“VIVER VIVENDO E, NÃO, VIVER MORRENDO!” (citação de H. Chávez)
Helena Iono
Direto de Caracas
O
que está ocorrendo nos últimos dias na Venezuela, fortemente vitimada
por temporais e chuvas intermitentes merece uma atenção especial do
mundo como indicador do altíssimo nível de desequilíbrio eco-ambiental
atingido no nosso planeta, e por outro lado, de surpreendente
resistência social organizada para reverter tamanha tragédia humana.
Antes
de iniciar, para abrir a mente dos que querem uma informação objetiva e
verdadeira, é preciso partir da premissa de que o povo e o governo
venezuelano não são apenas vítimas dessa catástrofe natural, mas de uma
constante guerra dos grandes meios de comunicação que não dão trégua,
mesmo diante da dor humana, como abutres contando friamente o número de
mortos, inventando e atacando sistematicamente o governo revolucionário.
Nos
últimos 10 dias, choveu na Venezuela, particularmente nos estados
próximo ao Caribe como nunca nos últimos 40 anos, um volume de água
equivalente a 1 ano de chuvas, após meses de intensa e anormal seca,
parte do efeito El Niño, dentro desse trágico panorama global de
destruição ecológica, que tem levado ao banco dos réus, desde Cancun aos
protestos mundiais de rua: o sistema industrial das grandes potências
capitalistas, o interesse privado e a ambição do lucro.
Somam-se
a tal desajuste climático, as estruturas empíricas de cidades como
Caracas edificadas pela exploração burguesa, oligárquica dos terrenos
urbanos, por contínuos 40 anos de gestão conservadora de partidos como
COPEI e AD, antes da revolução bolivariana; naquelas
décadas, a migração do campo à cidade não encontrou outro lugar para
construir barracos, e casas, que sobre terras deslizantes, desprovidas
de pedras de apoio ou árvores, saqueadas por construtoras que reservaram
o leste da cidade para as mansões e os edifícios da burguesia. Quem
esteve em Caracas já viu. Nas encostas dos morros que a circundam, há
centenas de áreas de risco, reproduções dos Bumbas de Niterói e das
favelas do Rio. Contando com o aval de governos locais corruptos
anteriores, do período de Perez Jimenez a Andrés Peres e outros, os
pobres tiveram a permissão de arriscar suas vidas, em terrenos fofos sem
infraestrutura, canalizações, nem esgoto. Que importava aos burgueses
que um dia todo esse povo pudesse morrer, sob temporais ou bombas de
napalm? Mas, o presidente H. Chávez decidiu dizer um basta a isto!
“Viver vivendo e, não, Viver morrendo!”, essa tem sido uma frase de um
filósofo que ele tem reiterado todos os dias, não como retórica, mas
como um sincero projeto político transformador. E é onde queremos chegar
com este relato. Porque catástrofe por catástrofe, existem outras
piores como a que está assolando o pobre povo haitiano. Mas, o governo
venezuelano aqui tem atuado energicamente em medidas de prevenção contra
maiores perdas humanas e à reconstrução garantida de uma vida digna
para os afetados pelas chuva.
Da catástrofe à resistência organizada do Estado e da população
A
grande diferença diante de catástrofes climáticas que têm ocorrido no
mundo, e o que se tem presenciado nestes dias na Venezuela, é uma
política de estado de prevenção e gigantesca mobilização social de
salvamento e reconstrução.
Em
1999, no estado Vargas, houve um aluvião que vitimou 50 mil pessoas. O
governo revolucionário de Hugo Chávez, recém empossado naquele momento,
herdando a inoperância do regime anterior, decidiu construir um sistema
de defesa e de contenção. As recentes chuvas, criaram muitos danos, a
ponto de ser decretado estado de emergência, mas a prevenção acarretou
agora menos mortes. Houve somente 2: infelizmente, um vereador do PSUV e
um policial, que agiam em socorro à população.
A
proporção das vítimas fatais em relação aos danos – até hoje 60 mil (*)
afetados no pais, com o estado Falcón quase submerso, e Miranda e
Vargas sob emergência, dezenas de milhares de casas pobres desabadas –
tem sido relativamente reduzida: conta-se até o momento com apenas 32
mortos em todo o país. A rapidez das medidas preventivas para salvar
vidas, conduzindo em refúgios de urgência, tem sido determinante para
evitar maior tragédia humana. Sob o comando direto do presidente Chávez,
o vice-presidente e todos os ministros arregaçaram as mangas e vestiram
as botas junto a governadores, prefeitos, conselhos comunais, forças
armadas, soldados da reserva, milícias, estudantes, operários,
funcionários públicos, militantes do PSUV e milhares de voluntários, que
estão atuando direta e incansavelmente em ações de salvamento. As 60
mil pessoas estão abrigadas em mais de 310 refúgios civis e 9 militares,
sem contar que várias outras instituições ministeriais, Telesur, hotéis
privados, ofereceram refúgio às famílias.
