João
Cândido, petróleo, racismo e emprego
Sociedade e Mídia reproduz, a seguir, matéria do jornalista Beto
Almeida, publicada pela Agência Carta Maior, sobre a retomada da
industria naval brasileira, sucateada durante o período das
privatizações.
Beto Almeida (*)
Nesta sexta-feira a Transpetro lançou ao mar o navio petroleiro João
Cândido. Batizado com o nome de um dos nossos heróis, marinheiro negro,
filho de escravos e líder da Revolta da Chibata, o navio tem 247 metros
de comprimento, casco duplo que previne acidente e vários significados
históricos. Primeiro, leva a industrialização para Pernambuco,
contribuindo para reduzir as desigualdades regionais. Em segundo lugar,
dá um cala-boca para quem insinuou de forma maldosa que o PAC era apenas
virtual. Em terceiro, prova que está em curso a remontagem da indústria
naval brasileira criminosamente destruída na era da privataria. Como um
simbolismo adicional, um total de 120 operários dekasseguis foram
trazidos do Japão, com suas famílias, para juntarem-se aos operários
nordestinos que construíram o navio. Os primeiros não precisam mais
morar longe da pátria; os outros, saem do canavial para a indústria e
não precisam mais pegar o pau-de-arara, nem entoar com amargura a Triste
Partida, de Patativa do Assaré, como um certo pernambucano teve que
fazer na década de 50. Até que virou presidente.
Mulheres trabalhando como chefes de equipe de soldagem no Estaleiro Atlântico Sul, no município de Ipojuca, em Pernambuco, pronunciavam frases orgulhosas lembrando que não sabiam nem que esta também poderia ser uma tarefa feminina. O ex-pescador de caranguejo contava em depoimento agreste que antes do estaleiro não sabia direito como ganhar o sustento da família a cada dia que acordava. O ex-canavieiro, agora operário, destaca que não depende mais temporalidade insegura da colheita da cana e quando acorda já tem para onde ir, quando antes vivia a insegurança. Estes alguns dos vários depoimentos colhidos na inauguração do navio petroleiro João Cândido ao ser lançado ao mar pernambucano. Deixa em terra um rastro de transformação.
Inicialmente, na vida destas pessoas antes lançadas ao deus-dará de uma economia nordestina reprimida, desindustrializada. A transformação atinge os municípios mais próximos, pois no local onde foi construído o estaleiro, uma antiga moradora, Mônica Roberta de França, negra de 24 anos, que foi escolhida para ser a madrinha do navio, dizia que ali era um imenso areal, não tinha nada. Agora tem uma indústria e uma escola técnica para os jovens da região. E que só agora ela tem seu primeiro emprego na vida com carteira assinada.
Desculpas à Nação
Mulheres trabalhando como chefes de equipe de soldagem no Estaleiro Atlântico Sul, no município de Ipojuca, em Pernambuco, pronunciavam frases orgulhosas lembrando que não sabiam nem que esta também poderia ser uma tarefa feminina. O ex-pescador de caranguejo contava em depoimento agreste que antes do estaleiro não sabia direito como ganhar o sustento da família a cada dia que acordava. O ex-canavieiro, agora operário, destaca que não depende mais temporalidade insegura da colheita da cana e quando acorda já tem para onde ir, quando antes vivia a insegurança. Estes alguns dos vários depoimentos colhidos na inauguração do navio petroleiro João Cândido ao ser lançado ao mar pernambucano. Deixa em terra um rastro de transformação.
Inicialmente, na vida destas pessoas antes lançadas ao deus-dará de uma economia nordestina reprimida, desindustrializada. A transformação atinge os municípios mais próximos, pois no local onde foi construído o estaleiro, uma antiga moradora, Mônica Roberta de França, negra de 24 anos, que foi escolhida para ser a madrinha do navio, dizia que ali era um imenso areal, não tinha nada. Agora tem uma indústria e uma escola técnica para os jovens da região. E que só agora ela tem seu primeiro emprego na vida com carteira assinada.
Desculpas à Nação
Para o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, o lançamento do João
Cândido ao mar tem o mesmo alcance histórico do gesto de Getúlio Vargas
quando deu forte impulso à nacionalização da indústria naval brasileira,
na década de 30, por meio da empresa de navegação estatal. “Aqueles que
destruíram a indústria naval tem que assumir sua responsabilidade e
pedir desculpas à Nação”, disse Campos na solenidade que teve a
participação de 5 mil pessoas aproximadamente, sobretudo dos operários.
O Navio João Cândido abre uma nova rota para a economia brasileira. Incialmente, porque a Petrobrás já não será obrigada a desembolsar cerca de 2,5 bilhões de reais por ano com o afretamento de navios estrangeiros. Há, portanto, um revigoramento do papel do estado na medida em que a reconstrução da indústria naval brasileira é resultado direto de encomendas da nossa empresa estatal petroleira. O que também permite avaliar a gravidade e o caráter antinacional das decisões que levaram um país com a enorme costa que possui, tendo montado uma economia naval de peso internacional respeitável, retroceder em um setor tão estratégico.
E isso quando nossa economia petroleira, há anos, já dava sinais de expansão, mesmo quando estavam no poder os que promoveram o espantoso sucateamento, a desnacionalização e a abertura da navegação em favor dos países que querem impedir nosso desenvolvimento. Este tema, certamente, não poderá faltar nos debates da campanha presidencial deste ano.
Almirante negro
O Navio João Cândido abre uma nova rota para a economia brasileira. Incialmente, porque a Petrobrás já não será obrigada a desembolsar cerca de 2,5 bilhões de reais por ano com o afretamento de navios estrangeiros. Há, portanto, um revigoramento do papel do estado na medida em que a reconstrução da indústria naval brasileira é resultado direto de encomendas da nossa empresa estatal petroleira. O que também permite avaliar a gravidade e o caráter antinacional das decisões que levaram um país com a enorme costa que possui, tendo montado uma economia naval de peso internacional respeitável, retroceder em um setor tão estratégico.
E isso quando nossa economia petroleira, há anos, já dava sinais de expansão, mesmo quando estavam no poder os que promoveram o espantoso sucateamento, a desnacionalização e a abertura da navegação em favor dos países que querem impedir nosso desenvolvimento. Este tema, certamente, não poderá faltar nos debates da campanha presidencial deste ano.
Almirante negro
A escolha do nome João Cândido também foi destacada na solenidade por
meio do novo ministro da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade
Racial, Eloy Moreira. Vale registrar que há pouco mais de um ano Lula
participou de homenagem ao Almirante Negro inaugurando sua estátua na
Praça XV, no Rio, que estava há anos guardada, supostamente porque não
teria havido grande empenho da Marinha na realização desta solenidade.
Pois bem, agora João Cândido não está apenas nas “pedras pisadas do
cais”, com diz a maravilhosa canção de Bosco e Blanc. Está na estátua e
está cruzando mares levando para o mundo afora o nome de um de nossos
heróis.
Navegar é possível
Navegar é possível
O novo petroleiro estatal, portanto, é uma prova real de que sim
“navegar é possível”, como dizia uma faixa no ato. Navegar na rota
inversa daquela que promoveu o desmantelamento da nossa indústria naval.
Navegar na rota da revitalização e qualificação do papel protagonista
do estado. Recuperar um curso que havia sido fundado lá durante a Era
Vargas onde se combinava industrialização e nacionalização com geração
de empregos e direitos trabalhistas. Se no período neoliberal foi
proclamada a idéia de destruir a “Era Vargas”, agora, está não apenas
proclamada, mas já colocada em marcha, a necessidade de reconstruir a
partir dos escombros da ruína das privatizações - entulho neoliberal -
tendo no dorso no navio-gigante o nome heróico do líder da Revolta da
Chibata. Sem revanchismo, o episódio permite lembrar outra canção: “É a
volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar”
(*) Presidente da TV Cidade Livre de Brasília
(*) Presidente da TV Cidade Livre de Brasília
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