Alimentada pela internet, a pornografia infantil se tornou uma
crise mundial de dimensões alarmantes. E as vítimas são cada vez mais
jovens. Para combater o crime de maneira mais eficaz, a Organização para
Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) organiza a primeira conferência
internacional sobre o assunto, a partir desta quinta-feira (20/09), Dia
Mundial da Criança.
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Bildunterschrift: Tim Del Vecchio, diretor da unidade policial da
Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE)"O que mais
preocupa é que, quando conseguimos prender os suspeitos, as fotos que
encontramos são de crianças muito jovens. 19% das imagens descobertas
recentemente pelo Centro Nacional de Crianças Desaparecidas e Exploradas
dos Estados Unidos são de crianças de menos de três anos", alerta Tim
Del Vecchio, diretor da unidade de Polícia Estratégica da OSCE e
organizador da conferência que termina nesta sexta-feira.
Crime organizado
"É mais que uma tragédia humana porque envolve crianças",
comenta Del Vecchio. "A distribuição de pornografia infantil é apenas
uma das fontes de lucro para o crime organizado. Mas, diferentemente do
tráfico de drogas e das atividades tradicionais, existe o elemento
humano, extremamente trágico", disse Del Vecchio à DW-WORLD.
A Internet Watch Foundation britânica registrou um aumento de
1.500% no número de imagens de pornografia infantil na rede mundial
desde 1997. Em 2001, a organização internacional ECPAT (Pelo fim da
Prostituição e do Tráfico Infantil, em inglês) calculou a existência de
cem mil websites de pedofilia na internet. "Hoje, estima-se que haja o
dobro", diz Del Vecchio.
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Bildunterschrift: Operação "Mikado", na Alemanha, desmantelou rede de
pedofilia com rastreamento de cartões de créditoPara o alemão Torsten
Meyer, chefe do departamento de investigação da região de
Sachsen-Anhalt, no Leste do país, a internet facilita o crime de abuso
sexual infantil. "A pornografia infantil e a pedofilia sempre existiram.
A internet facilita a criação da pornografia. Com as possibilidades da
rede, os criminosos de várias áreas podem se encontrar, trocar idéias e
achar mais material. Era mais difícil quando redes de dados eram menos
desenvolvidas", diz Meyer, que este ano ganhou as manchetes da Alemanha
com a "Operação Mikado", uma ação de rastreamento de criminosos por meio
da análise de cartões de crédito.
Ação policial e legislação internacional são prioridade
Segundo Tim Del Vecchio, os 56 países-membros da OSCE querem dar
prioridade à ação policial e políticas de prevenção do crime em
diferentes países. "Não investigamos os casos, há mais peso para a ação
da polícia que para o atendimento a vítimas. Mas queremos saber quais as
dificuldades encontradas pelos diferentes países, quais as novas
tecnologias disponíveis, que treinamentos policiais existem a custo
zero. Assim, as investigações se tornam mais eficazes".
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Bildunterschrift: Jovens e crianças são assediadas pelo computador;
salas de chat apresentam maior riscoÁustria, Bélgica e Rússia vão
apresentar casos exemplares de combate a redes de pornografia infantil.
Em fevereiro deste ano, a polícia da Áustria desmantelou uma rede global
de pedofilia que envolvia mais de 2.600 suspeitos em 77 países, com
atos sexuais explícitos com crianças.
Em junho, foi a vez de a Grã-Bretanha implodir uma rede de
pedofilia. Trinta e uma crianças, algumas com apenas alguns meses de
idade, foram libertadas na operação, que rastreou mais de 700 suspeitos.
200 deles estavam na Grã-Bretanha. O material difundido no site
"Crianças, a Luz de nossas vidas" ( incluía imagens de abuso explícito de crianças, com alguns vídeos transmitidos ao vivo).
As reuniões da OSCE ocorrem a portas fechadas por causa do conteúdo explícito das apresentações.
Tecnologia de ponta
No caso da Grã-Bretanha, as autoridades disseram ter usado
táticas de investigação contra suspeitos de terrorismo e tráfico de
drogas. Em Viena, empresas como Microsoft e Visa e provedores de
internet vão mostrar novos softwares de rastreamento de suspeitos de
pedofilia.
Um deles é o sistema "Marina", utilizado pelo Centro Francês de
Análise para Imagens de Pornografia Infantil. Disponível para todos os
investigadores do país, o software reconhece as assinaturas de
pornografia infantil nos discos rígidos de computadores.
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Bildunterschrift: Para agência britânica Internet Watch Foundation,
imagens de pornografia infantil aumentaram 1.500% desde 1997Outra
tecnologia é a de reconhecimento facial da empresa Asia Software, para
identificar o rosto das vítimas de abuso sexual na Internet. "Mesmo se a
aparência física mudar, ainda é possível reconhecer quem está na foto",
explica Del Vecchio. O software é utilizado no Cazaquistão e na Rússia,
ambos membros da OSCE.
A Microsoft também mostra o CETS (em inglês, Sistema de
Rastreamento de Crianças Exploradas), um software gratuito que permite
aos investigadores identificar tendências e criminosos, e pode ser
instalado em sistemas de delegacias em todo o mundo.
Legislação transfronteiriça
A legislação sobre pedofilia varia de país para país. "Não queremos
que uma investigação seja suspensa apenas porque o suspeito comete o
crime em outro país", diz Del Vecchio. "Por isso, um dos primeiros
assuntos a tratar é a legislação local", explica.
Del Vecchio também destacou a importância da cooperação de
órgãos internacionais como a Interpol e a Europol, uma vez que o
problema da pornografia infantil na internet é mundial, e não
concentrado em certas regiões. "Todos dividem a culpa. Nos Estados
Unidos, por exemplo, prenderam um casal no Texas que distribuía fotos de
crianças pela rede. Eles ganhavam cerca de um milhão de dólares
mensais, mas as fotos vinham de países do Leste Europeu".
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift:
Para o investigador alemão Torsten Meyer, o problema também afeta o
mundo todo. Mas o material vem de países muito pobres. "América Latina,
Leste da Ásia ou Leste Europeu fornecem esse tipo de imagens. São
regiões onde os direitos das crianças não são tão valorizados como na
Alemanha, por exemplo. As famílias são muito pobres, têm até dez filhos e
até vendem a criança para criminosos que filmam atos sexuais e vendem
essas imagens", diz Meyer.