quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Texto de José Arbex Jr....

A César o que é de César


Por José Arbex Jr, na novaE


Quando comecei a ler o já famoso texto de César Benjamin: “Os filhos do Brasil”, publicado pelo jornal Folha de S. Paulo em 27 de novembro, fiquei orgulhoso de ser da esquerda. E mais ainda: de ter compartilhado com o autor do texto alguns momentos emocionantes de nossa luta comum, como o final da marcha do MST para Brasília, em 1997, quando me encontrei pessoalmente com ele, pela primeira vez. Os parágrafos iniciais do texto são primorosos. Muito bem escritos, compõem uma narrativa densa, sedutora, que vai criando no leitor uma vontade de querer saber mais sobre uma história que nunca foi contada direito: a história da ditadura militar, dos porões, das torturas, das prisões, dos seres humanos condenados à ignomínia. Benjamin soube retratar com grande humanidade os seus companheiros temporários de cela. Resgatou-lhes a história, a identidade, a face profundamente humana.
Mas aí, veio a facada, o golpe inesperado, a decepção, a tristeza profunda. Benjamin relatou, no mesmo texto, uma conversa supostamente mantida com Luís Inácio Lula da Silva, em São Paulo, em 1994, durante a campanha à Presidência do Brasil. Lula teria “confessado”, então, entre amigos, que, na prisão, tentou seduzir, sem sucesso, um militante de uma organização de esquerda. Benjamin faz uma comparação entre o assédio descrito por Lula e o temor que ele mesmo, Benjamin, sentiu, quando preso, de ser “currado” por outros detentos.
Não entendi nada. Li de novo, reli, tentei buscar alguma ironia oculta, algo que justificasse, no plano do próprio texto, o absolutamente injustificável paralelo entre estupradores que pululam nas prisões brasileiras – em geral, seres humanos reduzidos a condições quase completamente animalescas pelo próprio sistema carcerário, e/ou por uma vida anterior mergulhada na mais profunda miséria econômica, ideológica e afetiva – e Lula, que não estuprou ninguém, mas que, supostamente, comentou ter sentido o desejo de manter relações sexuais com um companheiro de cela que não cedeu aos seus desejos. Não quis acreditar que alguém dotado com os recursos intelectuais de Benjamin, adquiridos ao longo de sua longa história de luta pela liberdade e pela dignidade humana, pudesse cair em um pântano tão sórdido e profundo. Mas não encontrei nada no texto de Benjamin que permitisse uma interpretação positiva. Ou melhor: encontrei “o” nada: o vazio absoluto; vazio de sentido, o vazio da total falta de perspectivas, o vazio de um rancor desmedido.
(Antes de prosseguir, esclareço logo: não sou e nunca fui “lulista”; não sou mais já fui petista; não simpatizo com a maioria das medidas de governo adotadas por Lula, e por isso sou totalmente favorável à crítica de esquerda ao seu governo. Mais precisamente, creio que Lula pode e deve ser criticado por aquilo que fez, mas acho muito estranho ele ser atacado por aquilo que NÃO praticou.)
Vamos agora considerar, por um segundo, que Lula realmente fez o que supostamente disse ter feito. Isto é, que em dado momento tentou seduzir – seduzir, note bem, não estuprar -- o colega de cela. E daí? O que se pode concluir disso? Qual seria, nesse caso, o crime de Lula? O exercício, o desejo da homossexualidade? Estaremos, então, diante de um texto homofóbico?
