Renato Rovai da Revista Fórum
A grande atração de ontem no Fórum Social Mundial foi a mesa da qual participaram o ex-presidente Lula e o presidente do Senegal Abdulaye Wade. Lula falou antes do senegalês. Sorte do público, que teve a liberdade de ir embora depois da fala do brasileiro sem ter de ouvir uma empolgada defesa do liberalismo econômico.
A grande atração de ontem no Fórum Social Mundial foi a mesa da qual participaram o ex-presidente Lula e o presidente do Senegal Abdulaye Wade. Lula falou antes do senegalês. Sorte do público, que teve a liberdade de ir embora depois da fala do brasileiro sem ter de ouvir uma empolgada defesa do liberalismo econômico.
Lula deu sinais no discurso de hoje que começou a desencarnar. Na
entrevista concedida aos blogueiros em dezembro ele disse que precisa de
um tempo fora da presidência para poder começar a falar alguma coisas.
Seu discurso voltou a ser mais petista. E de um petismo fora do governo.
O que pode ser muito interessante para puxar o partido para uma linha
menos recuada.
Lula falou sem meias palavras que a crise financeira de 2008
comprovou que o consenso de Washington e a agenda neoliberal
fracassaram. Que os países ricos sempre trataram a periferia do mundo
como problemática e perigosa e que só quando a crise atingiu o centro do
capitalismo mundial é que eles buscaram dialogar com esse setor pra
tentar resolver o problema deles.
Também deu pau na direita européia e estadunidense “que aponta a
imigração como responsável pela corrosão do sistema econômico dos seus
países”.
Chamou a elite africana na chincha e deu recados explícitos ao
presidente senegalês. “Não há soberania efetiva sem soberania alimentar.
As savanas africanas têm 400 mil hectares e só 10% disso é aproveitado
para agricultura. Mesmo assim, 1/ 4 de toda a produção de alimentos do
continente vem dali. É preciso começar a mudar essa situação”.
O futuro presidente de honra do PT também afirmou que “é fundamental a
criação do Estado Palestino que tenha condições de se desenvolver e que
conviva em paz com Israel”.
E lembrou que, em 2005, quando visitou a Ilha de Gore, pediu perdão
em nome de todos os brasileiros pelo período de escravidão no seu país.
Mas acrescentou: “a melhor maneira que temos de fazer essa reparação não
é só pedir perdão, mas lutar por uma África justa”.
No âmbito das organizações internacionais, Lula disse que o G20 não
tem sensibilidade para o problema da fome e para outras questões que
deveriam ser prioridades no mundo. E que enquanto presidente do Brasil
nunca foi chamado para uma reunião dos países ricos. “Só fomos chamados
quando eles entraram em crise.”
Ao final Lula provocou os presentes dizendo que não bastava ser
militante só durante o FSM, mas que era preciso sê-lo durante os 365
dias do ano. Depois desse discurso forte e posicionado de Lula,
traduzido pelo sociólogo Emir Sader para o francês, o presidente do
Senegal iniciou sua fala também de forma forte e posicionada.
Mas dizendo que era partidário da economia de mercado, porque a
economia de Estado havia sido um fracasso onde tinha sido implantada.
Mas que achava que a economia de mercado precisava de um regulação do
Estado liberal. Para na seqüência perguntar à platéia: “Por que o
liberal que eu sou abre as portas do seu país para um evento como Fórum?
Para responder em seguida que é porque ele acha importante o debate de
idéias.
A intervenção de Abdulaye Wade só não foi mais constrangedora, porque
o público do FSM deu mais uma demonstração de grandeza e sabedoria
política e não o deixeou falando literalmente sozinho. Algumas pessoas
saíram do auditório durante sua “aula de neoliberalismo”, mas a maioria
respeitou o contraditório. E ficou até o final.
Um pouco antes de terminar, Abdulaye Waded decidiu fazer uma pergunta
meio boba à platéia, até de forma deselegante, dizendo que achava
que nesses 10 ano o FSM não tinha conseguido nada de concreto e se tinha
o que era?
Teve de ouviu um grito em uníssono de Lula, Lula, Lula que ecoou por
uns 3 minutos na sala. Lula estava no 1º FSM, em 2001, antes de ser
eleito presidente da República. E veio ao FSM de Dacar para fazer a seu
primeiro discurso político público após deixar a presidência.
A provocação de Abdulaye Wade serviu para muitos altermundistas
reivindicarem o ex-presidente Lula também como um símbolo internacional
deste processo.
Aliás, não seria nada mal que Lula assumisse bandeiras do FSM e saísse por aí como um mascate de um outro mundo possível.
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