Judith Orr no Revolutas
Revoluções muitas vezes parecem vir do nada. Pessoas que vivem sob um regime
brutal por gerações. Que levam suas vidas cotidianas trabalhando, estudando, de
repente se revoltam.
Até pouco tempo, ninguém poderia prever qual seriam os desdobramentos das lutas
de resistência popular na Tunísia. Uma revolução jamais é um evento isolado. É
um processo que se desenvolve ao longo de semanas, meses, anos. Pode haver
grandes avanços, mas também recuos dramáticos.
O revolucionário Lênin escreveu que a revolução só é possível quando "os
de baixo" não aceitam viver como vivem e "os de cima" já não conseguem
viver da maneira que vivem. E que “a revolução é impossível sem uma crise
nacional".
A sociedade pode parecer tranqüila, mas isso não significa que as pessoas sejam
felizes. Acontece com freqüência que os governantes tenham a ilusão de que estão
numa fortaleza de popularidade e segurança. Muitos deles vivem em uma bolha de
riqueza e privilégios cercado por auxiliares e consultores que só dizem o que
eles querem ouvir.
Mas quando o encanto é quebrado e a revolta popular explode, as mudanças que
poderiam ter levado anos em tempos "normais" podem acontecer em
questão de horas.
O medo diante da polícia e do exército desaparece quando milhares de pessoas tornam-se
politicamente ativas. Trabalhadores e estudantes de todo o mundo acompanham com
entusiasmo os acontecimentos.
O que vem acontecendo na Tunísia tem sido considerado "revolução do Twitter",
a exemplo do que aconteceu no Irã há dois anos. A capacidade de se comunicar
instantaneamente em todo o país tem sido um recurso fantástico nas últimas
lutas.
Mas não devemos confundir um instrumento na luta com a luta em si. O Twitter
não forçou Ben Ali a fugir do país que governou por 23 anos. Assim como não foram
paredes pichadas ou folhetos que derrubaram o czar da Rússia em 1917.
Em toda situação revolucionária é a ação real do ser humano que tomas as ruas.
Desafiando a polícia e lutando com coragem e imaginação. Ao longo da história, a
classe trabalhadora jamais conquistou nada
sem travar lutas duras.
Lutar pode mudar o mundo. Mas, lutar muda a nós também. À medida que lutamos ao
lado de outros trabalhadores e ativistas deixamos de nos sentir como engrenagens
isoladas em um sistema enorme e anônimo.
Quando começamos a tomar o controle de nossas vidas, verdades sagradas sobre a
sociedade são desafiadas. A polícia é neutra?
Realmente não há dinheiro para hospitais e escolas? É melhor deixar as
decisões importantes para um punhado de pessoas no topo?
Como este processo irá desenvolver na Tunísia vai depender da política e das
organizações que formam o movimento nas próximas semanas e meses.
Por exemplo, os comitês de defesa local criados para proteger as comunidades
das milícias que apóiam governo Ben Ali podem se transformar em formas mais
amplas de auto-governo? Poderiam ser as sementes de uma organização política
independente.
Os movimentos revolucionários foram derrotados no passado, quando setores de
oposição foram cooptados pelo governo e se afastaram da luta. Regimes ameaçados
costumam aceitar pequenas mudanças para se manter no poder.
Mas o exemplo da Tunísia mostra como as coisas podem mudar rápido quando anos
de amargura chegam ao ponto de explodir.
A crise econômica mundial leva pessoas comuns em todo o mundo a sofrer aflições
parecidas e a se preocupar com o futuro. O movimento revolucionário na Tunísia
tornou-se um farol para milhões delas. Pode levá-las a desafiar seus
governantes.
A situação está madura. Há potencial para que a luta vá além de uma simples
mudança de governo. As pessoas comuns sentem que podem desafiar o capitalismo e
construir um mundo socialista que possa satisfazer as necessidades de todos.
Socialist Worker – edição 2235 – 22/01/2011 |
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