Igor Natusch no Sul21
Uma série de eventos em todo o Brasil marcaram, nesta quarta-feira
(18), a luta nacional contra a homofobia, além de pressionar o Senado no
sentido de aprovar o PL-122, que transforma em crime o preconceito
contra homossexuais. O mais chamativo dos atos foi a 2ª Marcha Nacional
Contra a Homofobia e Pelo PLC122, promovida em Brasília pela Associação
Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais
(ABGLT). Capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre também
tiveram manifestações populares em defesa das relações homoafetivas. A
data de 17 de maio marca o Dia Internacional Contra a Homofobia, por ser
o aniversário da decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) de
remover a homossexualidade de sua lista de desordens mentais, anunciada
em 1990.
A marcha contra a homofobia em Brasília teve a participação de mais
de 5 mil pessoas, segundo a organização do evento. “Vamos colorir o
Congresso e trazer mais paz e amor para essa classe social”, declarou o
deputado federal Jean Wyllys (PSol-RJ), um dos parlamentares presentes
no ato. Homossexual assumido, Wyllys acredita que a marcha contribui no
sentido de pressionar o Senado a aprovar a PL-122, que transforma a
homofobia em crime.
A concentração começou de manhã em frente à Catedral Metropolitana de
Brasília, e os presentes participaram em seguida de um ato no gramado
em frente ao Congresso Nacional. Ocorreu também um abraço coletivo na
sede do Supremo Tribunal Federal, na Praça dos Três Poderes, como
demonstração de gratidão à decisão do STF de reconhecer como legal a
união estável homossexual.
“Somos milhões de brasileiras e brasileiros, ainda excluídos da
democracia e sem nossos direitos garantidos pelas leis do país”, afirmou
Evaldo Amorim, presidente do Grupo Elos LGBT e um dos coordenadores da
marcha. “Com essa manifestação queremos chamar atenção da sociedade e do
Estado para que não mais permitam esse tipo de preconceito”.
Em Porto Alegre, foi promovido um beijaço na Esquina Democrática,
como forma de pedir a aprovação da PL-122. No ato, dezenas de casais
homossexuais beijaram-se sob uma bandeira do arco-íris, símbolo
universal do movimento que pede igualdade de direitos para a comunidade
LGBT. Houve também distribuição de panfletos e conversas com populares
que paravam para assistir o ato. Segundo os organizadores, a troca de
beijos entre os casais busca mostrar a relação homoafetiva como uma
forma de amor, independente de orientação sexual.
Prefeitura do Rio de Janeiro anuncia decretos contra homofobia
Em sintonia com as manifestações a favor das relações homoafetivas, o
governo municipal do Rio de Janeiro anunciou na quarta (18) dois
decretos e um conjunto de ações voltadas a combater a homofobia. Um dos
decretos autoriza o uso de nome social por travestis e transexuais em
repartições públicas municipais. Ou seja, as pessoas podem escolher por
qual nome desejam ser tratadas em locais como escolas e hospitais,
independente do que esteja escrito no documento de identidade. O outro
decreto determina que as repartições mostrem de forma visível avisos
sobre a lei municipal 2475/96, que proíbe a discriminação por orientação
sexual em órgãos públicos e estabelecimentos comerciais, além de prever
o direito a demonstrações públicas de afeto por parte da comunidade
LGBT.
A prefeitura do RJ promoveu também a inauguração do novo site da
Coordenadoria Especial de Diversidade Sexual do município. O site trará
informações relacionadas à agenda LGBT, além de receber denúncias de
preconceito e discriminação. Será formada também uma rede de trabalho
contra o bullying de motivação homofóbica nas escolas, além da
confirmação de cursos de capacitação sobre os direitos dos homossexuais,
voltados para funcionários de comércio e serviços. Os estabelecimentos
que passarem pelo curso receberão um selo “Rio Sem Preconceito”,
certificando que o local está preparado para atender clientes
adequadamente, independente da orientação sexual.
