Por Paulo Muzell no Sul21
A aliança com o PDT na campanha que elegeu Tarso Genro governador do
Estado no primeiro turno trouxe para o prefeito de Porto Alegre, José
Fortunati, uma nova e grande esperança: conseguir o apoio do PT nas
eleições municipais de 2012.
Tarefa difícil, diga-se de passagem. Vice de um governo de uma coalizão de centro-direita que derrotou o PT e seus aliados nas últimas duas eleições na capital, Fortunati, assume a Prefeitura em 2010, favorecido pela renúncia de Fogaça, que se candidata a governador. Assume um governo já na metade do seu sexto ano, desgastado por inúmeras denúncias – licitações fraudulentas no DMLU e no Sócio-Ambiental; compras superfaturadas da Divisão de Iluminação Pública na SMOV; desvio de recursos do Pró-Jovem e do PSF, além das contratações irregulares de serviços. Aliás, a terceirização de serviços na área da segurança acabou indo parar nas páginas policiais com o assassinato do ex-vice prefeito e ex-secretário Municipal da Saúde, Eliseu Santos.
Os servidores municipais reclamam, com razão, do arrocho salarial, do aumento das desigualdades – só os detentores dos cargos mais altos tiveram ganhos reais -, do absurdo aumento do número de Cargos em Comissão (CCs) e de estagiários, cujo efetivo duplicou nesta administração.
Apesar da recuperação da receita municipal ocorrida nos últimos anos,
decorrente do bom desempenho da economia, as taxas de investimento da
Prefeitura diminuíram, o atendimento das demandas do Orçamento
Participativo declinou drasticamente – apenas sete das 191 demandas de
2010 foram atendidas. Para completar este quadro desolador os serviços
municipais são de péssima qualidade: postos de saúde superlotados
prestam um mau atendimento; a coleta de lixo é deficiente e a cidade
está cada vez mais às escuras. A conservação das vias é péssima, e até
virou destaque no noticiário nacional: redes de televisão registram para
todo o país o protesto bem humorado dos portoalegrenses que utilizam os
buracos – eles existem em profusão – para ensaiar jogadas de golfe!!
Fortunati, apesar desse cenário desfavorável, não desiste do seu projeto pessoal de candidatar-se e de se eleger prefeito. Podem lhe faltar outros atributos, mas a persistência e a teimosia certamente não. Realiza, no entanto, movimentos contraditórios: por um lado reforça a direita no seu primeiro escalão, trazendo Zachia e Ana Pellini para seu governo. De outro, monta um canal de aproximação e conversa com alguns setores do PT propondo aliança e acenando com cargos. Ao longo dos últimos meses contatos e reuniões se tornaram vez mais freqüentes: algumas oficiais, públicas, outras nem tanto, reservadas e oficiosas. Os rumores aumentam, cochicha-se nos corredores à boca pequena que a oferta aumenta: poderão ser oferecidas duas, três ou até mais secretarias.
Não é fenômeno recente ou novo a crescente perda de credibilidade da política e dos políticos. Ocorre aqui no Brasil, mas tem caráter global. Coerência, cumprimento do programa, austeridade são atributos cada vez mais raros em todos os partidos. Aqui e lá fora. Mas são exatamente essas as qualidades que fazem um partido se afirmar e crescer. Vimos isso nas últimas décadas, ocorreu aqui, com o PT. Mas o próprio crescimento traz dilemas e desafios que é difícil enfrentar e superar. A opção pela via eleitoreira, a sedução pelos encantos do poder em detrimento da coerência e da disciplina programática levam ao descaminho. Que, sabemos, teve como maior vítima o próprio PDT nas últimas décadas. De partido de esquerda, combativo nos anos cinqüenta e sessenta, sobrevive hoje à base de alianças sem critério ou pudor, acordadas ora à direita, ora ou à esquerda, dependendo do momento e da ocasião. O resultado nós conhecemos: o partido perdeu a identidade, desfigurou-se, ficou sem cara. Ressente-se da falta de fortes lideranças locais ou nacionais e a cada eleição perde espaço e diminui de tamanho.
A bancada do PT na Câmara Municipal fez uma oposição forte e
consistente ao governo Fogaça-Fortunati (Fo-Fo) ao longo desses últimos
seis anos e cinco meses. Formulou seu diagnóstico corretamente: trata-se
de um governo de direita, péssimo gestor, que não dialoga com as
comunidades, que liquidou com o OP, submisso aos interesses do setor
imobiliário: alterações pontuais realizadas no Plano Diretor da cidade
comprovam isso. Um governo que não executa seus projetos e que não
cumpre o seu próprio orçamento.
Aceitar esta absurda e inoportuna proposta de integrar um governo ao qual fez oposição sistemática seria um gesto de total incoerência. Seria negar o trabalho e o papel da bancada municipal do PT ao longo de mais de seis anos em troca da satisfação de interesses menores.
Foto: Ricardo Giusti/PMPA
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