LA ANTENA, 2007
Legendado, Esteban Sapir
Classificação: Excelente |
Áudio: espanhol
Legendas: português
Duração: 99 minutos
Tamanho: 699 MB
Servidor: Megaupload
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SINOPSE
La Antena é
uma fábula distópica em que os habitantes de uma cidade fictícia
perderam a voz há duas décadas. Ninguém fala ou emite som algum. Os
citadinos alimentam-se de TV, literal e metaforicamente, e sua voz serve
de matéria-prima para a indústria do Sr. TV (Alejandro Urdapilleta),
soberano da metrópole. Mas os recursos vêm se esgotando rapidamente, e o
Sr. TV precisa d’A Voz (Florência Raggi) para sugar as palavras das
pessoas e, com isso, continuar reinando em seu negócio. O Sr. TV
aprisiona A Voz e, com a ajuda do Dr. Y (Carlos Piñeiro), usa a mulher
numa máquina que emite mensagens subliminares. O objetivo é, também,
aumentar definitivamente o consumo dos produtos TV. Mas o Sr. TV não
contava que, com a ajuda de uma família de heróis, uma “segunda voz”
entrasse em cena.
Crítica
Inspirado no longa argentino Esperando o Messias (2000),
de Daniel Burman, Jean-Claude Bernardet concluiu, parafraseando um
amigo, que “os argentinos dão um banho nos brasileiros” (Revista de Cinema, fevereiro de 2003, republicado em Bernardet, Cinema Brasileiro: Propostas para uma história, São Paulo: Cia. das Letras, 2009, p. 256-8). Segundo o crítico, o fato de Esperando o Messias ser
um filme médio “é a prova de que a Argentina tem produção média viva e
inteligente, o que assinalam também outros filmes, como Nove rainhas ou O filho da noiva”
(Bernardet, 2009, p. 256). Esse “banho”, continua Bernardet, deve-se em
grande parte à forma da narração (2009, p. 256-7). O crítico identifica
oportunamente um “enrijecimento da narrativa cinematográfica” em filmes
de primeira linha do cinema brasileiro. “A ponto de podermos falar hoje
na existência de umparnasianismo cinematográfico brasileiro. São parnasianos filmes como Abril despedaçado, Uma vida em segredo, Através da Janela (...).”
(Bernardet, 2009, p. 257). Ainda segundo Bernardet, tais títulos “[s]ão
filmes mortos porque ficam se regozijando com sua elaboração formal e
ficam contemplando, maravilhados, a sua beleza” (2009, p. 257-8). O
crítico sentencia: “Joguem fora seusstoryboards. Injetem menos talento e mais vida nos seus fotógrafos e diretores de arte” (Bernardet, 2009, p. 258).
Numa
comparação do cinema argentino de caráter fantástico, de fantasia ou
ficção científica, com o equivalente brasileiro, o tal “banho” salta
ainda mais aos olhos. Difícil pensar num filme como La Antena (2007), de Esteban Sapir, produzido no Brasil. Abusado demais, arriscado demais... criativo demais.
La Antena é
um amálgama de influências que entabula uma série de citações diretas a
obras mais ou menos famosas da história do cinema. A primeira
influência, talvez a mais evidente, é Metropolis (1927), de Fritz
Lang. As citações do filme alemão podem ser conferidas na paisagem
urbana, no som visualmente sugerido, nas diversas montagens de imagens
sobrepostas (chroma key), evocativas – guardadas as devidas
proporções – do Processo Schüfftan. Uma passagem como o plano dos olhos
multiplicados, quando os burgueses de Metropolis observam avidamente a
dança da falsa-Maria, é reproduzida em La Antena. O Sr. TV e seu filho são análogos a Joh Fredersen e Freder emMetropolis, o Dr. Y é Rothwang e a homenagem ao filme de Lang é sacramentada na seqüência do experimento com “A Voz”.
Além de Metropolis, La Antena paga tributo a Viagem à Lua (1904),
de Georges Méliès – com mais uma reprodução do célebre plano da lua
antropomórfica -, bem como ao cinema de vanguarda de Marcel Duchamp (Anémic Cinema, 1926) e Dziga Vertov (O Homem com a Câmera, 1929). O logotipo da empresa TV em La Antena lembra diretamente as espirais de Anémic Cinema.
O tema da população que tem sua energia vital drenada pela televisão
remete ainda a uma produção tcheca bem mais recente e menos conhecida, o
longa tcheco Akumulátor 1(1994), de Jan Sverak.
O trabalho da direção de arte em La Antena, assinado por Daniel Gimelberg, é primoroso e, de acordo com o making-of do
filme, disponível nos extras do DVD, fica clara a intenção de
homenagear uma história dos efeitos especiais, com a emulação de alguns
efeitos ópticos por meio de ferramentas digitais.
O roteiro de La Antena é
razoavelmente confuso, e só em algumas seqüências excluídas do corte
final, disponibilizadas nos extras do DVD, é que compreendemos
determinadas ações e motivações dos personagens. Porém, a julgar pelo
depoimento de Sapir no making-of do filme, a narrativa de La Antena foi
muito mais baseada em sensações, impressões e atmosferas do que na
progressão linear de um roteiro conservador. Falar em lógica, neste
caso, seria um tanto quanto ocioso. De toda maneira, a despeito de
quaisquer defeitos, La Antena é “um filme vivo, feito com as vísceras” – parafreaseando Jean-Claude Bernardet a respeito de Bicho de Sete Cabeças (2009, p. 258). Somando-se La Antena a La Sonámbula (1998) e Adiós Querida Luna (2004), ambos de Fernando Spiner, e ainda Moebius (1996), de Gustavo Mosquera, o cinema fantástico argentino contemporâneo ganha “de lavada” do equivalente brasileiro.
Gustavo
Mosquera, Esteban Sapir e Lucrecia Martel são alguns dos diretores
argentinos com passagem pela ENERC (Escuela Nacional de Experimentación y
Realización Cinematográfica). Os trabalhos em curta-metragem de
Mosquera e Sapir, por exemplo, revelam muito sobre seus projetos
posteriores em longa-metragem. IV Éden (1989), de Sapir, já
demonstra o interesse do cineasta pela televisão e a metalinguagem. O
filme é uma distopia pós-apocalíptica envolvendo vigilância em vídeo, de
extração metalingüística. Arden los Juegos (1985), de Mosquera, é uma ficção pós-apocalíptica sobre a angústia dos momentos seguintes a uma catástrofe global. Tanto Arden los Juegos como IV Éden demonstram
um interesse relativamente difundido no cinema de FC argentino pela
ficção distópica, ou pós-apocalíptica, algo observável também no Brasil,
embora talvez com menos intensidade ou empenho.
Falta
no cinema brasileiro a mesma familiaridade com o trato do tema
fantástico observável na Argentina, a mesma arte do improviso, sujeição
ao arriscado – enfim, a mesma ousadia de fazer filmes “médios”, porém
inspirados porque cheios de vida.
Crítica retirada de cronopios
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