Milton Temer - portal do PSOL
Nada mais justo do que reconhecer a peremptória declaração do
presidente Lula. Fundamental é "tirar o povo da merda". Só alguém de
muita sensibilidade popular, portador de imenso senso de comunicação
com o coração e a alma dos mais humildes é capaz de expressar de forma
tão profunda onde realmente chafurda o povo miserável do nosso país.
Mas fica no ar a pergunta óbvia que nenhum repórter "astuto",
lamentavelmente, se propôs fazer a propósito da afirmação. Depois de
tantos anos no governo, a quem Lula dirigia o oportuno impropério? A
quem responsabilizava pelo que, de forma correta, estabelecia como
prioridade naquele instante de retórica bem popular? Havia ali algum
propósito de auto-crítica contra sua própria administração? Ou havia
ali um ato falho, tendo em vista estar ele ao lado de Roseana Sarney,
parte decisiva da família que não só assola os dramáticos espaços
geográficos do estado do Maranhão, mas de todas as instituições ditas
republicanas desta malfadada República? E com cuja família Lula mantém
estreitos laços de aliança política.
Quem responder AMBOS terá, sem contestação, acertado.
Porque não chafurdam na merda outros segmentos - não tão numerosos,
mas seguramente bem mais providos de poder sobre a riqueza nacional -
ao qual, tanto Lula quanto Sarney prestam absoluta vassalagem.
Recebendo, evidentemente, os bonus do que escapole às abas do chapéu
que acoberta os privilégios que são constantemente ofertados a seus
mentores.
Não chafurdam na merda os banqueiros que determinam, a partir dos
prepostos bem distribuídos pelos postos-chave da economia nacional, a
partir Conselho Monetário e do Banco Central, as linhas mestras de uma
macroeconomia diretamente voltada para a defesa de seus interesses. São
os juros, recorde em todo o mundo, dos títulos de nossa dívida pública
que lhes enche, sem riscos, as burras com lucros pantagruélicos.
Não chafurdam na merda os ruralistas e latifundiários do
agronegócio, a partir do papel de garoto-propaganda que o presidente da
República lhes oferta em suas infindáveis viagens por todos os
continentes. E a partir das infindáveis anistias para inadimplências
fraudulentas que impõem, principalmente, ao Banco do Brasil. Estão aí
os R$ 10 bilhões de multas perdoadas, por Lula, aos desmatadores, na
contramão das desculpas esfarrapadas do ridículo ministro do Meio
Ambiente, em seu esforço para demonstrar não ter sido bigodeado pela
decisão presidencial à sua revelia.
Não chafurdam na merda os especuladores do famigerado "mercado", os
de fora e seus cúmplices e dependentes internos, certos de que, a
qualquer abalo no fluxo de ganhos sem produção de que se favorecem na
esteira dos juros-recorde que o governo patrocina, o dinheiro público
estará às ordens para garantir os lucros. Certos de que nada mudará na
esteira de isenções tributárias com que são premiados, cada vez mais.
Não chafurdam na merda as grandes multinacionais, principalmente as
montadoras de automóveis, com as constantes isenções de IPÌ que
estimulam um consumismo predador, e incessante. Que terminam por
transformar nossos espaços urbanos em corredores de eterno e fatigante
engarrafamento. Um consumismo que cria ilusões permanentes nessa
insaciável classe média concentrada na idéia de que é preciso ter o
novo, jogando fora o velho, mesmo que continue funcionando bem.
Não chafurdam na merda as grandes empreiteiras, linhas de
transmissão de um incessante e crescente processo de transferência de
recursos públicos para poucos bolsos privados, em obras não raro
desnecessárias, mas essenciais na manutenção das mamatas e comissões
que as emendas ao Orçamento propiciam a eminentes parlamentares sem
escrúpulos, mas com imensa capacidade de vender seus votos.
Chafurdam na merda, junto com o povo, a educação e a saúde públicas,
sem recursos para atender demandas mínimas da população que mais delas
necessita, por conta das migalhas que lhes são destinadas na sobra do
que é destinado aos pagamentos dos serviços da ilegal dívida
pública.Chafurdam na merda os que dependem da seguridade social
pública, tendo em vista o ataque permanente que sofrem as instituições
que a constituem, com a divulgação constante de falsos déficits para
justificar maiores arrochos.
Sobre isto é que deveriam refletir os que tudo apostam, sem senso
crítico, nas reduzidas e limitadas políticas públicas do atual governo.
E sobre isto deve operar a esquerda combativa, que não se rendeu nem se
vendeu. Sem sectarismo. Não se deixando embolar na hipocrisia e na
cretinice que marcam os comportamentos de PSDB, dem-PFL,PMDB e PPS - a
direita em todos os seus matizes -. Porque estes são totalmente
identificados com as medidas mais reacionárias e concentradoras de
riqueza da atual política, e só fazem oposição ao pouco que deve ser
estimuladosó a avançar: a diplomacia independente para questões
fundamentais da conjuntura internacional, tais como a ação correta no
Oriente Médio e na América Latina. No essencial, combatem Lula pelo
viés do mais desprezível preconceito, ou para com ele disputar o
controle privado das verbas e cargos públicos do aparelho do Estado.
Milton Temer é jornalista
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