Milton TemerDe
um lado, Denis Rosenfeld, professor ultra-reacionário de filosofia,
louva os dois primeiros meses de Dilma. Do outro,Wladimir Pomar,
dirigente histórico do Partido dos Trabalhadores, critica cortes nos
gastos públicos, ontem anunciados pelo governo, para gáudio dos
banqueiros. É a direita fascista fazendo festa, e o petismo histórico
ressuscitando, assumindo postura coerente com duas décadas iniciais de
um partido que se orgulhava do socialismo.
Está aí a promessa de algo importante, não só para o PT, mas para toda a esquerda; para toda a Nação.
Dois meses é pouco, dirão alguns, tentando argumentar uma distinção
entre Dilma e Lula., Aliás, para desqualificar Lula – a quem sempre
combateram por puro preconceito de classe e não por divergência quanto
ao modelo econômico –, vale tudo, desde que a partir dos que dominam o
andar de cima da Nação.
Mas acontece que as medidas iniciais tomadas – arrocho de salário
mínimo e cortes de R$ 50 bi nos gastos públicos – não são de efeito tão
curto. Elas valem, na melhor das hipóteses, para um quarto do mandato da
presidente Dilma. Para todo este ano.
Mais ainda, nas considerações sobre a guinada conservadora, não se
trata apenas de medidas internas. No Itamaraty, símbolo positivo do
governo Lula, pelo protagonismo em temas fundamentais – solidariedade às
repúblicas bolivarianas do continente, e apoio explícito à causa
palestina no Oriente Médio – , que nos levaram a inevitável contraponto
com a política imperialista do Departamento de Estado americano, os
sinais também são preocupantes. Há uma aproximação explícita com o
Departamento de Estado americano.
Vamos ter claro que as questões levantadas sobre o governo Lula não
pretendem, absolutamente, criar qualquer ambiência nostálgica em relação
aos oito anos de pragmatismo assistencialista que ele implementou.
Nem de perto. Pretendem apenas registrar que tudo o que havia de
condenável; de despolitizador da política; de desmobilizador das
mobilizações cidadãs se manteve intocado. E a segunda elevação da taxa
de juros em apenas dois meses de nova administração do Banco Central só
confirmam a manutenção e o agravamento do que havia de pior: a submissão
do governo ao sistema financeiro privado. O que se pretende, sim, é
deixar claro que o imobilismo de cabeças pensantes, prontas a tudo
aceitar desde que originário da caneta, ou do discurso, de Lula, já não
encontra a mesma reação quando a iniciativa vem da sucessora.
Nesse contexto, é fundamental que o debate se estenda a todas as
instâncias do PT. Entre os pragmáticos, no poder, e os programáticos,
em posição de espera. Wladimir Pomar não é um quadro inexpressivo, nem
fala por si só. Seu filho, Valter Pomar, é um dos dirigentes mais
respeitados no partido, um dos líderes do campo programático.
Que nesse debate, já publicamente instalado, os últimos se tornem primeiros é do interesse de toda a esquerda brasileira.
Milton Temer é jornalista e diretor-técnico da Fundação Lauro Campos
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário