Comemorar o
nascimento de Lenine, quando a informação única pretende apagar na
memória dos povos o imenso legado de Lenine como teórico marxista,
revolucionário e dirigente de massas, não é apenas um acto de justiça.
A leitura das suas obras e o conhecimento da sua acção são
indispensáveis, ainda mais na presente crise do capitalismo, para travar
as muitas batalhas que a classe trabalhadora, o povo, tem pela frente e
para compreender “que muitas das grandes questões sobre as quais Lénine
se debruçou estão, apesar das condições muito diferentes, bem vivas na
actualidade.”
Comemoram-se
hoje os 140 anos do nascimento de Lénine. Para um Partido como o PCP(Partido Comunista de Portugal)
esta é sempre uma importante data a assinalar. E só poderia ser assim.
Pelo papel central que teve no enriquecimento e brilhante defesa do
marxismo; pelo seu empenho na defesa da dialéctica entre teoria e
prática revolucionárias; pelo papel de dirigente e guia da primeira
revolução socialista vitoriosa da História e fundador do primeiro Estado
de operários e camponeses; pelo legado histórico que deixou na
definição, construção, organização e fortalecimento do Partido
independente do proletariado – o Partido de novo tipo – e na fundação e
direcção da Internacional Comunista e do alargamento à escala mundial do
movimento comunista e revolucionário, por tudo isto, Lenine esteve,
está e estará presente na História, acção, intervenção, luta,
características e princípios de funcionamento do Partido Comunista
Português.
Mas se o que se disse bastaria para justificar a importância desta
comemoração, os tempos que vivemos conferem-lhe um significado ainda
mais especial. O aprofundamento da crise do capitalismo coloca
apaixonantes desafios aos revolucionários de hoje. Como Lénine no seu
tempo, somos chamados a travar várias batalhas, a realizar inúmeras
tarefas e, simultaneamente e em movimento, a retirar lições das
experiências passadas – tal como Lénine retirou da Comuna francesa ou da
Revolução russa de 1905 – para seguir em frente. Como Lénine, temos de
proceder à análise concreta e rigorosa da situação concreta, de
identificar correctamente as condições, objectivos, etapas, métodos,
alianças e tácticas que, no quadro da resistência à crescente ofensiva
do imperialismo, permitam atrair para a luta as camadas mais recuadas e
vulneráveis à cultura do medo e do conformismo que o imperialismo lhes
tenta incutir e organizá-las em torno dos seus interesses de classe,
fazendo assim avançar a marcha da História de emancipação dos
trabalhadores e dos povos e «varrer o velho».
Este é daqueles momentos em que vale a pena revisitar Lenine. Não
para encontrar respostas mecânicas ou modelos – Lenine foi um feroz
adversário do dogmatismo e da escolástica - mas para entender que muitas
das grandes questões sobre as quais Lénine se debruçou estão, apesar
das condições muito diferentes, bem vivas na actualidade. Aí está o
Imperialismo como fase superior do capitalismo acentuando a sua
contradição fundamental e o seu desenvolvimento desigual(1). Aí estão os
Estados funcionando como gestores dos interesses da classe dominante,
explorando e oprimindo os povos(2). Aí estão, num momento de potenciais
viragens – mais ou menos profundas, mais ou menos esperadas - as
tendências para a manifestação de «esta ou aquela variedade de
revisionismo»(3). Aí estão os «Estados Unidos da Europa» a assumir, sob o
capitalismo, o seu carácter reaccionário(4). E aí está, mais viva que
nunca, a necessidade de olhar para a teoria como «um guia autêntico para
acção» que só o é «quando se enriquece constantemente com as novas
experiências de luta, de modo a não se transformar em dogma»(5).
Dentro de dias comemoraremos também a Revolução de Abril. Uma
comemoração que se impõe ser de luta contra o ataque cerrado aos valores
e às conquistas de Abril e à Constituição da República. Mas ao
comemorarmos Abril também encontramos Lénine. Encontramos a riqueza que
ele sempre reconheceu à História e à realidade. Encontramos os avanços e
os recuos dessa mesma História e as peculiaridades no desenvolvimento
da luta. Encontramos o papel determinante das massas e a necessidade de
com elas aprender, aprender, sempre. Encontramos por fim o amor ao povo,
a paixão revolucionária, os tais corações ardentes que fazem da nossa
luta, da luta pelo Socialismo, uma festa bonita.
Notas:
[1] «O imperialismo, fase superior do capitalismo» – V.I. Lénine (1916)
[2] «O Estado e a Revolução» – V.I. Lénine (1918)
[3] «Marxismo e Revisionismo» – V. I. Lénine (1908)
[4] «Sobre a Palavra de Ordem dos Estados Unidos da Europa» - V. I. Lénine (1915)
[5] «Que Fazer» - V.I Lenine (1902)
[1] «O imperialismo, fase superior do capitalismo» – V.I. Lénine (1916)
[2] «O Estado e a Revolução» – V.I. Lénine (1918)
[3] «Marxismo e Revisionismo» – V. I. Lénine (1908)
[4] «Sobre a Palavra de Ordem dos Estados Unidos da Europa» - V. I. Lénine (1915)
[5] «Que Fazer» - V.I Lenine (1902)
* Membro da Comissão Política do PCP
Este texto foi publicado no Avante nº1.899 de 22 de
Abril de 2010.
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