Em palestra realizada em São Paulo, sociólogo destaca que o
sistema atual é incapaz de lidar com os problemas vitais da humanidade
Por Felipe Rousselet na REVISTA FORUM
Ontem (3), o sociólogo e filósofo francês Edgard Morin ministrou uma
palestra no Sesc Consolação com o tema “Consciência Mundial: por um
conceito de desenvolvimento para o século XXI”. Morin, pai da teoria da complexidade, defende a interligação de todos os conhecimentos, combate o reducionismo instalado em nossa sociedade e valoriza o complexo.
Morin iniciou sua palestra abordando quatro questões fundamentais: o
que eu posso saber; o que eu posso esperar; em que posso acreditar e o
que posso fazer. A partir destes questionamentos, o sociólogo abordou os
problemas fundamentais da humanidade. Para ele, é preciso unir os
inúmeros saberes dispersos a que temos acesso em prol dos problemas
vitais da humanidade.
Todas as tentativas de mudança da humanidade somente a partir de
sistemas político-econômicos como o socialismo, comunismo e o
liberalismo foram fracassadas. “Não se pode mudar apenas a estrutura
econômico-social. É preciso mudar também as nossas vidas”, afirmou.
Havia uma fé de que o progresso era um movimento irreversível para um
mundo melhor, mas hoje essa crença desintegrou-se e o que o futuro nos
reserva é angústia e incertezas.
Segundo Morin, se não mudarmos o caminho da humanidade, estamos
fadados à tragédia. “O sistema atual é ineficaz para lidar com problemas
básicos”, frisou. Para ele, a “nave humanidade” caminha para o
desenvolvimento econômico descontrolado e para o egoísmo, porém, lembra
que nunca antes a humanidade teve uma causa única, traduzida na própria
causa humana, na solidariedade. Ao falar sobre a globalização, Morin
citou aspectos positivos e negativos. Os positivos são expressos na
capacidade do indivíduo de ser autônomo e na criação de ilhas de
prosperidade em países em desenvolvimento, como o Brasil, onde
populações antes miseráveis formam hoje uma nova classe média. Por outro
lado, a globalização também gerou exploração comercial de povos por
multinacionais e por outros povos, e expulsou os camponeses de suas
terras, criando uma população de 1 bilhão de pessoas morando em favelas.
Desenvolvimento e hegemonização
Segundo o pensador, a noção de desenvolvimento
aplicada de forma igual em diferentes culturas está equivocada, uma vez
que não respeita suas individualidades. Morin afirma que em vez de
destruir as culturas por meio da hegemonização, deveríamos fazer um
processo de simbiose, de união entre o melhor da civilização ocidental
com o melhor de povos de culturas diferentes.
Ao falar sobre a Rio+20, o sociólogo aponta para o que considera um
fracasso esperado, uma vez que os líderes de Estado recusam-se a tirar
os olhos do próprio umbigo. Para ele, é impossível dissociar os
problemas ambientais das outras questões vitais da humanidade e o passo a
frente dado pela Rio+20 foi a participação da sociedade civil.
Por fim, Morin deixou uma mensagem de esperança. Lembrou que mesmo
diante de um presente que parecia sólido e imutável, a sociedade humana
sempre se transformou. “Se não procurarmos o inesperado, não vamos
encontrá-lo”, disse. Para ele, o início de grandes mudanças sempre
ocorreu de forma modesta. Lembrou do início de três grandes religiões
(budismo, cristianismo e muçulmana), que começaram pela ação de
indivíduos. “Quando achamos que o presente é eterno, nos enganamos”,
afirmou. Para uma transformação da humanidade que evite o seu colapso, o
inteletutal sugere um consciência global fundamentada na solidariedade e
no sentimento de que fazemos parte de uma “Terra Pátria”, e, a partir
desta nova consciência, surgirá um modelo totalmente novo de sociedade.
“Vocês tem uma causa justa, que é a solidariedade, e devem levantá-la”.
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