Ainda segundo o próprio Benjamin, como já observado, Lula teria comentado o caso numa roda de amigos. Estamos, então, diante de um gravíssimo precedente, aberto pelo próprio Benjamin. De hoje em diante, todos teremos que suspeitar dos nossos amigos, teremos que nos policiar para que nossas palavras não sejam, eventualmente, atiradas contra nós por algum “traíra”, algum “dedo duro”, algum “cagueta”, algum Judas, algum oportunista que resolva tirar proveito de uma situação de cumplicidade. Revivemos, então, a era da delação (Premiada? Que o prêmio, no caso, teria sido pago a Benjamin?), a era da intriga, da fofoca, da futrica, da artimanha, da safadeza. Que vergonha! (Isso tudo me faz lembrar a famosa oração de Marco Antônio, no brilhante texto de Shakespeare: “Poderoso César, terás então descido a tão baixo nível?”)
Benjamin utilizou a imprensa dos patrões para atacar um expoente do movimento de esquerda do Brasil. Claro, claro, claro: sempre se pode alegar que Lula não é de esquerda, como ele mesmo já disse e como eu, pessoalmente, avalio. Mas há um abismo entre considerações de caráter individual, feitas por indivíduos privados e isolados, ou mesmo por grupos e seitas, e a realidade política concreta, historicamente determinada pela luta de classes. No contexto brasileiro, em que as alternativas concretas ao governo Lula (e à sua imagem refratada Dilma Rousseff) são figuras sinistras como as de José Serra e Aécio Neves, Lula surge como um expoente à esquerda do espectro político, com algumas conseqüências importantes para a luta de classes na América Latina: por exemplo, a condução exemplar do governo brasileiro no caso de Honduras (embora feiamente chamuscada pelo desastre no Haiti), a recusa em avalizar o acordo das bases militares estadunidenses com a Colômbia e a denúncia permanente do bloqueio de Cuba. Para não mencionar o fato de que a figura de Lula, malgré lui même, inspira movimentos de resistência ao capital em todo o mundo. Disso não se conclui, automaticamente, que a esquerda deva, necessariamente, apoiar o governo Lula, ou mesmo apostar na eleição de Dilma. Ao contrário, deve aproveitar as contradições, os paradoxos e as ambigüidades para fortalecer o seu próprio campo. Mas Benjamin preferiu fortalecer as correntes representadas pelo jornal dos campos Elíseos.
Não por acaso, a Folha de S. Paulo cedeu o espaço todo pedido por Benjamin. Cederia mais, se necessário fosse. Benjamin conhece a teoria marxista e sabe, com Gramsci, que a mídia dos patrões é o verdadeiro organizador coletivo, é o grande partido do capital. Triste é o fato de ele ter arregaçado as mangas para trabalhar por tal partido. E pior: Benjamin sabe que o falso paralelo que tentou traçar entre os predadores das prisões da ditadura e o prisioneiro Lula seria muito mais verdadeiro se, no lugar de Lula, ele colocasse os donos dos jornais para os quais hoje escreve.
Todo o encanto produzido pelos primeiros parágrafos do texto de César Benjamin foi transformado em fel a partir do momento em que se instaurou a delação, o oportunismo, o absurdo. Lula não estuprou o seu companheiro de cela, mas Benjamin violentou, com alto grau de sadomasoquismo, a própria consciência e uma história repleta de glórias. Requiescate in pace

