciência de que um novo mundo interconectado requer que as
distintas regiões do planeta estejam em contato direto umas com as
outras.
Também foi notável o fato de que o Xeque
Abdullah passou mais tempo em visitas ao Brasil e ao México, os dois
gigantes da América Latina (Brasil é hoje considerado uma das
principais economias do mundo). Seu giro também incluiu Argentina,
Colômbia, Peru, Panamá, Nicarágua e República Dominicana, assim como
Cuba – o último Estado comunista da América Latina, onde transmitiu
aproximadamente a mesma mensagem sobre o estreitamento dos laços de
cooperação e melhor entendimento dos seus interesses mútuos.
Em muitos destes países, o representante
agradeceu aos governantes latino-americanos pelo apoio dado à bem
sucedida campanha de seu país para sediar a Agência Internacional de
Energias Renováveis [IRENA, de sua sigla em inglês]. Esta é a primeira
vez que uma agência de peso das Nações Unidas será baseada no fora do
eixo Europa-América do Norte. Os EAU organizaram uma importante
campanha diplomática para reunir apoio à candidatura, enfatizando que
por ser um grande produtor de petróleo, os EAU têm interesse particular
e mão de obra qualificada para o desenvolvimento de fontes de energia
mais sustentáveis. Esta foi a primeira vez que os diplomatas dos EAU
visitaram tantos Estados membros da ONU para convencê-los a votar num
projeto.
Isto permitiu ao Xeque Abdullah iniciar
suas visitas com uma mensagem específica, apresentando seu
agradecimento pela colaboração nesta campanha, o que é uma boa maneira
de quebrar o gelo com um novo correspondente. Após isso, ele pôde então
prosseguir, abordando aspectos mais práticos para aprofundar as
relações, o que, na maioria destes países, foi reconhecer que as
relações comerciais precisam ser definidas com bases mais seguras. Como
resultado, os comunicados publicados por cada país trataram de como
estabelecer acordos básicos para permitir e facilitar o livre comércio
de bens e serviços, tais como a assinatura de tratados de dupla
taxação, a implementação de acordos de proteção ao comércio e o reforço
da proteção ao investimento.
Além disso, o ministro de Relações
Exteriores e seus hóspedes falaram sobre o crescimento dos negócios em
distintos setores como a agricultura (os EAU, como a maioria dos
Estados do Golfo, é grande importador de alimentos) e o turismo (em
ambos os sentidos).
Eles também conversaram sobre interesses
mútuos no setor energético (o que é absolutamente normal em um encontro
com um dos maiores exportadores de hidrocarbonetos), mas o que
surpreendeu foi o interesse latino-americano em dialogar com os EAU
sobre energias renováveis. Isto mostra que Abu Dhabi [capital] está
para se preparando para oferecer o conhecimento que irá adquirir em
suas distintas iniciativas, como seu pacífico programa nuclear
possibilitado pela importação de combustível enriquecido e as novas
tecnologias desenvolvidas em Masdar [cidade ecológica planejada]. O
programa nuclear e Masdar estão projetando Abu Dhabi ao primeiro plano
na busca por energias renováveis.
A longo prazo, os Estados
latino-americanos e árabes têm muito o que conversar. Ambas são regiões
de rápido crescimento e enorme potencial, e têm plena consciência de
que as próximas décadas necessitarão que todos mantenham relações muito
mais próximas. As duas regiões se encontrarão em diversos fóruns,
buscando entendimentos comuns em questões como o aquecimento global,
reformas nas Nações Unidas e no FMI, implementação de acordos de livre
comércio através da Organização Mundial do Comércio, e mesmo no combate
aos crimes de tráfico de drogas e de seres humanos.
A visita do ministro de Relações
Exteriores à América Latino foi um ótimo começo para um longo e
importante processo de colaboração.
Francis Matthew
Tradução: Roberto Blum
Para acessar o texto original, clique aqui
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