Candidato do partido comunista chileno convoca a esquerda a se unir
do site opera mundi
Enviada especial Lamia Oualalou |
Jorge Arrete discursa em comício
“Nossa candidatura era muito forte no começo, agora temos que
reconhecer que perdemos apoiadores, que foram captados pelo fenômeno
MEO, muito midiático”, conta Roberto Pizarro.
Divisão da esquerda
Enviada especial Lamia Oualalou |
A pedido do site chileno de notícias El Mostrador,
o grafólogo Rodrigo Farías analisou as assinaturas dos quatro
candidatos para a eleição presidencial de hoje. Ele reconhece na
escritura do candidato da direita Sebastián Piñera, que lidera as
pesquisas, um caráter de “empresário incansável e oportunista”,
enquanto julga que a assinatura de Eduardo Frei, o candidato da
Concertação, a coligação de centro-esquerda, e a de um bom
“administrador da estabilidade”.
O ex-socialista Marco Enriquez Ominami, que decidiu ser candidato
com apenas 36 anos, ganha a qualificação de “garoto inteligente,
encantador de serpentes”. Mas é o outro dissidente da Concertação, o
também ex-socialista Jorge Arrate, que recebeu às palavras mais
positivas. O grafólogo considera que ele tem a assinatura de “um
idealista diplomático”: “Sua escritura é uma mistura interessante de
idéias sólidas, mas expressadas de um jeito afável e diplomático”.
Pelo grafólogo, a forma aguda de algumas letras é signo de
convicções rígidas, e vinculadas com o passado. As curvas da assinatura
indicam, porém, um hábil negociador, “um sedutor capaz de harmonizar
posturas diametralmente opostas”.
Assessores próximos de Arrate asseguram sorrindo, que o grafólogo
acertou em seus comentários. E apoiadores e adversários de Jorge
Arrate concordam numa avaliação: a candidatura de Jorge Arrate é a
única que pode realmente ser qualificada de esquerda.
Mundo empresarial
O economista Roberto Pizarro, um veterano da Unidade Popular nos
anos 1970, decidiu apoiá-lo. “É verdade que Marco [Enriquez Ominami]
acabou com o velho modelo da Concertação, ele expressa uma demanda de
participação dos mais jovens, e tem propostas bem progressistas. Mas
economicamente, ele é muito liberal”, explica Pizarro.
De fato, o principal assessor econômico de MEO, como é chamado o
jovem candidato, é o liberal Paul Fontaine, que já anunciou que na
hipótese de um segundo turno entre Eduardo Frei e Sebastián Piñera,
ficaria com o candidato da direita.
O mundo empresarial é da mesma opinião. “Dos quatro candidatos, o
único que nos parece perigoso para os negócios é Arrate, os outros tem
mais ou menos a mesma proposta, com um pouco mais, um pouco menos de
intervenção do Estado”, avalia um grande empresário, pedindo anonimato.
“Mas tem que reconhecer que este homem tem firmeza nas idéias, é o
único realmente coerente”, completa.
Denunciando a falta de primárias na escolha do candidato da
Concertação, Jorge Arrate costurou uma aliança com a esquerda. A
coligação “Juntos podemos” tem como núcleo o Partido Comunista, que
tem uma votação expressiva no Chile, apesar de não ter peso no
Congresso, por causa de seu sistema eleitoral.
Poucos dias antes da eleição, Jorge Arrate convidou Eduardo Frei,
e o independente Marco Enríquez-Ominami para conversar sobre uma
aliança em um eventual segundo turno. O objetivo da aproximação entre
os três seria evitar a vitória do opositor Sebastián Piñera, favorito
nas pesquisas.
Para a analista política Marta Lagos, diretora de do instituto
Latinobarómetro, “é importante entender que esta liderança de Piñera
não significa que o Chile foi para direita. Se adicionar os votos de
Frei, Arrate, e MEO, chega-se a um resultado bem superior a 50%. A
única razão da provável vitória da direita é a divisão da esquerda”,
explica.
“Minha disposição segue sendo a mesma, a disposição para sentar e
dialogar. Não queremos La Moneda [o palácio presidencial no centro de
Santiago] para a direita”, explicou Arrate durante uma entrevista à
rádio Cooperativa. Uma aliança entre os candidatos de esquerda e
centro-esquerda, anunciada antes do primeiro turno seria uma maneira de
“notificar ao país que Sebastián Piñera não será presidente do Chile”,
acrescentou.
Intenções de voto
O postulante da Concertação, Eduardo Frei, anunciou durante seu
último comício que aceitava a proposta do candidato de “Juntos
Podemos”. O ex-presidente (1994-2000) afirmou ter entendido o chamado
de Arrate. “Ele nos convidou a trabalhar juntos na segunda volta, os
progressistas, os democráticos, os que acreditam na liberdade e no
respeito dos direitos humanos”, disse na cidade de Concepción.
O apelo de Arrate pode ter resultado no aumento das intenções de
votos em seu favor. “Ele cresce à medida que MEO baixa”, analisa o
sociólogo Eugenio Tironi. “Arrate esta atraindo os eleitores da
Concertação que não querem votar no Frei, mas que fazem questão de não
ser confundidos com a direita”, completa.
Tironi considera que uma boa votação de Arrate no primeiro turno
seria um sinal positivo para a esquerda, “já que seus votos irão
automaticamente para o Frei no segundo turno”. Isso poderia contribuir
na mudança do cenário eleitoral.
Créditos: Sitio da Marcia
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