2 comentários:

Anônimo disse...

"Genocidas" Que Salvam Vidas
A Reação Desproporcional de Israel No Haiti
Deve estar doendo muito. Não deve ser fácil para a mídia que durante os últimos anos tem plantado constantemente a idéia de Israel como um país "beligerante, genocida, assassino, que não liga para vidas humanas", ter de noticiar sobre fatos que desmentem este quadro pintado com tanto esmero. Mas o incrível bombardeio de comidas e remédios que os israelenses estão realizando no Haiti supera todas as expectativas. Depois de décadas se calando sobre o lado bom de Israel e as ações humanitárias do país, parece que desta vez a omissão deixou de ser uma opção.

Colaborou com esta matéria o jornalista Victor Grinbaum
O hospital de campanha montado pela equipe humanitária israelense no Haiti está sendo chamado pelas demais equipes internacionais de socorristas de Hospital "Rolls Royce", por conta do número e da qualidade de recursos disponíveis. A capacidade de atendimentos prevista para o hospital é de 500 pacientes por dia, mas é comum que esta quantidade seja ultrapassada, por conta do enorme número de pessoas feridas.

Desde o último dia 13, quando diversas missões internacionais começaram a se instalar na capital haitiana para prestar socorro às vítimas do terremoto que devastou o país, a base dos israelenses tem atendido aos casos mais urgentes. Com um longo histórico de missões humanitárias ao redor do mundo, os mais de 200 homens e mulheres israelenses conseguiram instalar em Porto Príncipe um centro com uma farmácia completa; uma ala pediátrica; um departamento de radiologia de alta tecnologia; uma Unidade de Terapia Intensiva completa, e ainda uma sala de emergência; duas salas de cirurgia; uma maternidade e um departamento de medicina interna.

Anônimo disse...

Mais da metade do contingente de Israel no Haiti é composto de militares especializados em busca e resgate sobre ruínas e identificação de corpos. O restante da missão possui 40 médicos, 44 enfermeiras e 20 paramédicos, todos pertencentes à Magen David Adom, organização equivalente à Cruz Vermelha de Israel.

Primeira Criança: Israel
Por ser o mais equipado, o hospital de campanha israelense tem recebido os casos mais graves, cujas demais unidades internacionais não têm capacidade de atender. Um destes casos foi o de uma mulher grávida ferida num desabamento e em avançado trabalho de parto. Ela chegou à unidade israelense trazida por um repórter da rede de TV americana ABC. O jornalista em questão era médico, e logo percebeu que não tinha condições de realizar o parto sozinho ou num posto de atendimento comum. A criança, um menino, foi batizada de Israel, em homenagem aos paramédicos. A equipe da rede ABC filmou o procedimento.
Em 2005, o Paquistão, a Índia e o Afeganistão foram atingidos por um grande terremoto. Ocorreu então um problema nas vias diplomáticas, quando Israel decidiu enviar sua ajuda humanitária. O Paquistão, país com a segunda maior população muçulmana do mundo, e que não mantêm relações diplomáticas diretas com Israel, disse que aceitaria o oferecimento de Israel, mas de forma indireta e não oficial, através da ONU, da Cruz Vermelha Internacional ou de um Fundo de Ajuda. Confirmando a notícia, o Paquistão enviou uma lista a Jerusalém, destacando os itens mais necessários para o atendimento às vítimas: remédios, barracas, sacos plásticos, colchões, cobertores, alimentos não perecíveis, água potável, estojos de primeiros socorros e material para cirurgias. No caso do Sri Lanka, no Tsunami, a exigência do país foi que as ambulâncias e os remédios não exibissem a característica “Maguen David” (Estrela de David) vermelha.
Fica a pergunta: Porque nada disso é divulgado pela mídia? Não é notícia? Tudo isso é ainda mais surpreendente dado que todas as maiores agências mundiais de notícias têm equipes inteiras de reportagem em Israel, as quais apresentam pelo menos um artigo sobre Israel a cada dia. A falta de interesse da mídia pelo esforço humanitário israelense significa que a benevolência de Israel para com os outros povos não é transmitida favoravelmente ao mundo ocidental. Se assim fosse, talvez os observadores viessem a entender uma outra coisa: que a resposta de Israel à violência palestina é também motivada pela mais alta preocupação ética em relação à vida humana, e que não é conduzida - como a mídia tão freqüentemente retrata - por um sistema nacional opressivo e de caráter desprezível.


E não custa perguntar.....

Como alertou em sua coluna, Claudio Humberto, intitulada "Nem Ai...", onde estão nesta hora os países muçulmanos super-endinheirados pelo petroléo e sua consciencia humanística que tanto costuma berrar pelos oprimidos e famintos? Vários países, pobres e ricos, mandaram socorro, equipes ou dinheiro para o Haiti. Mas Arabia Saudita, Emirados Árabes, etc... ainda não compareceram ao esforço internacional. Porque?