Por Elaine Tavares - Revista Pobres & Nojentas
Patética
cena. Na platéia, de mãos dadas, a realeza. Olhos sorridentes,
expressão de gozo e aquela serenidade dos saciados. No púlpito, o
arrogante soberano do mundo. Recebia o Nobel da Paz e falava da
necessidade da guerra . Nada poderia parecer mais
cínico. Justificando a postura imperial dos Estados Unidos, Barak Obama
insistia na sagrada missão que este país tem de levar a democracia ao
mundo, nem que seja sob o fogo grosso. A imposição da “liberdade
liberal” a todo custo, com canhões e bombas.
Grotesca
cena, assistida por milhões de pessoas no mundo. Os reis, feito
cortesãos, aplaudindo o imperador. E este anunciava a decisão de enviar
mais tropas ao Afeganistão, mais mortes, mais destruição, mais dizimação
da cultura, da vida. E os lambe-botas, assentindo, extasiados, vendo o
dono do mundo, no seu terno vistoso, cuspindo balas. “A guerra é
fundamental para preservar a paz...” Que o digam os estadunidenses
empobrecidos, os que perderam as casas na crise imobiliária, os que
ficaram sem emprego por conta da quebradeira de empresas privadas
“competitivas”, os que tiveram de ver seu governo investindo um trilhão
de dólares para salvar os bancos, enquanto eles mesmos tem de viver em
tendas, sem saúde adequada, sem esperança. Que o digam
as gentes dos EUA que observam o Nobel da paz gastar dez bilhões de
dólares ao ano com a guerra no Iraque, os que vem seus filhos chegar em
caixões.
A
guerra dos Estados Unidos não é uma missão confiada por deus para levar
boa vida às gentes. A guerra é uma imposição do capital que precisa se
expandir. Quando a produção é demais e não há quem compre, é necessário
criar alguma destruição para que as empresas possam ter a quem vender.
Assim, destruir um país parece ser um bom negócio. Não tem nada a ver
com democracia, liberdade e outros destes conceitos bonitos que os
cínicos usam para enganar os incautos. O capital lambe os beiços e vai
se sustentando mais um pouco, construindo países que foram arrasados
pelas bombas.
A
teologia que move a sede de poder dos Estados Unidos não nasceu agora,
não é exclusividade do jovem imperador. Ela vem de longe na história, e
nós, na América Latina, já a sentimos na pele desde quando este país
decidiu roubar as terras mexicanas no início do século XIX. Desde lá,
as doutrinas de guerra vem assolando nossas vidas, com invasões
armadas, invenção de governos ditatoriais fantoches, invasões
culturais, invasões empresariais. Tudo isso em nome do “deus” dinheiro,
tudo em nome do poder.
Ontem,
na entrega do cínico Nobel da Paz, o jovem imperador escrachou a
doutrina. Sem pejo. “Não há paz sem a guerra!” E os poderosos –
defendeu com seu nariz empinado - tem o direito de impor sua vontade ao
mundo. Porque tem os canhões. Michele, vestida como uma imperatriz, deu
o toque familiar, limpando tal qual uma dona de casa típica, o fato do
marido sob os holofotes. A Globo terminou aí sua matéria, com um riso
de admiração no rosto de Bonner e Fátima, eles próprios um casal
modelo. E, nas casas, as gentes sorriram. “Quão lindo é esse homem, e
quê coragem em defender a guerra!” Enquanto isso, lá longe, no Oriente
Médio, as bombas seguem caindo, assim como no Afeganistão, em Honduras,
na Colômbia. Mas tudo bem, são só luzes. E é natal...
A
razão cínica domina o mundo. Já não há disfarces. Mas eu acredito que
uma hora dessas, as gentes acordarão e, decididas, dirão: Já basta! Ou isso, ou a barbárie.
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