Frei Betto no Sul21
A presidente Dilma promete priorizar a educação. No Brasil, apenas
10% da população concluíram o ensino superior; 23% o médio, e 36% não
terminaram o fundamental. O ministro Fernando Haddad se compromete a
adotar tempo integral no ensino médio, combinando atividades
curriculares com aprendizado profissionalizante.
São promessas às quais se soma a de aplicar 7% do PIB na educação (hoje, apenas 5,2%, cerca de R$ 70 bilhões).
O governo Lula avançou muito na área: criou 14 novas universidades
públicas e mais de 130 expansões universitárias; a Universidade Aberta
do Brasil (ensino à distância), cuja qualidade é discutível; construiu
mais de 100 campi universitários pelo interior do país; criou e/ou
ampliou Escolas Técnicas e Institutos Federais e, através do ProUni,
possibilitou a mais de 700 mil jovens o acesso ao ensino superior.
Outro avanço é a universalização do ensino fundamental, no qual se
encontram matriculados 98% dos brasileiros de 7 a 14 anos. Porém,
quantidade não significa qualidade. Ainda há muito a fazer. Estão fora
da escola 15% dos jovens entre 15 e 17 anos. Ao desinteresse, principal
motivo, alinham-se a premência de trabalhar e a dificuldade de acesso à
escola.
Tomara que a proposta de tempo integral do ministro Haddad se torne
realidade. Nos países desenvolvidos os alunos permanecem na escola, em
média, 8 horas por dia. No Brasil, 4,30 horas. Pesquisas indicam que, em
casa, passam o mesmo tempo diante da TV e/ou do computador. Nada
contra, exceto o risco de obesidade precoce. Mas como seria bom se TV
emitisse mais cultura e menos entretenimento e se na internet fossem
acessados conteúdos mais educativos!
Os estudantes brasileiros leem 7,2 livros por ano, dos quais 5,5 são
didáticos ou indicados pela escola. Apenas 1,7 livro por escolha
própria. E 46% dos estudantes não frequentam bibliotecas.
No Pisa 2009 (Programa Internacional de Avaliação de Alunos),
aplicado em 65 países, o Brasil ficou em 53º lugar. Na escala de 1 a 800
pontos, nosso país alcançou 401. No quesito leitura, 49% de nossos
alunos mereceram nível 1 (1 equivale a conhecimento rudimentar e 6 ao
mais complexo). Nível 1 também para 69% de nossos alunos em matemática e
para 54% em ciências.
O Pisa é aplicado em alunos(as) de 15 anos. Nas provas de matemática e
leitura, apenas 20 alunos (0,1%), dos 20 mil testados, alcançaram o
nível 6 em leitura e matemática. Em ciências, nenhum. No conjunto, é em
matemática que nossos alunos estão mais atrasados: 386 pontos (o máximo
são 800). O MEC apostava atingirem 395. Na leitura, nossos alunos
fizeram 412 pontos, e em ciências, 405.
Estamos tão atrasados que o Plano Nacional de Educação prevê o Brasil
alcançar, no Pisa, 477 pontos em 2021. Em 2009, a Lituânia alcançou
479; a Itália, 486; os EUA, 496; a Polônia, 501; o Japão 529; e a China,
campeã, 577.
Nos países mais desenvolvidos, 50% do tempo de instrução obrigatório
aos alunos de 9 a 11 anos e 40% do tempo para os alunos de 12 a 14 anos é
ocupado com ciências, matemática, literatura e redação. E, no ensino
fundamental, não se admitem mais de 20 alunos por classe.
Onde está o nosso tendão de Aquiles? Na falta de investimentos – em
qualificação de professores, plano de carreira, equipamentos nas escolas
(informática, laboratório, biblioteca, infradesportiva etc).
Análise de 39 países, feita pela OCDE em 2010, revela que o
investimento do Brasil em educação corresponde a apenas 1/5 do que os
países desenvolvidos desembolsam para o setor. EUA, Reino Unido, Japão,
Áustria, Itália e Dinamarca investem cerca de US$ 94.589 (cerca de R$
160 mil) por aluno no decorrer de todo o ciclo fundamental. O Brasil
investe apenas US$ 19.516 (cerca de R$ 33 mil).
Embora a OMC tenha insinuado retirar a educação da condição de dever
do Estado e direito do cidadão e transformá-la em simples negócio – ao
que o governo Lula se contrapôs decididamente -, os 5,2% do PIB que
nosso país aplica na educação são insuficientes. O que favorece a
multiplicação de escolas e universidades particulares de duvidosa
qualidade. Entre os países mais ricos, derivam do poder público 90% do
investimento em ensinos fundamental e médio.
Ainda convivemos com cerca de 14 milhões de analfabetos com 15 anos
ou mais. Sem contar os analfabetos funcionais. Dos 135 milhões de
eleitores em 2010, 27 milhões não sabiam ler nem escrever. Faltou ao
governo Lula um plano eficiente de alfabetização de jovens e adultos.
Tomara que Dilma cumpra a promessa de criar 6 mil novas creches e o
MEC se convença de que alfabetização de jovens e adultos não se faz
apenas com dedicados voluntários. É preciso magistério capacitado,
qualificado e bem remunerado.
Todos gostariam que seus filhos tivessem ótimos professores. Mas quem
sonha em ver o filho professor? Na Coreia do Sul, onde são tão bem
remunerados quanto médicos e advogados, e socialmente prestigiados,
todos conhecem o provérbio: “Jamais pise na sombra de um professor.”
* Escritor, autor de “Alfabetto – Autobiografia Escolar” (Ática), entre outros livros
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