segunda-feira, 28 de março de 2011

A nudez consciente...

De topless, ucranianas lutam contra a exploração sexual e pelos direitos das mulheres


Ucranianas do Femen fazem topless em manifestação em Kiev contra promoção feita por rádio neozelandesa
Rodrigo Borges Delfim no Opera Mundi
 
 A emissora neozelandesa The Rock FM anunciou nesta semana a promoção "Ganhe uma esposa", cujo vencedor viajaria para a Ucrânia para "escolher" uma noiva através de uma agência que promove encontros. Em resposta, ativistas do grupo feminista ucraniano Femen protestaram em Kiev, capital do país, com slogans como "A Ucrânia não é Bordel" e fazendo o tradicional topless, que já virou uma marca registrada.

A promoção da rádio e a reação do Femen mostram como a fama de “point” do turismo sexual colou na Ucrânia e também o tamanho do desafio do movimento feminista em mudar essa imagem do país no exterior. A Ucrânia se consolidou como um destino turístico, com cerca de 20 milhões de visitantes por ano. Mas a atração principal para esse público está longe de trazer orgulho.

Já não bastasse o rótulo de prostitutas que mulheres de países do leste carregam na Europa, a ex-república soviética também ganhou a fama de ser uma das mecas do sexo pago no mundo, em especial na capital Kiev. O fato de 23% das prostitutas da Europa serem de origem ucraniana reforça o estereótipo.

A crise econômica vivida pelo país agrava o problema, já que muitas jovens enxergam na prostituição uma forma de ganhar muito dinheiro e ascender socialmente. Estima-se que 60% das universitárias ucranianas recorram à indústria do sexo para custearem os estudos.

Femen/Divulgação

Para as ativistas ucranianas, a nudez chama a atenção para a causa defendida nos protestos

É dentro desse contexto que estudantes da Universidade de Kiev fundaram em 2008 o Femen, um movimento que adotou um jeito polêmico e irreverente de protestar contra o turismo sexual e lutar pelos direitos das mulheres na Ucrânia e pelo mundo. A forma mais marcante de manifestação e que mais chama a atenção da mídia internacional é o topless.

"Criei este movimento porque compreendi que havia falta de ativistas femininas na nossa sociedade. A Ucrânia é uma sociedade dominada pelos homens e na qual as mulheres têm um papel passivo", disse Anna Hutsol, presidente do Femen.

Para as integrantes do Femen, a prostituição é uma forma de escravidão. Por isso, o grupo também se opõe a qualquer proposta de legalização da atividade no país e propõe a criminalização do ato da compra de sexo. Essa política já é adotada na Suécia e conhecida como “Modelo Nórdico”.

Uma das preocupações futuras do Femen é com 2012, ano no qual cidades da Ucrânia serão sedes da Eurocopa, ao lado da vizinha Polônia. A grande dimensão do evento e seu potencial turístico tendem a agravar o problema da prostituição no país.

As manifestações do Femen em prol dos direitos das mulheres na Ucrânia também incluem campanhas com slogans irreverentes e marcantes. Uma das mais famosas é "A Ucrânia Não é Bordel", que aborda o tema da prostituição. Outra iniciativa de destaque é a campanha "Não Seja uma Vagabunda - Não Venda Seu Voto", que visava a conscientização do público feminino para a última eleição presidencial, ocorrida no ano passado.

Efe

Já são mais de sete as manifestações organizadas pelo Femen em 2011

O grupo, aliás, também é crítico ferrenho do governo ucraniano, que vem restringindo a liberdade de expressão no país. Protestos em geral são proibidos – sobretudo contra a Rússia, maior aliada da atual gestão – e a mídia ucraniana recebe “recomendações” sobre o que pode e como deve ser veiculado.

Com a consolidação do futuro site, a organização pretende intensificar a mobilização promovida nas redes sociais – já engloba locais como o Facebook, MySpace, Twitter e Flickr. Hoje, o Femen conta com cerca de 300 ativistas que participam dos protestos. Mas quando somam o apoio que recebem via internet, a base de ativistas chega a 2,5 mil.

A princípio, o uso do topless como forma de manifestação pode parecer equivocada, sob risco de reforçar os estereótipos já existentes. Mas as integrantes pensam de forma bem diferente. “Nós começamos vestidas e ninguém reparava. Eu sou uma grande fã de tirarmos nossas roupas. É como conseguimos atenção da nossa plateia”, disse a militante e estudante de Economia Alexandra Shevchenko. “É tudo o que temos, nosso corpo. Nós não temos vergonha disso”, completou a estudante de jornalismo Inna.

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