José Goulão no BEINTERNACIONAL
Se estiver por Bruxelas, se passar por Bruxelas, se já visitou ou não visitou vale a pena passar um tempo no Museu Magritte.
Não apenas pelo fantástico acervo reunido do pintor do cachimbo que não
é um cachimbo, do livro que não é um livro, do surreal como real que
ainda não existe. Sobretudo será um reencontro compensador com uma
Europa de polémica, criatividade, cultura e ideias que vai desaparecendo
a vertiginosa velocidade.
A obra de Magritte foi criada durante
períodos gloriosos e trágicos do Continente que é conhecido por “velho”
pelo seu papel como epicentro da cultura ocidental, dos movimentos
ideológicos, sociais, culturais, filosóficos, científicos e humanistas
que o atravessaram com riqueza prodigiosa repercutida em toda a História
Universal. Magritte nasceu nas antevésperas do século das luzes e a sua
obra cruza as duas guerras mundiais, a loucura dos anos vinte, as
esperanças e ilusões do período de quarenta e cinco a cinquenta, o auge
da guerra fria e ainda assimilou cores e sons dos renovadores anos
sessenta.
Olhar para a sucessão de quadros expostos
no museu instalado no Museu Real das Belas Artes de Bruxelas, sem
restrições de tempo e obrigações de compromissos, é como deixar-se levar
por uma viagem fantástica e pessoal através da Europa em vias de
extinção, atingida agora pelos cratas de várias géneses
manobrando ali nas vizinhanças, paradoxalmente também em Bruxelas, na
ostentação do seu quartel de destruição.
Não há como sentir as cores, as formas, as
ilusões, as distorções, as provocações os delírios para se perceber de
modo inquietante e assustador o contraste entre a genialidade da
criatividade e da liberdade humanas e a brutalidade feroz e repressiva
das ideias quadradas com que se procura formatar em sistema operativo
global o inesgotável potencial de progresso pulsando nos cérebros
individuais. Está aqui tudo, no espaço de alguns quarteirões -
fragmentos do apogeu e armas de liquidação.
A viagem pelo Museu Magritte faz-se de tela
em tela e passo a passo por um espólio documental onde encontramos a
escrita, o desenho, as edições de revistas e manifestos, os artigos, as
polémicas entre os maiores nomes da cultura, do humanismo e da cidadania
europeias contemporâneos de Magritte, seus companheiros uns, seus
rivais de tendências outros, numa vertigem capaz de derrubar barreiras
de preconceitos, demolir muros de práticas inquisitoriais, alguns tão
fortes que continuam a resistir – e a reconstruir-se.
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sexta-feira, 11 de maio de 2012
Visitar ou (porque não?) revisitar Magritte
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