Há
três fatos de destaque histórico que os grandes meios da oposição
ocultam e que é preciso divulgar ao mundo. O presidente Chávez decidiu
entre outras, hospedar 26 famílias que perderam suas casas nas
dependências do Palácio Presidencial de Miraflores e lhes prometeu que
de lá só sairão para seus novos apartamentos e nunca mais voltarão a
viver como antes: terão casa, emprego, escola e saúde. Da mesma forma,
abriu as acomodações do Forte Militar Tiuna aos desabrigados. Foi há 2
dias, à favela de La Pedrera, zona de alto risco e desabamento, e
acolhido por multidões de famílias convenceu-as a evacuar para refúgios,
assegurando guarda militar dos pertences. Isso não é populismo, como
divulga a grande mídia. É a qualidade natural humana que somente o ideal
socialista pode emanar nos dirigentes, presidentes e governantes: o
amor verdadeiro para com o povo oprimido e à nação. Mais que águas e
chuvas, a Venezuela está inundada de solidariedade e desejo de mudar
para sempre essa dependência ao capitalismo e à burocracia.
O
governo bolivariano decidiu criar através de votação inicial na
Assembléia Nacional uma “Lei de Emergência para terrenos urbanos e
habitações”, que priorize a atribuição de casas às pessoas de risco
vital como velhos e desabrigados; depois, aos novos casais. A nova lei
também definirá o valor dos terrenos urbanos, até hoje sob critério
capitalista. Designaram-se vários fundos estatais e projetos de
construção urgente de casas populares: em 2011 deverão ser construídas
12.775 casas para os refugiados. Vários terrenos baldios em desuso, ou
fins sociais não prioritários como campo de golf, serão expropriados
para dar passo a edifícios residenciais. O presidente Chávez convocou os
ministros e comitês de desabrigados a controlar o ritmo de construção e
o critério social de atribuição das casas, para evitar o desvio
burocrático. As inundações na Venezuela estão “radicalizando o processo
democrático” e empurrando a correnteza revolucionaria.
Dois
aspectos notáveis neste processo venezuelano. O poder popular, o
controle social diretamente estimulado pelo Presidente da República que
abriu literalmente a casa de governo ao povo; e a participação do
exército e do soldado defensor do povo, salvando gente, obstruindo
estradas, carregando comida, remédios, reconstruindo estradas. Todos os
estudantes da UNEFA (Universidade Experimental das Forças Armadas) estão
atuando no reconhecimento dos terrenos, das casas desmoronadas, das
medicinas necessárias, das atenções às crianças nos refúgios. A
América Latina já presenciou exemplos como este, em 1973 na Argentina,
na época de Héctor J. Cámpora que criou a Operação Dorrego, onde se
estabeleceram ações conjuntas entre soldados e a juventude peronista em
ajuda a populações inundadas. Na Venezuela, esse processo de
solidariedade e exercício de atuação unificada entre governo, exército, o
partido (PSUV), milícias, estudantes, comunas se solidificou com as
chuvas, e será irreversível. Soma-se a isso a enorme ajuda
internacional, dos médicos cubanos espalhados em todos os bairro
afetados, e a ajuda governamental de paises como Bolívia, Cuba, China e
tantos outros.
Seria
muito oportuno e necessário que o governo brasileiro, e os movimentos
sociais, o PT, MST, a CUT, a UNE, as TVs e rádios comunitárias,
estudantes e trabalhadores do Brasil afora, enviassem além da ajuda
material, e a sua solidariedade ao povo e ao governo venezuelano, o seu
apoio moral e a sua saudação pelo seu exemplo de conduta de resistência e
de luta frente às catástrofes. Transformar as dificuldades em um
programa de luta e saltos revolucionários é o que a Venezuela nos
ensina.
Helena Iono
Correspondente da TV Cidade Livre, o Canal Comunitário de Brasília
Desde Caracas – Venezuela
3/12/2010
(*) Dados baseados em informações do quotidiano “Correio do Orinoco” da Venezuela
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