Por Vermelho
Em assembléia realizada na quinta-feira (30) à noite, médicos que
atendem os planos de saúde em São Paulo decidiram paralisar as suas
atividades. Cerca de 58 mil profissionais são explorados pelas empresas
privadas do setor no estado. A paralisação atingirá dez convênios, que
reúnem 3 milhões de usuários – no total, são 327 operadoras de planos de
saúde em São Paulo, que “atendem” 18,4 milhões de usuários.
A greve, por tempo indeterminado, afetará
uma especialidade médica por vez. Ao todo, são 53 especialidades, “o que
pode fazer com que a paralisação dure um ano inteiro por meio desse
rodízio”, informa o UOL. O objetivo, segundo Florisval Meinão,
vice-presidente da Associação Paulista de Medicina, é pressionar os
planos a negociarem reajuste dos honorários pagos aos médicos.
O péssimo atendimento “privado”
O grau de exploração dos planos privados de saúde é absurdo. Entre
2003 e 2009, as operadoras concederam reajustes salariais de 44%, em
média, índice bem abaixo da inflação acumulada no período. Em abril
passado, os médicos já realizaram uma greve nacional por melhores
salários. Eles recebem, em média, R$ 30 por consulta. Reivindicam
receber R$ 80,00.
Além do arrocho salarial e do ritmo desumano de trabalho, os planos
privados de saúde são alvos de crescentes denúncias sobre o péssimo
atendimento aos “clientes” – encarados como pura mercadoria. A demora no
agendamento das consultas, as filas nos consultórios e o atendimento às
pressas, tipo linha de produção fordista, têm irritado cada vez mais o
trabalhador que paga os caríssimos planos de saúde. Muitos inclusive têm
retornado aos hospitais públicos.
Fortalecimento do SUS
A paralisação dos médicos evidencia a gravidade do setor no Brasil.
Nas últimas décadas, ele foi duramente atingido pelo processo
mercantilista de privatização. Atualmente, o setor privado é dono de 69%
dos hospitais. Segundo reportagem de Cida de Oliveira, da Rede Brasil
Atual, “a maior parte da infra-estrutura da saúde no país está nas mãos
da iniciativa privada. Dos cerca de 6,3 mil hospitais, 69% são
particulares e destinam apenas 38% de seus leitos para o Sistema Único
de Saúde (SUS)”.
Célia Maria de Almeida, pesquisadora e coordenadora do Programa de
Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Saúde da Escola Nacional de
Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fundação Oswaldo Cruz), avalia que o
setor vive uma encruzilhada. Por um lado, o SUS representou uma
conquista da sociedade, com o aumento da cobertura e a descentralização
da gestão. Por outro, a crescente privatização do setor coloca em risco
estes avanços.
“Houve um aumento expressivo do setor privado, estimulado pelos
governos por meio de incentivos fiscais e de financiamento. Entre os
obstáculos que temos pela frente está o de aumentar o financiamento
federal da saúde, elevando assim investimentos em infra-estrutura”,
observa. Para ela, a questão central é fortalecer o SUS. O poder público
deve rever a sua política de subsidiar o setor privado, ao mesmo tempo
em que investe pouco no setor público.
Nenhum comentário:
Postar um comentário