Bolsonaro: PSol é um “partido de veados”
O PSol protocolou nesta quarta-feira (18) representação no Conselho
de Ética da Câmara contra Jair Bolsonaro (PP-RJ), com base na discussão
entre ele e a senadora Marinor Brito (PSol-PA) no último dia 12. A briga
aconteceu após uma reunião da Comissão de Direitos Humanos do Senado,
onde Bolsonaro distribuía, do lado de fora da sala, um folheto
“antigay”. A atitude era uma resposta à iniciativa do Ministério da
Educação, que distribuiu um kit em escolas públicas para combater o
preconceito contra homossexuais. Na ocasião, houve bate-boca entre os
dois congressistas. Na representação, o PSol pede que Bolsonaro seja
investigado por quebra de decoro parlamentar.
Ao ser informado da investigação, Bolsonaro reagiu com indignação e
não poupou adjetivos. Segundo ele, a atitude do PSol não surpreende, uma
vez que se trata de “um partido de pirocas e de veados”. “Estou me
lixando para a senadora. Vou responder sua representação em um papel
higiênico”, declarou o deputado federal, acrescentando que Marinor teria
dado “uma porrada” nele, além de xingá-lo de corrupto, homofóbico e
assassino.
Garotinho diz que cartilha ensina crianças a fazer sexo anal
A pressão da bancada evangélica para dificultar o trâmite da lei
anti-homofobia teve desdobramentos na quarta-feira (18). O deputado
federal Anthony Garotinho (PR-RJ) garantiu que a bancada fará “greve”
até que os kits confeccionados pelo Ministério da Educação sejam
recolhidos pelo governo. “Não se vota nada enquanto não se recolher esse
absurdo”, afirmou o parlamentar, chamando o material de “kit gay” e
dizendo que se trata de uma propaganda do homossexualismo. “Dinheiro
público deve ser empregado para combater a homofobia e não para
estimular opção sexual. Esses livros ensinam até a fazer sexo anal”,
garantiu Garotinho.
No material exibido pelo deputado como prova de que o governo está
propagandeando as relações homossexuais, consta até mesmo uma cartilha
confeccionada pelo MEC há mais de dois anos, na qual se trata de Doenças
Sexualmente Transmissíveis (DST) e que mostra dois homens em relação
sexual anal. O material foi distribuído amplamente na época e era
sabidamente destinado ao público adulto.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, repeliu as afirmações de
Garotinho, dizendo que o material apresentado não é o mesmo que o MEC
está preparando para conscientização em escolas. “O material que eu vi
não é do MEC. Todo o material oficial está disponível no portal do
Ministério”, afirmou o ministro, reforçando que todo o material passou e
ainda está passando por “idas e vindas” até uma versão definitiva. “O
MEC recomenda alterações, modificações, e o material acaba sendo refeito
a partir da perspectiva do ministério da educação. Ele só se torna
oficial quando é aprovado pela comissão de publicação”, garante. O kit,
que vem sendo produzido há três anos, é composto por três vídeos e um
guia de orientação aos professores, e deve ser enviado a 6 mil escolas
da rede pública no segundo semestre.
Outro notório opositor da PL-122, o pastor Silas Malafaia, voltou a
manifestar-se de forma dura contra o projeto que pretende transformar
homofobia em crime. Na última edição do seu programa televisivo “Vitória
em Cristo”, o pastor garantiu que, caso o projeto de lei seja aprovado
no Senado, dedicará todo o programa imediatamente seguinte a “pregar
contra o homossexualismo”. “Quero ver se a Constituição Brasileira será
respeitada ou se vão me mandar para cadeia!”, disparou. Malafaia também
levantou críticas contra o STF (que teria tomado uma decisão
“inconstitucional” ao reconhecer a união civil de homossexuais) e até
mesmo personalidades do cenário evangélico, que estariam sendo omissos
na luta contra a lei anti-homofobia.
Ligações sobre PL-122 congestionam telefones do Senado
Enquanto isso, as linhas telefônicas do Senado sofrem
congestionamento devido à grande quantidade de ligações a respeito da
PL-122. Segundo nota divulgada pela Secretaria de Pesquisa e Opinião do
Senado (Sepop) na terça-feira (17), a grande quantidade de telefonemas
pode provocar interrupções temporárias no atendimento via Alô Senado.
Como maneira de desafogar o sistema, o Sepop sugere o uso do site do
Senado como forma alternativa de atendimento. A nota não entra em
detalhes sobre o conteúdo dos telefonemas ligados ao projeto de lei que
criminaliza o preconceito contra homossexuais.
Um comentário:
ótima matéria, dÊ uma passada no meu blog e veja tbm. Obrigada
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