África do Sul - Enquanto a copa cega e ensurdece o mundo |
Em sua luta contra o Apartheid1
o povo sul africano agitava a palavra de ordem "Amandla Ngawethu",
que quer dizer "Todo poder ao povo!" no idioma zulu.Após décadas de
luta, o povo sul-africano não conquistou o poder nem liberdade. Num
país massacrado pela rapina imperialista, a bilionária copa do mundo de
futebol movimenta outros bilhões em patrocínio, especulação de grandes
empresas e ainda mais exploração do povo daquele país.
Desde as vésperas da copa milhares de trabalhadores se levantaram em combativas greves e protestos, revelando à força a África do Sul que as câmeras do monopólio das comunicações imperialista tenta a todo custo ocultar.
Em meados de maio último, poucas semanas antes da copa, os servidores
públicos entraram em greve na África do Sul. O mesmo ocorreu
com os trabalhadores dos transportes e os da estiva
(carregadores dos portos) que interromperam durante dias as
exportações de metais, carros, frutas e vinho para a Europa e a Ásia,
assim como as importações de peças de veículos e combustível,
provocando grande prejuízo às grandes empresas imperialistas sediadas
no país.
Com isso eles ainda impediram a chegada de diversos equipamentos
esperados para a realização da copa no país. Os operários afirmavam
através de suas combativas ações que sem o cumprimento com seus
direitos não haveria copa.
A greve nos transportes durou mais de três semanas e só foi encerrada com a promessa de atendimento das reivindicações dos trabalhadores. Faltavam duas semanas para o início da copa quando, em 26 de maio, os 16 mil funcionários da Eskom, companhia de energia elétrica da África do Sul, entraram em greve reivindicando aumento salarial de 18%. No dia 17 de maio, o sistema ferroviário nacional da África do Sul foi paralisado pela greve dos trabalhadores desse setor. Quando a greve completou seu nono dia quatro composições da Metrorail Gauteng foram incendiadas em Parktown, uma das principais estações do sistema urbano de Johannesburgo. Os trens ficaram completamente destruídos, provocando um prejuízo de 15 milhões de rands à empresa (cerca de R$ 3,55 milhões). Os empresários das ferrovias correram à imprensa para acusar os trabalhadores ferroviários e seu sindicato. Os poucos depoimentos de trabalhadores ferroviários sul-africanos divulgados denunciam os baixos salários e o desrespeito aos direitos trabalhistas. Em 30 de maio, quando faltavam menos de duas semanas para o início da copa, os operários organizados pelo Congresso dos Sindicatos Sul-Africanos - Cosatu entraram em greve contra o alto preço do fornecimento de eletricidade e o alto custo de vida. Em 31 de maio os motoristas de ônibus de Johannesburgo entraram em greve contra as péssimas condições de trabalho e baixos salários. Esta foi a segunda paralização de rodoviários em maio. Além das reivindicações econômicas os trabalhadores exigiam o reconhecimento de seu sindicato Samwu. Como não tiveram suas reivindicações atendidas, os motoristas de ônibus paralisaram novamente o trabalho no primeiro dia dos jogos da copa como forma de pressionar os patrões pelo cumprimento de suas promessas de melhora das condições de trabalho. Após o jogo entre Alemanha e Austrália, na madrugada do dia 13 de junho, cerca de trezentos funcionários que trabalhavam em diversas funções nos estádios realizaram um combativo protesto. Eles haviam sido enganados pela organização da copa que pagou 190 rands (aproximadamente R$ 45) dos 1,5 mil rands (cerca de R$ 350) prometidos. A polícia atacou os manifestantes com disparos de balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e cassetetes e prendeu dez pessoas. Os trabalhadores por sua vez responderam com pedras e garrafas contra a tropa de choque. Já na Cidade do Cabo, momentos antes do jogo entre Itália e Paraguai, aproximadamente 100 funcionários contratados para organizar as torcidas abandonaram seus postos de trabalho em protesto contra a falta de pagamento. No dia 16 de junho centenas de trabalhadores da copa, pescadores locais, mulheres, estudantes, e representantes de sindicatos reuniram em Durban para protestar contra as condições de trabalho e a carestia de vida. No mesmo dia os funcionários responsáveis pela segurança de quatro estádios iniciaram uma greve reivindicando melhores salários. A paralisação atingiu os estádios Ellis Park, em Johanesburgo, Green Point, na Cidade do Cabo, Moses Mabhida, em Durban, e Nelson Mandela Bay, em Porto Elizabeth. Os seguranças alegam que foi acordado um valor de 1.500 rands por dia de jogo (R$ 375), mas que recebem apenas 190 rands (R$ 47,50). O contrato é de 12 horas de trabalho por dia, mas eles denunciam que a carga horária tem chegado a 16 horas. Além disso, eles tem de pagar 1.200 rands (R$ 300) pelo próprio uniforme.
Esta é a verdadeira face da copa para os trabalhadores e as
massas populares sul-africanas: a mesma violência, exploração, miséria e
desrespeito de sempre, tudo acobertado pela maquiagem do monopólio da
imprensa que tenta apagar a realidade com vuvuzelas e o conto de uma
África do Sul exótica e "reconciliada".
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1 Apartheid quer dizer habitação separada no idioma africâner (um misto de Holandês e Inglês. Considerado a língua imposta pelo colonizador imposta como língua oficial na África do Sul). Política de brutal discriminação e segregação racial praticada pelos meios reacionários governantes da República Sul-Africana contra a população africana autóctone e também, em grande parte, contra os imigrados da Índia. Obriga os africanos a viver em reservas; os nativos estão privados de direitos cívicos, o seu salário é muito inferior ao dos brancos, etc. Qualquer transgressão da lei sobre a habitação separada é considerada como um crime de direito comum. À época os Estados socialistas e os países em desenvolvimento condenaram a política de apartheid: um certo número de documentos adotados pela ONU qualificaram o apartheid de crime contra a humanidade, de violação dos princípios do direito internacional, nomeadamente dos fins e dos princípios da Carta da ONU, e proclamam que ele constituia uma grave ameaça para a paz e a segurança dos povos.
Fonte: sitio a Nova Democracia
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