Brizola Neto no TIJOLACO
Obrigado
a ficar andando de carro, hoje de manhã, ouvi a pancadaria que recebeu a
UFRJ na rádio CBN por ter aderido ao ENEM como forma de seleção
exclusiva para o ingresso na mais antigas e uma das mais prestigiosas
universidades brasileiras.
Lucia Hippólito e o comentarista Sérgio Besserman Viana –
ex-presidente do IBGE no Governo FHC, dirigente nacional do PSDB –
disseram que isso era um “nivelamento por baixo”, algo como a destruição
do mérito e da qualidade acadêmica, porque não se faria uma seleção
“específica” para o nível e as pretensões de uma instituição do padrão
da UFRJ.
Não, não é. E Sergio Bessermann é, pessoalmente, prova de que isso
não é verdade, a não ser que não considere a si mesmo como exemplo de
aluno que não merecia ter sido aprovado. Ele passou no vestibular da
UFRJ no mesmo ano em que eu. Ambos sabemos que fomos selecionados num
exame igualmente geral – o então Cesgranrio – que servia de porta de
entrada a quase todas as universidades e faculdades do Rio de Janeiro.
Exatamente como é o Enem.
O único problema de Besserman com a UFRJ foi vocacional, não de
qualidade intelectual, tanto que a deixou para fazer História e, depois,
Economia na PUC.
O Cesgranrio tinha deficiências graves. Mas, no geral, passar para um
“federal” não era então e não é hoje coisa que aconteça com quem está
despreparado. Os pais de adolescentes – e eles, mais do que ninguém –
sabem disso, perfeitamente.
Não é o caso de discutir se, do ponto de vista acadêmico, uma
universidade pode ou deve ter seleções específicas. Esta é uma longa e
profunda discussão. Mas, mesmo que considere assim, igualmente deve usar
o Enem como pré-seleção, porque o gigantismo dos vestibulares das
universidades públicas tornou-se um processo monstruoso de distorção, em
vários aspectos.
Primeiro, das funções da Universidade. Preparar e realizar exames
simultâneos para cem mil ou mais vestibulandos, com os requisitos de
qualidade e segurança que isso impõe, na aplicação das provas e em sua
correção acabou se tornando uma das principais preocupações da academia.
E é caríssimo.
Daí, vem o segundo problema. O aluno que faz prova para a UFRJ, faz
outra prova para a UFF (em Niterói), outra para a UERJ (estadual) e, em
certos cursos, também para a Unirio (federal) e a Universidade Federal
Rural, em Seropédica. Em outros casos, havia mais um – o da
Universidade Estadual Darcy Ribeiro, em Campos, que hoje também adota
apenas o Enem. Para cada uma, uma taxa de inscrição. Em 2008, a
inscrição da UFRJ custava R$ 95. Imagine o custo, para uma família de
classe média baixa ou para um jovem trabalhador de fazer cinco
inscrições para cinco vestibulares?Ou seis, em alguns casos?
Afora isso, o fato de realizar dois ou até três dias de provas para
cada um dos cinco vestibulares públicos criava um período em absoluta
indisponibilidade e stress para estes jovens. Se, por acaso, tivessem um
emprego, era virtualmente impossível fazerem todas estas provas.
É evidente que a elevação do nível de nossas grandes universidades
depende, e muito, da qualidade do ensino básico e do médio. Embora a
política de cotas seja um correto remédio emergencial para as
desigualdades, ela não resolve sozinha estes problemas e nem se deseja
que seja eterna, pois que não se deseja a eternidade da desigualdade.
Mas nada justifica que, sob este argumento, seja mantido um sistema
de seleção que é caro, torturante e elitista.Tanto que das
universidades fluminenses – por decisão de seus conselhos acad~emicos e
não do Governo – só a UFF não aderiu ainda à seleção apenas pelo Enem.
É uma atitude estranha que isso seja proposto, em nome da “excelência
da UFRJ”, por alguém que chegou a ela por um exame geral como era o do
Cesgranrio, como Sérgio Besserman.
Com vestibular específico ou com Enem, passar para a UFRJ continuará
sendo uma façanha digna de aplauso, pela capacidade e pelo esforço, para
qualquer jovem. Como o foi, naquele vestibular de 1977, para o então
jovem e então esquerdista Sérgio BessermanViana.
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