Laerte Braga no Diario Liberdade
A
História nem é "carroça abandonada à beira da estrada" (Chico Buarque
de Holanda) e tampouco se faz em um dia. O fim da União Soviética começa
a mostrar outro processo de extinção, o da Europa Ocidental. A maior
parte dos países dessa parte do mundo, a rigor, por conta do alinhamento
quase absoluto com os EUA, perdeu sua autonomia, sua independência e
muitos governos (britânico, sueco, alemão, italiano, por exemplo) são
inteiramente subordinados a Washington.
A
globalização em se falando de Europa foi literalmente
"globalitarização" (Milton Santos), ainda que numa forma diferente da
concebida pelo geógrafo brasileiro. Nações como a Suécia e a Alemanha, o
Reino Unido, são meros pedaços de terra cercados de uma história de
milênios, mas bases militares da OTAN – Organização do Tratado Atlântico
Norte – a força de ocupação norte-americana.
A
guinada à direita do presidente francês Nicolas Sarkozy tem um claro
apelo eleitoral (os votos da extrema-direita em ascensão e suas
políticas contra imigrantes). Com as forças de esquerda desmanteladas e
incapazes de conter o avanço dos EUA sobre o continente, só resta em
termos de sobrevivência abrir as portas dos palácios reais e castelos
para o pão nosso de cada dia. Um euro por visitante, a única concessão a
estrangeiros.
O grande problema
vivido pela Europa Ocidental hoje se materializa na gota d'água do
processo de restrição a direito de imigrantes e nas grandes
manifestações contra o crescimento da população muçulmana. "Muitos
europeus rotulam o crescimento dos contingentes estrangeiros –
especialmente muçulmanos – como incompatíveis com os valores
ocidentais". A afirmação é de Matthew Goodwin, do Instituto de Relações
Internacionais Chatham House, com sede em Londres.
Esse
fenômeno da rejeição a muçulmanos acende outra fogueira e num outro
extremo. A direita traz consigo o antisemitismo. A exigência de brasão,
árvore genealógica, ou fortes depósitos em bancos europeus passa a ser
condição básica para ser absorvido e integrado a Europa. O impasse se
supera com o sionismo, versão fascista do judaísmo e detentora do
controle de grande parte dos "negócios".
O
surgimento de conflitos com setores que aceitam essas políticas pode e
deve incendiar boa parte da Europa, exatamente no momento em que outra
boa parte dos países europeus, começa a vislumbrar a falência econômica.
Para
Washington basta que os europeus continuem acreditando que são donos de
seus museus, castelos, seus reis e rainhas, seus primeiros ministros
exóticos, ou presidentes erráticos como Sarkozy, que o resto eles,
norte-americanos, providenciam.
Em
breve, pelo andar da carruagem, os tradicionais ônibus de dois andares
que circulam por Londres e outras cidades inglesas vão virar bastião da
pátria amada, do império onde o sol não se punha.
Vai ser o que restar diante do avanço dos EUA.
A
extrema direita já participa de governos na Itália, Dinamarca e Holanda
e tem cadeiras nos parlamentos da Áustria, Bulgária, Letônia,
Eslováquia e Suécia.
Na França, surge
a primeira musa dessa horda. Marine Le Pen, 42 anos de idade, deputada
ao Parlamento Europeu pela Frente Nacional de seu país, partido que
entre outras coisas, é racista, fascista e antisemita. Foi eleita para
suceder seu pai Jean-Marie à frente da organização desde 1972. Marine
teria hoje, segundo avaliações de institutos de opinião pública, 17% dos
votos dos franceses numa eventual disputa eleitoral.
Segundo
ela o hábito dos muçulmanos de orar pelas ruas se compara "a ocupação
da França pelos nazistas". Defende o retorno da pena de morte, a volta
do serviço militar obrigatório e acha que os crimes praticados por
policiais contra "suspeitos" (como o do brasileiro Jean Charles
assassinado pela polícia londrina) devem ser considerados "legítima
defesa".
Quer o fim dos benefícios sociais para estrangeiros.
São os tais "valores ocidentais".
A
verdade é que neste momento começam a naufragar e a apodrecer os
pilares da Nova Ordem traçada pelo Consenso de Washington – o
neoliberalismo –.
A própria corte
desse império está mergulhada numa crise que sinaliza seu declínio.
Quando elegeu o primeiro presidente de pele negra, não só os negros, mas
todos, perceberam que se trata de um branco disfarçado e disposto ao
papel de garçom da Casa Branca. Michael Moore, o cineasta, compara-o nas
funções de "comandante em chefe das forças armadas" ao "funcionário do
mês do BurgerKing do meu bairro".
A
ocupação da Europa por bases militares, os conflitos na Ásia, África e
Oriente Médio, as tentativas de golpes contra governos progressistas da
América Latina, são sinais da transformação dos EUA num conglomerado
terrorista formado pelo que Eisenhower (general e ex-presidente) chamou
de "complexo industrial e militar", isso na década de 50 do século
passado.
Não existem mais os Estados
Unidos como nação. Mas o conglomerado EUA-Israel Terrorismo S/A, montado
num arsenal capaz de destruir o mundo cem vezes se necessário for e
pelos tais "valores ocidentais".
Nesse
contexto todo a América Latina passa a ter capital importância diante
do potencial econômico que traz consigo. Matérias primas básicas,
petróleo em grande quantidade, água, toda a perspectiva de um grande
campo para sustentar o conglomerado. Evitar o declínio em curso.
E
é por aí que cresce a importância de governos como o de Chávez, Evo
Morales, Lugo, Pepe Mujica, Ortega, Castro, Corrêa e outros e se faz
necessária a plena definição do Brasil – maior país da região – pelo
processo de integração sem os Estados Unidos, para que não sejamos uma
nova Europa, ou um novo México.
É a barbárie com tecnologia de ponta.
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Valores Ocidentais
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