Deu no Painel, da Folha de S. Paulo, dessa quarta-feira, 9 de maio.
O deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR), um dos “soldados” citados, estranhou a nota.
“Eu não sei de nenhuma reunião secreta na liderança do PT do Senado. E
se houve, não participei”, diz. “E não tendo participado, fui escalado,
segundo a Folha. Só que até agora eu não fui avisado, a não ser pelo Painel.”
“O foco da CPI não será a mídia. O PT tem defendido que o foco seja a
organização criminosa comandada pelo Carlos Cachoeira”, afirma. “E se a
investigação revelar que essa organização tem tentáculos, braços, nós
vamos investigá-los. Portanto, se tiver algum órgão de imprensa
envolvido, esse tentáculo também será investigado.”
“Se alguém disse a frase ‘se a mídia quer guerra, ela vai ter
guerra’, não saiu de ninguém do PT de reunião em que eu tenha
participado. Até porque o nosso objetivo não é a imprensa, mas a
organização criminosa do Cachoeira”, reitera. “Agora, se algum
jornalista ou empresa de comunicação tiver algum problema identificado,
será investigado como qualquer suspeito de crime.”
Nós entrevistamos o Dr. Rosinha no final da noite dessa quarta-feira
9. Ele é suplente da CPI do Cachoeira. O suplente, ao contrário dos
muitos imaginam, pode fazer tudo — ter acesso aos documentos sigilosos,
questionar os depoentes, se manifestar — , exceto votar, se o titular
estiver presente. E quando o titular se ausenta, o suplente vota também.
Na terça-feira, o Dr. Rosinha participou da sessão secreta da CPI que
ouviu o depoimento do delegado da Polícia Federal (PF) Raul Alexandre
Marques Souza, que comandou a Operação Vegas.
Viomundo – Os documentos já vazados da Operação Monte Carlo
indicam que o esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira teria um braço na
mídia. O que achou das revelações nesse setor até agora?
Dr. Rosinha – Oficialmente, dentro da CPI, ainda há
muito pouca coisa nessa área . Nós tivemos o primeiro depoimento – o do
delegado da Vegas — na terça-feira. E os documentos que chegaram à
Câmara, ainda não deu tempo para analisarmos.
De modo que tudo o que saiu sobre a imprensa e a organização
criminosa do Cachoeira foi publicado por outros veículos da imprensa.
Mas o pouco que ouvi na terça-feira do delegado da Polícia Federal,
alguns segmentos da imprensa terão de ser investigados, sim
Viomundo — O que o senhor ouviu?
Dr. Rosinha – Eu não posso revelar, porque a reunião
foi secreta. Mas o delegado disse que há mais de um jornalista citado
nas escutas telefônicas do Cachoeira. Lembre-se de que ele falou apenas
sobre a Operação Vegas.
Viomundo – É só a Veja ou há mais veículos citados nos grampos da Operação Vegas?
Dr. Rosinha – Tem mais veículos envolvidos.
Viomundo – Quer dizer que o delegado abordou, mesmo, a participação da mídia no esquema do Cachoeira?
Dr. Rosinha — A sessão de terça foi sobre a
investigação e as escutas telefônicas da Operação Vegas. Nas gravações
com o Cachoeira, segundo o delegado, foram feitas referências a três
jornalistas de veículos diferentes.
Viomundo – Quantos veículos?
Dr. Rosinha – Foram citados três jornalistas de três
veículos diferentes. Nós, agora, vamos continuar a apuração. Se forem
mantidas as informações que ouvimos, cabe investigação.
Viomundo – Tanto o procurador-geral da República, Roberto
Gurgel, quanto a mídia estão batendo na mesma tecla: a convocação dele
para depor na CPI seria uma manobra para desviar a atenção do chamado
mensalão. O que acha dessa teoria?
Dr. Rosinha – O chamado mensalão está no STF e não
mais na Procuradoria Geral da República. O STF vai fazer o julgamento no
momento em que julgar que está tudo preparado para fazê-lo.
Eu não entrei nessa CPI para vingar absolutamente nada. Nem ninguém.
Eu assim como todos os demais petistas integrantes da CPI – e nós
conversamos sobre isso — entramos nela, porque existe uma organização
criminosa que tem de ser investigada.
Se o procurador for convocado, não tem nada a ver com o chamado
mensalão. Tem a ver com o fato de ele ter ficado mais de dois anos sem
dar encaminhamento ao relatório da Operação Vegas, da Polícia Federal.
Ele não mandou arquivar nem tocou adiante. Por que ele fez isso? Essa
explicação ele deve não para a CPI, ele deve para toda a sociedade.
Afinal, enquanto ele ficou sem dar continuidade ao relatório da Vegas, o
crime organizado foi mantido. Na verdade, essa atitude dele contribuiu
para que demorasse ainda mais a investigação.
Viomundo – Caso a CPI do Cachoeira convoque algum jornalista
para depor, a mídia dirá que é um atentado à liberdade de imprensa e à
liberdade de expressão. O que acha disso?
Dr. Rosinha — Quer dizer que jornalista não pode ser
investigado? Cada vez que um jornalista é investigado é censura, é
atentado à liberdade de imprensa? Aí, eu estaria dizendo que
jornalistas, de uma maneira geral, poderiam cometer crimes. Isso é um
desvio de atenção. É querer se resguardar de qualquer tipo de
investigação.
O Murdoch que o diga na Inglaterra. É algo muito semelhante. A
empresa do Murdoch grampeou telefones. O que se tem até agora é que o
jornalista da Veja, o Policarpo Jr., usou material de telefones grampeados ilegalmente, como fez o pessoal do Murdoch, na Inglaterra.
O jornalista da Veja sabia ou não que o material era
proveniente de grampo ilegal? Bem, a suspeita de que ele sabia é muito
forte. Isso tem que ser investigado, porque se confirmada essa prática,
ficará caracterizado crime muito semelhante ao que tinha na
Inglaterra.
Agora isso não é censura. Vão dizer que na Inglaterra estava tendo
censura? Não estava, estava tendo investigação. Então, no Brasil, eu
acho que a CPI tem de ter a liberdade de investigar todos os cidadãos e
cidadãs sobre os quais forem levantadas suspeitas.
Viomundo – Então todo suspeito será investigado?
Dr. Rosinha – Todas as conversas que estamos tendo
são no sentido de focar no crime organizado. Toda vez que houve CPI,
dois ou três deputados eram a festa da mídia. E o corruptor, você se
lembra de quantos foram punidos? NENHUM!
Agora, há um corruptor, que é do crime organizado, com empresas
legais. Afinal, ele tem de lavar o dinheiro. Acho que é um grande
momento na República para se investigar tudo isso.
Não se trata de tirar o foco de políticos. Mas ver que tem um
segmento importante que manda no Estado brasileiro. Ele tem poder no
Parlamento – já está aí o caso do senador. Tem poder na polícia – já tem
o policial federal preso. Tem poder no Executivo. E tem poder na mídia.
É como a máfia italiana que está em tudo.
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